segunda-feira, outubro 15, 2007

A pluralidade e a revolução dos idiotas

O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto


HÁ UMA revolução em curso: a dos idiotas. Eles começam agredindo a lógica e terminam justificando o assassinato. Voltarei a esse ponto.
Na semana passada, o escritor e rapper Ferréz escreveu um artigo neste espaço em que tratou do assalto de que Luciano Huck foi vítima. Lê-se: "No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio. Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes". Ele não pode ser mal interpretado porque não pode ser bem interpretado: fez a apologia do crime, o que é crime. Será este jornal tão pluralista que admite alguém como Ferréz? Será este jornal tão pluralista que admite alguém como eu? Lustramos ambos o ambiente de tolerância desta Folha? A resposta é "não".
O artigo do tal é irrespondível. Vou eu lhe dizer que o crime não compensa? Ele tem motivos para acreditar que sim. Lênin mandaria que lhe passassem fogo -não sem antes lhe expropriar o relógio. Apenas sugiro ao jornal que corrija seu pé biográfico: ele é um empresário; o bairro do Capão Redondo é seu produto, e a voz dos marginalizados, o fetiche de sua mercadoria. Ir além na contestação de seu libelo criminoso seria reconhecê-lo como voz aceitável na pluralidade do jornal. Eu não reconheço.
Na democracia, o direito à divergência não alcança as regras do jogo. Um democrata não deve, em nome de seus princípios, conceder a seus inimigos licenças que estes, em nome dos deles, a ele não concederiam se chegassem ao poder. Ao publicar aquele artigo, a Folha aceita que potencialmente se solapem as bases de sua própria legitimidade. Errou feio.
O poeta Bruno Tolentino é autor de um verso e tanto: "A arte não tem escrúpulos, tem apenas medida". O mesmo vale para a ação política.
Idealmente, há quem ache que o mundo seria melhor sem propriedade privada -eu acredito que, sem ela, estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos.
Posso acalentar quantos sonhos quiser, sem escrúpulos. Mas o regime democrático tem medidas. Uma delas é o respeito às leis -inclusive às leis que regulam a mudança das leis. Se admitimos a voz do assalto, por que não a da pedofilia, a do terrorismo, a da luta armada, a do racismo? Aceito boas respostas.
O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto, para quem o crime é uma precognição política a caminho de uma revelação.
Tal suposição, somada à patrulha que tentou transformar Luciano Huck no verdadeiro culpado pelo assalto, contribuiu para esconder um fato relevante. A cidade de São Paulo teve 49,3 homicídios por 100 mil habitantes em 2001. Em 2006, 18,39 (uma redução de 62,69%). Em 2001, havia presas no Estado 67.649 pessoas; em 2006, 125.783 (crescimento de 85,93%). Não é espantoso? Quanto mais bandidos presos, menos crimes. Quanto mais eficiente é a polícia, menos mortos.
Eis que, no dia 11, abro esta mesma página e dou de cara com um artigo de Sérgio Salomão Shecaira. Escreve: "(...) O Estado de São Paulo concentra quase a metade dos cerca de 419 mil presos brasileiros (...). Enquanto, no Brasil, existem 227,63 presos por 100 mil habitantes, em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes". Ele está descontente.
Quer prender menos: "Enquanto, no Estado de São Paulo, em 2005, houve 18,9 homicídios por 100 mil habitantes, no Rio de Janeiro a cifra foi de 40,5, e, em Pernambuco, de 48. No entanto, nesses dois últimos Estados, o número relativo de presos é bem menor que o paulista".
Shecaira é mestre e doutor em direito penal e professor associado da Faculdade de Direito da USP. Mas ainda não descobriu a lógica, coitado!
Ora, por que será que São Paulo tem, por 100 mil, menos da metade dos homicídios que tem o Rio e quase um terço do que tem Pernambuco? Porque há mais bandidos na cadeia!
Mas ele quer menos. Logo... Em vez de Ferréz se alfabetizar politicamente no contato com Shecaira, é Shecaira quem se analfabetiza no contato com Ferréz.
A tragédia não é recente. Aconteceu com a universidade: em vez de ela fornecer teoria aos sindicatos, foram os sindicatos que lhe forneceram táticas de greve. Em vez de Marilena Chaui ensinar ao companheiro as virtudes do pensamento, foi o companheiro que explicou a Marilena por que pensar é uma bobagem.
A minha pluralidade não alcança tolerar idiotas que querem destruir o sistema de valores que garantem a minha existência. E, curiosamente, até a deles.

REINALDO AZEVEDO para a Folha

quinta-feira, outubro 11, 2007

Ernesto Guevara: Apóstolo da Violência

Ernesto Guevara: Apóstolo da Violência

Por Pedro Corzo

Primeira parte sobre Che do livro “Cuba: Perfis do Poder”

“Não sou Cristo nem um filantropo; sou todo o contrário de um Cristo”
Che

Não compreendemos como em um período histórico no qual a violência converteu-se em algo más que detestável, existam “pacifistas” que elaborem apologias a Ernesto Guevara, um indivíduo que, independente de doutrinas ou ideologias, foi um dos teóricos mais conseqüentes que teve a violência como prática política, em uma das etapas mais convulsivas de nossa América no passado Século XX.

Sua identificação com uma das personalidades mais desapiedadas da História Moderna, a faz notar em uma carta que dirige desde a Costa Rica à sua tia Beatriz, em 10 de dezembro de 1953: “Em El Paso tive a oportunidade de passar pelos domínios da United Fruit convencendo-me mais uma vez do quão terríveis são esses polvos capitalistas. Jurei ante uma foto do velho e pranteado kamarada Stalin, não descansar até ver aniquilados todos estes polvos capitalistas”.

O indivíduo que alguns pretendem apresentar como um ser justiceiro e de profundo espírito cristão, escreveu uma carta à sua mãe, em 15 de julho de 1956 de uma prisão mexicana: “Não sou Cristo nem um filantropo; sou todo o contrário de um Cristo. Luto pelas coisas nas quais acredito com todas as armas de que disponho e trato de deixar morto o outro, para que não me preguem em nenhuma cruz ou em nenhuma outra coisa”.

Miguel Sánchez, “El Coreano”, um dos que treinou os expedicionários do (iate) Granma, conheceu Ernesto Guevara no México. Refere que Guevara era uma pessoa isolada, pouco sociável e que lhe chamava a atenção sua crueldade com os animais. Conta que ele pegava gatas grávidas para fazer experiências médicas e que quando acabava com os filhotes os colocava em um saco que lançava violentamente contra o chão. Guevara não tinha problemas só com os gatos; na Sierra Maestra disse a um de seus subalternos: “Félix, esse cachorro não dá um latido mais; tu te encarregas de fazê-lo. Enforca-o. Ele não pode voltar a latir”.

Outro exemplo de seu caráter vilento e até certo ponto sádico, observa-se em uma carta que dirigiu à sua primeira esposa, Hilda Gadea, que se encontrava em Lima, Peru. Escreve ele em 28 de janeiro de 1957: “Querida velha. Aqui na selva cubana, vivo e sedento de sangue, escrevo estas ardentes linhas inspiradas em Martí. Como um soldado de verdade, ao menos estou sujo e maltrapilho, escrevo esta carta sobre um prato de lata, com uma arma a meu lado e algo novo: um cigarro na boca”.

Esta sede ele não demonstrou saciá-la. Segundo expõe Anderson em seu livro “Che”, várias fontes cubanas descreveram como ele assassinou Eutimio Guerra quando ficou evidente que ninguém tomaria a iniciativa. Isto ao que parece inclui Fidel, que após a ordem de matar Eutimio, sem indicar quem deveria cumprí-la, se afastou para proteger-se da chuva.

O assassinato de Eutimio Guerra foi presenciado pelo Comandante do exército rebelde, Jaime Costa, que refere que Guevara gritou: “se não fazem vocês, faço eu”, disparando de imediato no prisioneiro. Costa afirma que foi nessa ocasião que Guevara proferiu a frase “ante a dúvida, mata-o!”. Costa continua dizendo que os fuzilamentos sem julgamento que tiveram lugar na cidade de Santa Clara, nos primeiros dias de janeiro de 1959, foram decisão de Ernesto Guevara e não de Ramiro Valdés como afirmam alguns investigadores.

Ao crime somava a crueldade. Guevar conta em seu livro “Passagens da Guerra Revolucionária”, que haviam processado e executado dois indivíduos que haviam cometido vários assassinatos na Sierra, porém que depois simulou a execução de outros três que tiveram um grau menor de responsabilidade. A experiência que deveu ter sido extremamente traumática, é descrita por Guevara com a frieza de um forense: “Depois se realizou o fuzilamento simbólico de três dos rapazes que estavam mais ligados às trapalhadas do chinês Chang, porém aos quais Fidel considerou que se devia dar-lhes uma oportunidade; os três foram vendados e sujeitos ao rigor de um simulacro de fuzilamento. Depois dos disparos no ar, quando os três se deram conta de que estavam vivos, um deles me deu a mais estranha e espontânea demonstração de júbilo e reconhecimento em forma de um sonoro beijo, como se estivesse em frente a seu pai”.

Esta prática se repetiu inúmeras vezes depois do triunfo da insurreição; junto a pessoas que eram fuziladas se colocavam outras com as quais se simulava a execução, com o propósito de que se convertessem em delatores.

A disciplina que Che impunha entre seus homens era inflexível e cruenta. Sua falta de sensibilidade e misericórdia é percebida em um relato do seu livro “Passagens”, no qual ele descreve com orgulho como encontrou moribundo um combatente rebelde que, cumprindo ordens suas, foi enviado desarmado à primeira linha de frente, para adquirir um fuzil, já que o havia castigado tirando-lhe o seu porque havia dormido em uma guarda. Isto ocorreu durante os enfrentamentos que tiveram lugar na cidade de Santa Clara.

Sua conduta para com os militares do regime antigo foi ainda mais cruel. Procedeu execuções sem processos judiciais e sem garantias processuais. Afirma Jaime Costa que o responsável pelas primeiras execuções na cidade de Santa Clara foi Guevara e não Ramiro Valdés.

La Cabaña, seu primeiro comando depois do triunfo insurrecional, foi o bastião militar onde mais ex-militares e colaboradores da ditadura derrocada foram executados. Segundo a jornalista Hart Phillips, do New York Times, foram “uns 400 nos dois primeiros meses”; e testemunhos do jornalista Tetlon do London Daily Telegraph, “às vezes funcionavam quatro tribunais simultaneamente, sem advogados nem testemunhas de acusação, chegando a se julgar, contemplando a pena capital, até 80 pessoas em julgamentos coletivos”. Tetlon relata que ele (Guevara) ordenou pessoalmente, entre outras, a execução do tenente José Castaño Quevedo, cujo único crime foi ocupar a direção do Birô para a Repressão de Atividades Comunistas – BRAC -, uma vez que no processo não se efetuaram demandas contra o tenente.

Apesar das inúmeras afirmações e investigações que concluem que em La Cabaña foram executados várias centenas de pessoas, dezenas sob a responsabilidade do próprio Guevara, o ex-sacerdote Javier Arzuaga, paróco de Casablanca da Ordem de São Francisco e que assistiu espiritualmente a muitos dos fuzilados, refere em seu livro “Cuba 1959: A Galera da Morte” que, “não houve mais de cinqüenta e cinco fuzilamentos em La Cabaña” entre janeiro e junho de 1959. Segundo Arzuaga, que teve com Guevara várias entrevistas, o comandante era um homem incisivo que desde o primeiro encontro lhe afirmou que em seus prédios, La Cabaña era o único que dava formação política, religiosa e ideológica a seus soldados e que afirmou que haviam usado os capelães na Sierra Maestra porque neessitavam deles, porém que nesse momento não era assim, e simultaneamente lhe advertiu que havia muito o que julgar e fazer pagar, e que para isso haveria um paredão.

O ex-sacerdote, que evidentemente sentia algum tipo de admiração por Guevara e pelo processo revolucionário, um sentimento muito normal na época, o descreve como um indivíduo de muitas facetas. Segundo refere, o primeiro era um idealista radical que estava disposto a transformar tudo ou eliminá-lo segundo o caso. “O outro, um Che obsesionado pela justiça igualitária que sem o menor reparo e sem se preocupar em absoluto pelos efeitos colaterais e as últimas conseqüências, irá aniquilando até reduzi-lo a pó, quando se lhe cruze o caminho, e pela justiça exemplarizante em cujo exercício a crueldade será um mal menor imprescindível” e o terceiro, um indivíduo que só pedia a alguém que fizesse o que ele também estava disposto a fazer.

Ele conta que as visitas de revisão de causa sempre eram presididas por Ernesto Guevara e que terminavam às vezes com algo mais que uma ratificação da pena de morte senão que lhe agregava, “a execução terá lugar esta noite”.

O padre Arzuaga, um homem muito bondoso, tratou de ajudar na medida do possível as pessoas que iam ser executadas e em seu livro há relatos realmente fortes porém, sem dúvida, o que melhor expõe a natureza violenta e sem piedade de Guevara foi o caso de Ariel Lima. Conta o padre que intercedeu em favor de Lima, 21 anos, que havia sido condenado à morte e que Guevara lhe disse que quem decidia esses assuntos era o Tribunal de Apelações. Afirma que presenciou a revisão da sentença que só durou meia hora, com a alegação de que fosse executado nessa mesma noite e que, terminada a sessão, Guevara caminhava pela rua cheia de pedras quando uma mulher correu e se prostrou ante ele; era a mãe de Ariel Lima. “Che deu-lhe a volta e uma vez do outro lado lhe disse: ‘senhora, lhe recomendo que fale com o Padre Javier que dizem que é um mestre consolando’. E dirigindo-se a mim, entre mandão e burlão, disse: é sua”. Conclui o ex-sacerdote escrevendo: “essa noite odiei o Che”.

Guevara era vingativo, não esquecia as ofensas porém só as cobrava quando estava seguro de ganhá-las sem conseqüências. Vários oficiais do exército rebelde confirmam as diferenças entre os comandantes Guevara e Jesús Carreras. O comandante Carreras enfrentou Guevara quando este chegou ao Escambray, a discussão foi muito forte, Carreras o desafiou e Guevara aduziu que entre revolucionários não havia que combater. Depois do triunfo da insurreição, Carreras foi perseguido por mais de dois anos até que foi envolvido na conspiração do também comandante William Morgan e foram executados os dois. Os comandantes Lázaro Asensio e Armando Fleites estão convencidos de que Guevara foi quem ordenou a execução de seu companheiro Jusús Carreras.

Como resenha interessante, pode-se destacar que em 1959 Guevara criou uma força subversiva na Bolívia através do embaixador cubano em La paz, José Tabares del Real. Este esforço desestabilizador estendeu-se até junho de 1961 e desdobrou-se contra o governo democrático de um político de forte aval revolucionário, Hernán Siles Suaso. Mais tarde tentou organizar uma revolução na Argentina para a qual se aliou com elementos peronistas. Este broto abortou quando as autoridades argentinas descobriram duas escolas de guerrilheiros e detiveram um instrutor militar cubano, José Ramón Alejandro. Posteriormente, a autoridades bonaerenses apresentaram documentos que mostravam que a Embaixada de Cuba em Buenos Aires era um centro subversivo que Guevara dirigia desde Havana.

Anos depois, através de Jorge Ricardo Masseti, fundador do Prensa Latina, Che organizou uma força guerrilheira identificada como Exército Guerrilheiro do Povo que, segundo alguns analistas, incorreu nos erros táticos que ele repetiria na Bolívia. Junto a Masseti, morto no Chaco argentino, - Che morreria no Chaco boliviano -, caíram dois oficiais do exército cubano que haviam sido homens de confiança de Guevara: Hermes Peña e Raúl Dávila.

Não resta dúvida de que Ernesto Guevara possuía uma imerecida reputação nos aspectos teórico e prático na guerra de guerrilhas, que Castro não tinha. Foi um dos propiciadores da Conferência Tricontinental de Havana, em princípios de 1966, que seria, segundo seus planos, o vetor para as revoluções que convulsionariam a América, a Ásia e a África.

Suas freqüentes e longas viagens pelo estrangeiro nas quais proferia incendiários discursos revolucionários, o foram convertendo em uma espécie de porta-voz da Revolução Mundial e seus contatos diretos com Ben Bella, Gamal Abdel Nasser, Sekou Toure, Joseph “Tito” Broz, Ahmed Sukarno e as cúpulas do poder na República Popular da China e Vietnã, acrescentavam seu prestígio de indivíduo comprometico com mudanças políticas radicais.

Uma anedota que Carlos Franqui conta em seu livro “Cuba, a Revolução, Mito ou Realidade”, reflete até que ponto Guevara acreditava nas medidas extremas como índice do progresso do projeto que defendia. Conta Franqui que durante uma visita à República Árabe Unida, Egito e Síria, Guevara perguntou a Gamal Abdel Nasser quantas pessoas haviam abandonado o país depois do triunfo de sua Revolução, ao que o líder egípcio respondeu: “Muito poucas”, ao que o guerrilheiro retrucou: “Isso significa que em sua revolução não aconteceu grande coisa; eu meço a profundidade de uma transformação social pelo número de pessoas afetadas por ela e que pensam que não têm lugar na nova sociedade”.

Entretanto, este homem que mataria e morreria por suas convicções, assume durante sua juventude uma conduta inexplicável. Nunca participou ativamente contra os movimentos fascistas e anti-judeus que existiam na Argentina, nem tampouco se vinculou aos que combatiam diretamente a ditadura de Juan Domingo Perón.

Apesar de sua condição de membro da Federação Universitária Buenos Aires, organismo dirigido por socialistas e comunistas, não leva vida de militante nem são conhecidos artigos ou discursos nos quais ele exponha suas opiniões sobre os problemas que seu país enfrentava naqueles dias. Em uma palavra, não se conhece de sua parte ações contra os atos de força do governo de Juan Domingo Perón.

Nos primeiros meses de 1965, Guevara visita vários países africanos, entre eles a Argélia e a República do Congo, Brazzaville, e oferece a Massemba Debat seu apoio na formação e preparação das forças guerrilheiras que estavam se formando nesse país para atacar o antigo Congo Belga, que estava sob o comando de José Mobutu. A proposta de Guevara é aceita, situação que põe de imediato ao conhecimento de Fidel Castro que, sem duvidar, lhe facilita os meios e recursos necessários. Nesta viagem Guevara também oferece ajuda ao movimento independentista angolano, dirigido por Agostinho Neto.

Para Castro e o “Che”, esta colaboração se emoldura perfeitamente em seus projetos de desestabilização e subversão, que por sua vez era uma ferramenta a mais para aumentar o protagonismo político e a hegemonia da Revolução e de seus líderes.

A cruenta guerra africana se acentua com a partida de Guevara para o Congo com um contingente de 125 guerrilheiros, perfeitamente treinados e melhor armados, todos veteranos da luta insurrecional contra o regime de Fulgencio Batista. Segundo Jorge Risquet, membro do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, os internacionalistas cubanos no Congo só perderam seis homens, sem dar detalhes de quantos guerrilheiros africanos morreram sob o comando de Ernesto Guevara.

As forças cubanas chegaram a Kinshasa depois de atravesar o lago Tanganica. Seis meses mais tarde, em dezembro de 1965, Guevara regressa a Havana com o resto de seu contingente, decepcionado com as guerrilhas congolesas. De todas as suas fracassadas ações bélicas, a menos conhecida é a do Congo. Nesse país africano ele cometeu erros táticos e estratégicos que repetiria uma vez mais na Bolívia.

Porém, bem, para asseverar seu apostolado de violências, reproduzimos algumas de suas proposições:

A – Durante sua intervenção na Assembléia Geral das Nações Unidas, em 11 de dezembro de 1964, Guevara expressou: “Nós temos que dizer aqui o que é uma verdade conhecida, que sempre expressamos ante o mundo: fuzilamento, sim, temos fuzilado, fuzilamos e continuaremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta de morte. Nós sabemos qual seria o resultado de uma batalha perdida e os “gusanos” (Che foi a primeira pessoa a usar esta expressão, que significa literalmente “vermes”, ao referir-se a qualquer inimigo. Hoje, é um chavão usado pela Nomenklatura cubana especificamente em relação aos dissidentes cubanos, sobretudo aqueles residentes em Miami. G.S.) também têm que saber qual é o resultado da batalha perdida hoje em Cuba”.

B – “O caminho pacífico está eliminado e a violência é inevitável. Para conseguir regimes socialistas deverão correr rios de sangue e deve-se continuar a rota da libertação, mesmo que seja a custa de milhões de vítimas atômicas”.

C – “O ódio como fator de luta, o ódio intransigente ao inimigo, que o impulsiona além das limitações naturais do ser humano e o converte em uma efetiva, violenta, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm que ser assim; um povo sem ódio não pode triunfar sobre o inimigo brutal. Há que levar a guerra até onde o inimigo a leve: à sua casa, a seus locais de diversão; fazê-la total. Há que impedi-lo de ter um minuto de tranqüilidade, um minuto de sossego fora de seus quartéis e ainda dentro dos mesmos: atacá-lo onde quer que se encontre; fazê-lo sentir-se uma fera perseguida por cada lugar que transite. Então, seu moral irá decaindo. Se fará mais bestial ainda, porém, se notarão os sinais do decaimento que lhe assoma”.

Nota da tradutora: Este parece ter sido o “conselho” mais amplamente empregado em Cuba e que vige até hoje, tornado mais brutal e violento com o comando da ditadura nas mãos de Raúl há mais de um ano, o antes “apagado” irmão e “sombra” (mas também cérebro) do sanguinário Fidel. Mas, isto será tema para outra edição.

Fontes: “Ernesto Guevara, Mito e Realidade”, Enrique Ros.
“Passagens da Guerra Revolucionária”, Ernesto Che Guevara.
“Che”, Jon Lee Anderson.
“Cuba: Perfis do Poder”, Pedro Corzo.
Documentos, cartas, discursos e ensaios de Ernesto Guevara.

Pedro Corzo é jornalista e presidente do Instituto de la Memoria Histórica Cubana contra el Totalitarismo, que produziu, com a direção do cineasta Luis Guardia, o documentário sobre Ernesto Guevara intitulado: “Guevara: “Anatomia de um Mito”.

Artigo publicado originalmente por http://www.gentiuno.com

Comentários e traduções: G. Salgueiro

domingo, outubro 07, 2007

Cuidado, os quilombolas estão chegando!

"A Reforma Agrária é uma luta sistemática
e feroz contra o feudalismo (...) seu objetivo
não é dar terras aos camponeses pobres,
nem aliviar sua miséria: esse é um
ideal de filantropos, não de marxistas..."
LIOU-CHAO-TCHI
Secretário Geral do Partido Comunista Chinês
Informe de 14 de junho de 1950


T
rata-se de mais um passo da grande conjuração que está mudando a estrutura da propriedade agrária, e agora também urbana, no Brasil, rumo a uma comunistização do País. Nunca-antes-em-nossa-história atentou-se contra o direito de propriedade privada e o Estado de direito como nestes dias em que vivemos. Um órgão do governo, com muito dinheiro e aparelhado com funcionários formados na ideologia socialista, vem coletivizando as nossas terras. Entenda-se coletivizar como tornar o País comunista.

Trabalhando na surdina

Depois de mais de 40 anos de uma fracassada Reforma Agrária, o INCRA só criou favelas rurais. Usou e usa o exército de acampados e assentados do MST e congêneres para invadir - sempre precedidos por escudos humanos como mulheres grávidas e um batalhão de crianças - e preparar as desapropriações.

As favelas rurais, por sua vez, são coletivizadas e milhares de arregimentados, muitas vezes ludibriados em sua boa-fé por um discurso matreiro, ali vivem escravizados. Num sistema fechado, como em Cuba ou na China. Recebem uma formação marxista e ninguém pode discordar.

O socialismo é uma ideologia dogmática e não admite discordância. E por isso mesmo descamba para a adoção de um regime político totalitário e exterminador dos oponentes, porque por si só, por seu valor, não se sustenta.

Por isso também trabalham na surdina o quanto podem, para não provocar reações que lhes barrem o caminho. Os movimentos ditos sociais invadem, provocam, pilham, seqüestram, fazem a parte arruaceira do processo... e atrás vem o INCRA, perseguindo e desapropriando.

Essas medidas fazem parte de um conjunto de Políticas Públicas do governo federal, atuando rapidamente por meio de decretos, instruções normativas , portarias etc.. A Constituição e a Lei? Ora a lei! Como em regimes totalitários...

A quem aproveita a mudança da estrutura da propriedade agrária?

É estarrecedor!

Vejam o que disse Ché-Guevara, líder comunista da guerrilha armada,incensado como um santo por todas as lideranças agro-reformistas, inclusive da “esquerda católica” e da teologia da libertação:

"A base das reivindicações sociais que o guerrilheiro deve levantar, será a mudança da estrutura da propriedade agrária... a luta deve desenvolver-se, pois, continuamente, sob a bandeira da reforma agrária"

Todos sabem que o direito de propriedade é um dos fundamentos da liberdade.

O regime comunista, pelo contrário, ao abolir o direito de propriedade, acaba eliminando a liberdade e implantando uma terrível ditadura.

A mudança da estrutura da propriedade agrária no Brasil

Com a Reforma Agrária em 8,1% do território nacional houve mudança de propriedades, que de privadas passaram às mãos de coletivizados sem-terra que não têm a propriedade. Detem apenas o uso. O processo anda acelerado.

Com os territórios indígenas, a mesma coisa. Tiram-se terras dos legítimos proprietários. Terras que passam a constituir reservas indígenas. Hoje, 12,4% do território nacional estão demarcadas para os indígenas. E não pararam por aí. Os noticiários da mídia não cessam de transmitir notas sobre expansões das antigas ou outras novas que foram criadas.

Agora vêm aí os quilombolas!


O mapa mostra em vermelho, os municípios
que podem ser atingidos pela Revolução Quilombola.
São perto de 3.500 áreas

E vêm com força total, por um processo mais rápido e mais fácil de mudança de proprietários. E mais! Invadem as cidades! Imaginem só! Perto de 30 milhões de hectares (2,4% do território nacional) serão arrancados das mãos de seus legítimos proprietários e entregues a associações de quilombolas. Para conseguir esse intento basta que um pretenso quilombola faça uma auto-definição (o quilombola declara-se afro-descendente) e uma auto-demarcação (diz que as terras pertenceram a seus antepassados).

Então a Fundação Palmares, órgão do Ministério da Cultura, entra em cena com seus antropólogos para reconhecer facilmente e sem contraditório. E o INCRA apressa-se em demarcar as terras e expulsar dali seus legítimos proprietários. Indenização, como é de justiça, somente das benfeitorias quando muito! Os prazos para os proprietários se defenderem? 90 dias! E mesmo assim têm sua defesa recusada.

As terras não passam para as mãos dos quilombolas, como o leitor pode esperar. Passam a ser uma propriedade coletiva de uma associação de quilombolas, onde os pretensos remanescentes de Quilombo ficarão à mercê de “lideranças” formadas pelo INCRA e pela Fundação Zumbi dos Palmares.

Trata-se, portanto, da implementação de uma nova escravidão, de modelo estatal, sem nenhum direito de comercializar a terra ou progredir. Se algum quilombola quiser sair, não terá nenhuma indenização. Será que, por ser estatal, essa escravidão não será reconhecida como tal? Tudo é possível neste nosso País da fantasia... onde ninguém sabe ou ninguém vê...

Esse processo está bem descrito, em detalhes, no livro “A Revolução Quilombola”, do jornalista Nelson Ramos Barretto, recém-lançado. Como seus livros anteriores - “Reforma Agrária – Mito e Realidade” e “Trabalho Escravo nova arma contra a propriedade privada” - este novo livro é muito bem documentado. Colhendo depoimentos nas áreas de maior conflito, Barretto, em estilo claro e direto, municia o leitor com as informações necessárias para poder acompanhar o noticiário a respeito do assunto.

Nesse livro você ainda poderá saber como uma guerra racial está sendo montada artificialmente em nosso País. Como a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), do governo federal, está agindo. Como se faz esse confisco agrário e urbano. Como se coletivizam as terras brasileiras.

Um livro imperdível que o “Sem medo da verdade” recomenda a todos seus leitores. Se quiser, encomende o seu aqui. Você receberá o livro gratuitamente, junto com e um boleto-convite a uma doação de R$ 20,00, que você fará se quiser ajudar na difusão do mesmo.

www.paznocampo.org.br

sábado, outubro 06, 2007

O que deu em mim?

Diogo Mainardi

Mônica Veloso está na capa da Playboy. No alto da página, à altura de seu gogó, a menos de 10 centímetros de sua célebre tatuagem de borboleta, destaca-se a seguinte frase dita por mim numa entrevista: "Políticos são todos meio vagabundos".

Meio vagabundos? O que deu em mim? Estou perdendo o azedume? Estou perdendo o discernimento? Sempre ostentei a certeza inabalável de que todos os políticos eram inteiramente vagabundos, irrecuperavelmente vagabundos, insofismavelmente vagabundos. A idéia de que eles possam ser apenas meio vagabundos contraria todo o meu sistema de valores. Quem é meio vagabundo possui outra metade que, em tese, pode ser um tantinho menos vagabunda. Isso atenta contra todas as minhas crenças. Em teoria política, sou menos Tocqueville e mais W.C. Fields, o maior de todos os pensadores da matéria.

A frase sobre a vagabundice dos políticos reproduzida pela Playboy se referia a Lula. A quem mais poderia referir-se, tendo sido pronunciada por mim, o mais conhecido lulófobo do planeta? Se eu considerasse os políticos apenas meio vagabundos, conforme declarei à revista, teria caído na mesma cilada de outros jornalistas e parajornalistas, que passaram os últimos trinta anos alimentando o engodo de que Lula era diferente dos demais políticos. Eu fiz o contrário: repeti o tempo todo que ele era igual a José Sarney, a Fernando Collor, a Jader Barbalho, a Paulo Maluf, a Renan Calheiros. O mesmo Renan Calheiros que, nas páginas da Playboy, aparece promiscuamente ensanduichado entre mim, o lobista da Mendes Júnior e Mônica Veloso.

Sempre me arrependo de dar entrevistas. Em primeiro lugar, porque tenho pouco a dizer. Em segundo lugar, porque acabo piorando esse pouco, como no caso da frase sobre os políticos meio vagabundos. Só dei a entrevista à Playboy para tentar vender meia dúzia de cópias a mais de meu livro de crônicas sobre as estripulias do lulismo. No livro, eu – o cronista em primeira pessoa – represento o heróico papel de caçador. Lula é a caça. Como caçador, meu desempenho é semelhante ao do vice-presidente americano Dick Cheney, que, embriagado, acertou um tiro no rosto de um de seus melhores amigos. Suponho que Dick Cheney recorde o episódio com carinho, assim como eu recordo com carinho as estripulias lulistas.

Ainda há quem esteja disposto a se perverter em favor de Lula, como os 34 fascistóides que, na última quinta-feira, incendiaram cópias de VEJA na frente da sede da Editora Abril, no Rio de Janeiro. Mas o que pode acabar prevalecendo no Brasil, com um mínimo de sorte, é o conceito radicalmente democrático de que precisamos incrementar os mecanismos de alerta contra os políticos. Porque todos eles – é um fato – são vagabundos.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Entre tiros e afagos

Olavo de Carvalho

O que escrevi aqui dias atrás sobre a incompatibilidade entre as pretensões da esquerda e as tradições constitutivas das Forças Armadas teve logo em seguida a mais significativa das confirmações quando fiquei sabendo que os três clubes que congregam a oficialidade nacional – o Clube Militar, o Clube Naval e o Clube da Aeronáutica – estão movendo, juntos, uma ação judicial contra a promoção post mortem do terrorista Carlos Lamarca ao posto de coronel de um Exército que ele traiu. A petição, redigida pelo advogado carioca Nina Ribeiro, não foi noticiada pela grande mídia, empenhada em fazer parecer que toda a encrenca entre o governo e os militares é apenas uma rusga passageira entre um ministro fanfarrão e alguns oficiais magoados. O sr. Nelson Jobim é, de fato, presunçoso e mandão, ao ponto de tornar-se insuportável, mas sua conduta grotesca não faz senão trazer à mostra um conflito bem mais profundo, estrutural e, a longo prazo, sem solução.

As Forças Armadas estão bem conscientes de que não servem ao governo, muito menos a governantes, mas ao Estado brasileiro. Toda a estratégia petista, ao contrário, consiste em submeter o Estado não só ao governo, mas ao partido governante e, através deste, ao esquema revolucionário continental protagonizado pelo Foro de São Paulo , com todas as entidades estrangeiras que o compõem e que, através dele, se sentem autorizadas a interferir nos assuntos nacionais com a mesma naturalidade amoral, quase candura sociopática, com que o sr. Luís Inácio confessa ter usado o governo brasileiro como instrumento para dar uma ajudinha ao sr. Hugo Chávez no plebiscito venezuelano.

O que há aí não é uma querela de ocasião, mas uma contradição antagônica que só pode ser resolvida mediante a eliminação de um dos termos: ou o PT desiste de suas alianças com o movimento comunista latino-americano e consente em tornar-se um partido burguesmente inofensivo, submisso à ordem capitalista democrática que ele jurou substituir por um paraíso socialista, ou as Forças Armadas desistem de ser o que são e aceitam servir sob as ordens do Foro de São Paulo , juntando-se às tropas de Hugo Chávez e de Fidel Castro na “guerra anti-imperialista do povo inteiro” contra os EUA. As duas hipóteses são desastrosas: a primeira jogaria contra o PT a totalidade da esquerda revolucionária continental, sujeitando os líderes petistas à ameaça dos seqüestros, atentados e demais truculências que eles acham lindas quando praticadas contra os outros. A segunda transformaria as nossas Forças Armadas não só em servidoras de seus inimigos, mas em cúmplices de uma aventura revolucionária que só pode resultar na total destruição da nossa soberania, se não das bases materiais da existência nacional.

Consciente dessas tremendas dificuldades, a liderança esquerdista tem procurado ganhar tempo, adiando o confronto enquanto busca persistentemente levar para dentro dos quartéis a “revolução cultural” incumbida de transmutar as Forças Armadas no seu oposto, pelos meios ardilosos, lentos, delicados e anestésicos criados pelo gênio maligno de Antônio Gramsci.

Sabemos que um dos cérebros mais ativos por trás dessa operação é o sr. João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, sendo este o motivo pelo qual eu ter pisado no calo dessa figura apagada e discreta suscitou uma reação tão histérica da parte da intelligentzia esquerdista.

O antagonismo entre o futuro da revolução continental e o passado histórico das Forças Armadas é simbolizado de maneira eloqüente pelo contraste entre duas cenas que se repetem de tempos em tempos: de um lado, nossos soldados das tropas de fronteira trocando tiros com os guerrilheiros das Farc na Amazônia, de outro o presidente da República, em Brasília, afagando as cabeças dos líderes da organização. O sr. Luís Inácio é um mestre na arte de empurrar com a barriga, mas há contradições objetivas, cujo peso resiste até mesmo à respeitável protuberância ventral de S. Excia.

Olavo de Carvalho é jornalista, ensaista e professor de Filosofia

quinta-feira, outubro 04, 2007

De Platão a Mangabeira

Olavo de Carvalho, filósofo

Depois que os brasileiros tiraram o último lugar entre estudantes secundários de 32 nacionalidades, os progressos da ignorância pátria não cessaram de assombrar o mundo. O "Índice Global de Talentos" das consultorias Economist Intelligence Unit e Heidrick & Struggles mostra que o Brasil é um dos países com menor capacidade de criar ou atrair mentes brilhantes. Num total de 30 concorrentes, estamos em 23º lugar.
Não me venham com as explicações econômicas de sempre. "Nêfte paíf", recordista mundial de professores universitários per capita (um para cada oito alunos), a classe dos intelectuais subsidiados prospera dia-a-dia desde que a USP chegou ao poder com Fernando Henrique e nunca mais saiu de cima de nós. Os dois fatores estão interligados.
À progressiva míngua de talentos corresponde o vigoroso crescimento da máfia intelectual ativista. "Ativista" não quer dizer mentalmente ativo, mas "politicamente participante", isto é, o sujeito que tem a generosidade de ocupar quantos cargos públicos lhe ofereçam, de embolsar todas as verbas estatais disponíveis e de assinar todos os manifestos que se publiquem em favor de pessoas envolvidas solidariamente nas duas tarefas anteriores.
Desde o tempo de O imbecil coletivo, já documentei tão amplamente a inépcia grotesca das figuras mais badaladas da intelectualidade nacional, que oferecer novas provas seria redundância. Mas não resisto a apontar o exemplo do professor Roberto Mangabeira Unger, que de certo modo condensa na sua desengonçada pessoa todo esse fenômeno sociológico.
Outro dia, rememorando Platão, escrevi que filósofo é o indivíduo que tenta encontrar um princípio de ordem na sua própria alma e então - só então - diagnosticar ou mesmo tentar curar a desordem do mundo. Com essa idéia na cabeça, tomei um susto quando li a declaração do supracitado Mangabeira: "Para ajudar a transformar o Brasil, em primeiro lugar tenho que transformar a mim mesmo".
Será que o Mangabeira virou filósofo após tê-lo parecido tão bem?, perguntei. Na continuação, porém, o iluminado esclarecia o sentido da transformação interior a que almejava: "Sou um homem sem charme num país de charmosos. Isso é uma séria complicação. Eu preciso aprender a ter charme".
Platão, logo após seu fracasso político juvenil, descobriu que não estaria apto a orientar governantes enquanto não encontrasse dentro de si a raiz que o ligava ao fundamento último da existência. Tal foi a meta a que dirigiu seus esforços de uma vida inteira. O guru presidencial, em contraste, sente que para o desempenho de suas altas responsabilidades não lhe falta senão o que pode haver de mais exterior e efêmero. Sem querer, ele enuncia aí o princípio supremo da pedagogia filosófica nacional, que Machado de Assis já havia resumido na "Teoria do Medalhão": o ser é nada, o parecer é tudo. Tal é a distância que separa Atenas de Brasília.
Guiada por tipos que não são nem mesmo o Mangabeira Unger mas aspiram a sê-lo quando crescerem, a inteligência brasileira entrou em parafuso, veio ao solo e, rompendo-lhe a superfície, mergulhou na treva infernal da estupidez auto-satisfeita. Desde então nossas universidades, sustentadas pelo dinheiro público, despejam anualmente no mercado milhões de imbecis qualificados para a devoção a Che, o consumo de drogas e o culto emocionado da sua própria superioridade moral, medida pela raiva assassina que sentem do restante da espécie humana. Nessas condições, a educação nacional, hoje em dia, só se distingue do crime organizado porque o crime é organizado.