quinta-feira, setembro 28, 2006

Lula, réu confesso!!!

Eu deveria estar grato ao sr. presidente da República. Quando praticamente a mídia nacional inteira se empenha em camuflar as atividades ou até em negar a existência do Foro de São Paulo, tachando de louco ou fanático aquele que as denuncia, vem o fundador mesmo da entidade e dá todo o serviço, comprovando de boca própria as suspeitas mais deprimentes e algumas ainda piores que elas.

O discurso presidencial de 2 de julho de 2005, pronunciado na celebração dos quinze anos de existência do Foro e reproduzido no site oficial do governo, http://www.info.planalto.gov .br/download/discursos/pr812a .doc, é a confissão explícita de uma conspiração contra a soberania nacional, crime infinitamente mais grave do que todos os delitos de corrupção praticados e acobertados pelo atual governo; crime que, por si, justificaria não só o impeachment como também a prisão do seu autor.

À distância em que estou, só agora tomei ciência integral desse documento singular, mas os chefes de redação dos grandes jornais e de todos os noticiários de rádio e TV do Brasil estiveram aí o tempo todo. Tendo sabido do discurso desde a data em que foi pronunciado, ainda assim continuaram em silêncio, provando que sua persistente ocultação dos fatos não foi fruto da distração ou da pura incompetência: foi cumplicidade consciente, maquiavélica, com um crime do qual esperavam obter não se sabe qual proveito.

O sentido destes parágrafos, uma vez desenterrado do lixo verbal que lhe serve de embalagem, é de uma nitidez contundente:

"Em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990... Foi assim que nós, em janeiro de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do Grupo de Amigos para encontrar uma solução tranqüila que, graças a Deus, aconteceu na Venezuela. E só foi possível graças a uma ação política de companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente. Quem está lembrado, o Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela.

"Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política."

O que o sr. presidente admite nesses trechos é que:

1º. O Foro de São Paulo é uma entidade secreta ou pelo menos camuflada ("construída... para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política").

2º. Essa entidade se imiscui ativamente na política interna de várias nações latino-americanas, tomando decisões e determinando o rumo dos acontecimentos, à margem de toda fiscalização de governos, parlamentos, justiça e opinião pública.

3º. O chamado "Grupo de Amigos da Venezuela" não foi senão um braço, agência ou fachada do Foro de São Paulo (" em função da existência do Foro... foi que propusemos ao companheiro presidente Chavez ...").

4º. Depois de eleito em 2002, ele, Luís Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo que pro forma abandonava seu cargo de presidente do Foro de São Paulo, dando a impressão de que estava livre para governar o Brasil sem compromissos com alianças estrangeiras mal explicadas, continuou trabalhando clandestinamente para o Foro, ajudando, por exemplo, a produzir os resultados do plebiscito venezuelano de 15 de agosto de 2004 (" graças a essa relação foi possível construirmos a consolidação do que aconteceu na Venezuela "), sem dar a menor satisfação disso a seus eleitores.

5º. A orientação quanto a pontos vitais da política externa brasileira foi decidida pelo sr. Lula não como presidente da República em reunião com seu ministério, mas como participante e orientador de reuniões clandestinas com agentes políticos estrangeiros ("foi uma ação política de companheiros, não uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente"). Acima de seus deveres de presidente ele colocou sua lealdade aos "companheiros".

O sr. presidente confessa, em suma, que submeteu o país a decisões tomadas por estrangeiros, reunidos em assembléias de uma entidade cujas ações o povo brasileiro não devia conhecer nem muito menos entender.

Não poderia ser mais patente a humilhação ativa da soberania nacional, principalmente quando se sabe que entre as entidades participantes dessas reuniões decisórias constam organizações como o MIR chileno, seqüestrador de brasileiros, e as Farc, narcoguerrilha colombiana, responsável segundo seu parceiro Fernandinho Beira-Mar pela injeção de duzentas toneladas anuais de cocaína no mercado nacional.

Nunca um presidente eleito de qualquer país civilizado mostrou um desprezo tão completo à Constituição, às leis, às instituições e ao eleitorado inteiro, ao mesmo tempo que concedia toda a confiança, toda a autoridade, a uma assembléia clandestina repleta de criminosos, para que decidisse, longe dos olhos do povo, os destinos da nação e suas relações com os vizinhos. Nunca houve, no Brasil, um traidor tão descarado, tão completo e tão cínico quanto Luís Inácio Lula da Silva.

A maior prova de que ele ludibriou conscientemente a opinião pública, mantendo-a na ignorância das operações do Foro de São Paulo, é que, às vésperas da eleição, amedrontado pelas minhas constantes denúncias a respeito dessa entidade, mandou seu "assessor para assuntos internacionais", Giancarlo Summa, acalmar os jornais por meio de uma nota oficial do PT, segundo a qual o Foro era apenas um inocente clube de debates, sem nenhuma atuação política (v. http://www.olavodecarvalho.org /semana/10192002globo.htm).

E agora ele vem vem se gabar da "ação política de companheiros", praticada com recursos do governo brasileiro às escondidas do Parlamento, da justiça e da opinião pública.

Comparado a delito tão imenso, que importância têm o Mensalão e fenômenos similares, senão enquanto meios usados para subsidiar operações parciais no conjunto da grande estratégia de transferência da soberania nacional para a autoridade secreta de estrangeiros?

Pode haver desproporção maior do que entre vulgares episódios de corrupção e esse crime supremo ao qual serviram de instrumentos?

A resposta é óbvia. Mas então por que tantos se prontificam a denunciar os meios enquanto consentem em continuar acobertando os fins?

Aqui a resposta é menos óbvia. Requer uma distinção preliminar. Os denunciantes dividem-se em dois tipos: (A) indivíduos e grupos comprometidos com o esquema do Foro de São Paulo, mas não diretamente envovidos no uso desses meios ilícitos em especial; (B) indivíduos e grupos alheios a uma coisa e à outra.

O raciocínio dos primeiros é simples: vão-se os anéis mas fiquem os dedos. Já que se tornou impossível continuar ocultando o uso dos instrumentos ilícitos, consentem em entregar às feras os seus operadores mais notórios, de modo a poder continuar praticando o mesmo crime por outros meios e outros agentes. O conteúdo e até o estilo das acusações subscritas por essas pessoas revelam sua natureza de puras artimanhas diversionistas. Quando atribuem a corrupção do PT, que vem desde 1990, a acordos com o FMI firmados a partir de 2003, mostram que sua ânsia de mentir não se inibe nem diante da impossibilidade material pura e simples. Quando lançam as culpas sobre "um grupo", escamoteando o fato de que as ramificações da estrutura criminosa se estendiam da Presidência da República até prefeituras do interior, abrangendo praticamente o partido inteiro, provam que têm tanto a esconder quanto os acusados do momento.

Mais complexas são as motivações do grupo B. Em parte, ele compõe-se de personagens sem fibra, física e moralmente covardes, que preferem ater-se ao detalhe menor por medo de enxergar as dimensões continentais do crime total. Há também o subgrupo dos intelectualmente frouxos, que apostaram na balela da "morte do comunismo" e agora se sentem obrigados, para não se desmentir, a reduzir a maior trama golpista da história da América Latina às dimensões mais manejáveis de um esquema de corrupção banal, despolitizando o sentido dos fatos e fingindo que Lula é nada mais que um Fernando Collor sem jet ski . Há os que, por oportunismo ou burrice, colaboraram demais com a ascensão do partido criminoso ao poder e agora se sentem divididos entre o impulso de se limpar do ranço das más companhias em que andaram, e o de minimizar o crime para não sentir o peso da ajuda cúmplice que lhe prestaram. Há os pseudo-espertos, que dão refrigério ao inimigo embalando-se na ilusão louca de que é mais viável derrotá-lo roendo-o pelas beiradas do que acertando-lhe um golpe mortal no coração. Há por fim os que realmente não estão entendendo nada e, com o tradicional automatismo simiesco da fala brasileira, saem apenas repetindo o que ouvem, na esperança de fazer bonito.

Peço encarecidamente a todos os inflamados acusadores anticorruptos das últimas semanas -- políticos, donos de meios de comunicação, empresários, jornalistas, intelectuais, magistrados, militares – que examinem cuidadosamente suas respectivas consciências, se é que alguma lhes resta, para saber em qual desses subgrupos se encaixam. Pois, excetuando aqueles poucos brasileiros de valor que subscreveram em tempo as denúncias contra o Foro de São Paulo, todos os demais fatalmente se encaixam em algum.

Seria absurdo imputar tão somente a Lula e ao Foro de São Paulo a culpa do apodrecimento moral brasileiro, esquecendo a contribuição que receberam desses moralistas de ocasião, tão afoitos em denunciar as partes quanto solícitos em ocultar o todo. Nada poderia ter fomentado mais o auto-engano nacional do que essa prodigiosa rede de cumplicidades e omissões nascidas de motivos diversos mas convergentes na direção do mesmo resultado: criar uma falsa impressão de investigações transparentes, uma fachada de normalidade e legalidade no instante mesmo em que, roída invisivelmente por dentro, a ordem inteira se esboroa.

A destruição da ordem e sua substituição por " um novo padrão de relação entre o Estado e a sociedade ", decidido em reuniões secretas com estrangeiros, tal foi o objetivo confesso do sr. Lula. Esse objetivo, disse ele em outra passagem do mesmo discurso, deveria ser alcançado e consolidado " de tal forma que isso possa ser duradouro, independente de quem seja o governo do país ".

O que se depreende da atitude daqueles seus críticos e acusadores é que, nesse objetivo geral, o sr. Lula já saiu vitorioso, independentemente do sucesso ou fracasso que venha a obter no restante do seu mandato. A nova ordem cujo nome é proibido declarar já está implantada, e sua autoridade é tanta que nem mesmo os inimigos mais ferozes do presidente ousam contestá-la. Todos, de um modo ou de outro, já se conformaram ao menos implicitamente em colocar o Foro de São Paulo acima da Constituição, das leis e das instituições brasileiras. Se reclamam de roubalheiras, de desvios de verbas, de mensalões e propinas, é precisamente para não ter de reclamar da transferência da soberania nacional para a assembléia continental dos "companheiros", como Hugo Chávez, Fidel Castro, os narcoguerrilheiros colombianos e os seqüestradores chilenos. É como a mulher estuprada protestar contra o estrago no seu penteado, esquecendo-se de dizer alguma coisinha, mesmo delicadamente, contra o estupro enquanto tal.

Talvez os feitos do sr. Lula e do seu maldito Foro não tenham trazido ao Brasil um dano tão vasto quanto essa inversão total das proporções, essa destruição completa do juízo moral, essa corrupção integral da consciência pública. Nunca se viu um acordo tão profundo entre acusado e acusadores para permitir que o crime, denunciado com tanto alarde nos detalhes, fosse tão bem sucedido nos objetivos de conjunto " sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem ".

Não é elogio nem auto-elogio

Em 22 de fevereiro de 2003 escrevi no Globo : "A direita fisiológica imaginou que, bajulando o dominador, ganharia tempo para recompor-se e derrotá-lo um dia. Ledo engano. Se fora do governo a esquerda já logrou reduzir os Magalhães e os Malufs ao mais humilhante servilismo, no governo não descansará enquanto não os atirar à completa impotência e marginalidade. Não dou dois anos para que cada um deles, culpado ou inocente, esteja na cadeia, no exílio ou no mais profundo esquecimento."

Magalhães foi para o museu faz mais de um ano. Maluf está na cadeia.

Em 11 de março de 2004 escrevi no Jornal da Tarde : "O partido governante não tem a menor intenção de curvar-se às exigências morais e legais das quais se serviu durante uma década para destruir reputações, afastar obstáculos, chantagear a opinião pública e conquistar a hegemonia. Denúncias e acusações não têm a mínima condição de obrigá-lo a isso, porque não há força organizada para transformá-las em armas políticas."

O STF vetou os processos de cassação de mandatos contra José Dirceu e os demais acusados petistas (até agora o único punido foi, não por coincidência, o denunciante dos crimes).

Há mais de uma década, todas as previsões que fiz sobre os rumos da política nacional se confirmaram, enquanto os mais badalados comentaristas e politólogos, da mídia e das universidades, não acertavam uma, uma sequer (breve mostruário em http://www.olavodecarvalho.org /semana/050625globo.htm).

Como se explica um contraste tão acachapante?

Quinta-feira da semana retrasada, ao receber-me na Atlas Foundation de Washington para a breve alocução que ali pronunciei (http://www.olavodecarvalho.org /palestras/palestra_atlas _set2005.htm), Alejando Chafuen, presidente da entidade, economista e filósofo de fama mundial, disse que as minhas análises estavam entre as mais valiosas realizações que ele já tinha visto no campo da ciência política. Não entendo isso como elogio, mas como o simples reconhecimento de um fato. O poder de previsão fundado na análise racional dos dados é a marca mais característica e inconfundível do saber científico. Tenho despendido uma energia considerável no empenho de compreender cientificamente a sociedade e, se o resultado é algum conhecimento efetivo, não há nisso surpresa maior do que aquela que você tem quando deixa o carro enguiçado no mecânico e no dia seguinte o carro sai funcionando. É verdade que meus trabalhos teóricos, como "Ser e Poder" e "O Método nas Ciências Humanas", que circulam como apostilas de meus cursos na PUC do Paraná, continuam inéditos em livro e não têm como ser resumidos em artigos de jornal, onde as conclusões monstruosamente compactadas da sua aplicação aos fatos do dia aparecem como se nascidas do nada. Mas já vão longe os tempos em que o editor Schmidt, pela leitura de uns relatórios de prefeito do interior de Alagoas, adivinhava um romancista oculto. Hoje a totalidade da classe falante é incapaz de suspeitar que exista alguma investigação científica por trás de uma sucessão ininterrupta de previsões certas que, de outra forma, só se explicariam por dons sobrenaturais como a sabedoria infusa de São Lulinha.

Longe da mídia brasileira

* No noticiário da passeata anti-Bush em Washington, nenhum jornal brasileiro, absolutamente nenhum, mencionou nem mesmo por alto as ligações diretas entre algumas das entidades que promoveram essa manifestação e as organizações terroristas responsáveis pela violência contínua no Iraque. Quem quiser saber algo a respeito encontrará todas as informações no site de David Horowitz, www.discoverthenetwork.org.

* Altos funcionários do governo da Lousiana estão sob investigação criminal por desvio de 60 milhões de dólares de verbas federais enviadas, muito antes do furacão Katrina, para a reforma das barragens de New Orleans. Entendem por que a obra não saiu?

* O repórter da ABC, Dean Reynolds, foi filmado em pleno vexame de tentar extorquir declarações anti-Bush de vítimas da enchente, recebendo respostas contrárias às que esperava. O mais lindo foi o diálogo com uma senhora negra:

-- A senhora não tem raiva do presidente por causa da resposta federal tardia?

-- Não, de maneira alguma. Os governos do Estado e do município é que tinham de estar a postos primeiro.

-- E não estavam?

-- Não, não estavam. Meu Deus, não estavam!

* O primeiro-ministro Tony Blair estragou a festa dos ecochatos na reunião da Clinton Global Initiative num hotel chiquérrimo de Manhattan. Ex-partidário do badalado Protocolo de Kyoto, chegou à reunião dizendo que ia falar "com honestidade brutal", e fez exatamente isso: disse que, quando o tratado expirar em 2012, país nenhum vai querer assiná-lo de novo, boicotando seu próprio crescimento econômico. O colunista James Pinkerton, da Tech Central Station , disse que em tempos normais essa declaração seria manchete em todo mundo. Agora, a grande mídia americana, mais interessada em ativismo ecológico global do que em jornalismo, preferiu ignorá-la.

* Enquanto as organizações de familiares das vítimas do terrorismo basco prometem manifestações de protesto contra a cumplicidade entre o primeiro-ministro Zapatero e a ETA, esta organização terrorista, que acaba de fazer mais um atentado (mal sucedido, felizmente), anuncia que vai prestar homenagens a Fidel Castro e Hugo Chávez durante a reunião de chefes de Estado latino-americanos em Saalamanca, 14-15 de outubro.

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 26 de setembro de 2005

Queremos a verdade!

Restou, única e solitária, a questão essencial: quem forneceu o dinheiro para a operação suja do dossiê? É o que a PF deve à nação

NA 25ª HORA , só há espaço para a verdade. É o fim do tempo, o limiar da revelação, a hora da decisão.
No terreno político e das evidências, expirou o prazo para a acusação. A defesa também já se manifestou. O próprio está nas ruas, nas rádios, na TV, esbravejando, acusando seus companheiros de "aloprados" em atos de confissão explícita de culpa. A oposição também está usando todos os espaços. Houve réplicas e tréplicas. Restou, única e solitária, a questão essencial: quem, precisamente, no governo e no PT, forneceu o dinheiro para a operação suja do dossiê?
Pois é isso o que a Polícia Federal deve à nação e o que a sociedade civil exige. Queremos a verdade! Só a verdade evitará condenações injustas, mas também impedirá que culpados passem por vítimas. Só a verdade impedirá fantasias e metáforas -ninguém é Cristo nem diabo-, e só a verdade impedirá que marqueteiros inescrupulosos tentem, como começaram a experimentar, fazer de "um limão uma limonada". Só a verdade impedirá que o resultado das eleições -a mais democrática e livre da história deste país- se transforme numa querela judicial sem fim que comprometerá, inevitavelmente, a rotina das instituições.
Só a verdade inteira, completa, sem restrições mentais, dirá se o presidente da República tem culpa, como o acusamos, ou se foi traído, como ele se defende. Traído? Esse é um esclarecimento decisivo.
O eleitor vai decidir se aceita manter no Planalto, reelegendo-o, um presidente cego e surdo. Caso contrário, como Lula explicará o fato de ter sido enganado por seu guarda-costas mais próximo, por seu churrasqueiro preferido, pelo presidente do seu partido e coordenador da campanha, pelo marido da sua secretária particular, por ministros de Estado e diretores de bancos estatais, seus companheiros mais afins, que montavam uma operação criminosa no seu palácio, no dia-a-dia do expediente?
Como pregam os moralistas religiosos, só a verdade salva. Ou condena, não esqueçamos a alternativa, já que é por temer a condenação que o governo e o PT estão evitando a todo custo a apresentação dos resultados das investigações da Polícia Federal.
A verdade, porém, não é segredo de conveniência. Não se pode guardá-la por oportunismo ou escamoteá-la por tática. Escondê-la, pela lei penal, é crime, compromete quem a sonega da Justiça e não beneficia quem se aproveita dessa sonegação.
A celeridade com que o Coaf acusou inocentes -como foi vítima o caseiro Francenildo, façanha petista e do governo Lula, rastreando uma conta de menos de 30 mil reais- precisa ser usada para rastrear o R$ 1,7 milhão, principalmente quando há notas seriadas e pacotes de dinheiro com cintas bancárias.
Até o início de setembro, a cavalgada mentirosa da campanha de Lula se encaminhava para um "landslade" -avalanche, em inglês-, expressão usada pelos jornais em 7 de novembro de 1972 para qualificar a vitória esmagadora da reeleição de Nixon, que derrotou o democrata McGovern em todos os Estados, com exceção de um.
Muitos acreditavam, pelas pesquisas, que Lula poderia repetir o fenômeno no Brasil a 1º de outubro. O próprio Lula estava certo disso. Ele sabia que nunca um candidato falseou tanto a verdade, atribuindo a si mesmo avanços sociais que não promoveu, mas copiou do antecessor. Nunca um governo foi mais corrupto: nenhum partido político brasileiro aparelhou a máquina estatal tão abusivamente nem administrou com mais escândalos de corrupção.
Mas, tal como aconteceu nos EUA com Nixon, o comitê da reeleição de Lula deixou um rastro de lama. Lá, apenas depois de um ano o crime seria apurado, provocando o impeachment. Aqui, porém, se descobriu quando ainda há tempo para uma solução menos traumática. Os criminosos, operadores das operações sujas, tiveram menos cuidado, se expuseram se mais e se revelaram mais precocemente, três semanas antes das eleições. Não precisaremos de impeachment: o povo decidirá no voto.
No caso de Nixon, a verdade foi descoberta pelo rastreamento do dinheiro da sabotagem de Watergate. Aqui, não será diferente. A verdade será alcançada quando se encontrar a origem do dinheiro do dossiêgate. Queremos a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade.
JORGE BORNHAUSEN

quarta-feira, setembro 27, 2006

Vexame internacional

Vexame internacional

Na montanha diária de informações, denúncias, investigações, ataques, defesas e declarações as mais estapafúrdias, a justificativa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, para a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva - 'a corrupção é percebida como prática comum' - havia transitado discretamente nos jornais de ontem.

Agora, com as novas manifestações, segundo as quais 'corrupção não impede cidadania' e é inerente à 'dimensão humana', o ministro da Cultura entra para a galeria dos notórios defensores da imoralidade e da falta de ética. E faz isso da Suíça, para platéia mundial.

Mostra-se também alienado, pois a corrupção interdita sim o exercício da cidadania, à medida que solapa princípios e desvia verbas originalmente destinadas ao cumprimento das tarefas do Estado para com o cidadão.

Gil até agora tinha conseguido manter razoável distância dos colegas adeptos da tese de que corrupção, quando popularmente tolerada, pode até ser condenável na teoria, mas na prática é perfeitamente aceitável.

Na segunda-feira, falando de Genebra, onde representa o Brasil numa conferência sobre propriedade intelectual, o ministro da Cultura juntou-se ao grupo ao apresentar sua opinião sobre a dianteira do presidente Lula nas pesquisas.

Para Gilberto Gil, isso ocorre em função de uma percepção generalizada de que a corrupção é prática tolerada, comum. Para ele, as pessoas não relacionam as denúncias diretamente à pessoa do presidente, embora percebam que possa haver relação 'com membros de seu governo'.

Na visão do ministro, 'há uma relativização do problema' que afeta 'os princípios e o sentido da verdade e da justiça' e configura-se uma questão 'muito complexa'. Concluiu o raciocínio apontando a necessidade de uma condenação à corrupção por parte dos cidadãos 'comprometidos com o processo civilizatório e o império da lei'.

Ato contínuo, fez nova referência aos altos índices de aprovação do presidente, diz que sua permanência ou não no cargo num possível segundo mandato depende de um convite de Lula e resume seu estado de espírito: 'Estou contente com o governo.'

Contente, ainda que os escândalos 'possam estar relacionados a membros do governo'. Satisfeito o bastante para abster-se de qualquer senso crítico ao ponto de não perceber que ao longo de toda a sua argumentação em nenhum momento rebateu as suspeitas que pesam sobre o presidente, amigos e assessores, nem afirmou sua crença na lisura moral do chefe da Nação, cuja equipe integra.

Por essa ótica, o importante não são as convicções nem os atos das pessoas, mas a forma como são percebidas suas atitudes. Se as malfeitorias são toleradas pela maioria e praticadas à larga sem o caráter de 'particularidades do momento' (palavras do ministro), um cidadão com a responsabilidade cultural e social de Gilberto Gil constata a 'relativização' geral do 'problema', passa ao largo da essência do assunto em pauta e tira o corpo fora, invocando associação ao 'processo civilizatório' que, para todos os efeitos, o deixaria na condição de mero espectador dos acontecimentos.

Como suas declarações não repercutiram negativamente num primeiro momento, o ministro ontem sentiu-se seguro para avançar. Ironizou as razões da popularidade de Lula - 'um mistério da vida' - e atribuiu à corrupção o status de 'fenômeno universal'.

Ficou assim patenteada a imagem do Brasil na palavra de um jornalista suíço ao colega brasileiro: 'Impressionante.'

É realmente de boquiabrir o mais cínico dos semblantes.

Os artistas e intelectuais que, como Gilberto Gil e outros já notórios, confundem suas posições políticas, perfeitamente defensáveis, de apoio ao governo, com a necessidade de justificar a deformação da moralidade para não abrir a guarda ao adversário eleitoral esquecem-se de que governos passam e o País permanece.

Amanhã ou depois, quando partidos com os quais não se identifiquem assumirem o poder, ver-se-ão prisioneiros do silêncio, da aceitação da continuidade das 'práticas comuns' ou da incoerência de condenar, nos outros, o que consideravam natural para os seus.
Dora Kramer

sexta-feira, setembro 22, 2006

Como se faz uma quadrilha

Oded Grajew, empresário que foi dos primeiros da espécie a aderir ao lulo-petismo, bem antes do poder, matou faz tempo a charada do apodrecimento do PT e, com ele, do governo Lula. Em depoimento para livro de duas jornalistas inglesas sobre a crise petista (a primeira), Oded lamentou que, para a cúpula partidária e para o pessoal do aparato burocrático, a política tenha se tornado "maneira de ganhar a vida".
Completou: "Alcançar o poder se converte no mais importante, e, para isso, as pessoas estão dispostas a fazer concessões éticas. Em outras palavras, se desejo estar no poder, necessito dinheiro, e, se não posso conseguir os fundos legalmente, então o farei ilegalmente".
Outro "lulista", aliás o novo coordenador de campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, por sua vez, queixou-se, no mesmo livro, de que trabalhou de graça como secretário de Relações Internacionais do PT durante dez anos, ao passo que "um membro de uma tendência de esquerda [do PT] ganhava R$ 7,2 mil por mês", mais do que Garcia como assessor para assuntos internacionais de Lula.
São essas "boquinhas" que fazem compradores de dossiê ou praticantes de outras delinqüências. Freud Godoy, mero segurança, usou o PT (e o governo Lula) como meio de alpinismo social, a ponto de morar em um apartamento de R$ 500 mil. Valdebran Carlos Padilha da Silva, por sua vez, mora em um condomínio de luxo em Cuiabá. José Lorenzetti, enfermeiro, virou diretor de banco federal.
Para manter as "boquinhas", é lógico que fariam de tudo. Assim como as pessoas que assessoram, todas com cargos eletivos. Para manter o poder, fazem o diabo, contando com o acobertamento do chefe, que, mesmo quando os demite, acaricia-os depois. Foi essa cultura que gerou a "quadrilha" antigamente chamada de Partido dos Trabalhadores.
CLÓVIS ROSSI

quarta-feira, setembro 20, 2006

Lula, Freud e Espinoza

Além de um Freud, Lula tem na equipe de assessores especiais no Planalto um Espinoza. Durante seus 22 anos de oposição, formou-se a lenda de que o PT tinha quadros. Como o filósofo Baruch Espinoza morreu em 1677, e Sigmund Freud, em 1939, Lula não tinha como levar para o palácio os originais, mas havia opções melhores do que as que escolheu.
Da filósofa Marilena Chaui (a espinoziana) ao psicanalista Renato Mezan (o freudiano), era fácil citar quem poderia dar alguma idéia que arejasse o governo.
O freudiano Mezan, no Planalto, poderia ter lembrado Lula de que quem está constantemente comparando-se com o outro não está seguro de si e sofre do complexo edipiano de voltar-se contra o pai, contra aquele que representa o predecessor.
No poder, Chaui poderia ter lembrado a Lula que "Ética" é a principal obra de Espinoza. Nela, jamais fala em "pecado e em dever", mas, sim, "em fraqueza e em força para ser, pensar e agir". Chaui ajudaria Lula, por meio de Espinoza, até a explicar por que, eleito sob o lema da mudança, tudo continua como sempre esteve. "Uma mudança, que é uma paixão, deixa de ser paixão no momento em que dela formamos uma idéia clara e distinta." Talvez Chaui deixasse de lado uma outra frase do filósofo: "O tirano precisa das almas tristes para triunfar, tal como as almas tristes precisam de um tirano para se acolherem e propagarem".
Mas o PT ganhou a eleição e quem galgou o poder foram Freud Godoy e José Carlos Espinoza -seguranças, amigos, dupla de faz-tudo com cargo no Planalto. Lula escolheu como "assessores especiais" o Freud e o Espinoza errados. Se tivesse nomeado Baruch e Sigmund, eles também se moveriam nas sombras, mas seriam fantasmas menos assustadores.
Plínio Fraga

Freud, Lombroso e Jung no Torto!

Quem viu neste jornal a foto do ex-assessor Freud Godoy marchando ao lado do presidente Lula se lembrou menos do psiquiatra vienense, em quem seu pai se inspirou para lhe dar o nome, que de um contemporâneo dele. Cesare Lombroso ficou famoso por ter elaborado uma das teorias mais furadas da ciência em todos os tempos: a de ser possível identificar as intenções criminosas de um ser humano pela conformação óssea de seu rosto. Numa prova de que um equívoco, mesmo fartamente negado por experiências científicas posteriores, como é o caso deste, pode tornar seu autor famoso até muito depois da morte, o substantivo próprio que define o sobrenome do autor da falsa teoria ganhou foros de adjetivo em várias línguas. Ainda hoje, passou a ser chamado de lombrosiano todo e qualquer indivíduo que, na gíria menos erudita, é tido como mal encarado ou coisa semelhante. E nosso Freud, ou melhor, o Freud do PT e do presidente Lula, é uma figura lombrosiana.

Não por ser extraordinariamente feio ou pelo fato de ser um homem alto, forte e espadaúdo, como convém a quem ganha o sustento como segurança, o que exige mais força muscular que um cérebro bem dotado para assegurar a vida do chefe - no caso, não um superior qualquer, que seja apenas dele, mas de um governo inteiro ou, como se designa institucionalmente no Estado de Direito, de toda a Nação. Se confirmada sua participação no grotesco caso da confecção de um dossiê falso para incriminar o adversário do PT favorito ao governo de São Paulo, José Serra, o Freud do Torto (assim dito por ser convidado aos churrascos com que o líder máximo homenageia amigos e aliados) será mais um lombrosiano da mente, da alma, que da configuração dos ossos da própria fácies. E, ainda que não seja o autor intelectual do delito, conforme garantiram à polícia o petista de carteirinha Valdebran Carlos da Silva Padilha e o advogado e ex-agente da Polícia Federal Gedimar Pereira Passos, pilhados com R$ 1,75 milhão em notas de real e dólar para pagar pelo tal dossiê, que lhes seria entregue por Paulo Roberto Trevisan, tio de Luiz Antônio Vedoin, o chefão da máfia das sanguessugas, sua mera condição de elo entre tais criminosos e o presidente da República já bastaria para configurar um escândalo de proporções consideráveis.

As dimensões deste escândalo não se medem pela denúncia dos petistas presos com a boca na botija, mas pelo que o Freud sem divã falou, além de onde e como o fez. Primeiro, ele contou que foi apresentado ao tal Gedimar ('funcionário da Direção Nacional do PT e responsável pela segurança do comitê de Lula') por Jorge Lorenzetti, amigo e 'churrasqueiro' do presidente na Granja do Torto. E, depois, disse que, antes de viajar para discursar nas Nações Unidas, o chefão lhe telefonou para questionar sua eventual participação no episódio. 'Se o problema do senhor de governar e de campanha for isso, pode dormir tranqüilo', teria respondido.

Ou seja, nunca antes, para usar a expressão favorita de 'nosso guia máximo', alguém tão próximo de um presidente da República reconheceu de público se haver aproximado tanto do protagonista de uma falcatrua tão sórdida e tão estúpida quanto essa confecção de um dossiê para incriminar um adversário. E, ainda assim, ele acha que o chefe não terá por que se preocupar. Trata-se do fenômeno petista da absoluta ausência de culpa. Freud, o austríaco, revolucionou a psiquiatria encontrando no desejo libidinoso do filho pela mãe (o complexo de Édipo) a origem da culpa que a tradição judaico-cristã atribui ao pecado original. Jung, o primeiro a ousar desafiá-lo, extrapolou as fronteiras do pansexualismo transferindo para qualquer desejo, não apenas o sexual, as raízes desse mecanismo psíquico. Os petistas, fundadores do lombrosianismo moral, decretam que não terá havido crime se seu autor nunca admitir a culpa. 'Se não me sinto culpado pelo crime que cometi, não cometi crime algum' - eis uma tradução livre de tudo quanto disse nosso Freud do Torto.

O presidente Lula poderia ter cobrado do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um relatório detalhado e urgente sobre a participação de seu Gregório Fortunato particular no caso - que ele próprio condenara, seguindo as normas da boa convivência em disputas eleitorais. A Polícia Federal, por este comandada, contudo, se tem mostrado particularmente lerda quando convocada a investigar suspeitos do peito (ou de perto) do líder supremo: até hoje não produziu um relatório decente sobre o achaque de Waldomiro Diniz, ex-companheiro de quarto de José Dirceu. E, ao contrário do que faz de hábito, quando convoca a imprensa para anunciar alguma operação contra quadrilhas do colarinho branco, desta vez poupou os companheiros petistas flagrados da exposição imediata às indiscretas câmeras dos jornais e da televisão. Fiel ao hábito de sempre confiar mais na palavra de um amigo e em pesquisas de opinião que em diligências policiais, Sua Excelência voou para Nova York sem temer seja pelo mandato que ainda não cumpriu, seja pelo próximo, que vai disputar nas urnas mês que vem.

E aqui, infelizmente, resta o pior dessa moral mafiosa, na qual a garantia do assessor de fé vale mais que o inquérito impessoal de um policial: o sono de Sua Excelência não deve ter sido perturbado por essa 'falha' de um companheiro de caminhadas. Por muito menos que isso, Watergate detonou Richard Nixon. Mas este país é outro e entre nós vige o costume de que a proximidade do poder não obriga ninguém a andar na linha, mas lhe garante o direito a gozar do benefício de que o afastamento da boquinha é punição bastante para remir qualquer 'engano' e livrar o chefe de todo o mal.

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

terça-feira, setembro 19, 2006

Heróis do maoísmo internacional!

Dirijo esta carta a César Teles e sua esposa Maria Amélia, que estão processando o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra por crime de tortura. Não sei se vocês sofreram mesmo o que dizem ter sofrido no Doi-Codi. Isso deve ser investigado com todo o rigor e, se confirmado, vocês devem receber todas as compensações judiciais, morais e financeiras que lhes caibam. Até a sentença final da Justiça, tudo é hipótese e conjetura, nada mais.

Há, no entanto, alguns fatos que são certezas incontestáveis. Primeiro: na época dos crimes alegados, vocês dirigiam a gráfica do PC do B, o Partido Comunista do Brasil. Segundo: o PC do B era o partido maoísta, encarregado de legitimar, enaltecer e, se possível, expandir pelo mundo o regime mais assassino, genocida e torturador que já existiu na história humana, responsável pela morte de pelo menos 60 milhões de pessoas, o triplo do que Stalin matou na URSS ou Hitler na Alemanha. Terceiro: as torturas praticadas no Laogai – a rede de presídios políticos chineses – não consistiam apenas em choques elétricos e queimaduras com pontas de cigarros, como aquelas que vocês alegam ter padecido. Incluíam e incluem espancamentos e mutilações variadas (de mãos, braços, pés, orelhas e narizes), além de um vasto repertório de agressões psicológicas calculadas por engenheiros comportamentais para quebrar a última resistência dos mais valentes e obstinados. O quarto fato é o mais bonito de todos: as pessoas que foram submetidas a esse tratamento hediondo nem sempre o foram sob a suspeita de promover, como vocês, a violência armada a soldo de um regime inimigo. Eram acusadas de ler bíblias, de ter uma cabra escondida para dar leite a seus filhos, de comer porções de arroz além do permitido pelo governo.

Vocês ajudaram a embelezar a imagem do regime que fez essas coisas, e jamais deram o mínimo sinal de arrependimento. É absolutamente ridículo pretender que vocês sejam contra a tortura. Vocês só não gostam de sofrê-la, é claro. Mas nunca acharam ruim que os chineses a praticassem em escala superior a tudo o que a imaginação macabra de ficcionistas doentes pudesse ter inventado nos séculos anteriores. Mesmo que o coronel Ustra ou qualquer outro houvesse feito o que vocês dizem que fez, ainda seria bastante inofensivo se comparado aos comunistas chineses a cujo serviço vocês estavam na ocasião.

Moralmente, vocês -- ou qualquer outro militante do PC do B que antes de acusar os crimes da ditadura brasileira não confesse os seus próprios -- estão abaixo de delinqüentes comuns, que com freqüencia se envergonham do que fazem ou pelo menos não insistem em ser premiados por isso.

Talvez vocês tenham direito à sentença declaratória que exigem, ou até a indenizações. Mas não têm direito a nenhuma piedade, consideração ou respeito. Se ganharem o processo, peguem logo seu atestado de vítimas, seus diplomas de heróis do maoísmo internacional, e vão para casa rir, com o proverbial cinismo comunista, da ordem jurídica burguesa que uma vez mais terá servido de instrumento para a sua própria destruição.
Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 14 de setembro de 2006

No gabinete presidencial

A simples suspeita de que um assessor do presidente da República possa estar envolvido numa operação de compra e venda de informações para uso político-eleitoral é caso de tamanha gravidade que não convém a ninguém - nem mesmo à oposição - tirar conclusões precipitadas a respeito.

O episódio agora é diferente daquele em que um assessor direto da Casa Civil (Waldomiro Diniz) foi flagrado em ato de extorsão porque ainda falta a prova da participação do assessor no crime e a própria ilegalidade ainda carece de esclarecimento mais preciso.

Por ora, a gravidade reside na suspeita de o partido do governo ter armado uma trama de dossiês, no fato de não ser a primeira vez que o PT protagoniza episódios infratores e na hipótese de que haja mais gente próxima ao presidente da República credenciada a integrar a organização criminosa já denunciada pelo procurador-geral da República e alvo de processo no Supremo Tribunal Federal.

A despeito do histórico pouco recomendável, todo cuidado é muito pouco, inclusive para não inocentar a priori, só por conta do atropelo, quem porventura venha mesmo a ter culpa nesse escabroso cartório de produção de dossiês que há uns bons anos entrou no cenário da luta política e tem na imprensa um parceiro nem sempre movido por intenções jornalísticas.

Recapitulando: dois homens presos com R$ 1,75 milhão em moeda sonante dizem à polícia que usariam o dinheiro para comprar um dossiê de denúncias mostrando o envolvimento do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, o ex-ministro da Saúde José Serra, com a máfia das ambulâncias.

O dossiê, segundo eles, seria vendido pela família Vedoin - cabeça da máfia -, e o dinheiro da compra viria de duas fontes: o PT e um veículo de comunicação (não disseram qual), ambos interessados na publicação do material. Os dois homens informam que haviam sido encarregados de 'avaliar' os documentos e apontam um indivíduo de nome 'Freud' ou 'Froude' como o operador da tarefa.

Repórteres do Estado cruzam informações, confirmam dados, checam CPFs e descobrem que existe um Freud Godoy lotado do gabinete do secretário particular do presidente da República, dono de uma empresa de segurança, como haviam dito os detidos. Ato contínuo, Freud pede licença, alegando inocência. Afirma que se afasta para não prejudicar o presidente e facilitar as investigações. Confirma ter encontrado quatro vezes com um dos homens presos pela Polícia Federal.

Três dias antes, quando a notícia do dossiê ainda não havia assumido o caráter de armação, era apenas a acusação contra o partido adversário do presidente, no governo houve dois tipos de reação: o presidente Luiz Inácio da Silva, em geral refratário a explicações públicas, chama a imprensa para repudiar o dossiê e o escalão inferior, na figura do controlador-geral da União, confere crédito às acusações.

Jorge Hage aponta a existência de 'documentos' - não diz quais nem onde estão - que sustentam as denúncias. O controlador vai além e, como que a acentuar o quadro para que se entenda bem o espírito da coisa, diz que José Serra e Humberto Costa, ex-ministro da Saúde já indiciado em inquérito da PF, estão na mesma situação.

Enquanto isso, a Polícia Federal prende com o espalhafato (no bom sentido, até) habitual os que puseram à venda o dossiê, mas age muito discretamente em relação à prisão dos intermediários da compra do documento. Nada de fotos dos personagens ou do dinheiro. Argumenta-se que a praxe é essa, o que a prática das celebradas operações da PF desmente.

O cenário ainda é confuso e as informações incipientes para se concluir qualquer coisa, mesmo em face só das aparências.

Mas há coincidências demais em relação a episódios recentes (dinheiro de origem não explicada, ação de órgãos oficiais, movimentação de petistas pelo perigoso terreno da ilegalidade, justificativas antecipadas e comparações ensaiadas - como a do ministro Tarso Genro a dizer que o dossiê e as denúncias do mensalão são a mesma coisa, tudo fruto do 'denuncismo'), há ainda muito mais além de aviões de carreira no ar para que se possa ter certeza de que o governo brasileiro desta vez, por ação ou omissão, nada tem a ver com o uso de métodos espúrios na luta em defesa da preservação do poder.
Dora Kramer

Pega ladrão!

Pega ladrão! (A chantagem eleitoral de Lula)

Imaginando que o jogo tinha acabado, Lula e o PT resolveram tripudiar e realizar uma intervenção criminosa na eleição

SURPREENDIDO, o ladrão antecipa-se ao alarme e grita: "Ladrão!Pega ladrão!".
Mistura-se aos seus próprios perseguidores e se livra da polícia. (Ou então, numa variável da cena, usada como cortina cômica dos picadeiros de circo de antigamente, o ator que faz o papel do descuidista ou do sedutor apanhado em flagrante de adultério grita "Fogo! Fogo!", e aproveita a confusão pra fugir.)
As cenas do repertório da velha malandragem, antes que a violência e o narcotráfico lhes retirassem qualquer possibilidade de riso, estão sendo revividas grotescamente na atual campanha eleitoral. Especialmente no caso da chantagem montada pelo PT contra Alckmin e Serra, a quem Lula, com a maior cara-de-pau, hipotecou solidariedade de crocodilo.
É espantoso ver na TV Lula e o PT gritando, indignados: "Baixaria! Baixaria!", quando estão mergulhados até a cabeça no golpe. Assim como foi em outros escândalos: mensaleiros, vampiros, sanguessugas, valerioduto, operação tapa-buracos, "bingueiros", pagamentos do marqueteiro Duda com dólares sem declaração de origem e cartilhas eleitorais de R$ 11 milhões pagas com dinheiro público e distribuídas pelo PT, e tantos outros casos que já perderam o benefício de serem considerados denúncias para se transformarem em inquéritos apurados e votados por comissões parlamentares e pelo TCU.
Tal como aconteceu no último fim de semana, quando Lula apareceu protestando inocência e declarando repulsa à tentativa de chantagem envolvendo a considerável quantia de R$ 1,7 milhão contra Alckmin e Serra.
O grave é que a PF já sabia, àquela hora, que a trama era conduzida pelo Palácio do Planalto, por um assessor especial da Secretaria Particular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tal como Waldomiro Diniz -que traficava com bicheiros e era subchefe da Casa Civil, do ex-ministro José Dirceu, e gerou a CPI dos Correios e a revelação dos mensaleiros-, Freud Godoy, personagem-chave do novo episódio da compra de um dossiê contra Geraldo Alckmin e o ex-ministro José Serra, trabalha com o também notório Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula.
Gilberto é personagem do escabroso episódio do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André. Criou-se uma situação sem saída para Lula, pois o próprio Freud Godoy, acusado pelo operador da chantagem, apanhado com o dinheiro, confessou implicitamente ao anunciar que estava pedindo demissão do seu cargo no Palácio do Planalto e, como Waldomiro, será exonerado "a pedido" -com agradecimentos pelos bons serviços, como Lula faz com todos os corruptos que é obrigado a demitir.
O cinismo da impunidade ganha requintes nas mãos de marqueteiros inescrupulosos. Mas, como todo golpe, há o momento em que a mentira se confronta diretamente com a verdade e, aí, a impostura se desfaz. Tudo indica que houve uma precipitação. Deram um passo em falso. Imaginando que o jogo tinha acabado -na minha opinião, não acabou, pois haverá segundo turno, e, aí, a questão "corrupção de Lula" versus "ética de Alckmin" será julgada-, Lula e o PT resolveram tripudiar e realizar uma intervenção criminosa na eleição.
O crime perfeito consistia em desestabilizar Serra e, ao mesmo tempo, dar oportunidade a Lula para fazer declarações de repúdio àquela chantagem, como efetivamente fez. Com isso, teria o pretexto para protestar contra o uso de acusações -para ele, "baixarias"-, relembrando os casos de corrupção no seu governo, único perigo temido por seus marqueteiros.
Ao se jactarem de "com o limão fizemos uma limonada", ou seja, com os protestos da oposição pela chantagem, ainda conseguiriam que Lula ampliasse sua própria blindagem contra ataques. Os petistas achavam que a questão estaria liquidada. Gritavam, mais que as vítimas: "Pega ladrão!" (no caso, Lula declarou, indignado: "Fora as baixarias contra candidatos!"), e, além de criarem um clima para que os chantagistas se safassem, ainda melhoravam a posição na campanha eleitoral.
Dito isso, encenada a farsa da inocência compungida, continuariam com o realejo da impostura das falsas obras sociais, fazendo esquecer a tunda que a Petrobras está levando de Chávez e Evo Morales, banqueteando-se com banqueiros uma vez por semana e batendo recordes de presença de mensaleiros e sanguessugas em seus comícios.
O azar é que a PF botou tudo a perder. Prendeu os chantagistas, e um deles confessou seu ninho: a Secretaria Particular do próprio Lula. Não deu para chegar impune a 1º de outubro.
JORGE BORNHAUSEN, 68, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Petrobras: subjugada no altiplano

Na seqüência dos fatos que culminaram na nacionalização do petróleo e gás na Bolívia encontramos os contornos definitivos da crônica de uma "perda anunciada" para o Brasil. As inúmeras tentativas do governo federal de fazer prevalecer a sua tese de que adotou a postura correta para assegurar o patrimônio dos brasileiros em território boliviano mais uma vez é desmentida pelas medidas esdrúxulas adotadas pelo governo Evo Morales.
A verdade seja dita: desde que tropas do exército invadiram em maio último os campos de produção da Petrobras naquele país, vem se configurando um mosaico no qual o "mar não está para peixe" com relação aos investimentos da estatal brasileira, colocando igualmente em risco os interesses das outras empresas petrolíferas que operam na Bolívia: Repsol YPF (Espanha e Argentina), British Gas e British Petroleum (Reino Unido), Total (França), Dong Wong (Coréia) e Canadian Energy. Considerando que a República da Bolívia não possui saída para o mar, o cenário é rigorosamente o mais inóspito para os negócios de refinação.
Na semana que passou, o tiro de misericórdia foi disparado. A partir da edição da famigerada Resolução Ministerial 207/2006, aconteceu o que já havíamos previsto da tribuna do Senado: o rebaixamento sumário das duas refinarias da Petrobras a meras prestadoras de serviço. Recordo-me que, à época do nosso alerta baseado em análises recorrentes de especialistas na matéria, fomos contraditados por integrantes da base governista com o enunciado retórico inspirado numa espécie de fábula das "llamas encantadas".
A reação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o cancelamento da viagem do ministro de Minas e Energia que, juntamente com o presidente da Petrobras, iria a La Paz para retomar as negociações sobre os preços do gás, paralisadas há dois meses.
A perplexidade externada pelo presidente da República com a última estripulia do seu colega Evo Morales é um arroubo de patriotismo tardio e sem qualquer compromisso com a coerência. Afinal, a política externa do presidente Lula foi norteada por exacerbada condescendência no trato da questão estratégica com o vizinho que ignora contratos celebrados entre Estados e tripudia com as regras do direito internacional.
Os termos da nota de protesto emitida pela Petrobras são corretos, mas totalmente extemporâneos. Agora é muito tarde para questionar as novas condições impostas à produção, transporte, armazenagem e comercialização do petróleo e do GLP, bem como das etapas da cadeia de preços dos derivados de petróleo. A discordância imediata, levando-se em conta os pontos de vista legal, operacional e financeiro, foi invariavelmente substituída por declarações presidenciais que enfatizavam a necessidade de ajudar a Bolívia por ser uma nação pobre, e ressaltavam ainda se tratar de um país "soberano" para tomar decisões e que tinha o direito de cobrar o "preço justo pelo gás".
É no mínimo curioso que só agora, em pleno período eleitoral, o governo esboce reação enérgica e venha a público falar em "reação firme" diante das medidas adotadas unilateralmente por Evo Morales. As recentes medidas arbitrárias do atual ocupante do Palácio Quemado não constituem novidade alguma. As ações enfeixadas pelo mandatário boliviano foram tradicionalmente pautadas pelo desrespeito flagrante às regras legais estabelecidas e pactuadas.
O alto comando do governo, agora mobilizado para encontrar uma saída para o último impasse no altiplano, não pode alegar desconhecimento dos números e cifras envolvidas. A Petrobras já investiu aproximadamente US$ 1,5 bilhão naquele país, sem falar nos US$ 2 bilhões empregados para a construção do gasoduto para o Brasil. Na condição de maior empresa na Bolívia ela responde por 15% do PIB do país.
Esperamos uma saída honrosa para a Petrobras, sem qualquer tentativa vã de encobrir os equívocos da gestão Lula na condução das tratativas com o governo boliviano.
Senador Alvaro Dias

quinta-feira, setembro 14, 2006

Rodízio de santidades!

Olavo de Carvalho - Jornal do Brasil, 7 de setembro de 2006
"A construção do sistema nacional de roubalheira petista não começou em 2003, nem é um desvio acidental da linha partidária. Vem do início dos anos 90. É parte integrante da estratégia de conquista progressiva do poder total, que passa pela destruição sistemática da ordem pública e pela parceria ignóbil entre partidos esquerdistas e organizações criminosas no Foro de São Paulo. Não há um só dirigente do PT ou de qualquer outro partido de esquerda que não saiba disso, nem jornalista que o ignore. Por isso mesmo conseguiram escondê-lo tão bem.
Agora que se tornou difícil continuar negando as patifarias mais espetaculares usadas para implementar o grande engodo, só resta aos mentores esquerdistas fazer aquilo que previ em março de 2004: “Se o PT cair em total descrédito..., entrará em ação o Plano B: suicidar o governo alegando que falhou porque estava muito ‘à direita’ -- e aproveitar-se da oportunidade para acelerar a transformação revolucionária do país, ... transferindo a militância (petista) para outra e mais agressiva organização de esquerda.(Cf. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040311jt.htm.)
O manifesto (publicado na Folha de terça-feira) no qual 250 picaretas acadêmicos internacionais, lulistas históricos, saem repentinamente acusando o governo Lula de “neoliberal” e pedindo votos para a Sra. Heloísa Helena, já é o plano B em ação.
Retroativamente, o padroeiro da esquerda é jogado para a direita junto com suas culpas, a data dos delitos é transferida para 2002 e doze anos de conspiração criminosa desaparecem numa nuvem de enxofre, de trás da qual emerge puro e santo o novo objeto de devoção, veraz e autêntico como uma virgem celeste de desfile carnavalesco, esmagando sob os seus mimosos pezinhos a serpente do capitalismo malvado e ladrão.
Limpar-se na sua própria sujeira é a tática mais velha e persistente do repertório esquerdista. Não há limites para a mendacidade, a malícia, a perversidade e o grotesco da mente revolucionária. Seu único deus é o Poder, sua única moral é a da vitória a todo preço. O resto é jogo dialético para estontear o adversário.
Continuem confiando nessa gente e ela lhes roubará tudo, a liberdade, a bolsa, a vida e o último resíduo de dignidade, como roubou no Leste Europeu e em Cuba. E, se vocês acham que existe algum esquerdista mais honesto que o outro, não estão de todo errados: o antecessor é quase sempre um pouco menos canalha do que o sucessor.

sábado, setembro 09, 2006

O médico demente

Janeiro de 1951. Getulio Vargas acabara de assumir a presidência da República. João Goulart chegou do Rio Grande para o Rio como presidente nacional do PTB. Instalou o partido no edifício São Borja, Cinelândia. Roberto Silveira era o secretário-geral. Doutel de Andrade, primeiro secretário.

No fundo, instalaram um posto gratuito de assistência médica, a cargo de um médico requisitado do Samdu (Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência). O povo ia lá buscar saúde, deixava voto.

Uma tarde, reúne-se a executiva nacional do PTB, para resolver uma crise de Minas. O deputado José Raimundo estava brigando com o suplente Machado Sobrinho, por causa da política municipal de Itabirito. E eram ambos dirigentes estaduais do partido. José Raimundo fez longa exposição, sentou-se. Machado Sobrinho começou a sua. De repente, emocionado, irritado, empalidece, dá um gemido, cai. Era o enfarte.
Doutel

Chamaram às pressas o médico do posto. O homem veio lá do fundo de bata branca, todo desconfiado, ajoelhou-se, pôs a mão no peito de Machado Sobrinho, conferiu o pulso, levantou a cabeça, os olhos arregalados:

- Chama um médico que esse puto vai morrer.
Jango ficou desesperado:

- Mas o senhor não é médico?

- Sou, sim, mas não entendo de enfarte. Chamem correndo um médico, porque esse puto vai morrer.Machado Sobrinho morreu mesmo. Doutel ficou indignado.Exigiu de Jango a demissão do médico:

- Este homem não pode exercer a medicina.

Jango sentou-se, espichou a perna direita:

- Doutel, em que posto do Samdu ele era lotado?

- Em Irajá, lá no subúrbio.

- Que coisa! Matando a nossa gente. Vamos transferi-lo para Copacabana. Se ele tem que matar, então que vá matando o eleitorado da UDN, do Lacerda. O nosso, não.

E mandou transferir o médico. O médico que não entendia de enfarte viveu mais vinte anos, até bem depois do golpe de 64. Matando e enterrando, em Copacabana, os eleitores da UDN e da Arena.

Lula

Lula é o médico demente do posto do PT. É o mais alucinado alienado que já passou pelo governo, no Brasil. Para ele, "está tudo ótimo, o País vai indo muito bem, em toda a nossa história nunca esteve tão bem" (sic), porque acha que, quanto mais a economia estiver ruim, mais dinheiro-esmola ele vai doar, mais Bolsas-Família vai distribuir e mais os votos dele estarão seguros.


Nem "O Globo" conseguiu esconder, em manchete: "PIB do País crescerá menos". Também a "Folha" deu anteontem, quinta-feira: "Ipea reduz a projeção do PIB para 3,3%".
Ipea, como vocês sabem, é o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento, logo do governo. E PIB é Produto Interno Bruto, a economia do País. No ano passado, cresceu 2,3%, um desastre. Lula, o Banco Central do bostônico Meirelles e o Ministério da Fazenda anunciaram para este ano "o espetáculo do crescimento": 6%. Depois, baixaram para 4%. Está em 3,3%. Vai acabar em 3%, ou menos.
Sebastião Nery - sebastiaonery@ig.com.br

sexta-feira, setembro 08, 2006

Propaganda eleitoral e desesperança

Mais uma vez a propaganda eleitoral pela televisão vem mostrando a precariedade do cenário político brasileiro. A associação da imagem fugaz, se não exótica ou histriônica, com slogans vazios, proposições triviais ou irrealistas e generalidades de consenso fácil (todos queremos educação, saúde, emprego, desenvolvimento, honestidade, segurança...) é praticada por todo o espectro político-ideológico. Seu nível medíocre ou de mau gosto escamoteia a pronta análise crítica do conteúdo e parece indicar menoscabo pelo povo, entendido como suficientemente estulto para ser cooptado pelo marketing banal.

Há de tudo no festival da propaganda, da boa intenção, nem sempre bem alicerçada, à defesa de interesses corporativos (capital, trabalho, serviço público) ou paroquiais subalternos, à mera demonstração de despreparo, à necessidade de aparecer a qualquer custo - raras são as idéias substantivas. Há os que prometem o inverossímil ou medidas da alçada de outros Poderes ou níveis da Federação, no pressuposto de que os eleitores não são capazes de discernir isso (é provável que alguns promitentes não sejam). Há os que satanizam temas complexos como o endividamento, a globalização, o capitalismo e os juros, mas provavelmente não conseguiriam explicá-los, nem justificar seus vitupérios, com lógica convincente.

Predomina a promessa fantasiosa nem sempre claramente conectada aos programas partidários - quando existem -, apoiada na improbabilidade da cobrança, que não é parte da nossa cultura política; os devaneios são tanto mais audaciosos e irrazoáveis quanto menor a esperança de ser eleito, porque a não-eleição elimina a necessidade de procurar honrá-los. Embora a boa política implique prioridades competentes e responsáveis, as colocações, sempre superficiais, descartam a avaliação realista de suas possibilidades e limitações e dos efeitos sobre outras demandas. As difusas soluções miraculosas sugerem mais ilusão do que racionalidade, sugerem até mesmo a inabilitação para entender as implicações do prometido (custos, tempo e capacidade necessários, aceitabilidade nacional e internacional). Prevalece a exploração viciosa, psico-política e socioeconômica, da nossa tradição cultural estatista (o Estado brasileiro pode e deve tudo) e da fragilidade do eleitorado aberto à fantasia surrealista e ao milagre salvacionista e assistencialista.

A historiadora Bárbara W. Tuchman apresenta em seu livro A Marcha da Insensatez um curioso questionamento, referenciado à democracia inglesa ainda imatura à época em que se situa o questionamento, mas válido para a complicada democracia brasileira do início do 21: "Que nível de percepção, que ficções ou fantasias tomam parte na estratégia política? Que fantásticos vôos se elevam por sobre estimativas razoáveis da realidade? Quais os graus de convicção ou, ao contrário, de exageros conscientes que se tornam atuantes? Os argumentos inspiram realmente crédito ou não passam de falsa retórica aplicada para reforço de um desejado curso de ação?" A associação desse questionamento com nossa propaganda eleitoral (em que o "desejado curso de ação" é a re/eleição...) induz a cadeia de raciocínio em que a primeira etapa é de pena pelo despreparo ou de contrariedade pela falta de autocrítica. A segunda é o enfado: como isso é "chato", quanta vulgaridade! Mas logo surge a preocupação sobre o que acontecerá no Brasil se "aqueles" atores forem eleitos. Muitos o serão, como têm demonstrado as sucessivas eleições e a propaganda atual não autoriza a esperança de mudança sensível.

Esse quadro preocupa e induz a uma pergunta, no mínimo, instigante: o que leva a candidatar-se tanta gente inconvincente no tocante à qualificação objetiva, a despeito dos custos envolvidos no processo eleitoral? Seria a convicção de missão cidadã, justa ou equivocada, mas sincera e honesta, que provavelmente move muitos? Seria a cultura que cultiva o fascínio pelo "emprego" político, com seus salários generosos (se referenciados ao universo salarial brasileiro) e vantagens patrimonial-clientelistas lícitas, ainda que algumas, no mínimo, discutíveis? Ou, para os vulneráveis à tentação, até mesmo ilícitas, facilitadas pelas características da estrutura e atuação do Estado brasileiro? Seria tão grande o "entusiasmo cívico" pelos cargos eletivos se eles não propiciassem um posicionamento relativo bastante atraente, na pirâmide socioeconômica nacional?

O bom funcionamento da democracia é difícil quando fragilizado - em vez de reforçado - pelo seu mecanismo processual básico, a eleição. A exorcização da ameaça dedutível da nossa propaganda eleitoral, mais espetáculo medíocre que esclarecimento objetivo, depende da redução da vulnerabilidade do povo eleitor à retórica fantasiosa ou demagógica, que, por sua vez, depende da sua inclusão cultural e socioeconômica, em complemento à política. Esta, um direito outorgado pela lei; aquela fruto de evolução complexa e demorada.

Se tudo continuar como está, vai continuar crescendo o já sensível descrédito do sistema político-representativo. E vai crescer a aceitabilidade de vir a ser o Brasil um Estado democrático de Direito gerido por regime em que a maioria da representação, depreciada por seus vícios, inclusive de formação, é induzida (sabe Deus como) a apoiar (participando...) alguma versão de democracia de sabor messiânico-carismático plebiscitado. Esse apoio vicioso, comprometedor da legitimidade democrática, não chega a ser novidade na América do Sul, com uma ressalva no nosso caso: não temos receita de petróleo que alimente a ilusão assistencialista típica do modelo e permita "ignorar" as reformas estruturais necessárias à viabilização racional do País, dependentes de cenário político saudável.

Mario Cesar Flores é almirante-de-esquadra (reformado)

terça-feira, setembro 05, 2006

Tenho saudades do PT...

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O PT fazia lembrar os profetas do Antigo Testamento que denunciavam os ricos que exploravam os trabalhadores
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ESTOU TRISTE . Perdi as esperanças. Escrever, que sempre me foi um motivo de alegria, agora é coisa que faço me arrastando. Penso que o melhor seria parar de escrever. Vinicius se referia à sua "inútil poesia". Poesia é inútil. Os poetas são fracos. As fórmulas dos demagogos são mais palatáveis. Escrevo inutilmente.
Minhas tristezas são duas. Hoje escreverei inutilmente sobre a primeira: minha desilusão com o PT. O nascimento do PT anunciou a possibilidade da esperança: fazer política de um outro jeito, combinando ética, inteligência e a opção preferencial pelos pobres. O PT fazia lembrar os profetas do Antigo Testamento que denunciavam os ricos que exploravam os trabalhadores sem jamais fazer alianças espúrias.
Aí o rosto do profeta começou a apresentar rachaduras... Era a ocasião do plebiscito para decidir entre presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia. O Lula e o Genoino eram a favor do parlamentarismo. As bases do PT foram consultadas. E elas votaram pelo presidencialismo. O Genoino engoliu o sapo e se calou. Fez silêncio obsequioso, como diz o cardeal Ratzinger. Mas o Lula não demonstrou desgosto. Engoliu o sapo que as bases lhes impunham como se fosse uma rã frita com arroz e se tornou loquaz em defesa do presidencialismo...
Fiquei estupefato, curioso sobre os processos mentais que operavam na sua cabeça para que se esquecesse com tanta facilidade das convicções de véspera. Como psicanalista, eu ignorava qualquer caso de amnésia parecido. Intrigou-me clinicamente a forma como funcionava a cabeça do profeta, tendo-se em conta que não há caso na literatura religiosa de profeta que amoldasse suas convicções em obediência às bases...
E então me perguntei: "O que é mais terrível? Ser silenciado pela violência de um ditador inimigo ou ser silenciado por ordem dos companheiros?" Ah! Também os companheiros podem ser repressores... A unidade do partido exige que todos brinquem de "boca-de-forno": todos têm de pensar igual. O diferente é expelido. Como na igreja.
Compreendi que eu nunca poderia me filiar ao PT porque, se há uma coisa que prezo, é a liberdade para dizer o que penso, ainda que eu seja o único a dizê-la.
O tempo passou. Veio o escândalo do "caixa dois" do PT. O profeta, que afirmou ignorar tudo, deveria ter falado palavras de fogo contra os corruptos. Ao contrário, num fórum internacional, na França, não só admitiu o fato como também o justificou: isso é normal no Brasil...
Agora, o inimaginável: uma fotografia do presidente Lula cumprimentando sorridente o possível "companheiro" Orestes Quércia. Anunciava-se ali o início de um possível noivado... Para aumentar o meu espanto hoje, quando escrevo, vi uma foto do presidente Lula alegre e sorridente apertando a mão do "companheiro" Newton Cardoso, famoso ex-governador de Minas Gerais. O profeta brinda com os falsos profetas... De fato, só pode ser um caso de amnésia...
Os meus queridos amigos petistas que me perdoem. Meu estômago tem limites. Há um ditado que diz: "Pássaros com penas iguais voam juntos..." Concluo logicamente: "Se estão voando juntos é porque suas penas são iguais". Vocês não têm saudades do PT. Eu tenho.
RUBEM ALVES

segunda-feira, setembro 04, 2006

Entrevista Bornhausen

Após a eleição, PFL e PSDB devem cuidar das suas vidas

Presidente do PFL dá mostras de que já vislumbra a vitória de Lula e põe em dúvida a manutenção da aliança com os tucanos.

A oposição não pediu o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça admitiu ter recebido pelo caixa dois pela campanha presidencial de 2002, porque tinha medo de ser derrotada na Câmara e, assim, dar um "documento, indevido e injusto, de honorabilidade" ao petista. É o que diz o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, 68, que, assim, descarta a explicação predominante à época, de que faltava "respaldo da sociedade" para tentar impedir Lula.

Um ano depois, Bornhausen diz acreditar que a "memória" do eleitor possa ser "sacudida" pelas denúncias que atingiram membros do governo, volta a responsabilizar Lula, mas, em vários momentos de uma entrevista concedida à Folha na última quarta-feira, dá mostras de que já vislumbra a vitória do petista e a possibilidade de o PFL ficar na oposição. Tanto que põe em dúvida a manutenção da aliança com o PSDB, dizendo que, a partir de 2007, cada um deve "cuidar da sua vida". Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

FOLHA - Qual o caminho que o sr. vislumbra para o PFL a partir do ano que vem?
JORGE BORNHAUSEN - Em primeiro lugar, precisamos verificar quais os partidos que vão superar a cláusula de desempenho. De maneira concreta, hoje, só podemos afirmar que quatro partidos têm permanência assegurada na vida política nacional -PFL, PMDB, PT e PSDB. Teremos seis ou sete partidos. Aí você vai ter um novo quadro partidário. Será uma grande contribuição para que se complete a reforma política. Dentro desse quadro, o PFL tem de imaginar seu futuro. Se o resultado eleitoral for favorável a nós, como eu espero, temos de ter o cuidado de ser seletivos na entrada daqueles que vão ficar sem partido e que procuram o pólo vencedor. Temos de ser seletivos sobretudo no campo ético. Se não tivermos sucesso, temos de ter também uma postura firme, para não viver os problemas que vivemos nessa fase. Logo de cara, quem quiser aderir ao governo será convidado a sair.

FOLHA - Nos primeiros anos do governo Lula, o fato de ter ido para a oposição desidratou o PFL. Isso pode se repetir num segundo mandato?
BORNHAUSEN - O PFL sofreu uma lipoaspiração pelo mensalão. Tanto é que nesses casos de mensalão e sanguessugas tem muitos daqueles que foram cooptados pelo governo quando estavam no PFL. Para nossa felicidade e para a desgraça do Brasil, o governo optou pela corrupção e pelo mensalão. Mas isso foi bom por ter feito uma purificação no PFL. Pode não ter sido completa, eu reconheço, mas o partido melhorou na sua unidade, na qualidade dos quadros, na obrigação de fazer oposição fiscalizadora e permanente.

FOLHA - O partido adquiriu "experiência" para ser oposição?
BORNHAUSEN - Sem dúvida. A verdade é que o PFL precisava passar pela oposição. E o fez de forma correta. Fomos governo sempre que ganhamos a eleição. O PFL nunca foi um partido adesista. Fomos governo com Fernando Henrique porque demos o vice na chapa, nas duas ocasiões. No governo Sarney, idem. No governo Collor, apoiamos no segundo turno. Não aderimos em momento algum, sempre participamos do processo eleitoral.

FOLHA - A oposição do PFL foi gradativa. No primeiro momento houve focos de aproximação com o governo e, no fim, chegou quase a pedir o impeachment do presidente. Como o sr. responde aos que os acusam de fazer oposição estridente, ou até golpista?
BORNHAUSEN - Eu acho que o PFL cumpriu o papel que tinha de desempenhar. Se foi mais estridente foi porque o governo exigia essa ressonância, essa vocalização, face à desgraça de corrupção que Lula e o PT trouxeram para a administração pública. Foi o período mais triste em termos éticos da história da República brasileira.

FOLHA - No auge da CPI dos Correios, quando houve o depoimento de Duda Mendonça, a oposição optou por não pedir o impeachment. Foi a estratégia correta?
BORNHAUSEN - A análise tem de levar em conta o exame do processo legislativo. Qualquer pedido de impeachment pode ser arquivado pelo presidente da Câmara de forma monocrática. Para ser desarquivado, precisa da assinatura de 10% dos deputados. Temos esse número. Acontece que ele precisa de dois terços da Câmara para sua admissibilidade, e nunca tivemos esses dois terços. Prova é que na sucessão de Severino Cavalcanti, que renunciou, o vencedor foi Aldo Rebelo. Nunca tivemos maioria, quanto mais dois terços. Se tivéssemos ingressado naquele momento e a admissibilidade tivesse sido negada, a Câmara estaria dando um documento, indevido e injusto, de honorabilidade ao presidente Lula, que tem responsabilidade por culpa e dolo por tudo que ocorreu.

FOLHA - Mas a explicação dada à época foi que faltava respaldo na sociedade.
BORNHAUSEN - Eu nunca me preocupei com respaldo na sociedade. O que me preocupava era dar um atestado de boa conduta a quem não merecia, a quem era o responsável direto pela má conduta dos negócios escusos.

FOLHA - PSDB e PFL recompuseram a aliança depois de um afastamento em 2002. Ela continuará em 2007?
BORNHAUSEN - Se vitoriosos, evidentemente a participação no governo nos manterá dentro de uma aliança, de uma concertação. Se perdedores, só posso garantir uma coisa: o PFL fará oposição.

FOLHA - O sr. diz isso porque teme que o PSDB seja levado a se aproximar do governo, que advoga a tese da concertação?
BORNHAUSEN - Eu acredito que o PSDB também será oposição, mas sempre em situação mais difícil, em razão das prováveis vitórias em São Paulo e em Minas Gerais.

FOLHA - Por que isso dificulta?
BORNHAUSEN - Porque evidentemente os governadores querem ter bom relacionamento com o governo federal. E, no caso dos dois, por serem potenciais candidatos a presidente, querem que o partido fique mais contido.

FOLHA - Nesses dois Estados, o cargo de vice já não é do PFL. Pode ser mais uma razão de afastamento?
BORNHAUSEN - Eu entendo com muita clareza que a nova composição partidária, com menos partidos, será um fator inibidor de próximas coligações. Os partidos que não disputarem as eleições majoritárias com candidatos próprios a tendência é caírem e, amanhã, não alcançarem a cláusula de desempenho. Então, cada um vai ter de tratar da sua vida. PFL e PSDB também.

FOLHA - O PFL passará a priorizar o Executivo? Terá tempo de lançar um nome para 2010?
BORNHAUSEN - Sim. Os partidos passarão a ter como prioridade disputar o Executivo com candidaturas próprias. Temos tempo para que um candidato se imponha. Os nomes sairão depois da eleição, a partir do desempenho de cada um. O partido já atualizou seu programa partidário, fez sua refundação, fez uma limpeza interna, muitas vezes por iniciativa própria, e outras pela cooptação desonesta do governo Lula. Agora estamos prontos. Aliás, no meu entendimento, já deveríamos ter concorrido agora com candidatura própria.

FOLHA - O sr. se arrepende da aliança?
BORNHAUSEN - Eu achava que deveríamos ter candidato, mas a maioria achou que era melhor fazer a aliança para não dispersar forças. Eu, como presidente do partido, nada pude fazer senão acatar. Não sou dono do partido, e sim representante que segue a idéia majoritária do partido. Agora não adianta olhar para trás. Estamos no meio de uma corrida. Temos de superar as dificuldades e procurar chegar ao segundo turno, porque aí é outra eleição.

FOLHA - Qual seria a proposta do PFL para postular a Presidência? O partido tem base social para isso?
BORNHAUSEN - Nossa agenda demonstrou claramente que somos um partido de centro-reformista, porque nós entendemos que o Brasil precisa crescer e gerar empregos. Então, tem de dar prioridade às ações da iniciativa privada. O governo tem a obrigação de fazer a fiscalização. Aí o papel de fiscalização, pela sociedade, por meio das agências. Claro que temos base social. A maior ambição de cidadania é emprego e educação. Isso é possível se investirmos em educação e criarmos condições de a iniciativa privada crescer -com menos impostos e mais empregos- e se o governo não atrapalhar como faz agora.

FOLHA - Lula aparece consolidado na liderança das pesquisas, com possibilidade de vencer no primeiro turno. A que o sr. atribui esse favoritismo?
BORNHAUSEN - Não posso me convencer que o brasileiro vá, nesse plebiscito de 1º de outubro, optar pela desonestidade e pela mentira. Temos um mês para que a memória dos nossos eleitores seja sacudida, e que uma reflexão mais profunda nos permita nos ver livres desse governo incompetente e corrupto, evitando o desastre que seria um segundo mandato. Eu fui ministro da Casa Civil. Posso afirmar com muita segurança que não existe ninguém mais informado no país que o presidente da República. Portanto, a afirmação de que Lula não sabia do mensalão, do valerioduto, da cooptação, do dinheiro público pago a Duda Mendonça é mentirosa, própria de quem não tem dignidade para governar o país.

FOLHA - O PT acusa o PFL de fazer oposição golpista. E declarações suas, como a de que o país ficaria livre da "raça" petista por pelo menos 30 anos são usadas para avalizar essa análise.
BORNHAUSEN - Quando afirmei, numa reunião de empresários, que entendia que o Brasil ficaria livre dessa raça por 30 anos, o fiz na direção dos corruptos do governo do PT. Não generalizei em momento algum. Os que procuraram generalizar foram justamente aqueles que resolveram avalizar os corruptos do governo do PT. Os que tentaram me caracterizar como fascista eu interpelei judicialmente. O ministro Luiz Marinho, em sua resposta, deu uma explicação evasiva, própria dos que não têm caráter para manter suas posições.

FOLHA - O sr. também insinuou uma relação entre o PT e os ataques atribuídos ao PCC em São Paulo.
BORNHAUSEN - É evidente que existem indícios. O membro da Executiva estadual do PT de São Paulo Jilmar Tatto está sendo investigado por um inquérito policial em Santo André, em razão da questão das vans, que têm frotas comandadas pelo PCC. Isso deixa claro por que existem vans e ônibus incendiados. A revista "Veja" divulgou diálogos de membros do PCC pedindo votos para o [José] Genoino para governador. Agora, a Folha publicou diálogos em que integrantes do PCC pedem que matem políticos, menos os do PT. O que posso dizer é que há indícios desse conluio. Cabe às autoridades investigar essa questão.

sábado, setembro 02, 2006

A direita autocastrada!!!

Quando me perguntam como quebrar a hegemonia esquerdista, a primeira fórmula que me ocorre é a do poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: “Nada se torna realidade na política de um país se antes não está presente, como espírito, na sua literatura.” A palavra “literatura”, aí, tem a acepção ampla de cultura superior escrita. Criem uma cultura superior na qual predominem os valores liberais e conservadores, e a esquerda não terá mais chance na política. Este resultado não se seguirá automaticamente, é claro, mas sem essa limpeza prévia do terreno mental nenhuma iniciativa política poderá prosperar contra o esquerdismo triunfante e monopolístico.

Entrem numa livraria qualquer e verão nas prateleiras a demonstração clara do que estou dizendo: a ascensão do império petista foi precedida de meio século de ocupação do espaço cultural. Antes de o Estado ser engolido pelo PT, impregnaram-se de esquerdismo militante as idéias, os juízos de valor, as palavras, os sentimentos, até as reações automáticas de aplauso e rejeição. A esquerda dominou de tal modo o imaginário nacional que até quem a detesta não ousa criticá-la senão nos termos dela, como se fosse possível derrotar politicamente o inimigo fortalecendo o controle ideológico que ele exerce sobre a sociedade. Políticos tarimbados como os srs. Marco Maciel, José Sarney ou Cláudio Lembo mimetizam o discurso politicamente correto, esperando atenuar sua imagem de “direitistas” e só conseguindo com isso atrair, junto com o ódio usual, uma boa dose de desprezo.

Essa falsa esperteza, tão miúda e provinciana quanto suicida, é o máximo de inteligência estratégica que um exame histológico atento revelará nos cérebros dos políticos “de direita” neste país. Com a colaboração prestimosa e servil dessas criaturas, os critérios e juízos de valor esquerdistas se impregnaram tão profundamente na mentalidade das classes falantes que já não são reconhecidos como tais: tornaram-se dogmas do senso comum. Nessa atmosfera, não é de estranhar que os eventuais opositores do governo já nem mesmo consigam imaginar o que é uma luta política, mas entendam sob esse termo a mera concorrência eleitoral. Essa é a diferença, no Brasil, entre a esquerda e a “direita”: a primeira quer o poder, a segunda quer apenas mandatos. Mandatos conquistam-se nas eleições; a luta pelo poder abrange um território muito mais amplo. Eleição não é política, é o resultado de uma política preexistente que começa no fundo anônimo e obscuro da sociedade, naquela camada quase invisível onde a hegemonia cultural se traduz como influência sutil exercida sobre as emoções básicas da população.

A esquerda sabe disso, a “direita” não. Os partidos de esquerda marcam sua presença numa variedade impressionante de campos da vida social – escolas, sindicatos, campanhas humanitárias, clínicas de psicoterapia e aconselhamento, telas de cinema, exposições de arte, novelas, programas culturais e educativos da TV, o diabo. A direita só é visível nos comitês eleitorais, às vésperas da votação. Isso é assim já faz muitos anos. Quem quer que tivesse observado esse fenômeno, como eu observei, teria chegado, como cheguei há mais de uma década, à conclusão de que a total esquerdização da vida política nacional era não só previsível como inevitável a prazo mais ou menos curto. Os inumeráveis idiotas – políticos, empresários, intelectuais, oficiais militares – a quem expus essa conclusão em tempo de reverter o processo, e que riram dela do alto de sua ignorância presunçosa, olhavam apenas o panorama eleitoral e, vendo ali a vitória fácil de um Collor, de um Fernando Henrique, proclamavam: a esquerda jamais dominará este país.

Ainda às vésperas das eleições de 2002, algumas dúzias desses sábios, selecionados entre brasileiros e brazilianists, consultados pelo Los Angeles Times, asseguravam que Lula não teria mais de trinta por cento dos votos. Não entendiam que os resultados das eleições anteriores refletiam apenas o conservadorismo residual da população brasileira, o qual, desprovido de canais de expressão cultural e partidária, acabaria por ceder terreno à invasão esquerdista. Tanto mais que esta última tomava o cuidado de não se apresentar ostensivamente como tal, camuflando-se de “populismo” ideologicamente neutro e ludibriando até observadores estrangeiros experientes como Mário Vargas Llosa.

Chamemos de direita, para fins de raciocínio, o conjunto heterogêneo e inorganizado dos que não querem viver sob o socialismo. Eles constituem, segundo uma pesquisa da Folha de S. Paulo, 47 por cento da população brasileira, face a 30 por cento de esquerdistas professos. Os restantes 23 por centro definem-se como centristas, com a ressalva de que aquilo que imaginam como centrismo inclui o apoio ostensivo a propostas conservadoras em matéria de moral e segurança pública. Com ou sem nome, a direita é 70 por cento dos brasileiros. Um programa político ostensivamente conservador teria portanto sucesso eleitoral garantido. Mas, como esse programa não existe -- e se tentasse existir teria de vencer em primeiro lugar o desafio de criar uma linguagem própria num panorama semântico já totalmente impregnado de esquerdismo --, o resultado é que a população conservadora acaba votando em candidatos de esquerda nos quais não percebe esquerdismo nenhum mas apenas as qualidades externas mais afins à exigência conservadora, a começar, é claro, pela honestidade e honradez. Mas que honestidade e honradez pode haver em políticos que passam o tempo todo tentando parecer o que não são? E qual político brasileiro, de esquerda ou “direita”, se ocupa hoje de alguma coisa que não seja precisamente isso?

Assim, toda a política brasileira tornou-se um sistema de armadilhas e auto-enganos: o eleitorado vota maciçamente em candidatos que representam o contrário simétrico das suas aspirações, os políticos que poderiam representar essas aspirações recusam-se obstinadamente a fazê-lo e se apegam à busca de uma sobrevivência degradante por meio da parasitagem servil do discurso adversário. É tudo fingimento, hipocrisia, teatro, camuflagem, desconversa. Nenhuma discussão objetiva do que quer que seja é possível nessas condições. Os tais “problemas nacionais” podem esperar sentados: nenhuma discussão política, pelos proximos anos, tocará em nada que tenha algo a ver com a realidade. Nossa única esperança de um despertar coletivo é o programa comunista do Foro de São Paulo alcançar sucesso total e, tranquilizado pela ausência de oposições, arrancar finalmente a máscara e dizer a que veio. Aí a platéia chocada perceberá que, por décadas, viveu entre as névoas de uma fantasia entorpecente. Mas essa tomada de consciência tardia já não servirá para nada, exceto para produzir lágrimas inúteis em torno da vida que poderia ter sido e que não foi.

Entre os homens da “direita”, muitos teimaram em recusar os meus diagnósticos, ao longo dos anos, sob o pretexto de que eu era demasiado pessimista. Nem percebiam o quanto sua resposta provava o que eu dizia. Pessimismo e otimismo são atitudes da mente, são estados subjetivos. Não têm nada a ver com a situação externa, com a realidade das coisas. É possível ser pessimista diante de uma situação objetivamente positiva e otimista quando tudo está perdido. Quando uma descrição do estado de coisas é rejeitada por ser “pessimista”, é claro que o ouvinte está respondendo na clave dos seus estados emocionais e não no da percepção da realidade. Ele não está impugnando um diagnóstico: está reagindo contra os sentimentos desagradáveis que ele lhe infunde. É uma mera reação de autodefesa psicológica, uma autovacina contra a depressão pressentida. Só reage assim quem está fragilizado demais para abstrair-se de estados emocionais e concentrar a atenção na realidade. Os fortes não têm medo de encarar o pior: os fracos fogem dele porque sua mera visão os esmaga. Aquelas afetações de otimismo, fingindo desprezo superior ante as minhas análises deprimentes, não eram senão sintomas de debilidade terminal. A liderança “direitista” já não tinha força nem para admitir sua própria fraqueza.

Um pouco mais adiante, ela agravou mais ainda a sua situação, quando, após a revelação dos crimes do PT, perdeu a oportunidade de denunciar toda a trama comunista do Foro de São Paulo e, por covardia e comodismo, se limitou a críticas moralistas genéricas e sem conteúdo ideológico. Estas podiam facilmente ser apropriadas pela esquerda, e de fato o foram. Rapidamente alguns ratos abandonaram o navio petista e trataram de tirar proveito do naufrágio, sendo ajudados nisso pela recusa obstinada da “direita” de falar de assuntos politicamente incorretos O único resultado objetivo alcançado pelas denúncias de corrupção no governo foi a ascensão da sra. Heloísa Helena nas pesquisas eleitorais. Agradeçam esse resultado à autocastração voluntária da liderança “direitista”.
Olavo de Carvalho