quarta-feira, junho 28, 2006

UMA FERA FERIDA

Ouvi, estarrecido, no noticiário da noite do primeiro dia de inverno deste ano de copa, o Ministro da Defesa - o comunista, ele mesmo - orientando as pessoas que compraram bilhetes da VARIG (Vários Alemães Reunidos Iludindo os Gaúchos – segundo um humorista local ) e que não estavam conseguindo viajar, pois os seus vôos tinham sido suspensos: “retornem às suas casas e aguardem...”, falou o "sensato Ministro" aos desesperados passageiros.
Dá para acreditar? Melhor que o velho comunista tivesse logo dito: vocês que se danem. Teria sido menos irônico, mais honesto e mais leninista. Acho que ele estava treinando para suas futuras manifestações, quando eles implantarem o comunismo no Brasil.
Continuando a descrever o cenário atual desse país comandado por amorais defensores da implantação do comunismo na América do sul (sob a coordenação do Coronel dos Rifles Russos), o locutor da “Vênus Platinada” logo lê com voz impostada: “Polícia federal entra em greve por aumento salarial”. Instantaneamente lembrei-me que um amigo falou-me que a Ministra Dilma (a ex-guerrilheira ) aventa com vivo interesse a possibilidade de retirar das Forças Armadas a responsabilidade pela segurança da presidência da república e transferi-la para a Polícia Federal. Surpresos? Mas é mais uma triste verdade! Eles estão avançando. Querem comer a nossa pleura.
Na política tudo vai mal, mas na economia a coisa está pior. Na bolsa de valores as ações despencaram. Ouço, nas viagens de inaugurações eleitorais, o preisdente Lula (que ninguém sabe se será candidato à reeleição e que hoje oferece grandes perspectivas de futuro aos jovens), declarando: “Os jovens no futuro que naum precisa se basear em subterfúgios prá sobreviver” (??!!!). Eu não entendi , mas ele disse e foi aplaudido. Acho que estava citando como exemplo o grande sucesso do filho que, apenas bolando um joguinho na Internet, se tornou milionário em dois anos. É só notícia boa... prá comunista. O Duda fazendo comerciais milionários envolvendo a nossa seleção e nadando na grana, que nem o Valério e a patota de compadres do homem. Como tem comunista milionário no Brasil! Em Cuba só tem um. Mas, enquanto isso, os militares só recebem notícias ruins e, pelo andar do “pau-de-arara”, breve poderão receber outras piores, como a da desvinculação entre os salários da ativa e os da reserva, além de outros torniquetes no pescoço dos militares. Nosso dinheiro está virando uma merreca. A nossa alimentação não tem mais três refeições diárias. O nosso soldado é o único servidor nacional que recebe menos que um salário mínimo. A nossa saúde está com pneumonia. E o comunismo chegando em avião de marajá! Esse é o nosso governo. Esses são os nossos governantes. É intrigante e arrasador. Não dá mais pra segurar, explode coração!
É desanimador. Parece que tudo está perdido. Por vezes, também me pego fraquejando, como se as esperanças tivessem partido em bandos, como as aves de arribação. Sinto-me solitário, isolado, fraco, cambaleante e sem as forças de minha juventude. Falta-me o sangue na face, a firmeza nos punhos e a gravidade no eco de meu antes eterno brado de guerra: lutar sempre! Falta-me tudo. Falta-me a coragem. Falta-me um RCMec nas mãos e a força dos decididos companheiros de outrora. A tristeza embaça-me a visão ao olhar no redor e constatar como sobraram poucos companheiros na trincheira do nosso campo de batalha. Onde estão os velhos guerreiros que morreriam pela democracia e que jamais olvidariam a morte de nossos irmãos de luta? Tudo, enfim, mostra-me fortes sinais de uma derrota pré-anunciada. Parece que nada vai estancar essa hemorragia de ética e de moralidade. Os corruptos e os tirânicos comunistas avançam, enquanto nós estamos recuando. Já há um sopro morno de um vento nordeste a anunciar a morte das últimas liberdades democráticas. No entanto, quando encontro um único soldado vibrando com o meu Exército, parece que ouço um grito de "carga" em meus ouvidos de cavalariano e, então, sinto-me como uma fera ferida. Vou empregar as minhas últimas energias com minhas palavras de resistência, como minhas armas atuais para, num contra-ataque, destruir as pretensões dessa cambada do compadrio vermelho. Vamos, juntos com o povo brasileiro, formar uma exército de resistência e usar a força do voto para derrubar esses vendilhões da Pátria e para preservar a democracia!

Erildo Simeão Camargo Lemos-Cel R1 do Exército.Ex-comandante do Colégio Militar de Manaus e do CPOR de Porto Alegre. Militar Fundador e coordenador do site http://www.acontinencia.com/

Chávez quer Stédile!

“Venha para a Espanha, aqui é o paraíso; a polícia não toca em você.”
De um criminoso romeno atuando na Espanha para outro compatriota seu vivendo em Bucareste


O presidente Hugo Chávez, o verdadeiro condutor das massas esquerdistas da América Latina, já tem planos políticos para o Brasil. Quando passou por Curitiba, Chávez conversou com alguns amigos brasileiros, e disse que apostava em Lula como a gazua que iria abrir as portas para João Pedro Stédile, líder do MST, chegar à Presidência do Brasil em 2010.

Chávez considera João Pedro Stédile o seu “representante pessoal” no Brasil e o sucessor natural e eventual de Lula. E, para isso, o presidente da Venezuela tem seus planos.

O projeto de Chávez para o Brasil baseia-se em quatro pontos: 1º – reeleição de Lula; 2º – contaminação urbana pelo MST, com aplicação de seus métodos revolucionários para invasão de áreas não-edificadas e residências consideradas de luxo; 3º – controle das universidades, para transformá-las em bases de ação; 4º – controle de uma rede de comunicação, através de cooptação ou compra de redes de tevê e rádio com recursos venezuelanos.

Para Chávez, as acusações de corrupção a Lula e ao PT são provocações que não devem ser consideradas pelos verdadeiros esquerdistas: “Querem nos impor a moral que os beneficia”, disse o presidente venezuelano.

Quanto à opinião pública brasileira, a experiência no Carnaval deste ano, financiando a escola de samba Vila Isabel, campeã de 2006, mostra que com um pouco de dólares tudo se arranja. Chávez está disposto a gastar muito.

Depois não se diga que ninguém avisou de tudo o que está acontecendo.

PARA LEMBRAR
Na primeira noite eles
se aproximam
E roubam uma flor
Do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não
se escondem.
Pisam as flores,
Matam o nosso cão,
E não dizemos nada.
Até que um dia,
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa
Rouba-nos a luz e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta,
E já não podemos dizer nada.

AUTORIA
Esse poema assustador para os nossos dias é atribuído a Maiakovski, mas é de autoria de um brasileiro, o poeta fluminense Eduardo Alves da Costa. O título da pequena obra-prima é “No Caminho com Maiakovski”

Rogério Mendelski

terça-feira, junho 27, 2006

Cinismo pedagógico

O PT está adestrando os brasileiros para que aceitem dele, com docilidade canina, doses faraônicas de tudo aquilo que mesmo em quantidades mínimas os indignava e enfurecia nos governos anteriores.

O cinismo com que os acusados sorriem das denúncias – Mensalão, assassinatos, terrorismo biológico, parceria com narcotraficantes, invasão do Congresso, o diabo – não nasce da cara-de-pau natural. É uma técnica pedagógica, bem conhecida desde Lênin, calculada para quebrar a resistência mental do povo por meio de choques sucessivos, até habituá-lo a uma ética invertida, na qual o crime e a trapaça, desde que praticados por agência ideologicamente aprovada, se tornem fontes de autoridade moral.

Se aplicado uma vez ou duas, o ardil provocaria ódio em vez de submissão. É preciso repeti-lo, em doses crescentes, até que o desespero da razão comece a enxergar na resignação ao absurdo a única esperança de alívio.

Também é preciso que os golpes não atinjam um ponto só, mas, variando a direção do ataque, dêem uma impressão de onipresença sufocante, repentina e devastadora como uma nuvem de gafanhotos. Todos os setores da vida devem ser acossados por um bombardeio simultâneo de novas regras, cada uma delas insensata e ridícula em si mesma, mas terríveis e assustadoras no conjunto e na prepotência súbita com que se impõem. Do dia para a noite, tudo se inverte. Possuir uma fazenda é crime; invadi-la e queimá-la é um direito e um dever. O sistema representativo é opressão; a violência é democracia. Revoltar-se contra os abusos do governo é perseguição macartista; calar a oposição é liberdade. Assassinos e ladrões são vítimas; suas vítimas são criminosas.

Depois de alguns anos desse tratamento, toda resistência começa a ceder. A malícia da operação é tão imensa, a crueldade psicológica que a inspira é tão obviamente diabólica, que até almas bem estruturadas se recusam a acreditar em tamanha perversidade. Então, como crianças aterrorizadas, inventam uma outra realidade, mais amena, e juram para si próprias que estão vivendo dentro dela. E é aí mesmo que se tornam inofensivas e dóceis como planejado.
Olavo de Carvalho

O caráter demoníaco do poder

"O poder encerra em si mesmo a semente de sua própria degeneração"
Karl Loewenstein

Afinal, o segredo de polichinelo foi revelado: Lula "aceita" ser candidato à reeleição. Numa reunião do PT - presente a nata que sugeriu a refundação do partido envergonhado -, consumou-se a farsa. Desde o primeiro dia do seu governo Lula já fazia campanha pela reeleição. O poder revelou a falta de compostura do líder sindicalista que chegava à Presidência da República com os trabalhadores e a classe média de mãos dadas. O refrão de Duda, "a esperança vencerá o medo", recebeu 52 milhões de votos. De um lado, os operários ávidos por se livrarem da velha classe dominante, que teria dividido o Brasil entre incluídos e excluídos. Logo, 400 "excluídos", dirigentes sindicais, foram nomeados por Lula para funções de relevo, em que a maioria revelou atroz incapacidade.

Raymond Aron escreveu: "A Revolução Francesa deu aos burgueses o poder político exercido anteriormente pelo rei e pelos nobres. Ao assumir o poder, os burgueses mantiveram-se iguais. Ao contrário, os representantes do proletariado deixam de viver como proletários no dia em que dirigem uma fábrica, uma estatal ou um ministério." Aron, porém, era o anti-Marx. Mas Mikhail Bakunin, nobre dissidente, revolucionário anarquista rompido com Marx, insistiu: "O governo da maioria das massas populares se faz, porém, por uma minoria privilegiada de marxistas, antigos operários que tão logo se tornem governantes cessarão de ser operários e não mais representarão o povo, mas a si mesmos. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."

Quando surgiram os escândalos do chamado núcleo duro do PT, os velhos companheiros do Lula, metalúrgicos "para os quais a sua palavra era lei", concederam uma entrevista de página inteira à Folha de S.Paulo. A grande maioria, constante da foto que ilustrava a matéria, mostrava faces marcadas pelo tempo. Quase todos fundadores do PT, alguns poucos haviam sido deputados federais e estaduais. Profundamente decepcionados, haviam se afastado de Lula, que não mais lhes merecia respeito. Nas entrevistas, as queixas eram fortes: dos que nunca mais tiveram oportunidade de ser recebidos pelo líder de outrora, apesar de pedidos feitos para falar com ele. A totalidade, até a humilde servidora do sindicato, que chegava a casa tarde da noite, obrigada a satisfazer os sindicalistas nas pesadas libações alcoólicas, fazia coro na queixa e na decepção. Ao tempo, as denúncias de Roberto Jefferson faziam minguar para 20%, nas pesquisas, a aprovação a Lula, que se poupava de apresentar-se em público. Hoje, ele aparece com mais de 50%, candidato favorito logo no primeiro turno eleitoral, ajudado por uma oposição que já se considerava vitoriosa e receava tentar o impeachment porque Dirceu prometia uma convulsão social em represália.

Tancredo Neves, quando se submeteu ao famigerado colégio eleitoral, menosprezava a capacidade de Maluf vencer em eleição indireta, em que vencera duas vezes. Ironizava: "Maluf enfrentou amadores." Lula não é amador. Conseguiu fazer o povo acreditar que não sabia da ladroagem que o PT fazia para que ele tivesse maioria folgada na Câmara. O incorruptível Hélio Bicudo deixou o partido dizendo: "Lula esconde a sujeira embaixo do tapete." Com 91 deputados, aprovava o que queria, graças aos atuais "picaretas", clientes do "valerioduto".

Getúlio matou-se, moralmente arrasado, por infinitamente menos. Mas era um estadista honesto, cuja honra não fora atingida pelo "mar de lama" de que se queixou. Lula, como profissional, aprendeu na política sindicalista, que tem critérios próprios. Fez crer aos ingênuos que nada sabia e que fora traído. O ministro da Justiça, menos ministro e mais criminalista, acostumado a defender criminosos, salvou-o. O crime de compra de votos com dinheiro público virou crime eleitoral: o caixa 2. O governo, infenso a CPIs, logo criou uma com parlamentares dóceis, com a missão (rapidamente cumprida) de concluir que "mensalão" não houvera. Lula completou: "Caixa 2 é tradicional nas eleições brasileiras." Fez absolver todos os parlamentares corrompidos, com exceção de três para coonestar a fraude.

Farto em gabar-se, suas promessas não foram cumpridas. Nem por isso entrou em descrédito. Até hoje os desempregados, que acreditaram nele, esperam os 10 milhões de empregos que prometeu, mas Lula blasona que ninguém criou tantos empregos com carteira assinada. Em vez do Fome Zero, fracassado, apelou prontamente para a Bolsa-Família, soma da Bolsa-Escola, do Auxílio-Alimentação e do Vale-Gás, criados nos governos anteriores. Adicionou-lhe um cartão e aumentou o pagamento do benefício. Trocou o emprego pela esmola a que se referia antes. Garantiu o voto do assistencialismo.

Em lugar de manter e criar rodovias, mandou tapar os inúmeros buracos. Em cada um, um comício. Ganhou voto dos caminhoneiros.

Uma dona de casa na pobre União dos Palmares, assistida pela Bolsa-Família, disse ao repórter: "Sei que tem corrupção, quadrilha organizada, mas para mim o presidente não é ruim." Voto garantido, pragmático.

Milhões de pessoas de renda até R$ 120 recebem Bolsa-Família de valor recentemente aumentado. Voto de gratidão à bondade eleitoreira do presidente.

Uma feirante, pobre e com quatro filhos, prefere Lula: "Tenho medo de que o próximo presidente corte as bolsas." Voto do medo que vence a esperança.

O bispo que foi parte da guerrilha comunista de Marighella abandona o governo, constrangido, e diz: "O poder mostrou face real de Lula." Mas votará nele, novamente. Voto piedoso e ideológico.

Tancredo, cuja integridade moral não lhe permitiria macular a honra, não diria que Lula é amador, mas que é um tipo de profissional, dos que se enganam a si próprios antes de enganar os outros. É a sua maior habilidade.

Jarbas Passarinho, ex-presidente da Fundação Milton Campos, foi senador pelo Estado do Pará e ministro de Estado

domingo, junho 25, 2006

O preço moral da crise

Com uma lanterna acesa, em plena luz do dia, o grego Diógenes (400 a.C.) andava nas ruas de Atenas procurando um homem com as qualidades de coerência, ética, integridade, firmeza e bondade. Queria encontrar um homem em condições de governar a Grécia. Não encontrou, mas acabou criando a Filosofia Cínica, que pregava que a felicidade não dependia de fatores externos, como o poder político. A hipótese do velho filósofo não encontra eco por aqui. Entre nós, a lição da felicidade está mais próxima dos bens materiais, como escreveu Jules Michelet, autor do clássico O Povo, ao lembrar que o homem constrói sua alma de acordo com a situação material, parecendo ser um mero acessório da fortuna. Esse retrato está mais próximo do homem brasileiro.

Pergunte-se ao anônimo das ruas se ele tem idéia da gravidade da crise moral que corrói a energia da Nação. Crise? Que crise? Duas interrogações secas apontam para o irrefreável processo de embrutecimento social que ataca o coração nacional. Pergunte-se, também, qual seu maior sonho. A resposta terá alguma relação com o bolso. O Brasil foi submetido a sucessivos escândalos. Mensaleiros, sanguessugas, quadrilheiros, empresários e funcionários públicos especializados em rapinagem entraram na contabilidade do último ano. A soma alcança bilhões. Mas alguém sabe dizer qual o preço moral que o País paga por essa catástrofe?

Poucos se habilitam. E a razão é plausível. Custos morais são imensuráveis. A doença da alma atravessa gerações. Trata-se de doença que ataca um dos maiores patrimônios intangíveis, que é o conceito das instituições. A constatação dos sintomas se dá pelo apreço dos cidadãos à ordem constituída. No Brasil, o apreço cede lugar ao desprezo. As instituições perdem força e simbologia. A imagem da política se desmancha. Da própria Câmara dos Deputados vem o veredicto: a pior legislatura de toda a história. Os governos são desacreditados. A maioria das 5.560 prefeituras passa ao largo da Lei de Responsabilidade Fiscal. O Poder Judiciário desce do altar da respeitabilidade para o chão sujo das tutelas. Nepotismo e politização mancham o véu da deusa da Justiça. Credos expandem-se em empreendimentos e ocupam latifúndios na mídia eletrônica. A imprensa esgota a capacidade de cobrir, com dinamismo e criatividade, a mesmice de eventos escabrosos.

Os jovens, de todos os matizes, alheiam-se dos acontecimentos, fazendo pouco-caso da leitura e cumprindo o ritual para obter notas mínimas que os habilitem a passar de ano. Pergunte-se a eles, que são o esteio do futuro, o que acham dos políticos, dos governos, da situação do País. Quem não ouvir uma expressão de baixo calão terá sorte. Cidadãos de todos os quadrantes e classes sociais se distanciam da esfera pública. Gigantescos vazios se multiplicam, enquanto a canoa do “deixa pra lá” navega ao léu, esperando que um vento mais firme a conduza a um porto seguro. Triste é constatar que o mau-caratismo entra com naturalidade no dia-a-dia das pessoas. Em reveladora entrevista, o noveleiro Silvio de Abreu confessa-se estupefato com os resultados de pesquisas que mostram “a moral do País em frangalhos”. Nos folhetins, os canalhas são os mais aplaudidos. Os bonzinhos são enfadonhos. A retidão de caráter já não faz a cabeça dos telespectadores como antigamente.

Se no campo do lazer televisivo a voz moral não encontra mais eco, o show de indecências exibido pelos atores públicos também não causa espécie. A pele de um povo exposto constantemente ao sol perde o viço. E da voz corrente das ruas se extrai a dura lição: para se realizar na vida vale tudo. Os políticos? Ora, roubam mesmo. Não fazem mais que pôr a mão na massa (o mensalão) à sua disposição. Esse é o preço moral que o Brasil está pagando. É o preço do asco por coisas como solidariedade, disciplina, respeito, ética, fidelidade a princípios, zelo pela coisa pública. É o preço que se paga pelo desencanto, pela descrença e morte da fé.

Os traumas psíquicos provocados pela crise atingem todos os estratos sociais. Os contingentes da base da pirâmide social, com menor capacidade crítica para acompanhar desdobramentos de denúncias, nivelam por baixo os seus participantes. Deixam espaços na memória para guardar as emoções novelísticas. Apagam tudo o que se fixa na memória negativa. Por política boa, apontam para os R$ 65 do Bolsa-Família e o “adjutório” do prefeito na forma de remédios, cestas básicas, transporte público e escola para os filhos. O meio da pirâmide abriga grupamentos com pontos de vista diferenciados e corporativos. Quem ganha salários de classe média se refugia ou no conforto do bom emprego ou nos negócios próprios e quer distância da política. Aí estão os trabalhadores especializados, parcelas de funcionários públicos e a massa de pequenos comerciantes, que reservam aos políticos um extenso acervo de onomatopéias críticas.

Os núcleos de formação de opinião, formados por empresários, educadores e profissionais liberais, entre outros, se reúnem em entidades (clubes, sindicatos, associações, movimentos). Alguns setores agregam forte poder de pressão, como as corporações de advogados, professores, grupos étnicos, de mulheres e credos religiosos. Trata-se do eixo social mais crítico e consciente. Daí poderá advir uma encenação de mobilização por mudanças. Do topo da pirâmide nada se pode esperar. A elite refestela-se no status quo. Por que trocar o certo pelo duvidoso? Com esta sinalização cognitiva a sociedade brasileira não cria ilusões sobre o futuro imediato. Sabe que nenhum Diógenes encontrará o homem maior para governar a Grécia, perdão, o Brasil. Mas constata que as lições da Filosofia Cínica do velho filósofo grego são o livro de cabeceira da maior parte dos políticos tupiniquins. E até percebe que um deles poderá convencer de que não sabia de nada, mesmo sabendo de tudo.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político.
E-mail: gautor@gtmarketing.com.br

quinta-feira, junho 22, 2006

Patriotismo de chuteiras e voto nulo

Jogo de destreza (não de azar) é coisa séria. Tem valor educativo insubstituível. A criança que se dedica aos jogos de infância com amigos ou na escola está assimilando princípios de disciplina e boa conduta que se inculcam em outras áreas da vida social, na convivência familiar, na profissão e na formação ética: por meio das regras do jogo aprende a respeitar as regras sem as quais a vida em comum se torna impossível. Brincando, educa-se a criança para ser responsável em todas as frentes. O esporte se introduz nas favelas, ocupa o tempo dos jovens e os desvia do crime e dos atos anti-sociais. A quadra de esportes complementa, motiva e dinamiza a freqüência na sala de aula.

A importância histórica do esporte é bem conhecida e já foi sobejamente avaliada por historiadores e pensadores. As cidades gregas, ciumentas de sua soberania, viviam divididas e em luta umas com as outras. Somente por ocasião dos Jogos Olímpicos se uniam em torno de um objetivo comum. Nem a política nem a economia conseguiram na Grécia semelhante unificação, precária, é verdade, porque a Grécia nunca se unificou de verdade. Mas por isso mesmo fica ainda mais admirável a força de mobilização e de coesão dos jogos celebrados de quatro em quatro anos em honra de Zeus, como ponto culminante das festas pan-helênicas. Píndaro (518 a.C.), um dos maiores líricos gregos e de todos tempos, escreveu odes triunfais em homenagem aos vencedores das grandes competições esportivas. Na luta do atleta para vencer, ele ultrapassa seus limites e realiza a imagem mais alta do próprio ser, da própria pessoa.

Esta tensão sobre-humana do homem para se superar serviu a Píndaro para forjar o maior imperativo ético de todos os tempos, um imperativo heróico: Transforma-te em quem és! Sejamos com perfeição o que já somos imperfeitamente por natureza. A ética pindárica, hoje mais atual do que nunca, aferra-se não ao modelo universal do dever, válido indiferentemente para todos os homens, sim que adota para cada qual o seu modelo, já virtualizado na própria pessoa. O dever não é único e universal (como em Kant), mas pessoal e exclusivo. O que eu tenho que fazer só eu posso fazer, ninguém pode substituir-me na minha performance.

Durante a Copa os brasileiros fervem de entusiasmo pelo Brasil. Saem vestidos de verde e amarelo, pintam ruas e praças com as cores da bandeira, colocam bandeirinhas no carro e torcem apaixonadamente pela vitória da seleção. Um delírio coletivo. Nos dias em que a seleção brasileira joga, o País pára, o expediente de trabalho se reduz e praticamente todos os brasileiros ficam grudados na televisão, com olhos e ouvidos usurpados pela bola que rola no gramado. Brasileiros de todas as classes e de todas as idades ficam eletrizados pelo jogo, divididos pela expectativa da vitória ou da derrota, literalmente fora de si. A alma brasileira vibra de norte a sul e se identifica dramaticamente com o destino da Pátria representada pelo que há de melhor entre os jogadores verde-amarelos. A população inteira se mobiliza num só corpo, magnetizada pelo chamado "patriotismo de chuteiras", durante 40 dias, de quatro em quatro anos. E depois?

Será que os brasileiros que dão tudo de si pela Pátria nos períodos da Copa vão ter a coragem de votar nulo na hora de escolher os homens que vão decidir sobre nosso destino, não no campo de futebol, mas em todos os aspectos da vida pública, na política, na sociedade, na economia, no direito, no trabalho, na segurança, na cultura? O voto nulo terá lugar após o surto de exaltação frenética de amor à Pátria, em que se ouve gritar a toda hora "Brasil, Brasil, Brasil"? Não seria uma contradição das mais absurdas, chocantes e surrealistas?

Está em marcha a campanha pelo voto nulo, inclusive na internet. O voto nulo é uma aberração. Significa atirar no que se vê (os maus políticos) e acertar no que não se vê (o País e a democracia, os maiores prejudicados). Constitui uma forma de protesto que gera resultados contrários ao que se pretende. Voto nulo é o suicídio da cidadania, a imolação do civismo nas aras da ignorância, a renúncia à participação ativa na vida pública. O voto representa uma conquista histórica muito cara e muito penosa, que custou muito sangue, suor e lágrimas, à qual não se pode renunciar levianamente. Cabe ao eleitor zelar pelo voto a que tem direito. Voto nulo equivale a voto vago, vazio, que pode ser preenchido por outro a favor dos políticos mais indesejáveis. Se eu não voto, alguém vota em meu lugar. O feitiço virando contra o feiticeiro.

O voto constitui a expressão mais avançada na face da Terra da igualdade entre os homens e da reciprocidade entre sociedade e Estado. Assinala a maioridade política do homem e da mulher e repele toda tentativa de manipulação de sua vontade pelo arbítrio e venalidade de grupos irresponsáveis. Na democracia o voto é a única arma de conquista de direitos futuros e de defesa dos direitos já existentes. Anular o voto equivale a entregar-se, indefeso, à sanha dos poderes obscuros que rondam o Estado e ameaçam sua estabilidade. É abrir as portas para a ilegitimidade. No limite, se todos votam nulo, que grupo de energúmenos vai ocupar o poder?

A democracia é um sistema de tentativa e erro, como as demoradas pesquisas científicas, ou como o atirador que só acerta na mosca depois de perder inúmeras balas, aprendendo a corrigir a pontaria a cada disparo efetuado. Vamos parar com tanto simplismo, com essas ingenuidades salvacionistas que só têm o efeito de nos fazer regredir para o pior obscurantismo, fraudes primárias, do tipo monopólio da ética, o carisma de Lula e, agora, anulação do voto.

Voto, logo existo. Quem anula o voto se anula.

Gilberto de Mello Kujawski, escritor e jornalista,

quarta-feira, junho 21, 2006

O Código da Silva

O PT sempre imaginou funcionar como uma sociedade secreta, daquelas cheias de símbolos que fariam a felicidade de Dan Brown, aquele do "Código da Vinci". José Dirceu, outrora Grão-Mestre, julgava-se o chefe dos Templários do Século XXI, mesmo sem saber se era Hugh Di Pin, o fundador, ou Jacques de Molay, o coveiro. Acabou na fogueira acesa por Felipe, o Belo, na verdade, Inácio, o Horroroso, mas as comparações são o de menos. Dirceu não queimou em vão. Pelo contrário, sacrificou-se pela causa. A verdade é que o PT reciclou-se e ressurgiu nas profundezas dos castelos de Portugal e da Escócia, zelando por seus tesouros.

O PT se transformou em chave para a prorrogação eterna, legenda outrora criada apenas para defender os peregrinos que demandavam a Terra Santa, ou seja, os operários sequiosos de justiça social. Tudo é segredo, tudo são fórmulas cabalísticas destinadas a preservar segredos de antanho e mecanismos para a inevitável conquista do futuro.

À maneira dos Cavaleiros do Templo de Salomão, falsamente perseguidos pelo Papado, o PT representa hoje uma estrutura que traz um enigma dentro de um mistério. Nada do que seus comandantes falam deve ser entendido através da lógica e da razão. Submetidos a Roma apenas para enganar a Cristandade, trabalham mesmo para submeter o mundo aos seus desígnios imperscrutáveis de domínio material e espiritual.

Tome-se um exemplo. Ricardo Berzoini e Tarso Genro fingem disputar a liderança, empenhados em conduzir os companheiros à dominação universal. Sabem, porém, representar papel secundário, pois acima deles ergue-se o verdadeiro Grão Mestre. Enganam os ingênuos quando alertam para os perigos de o poder temporal assenhorear-se de seus tesouros, no caso, a hipótese de o PMDB participar em condomínio do segundo mandato.

Os dirigentes nominais do PT apenas seguem as instruções cabalísticas do presidente Lula. Pretendem esvaziar e desmoralizar o partido uma vez liderado por Pedro, o Eremita, no caso, o saudoso Dr. Ulysses. "Deus o quer" tornou-se um embuste, à medida que dominando por algum tempo a Terra Santa, no fundo os Templários desejavam dominar o mundo conhecido e o mundo desconhecido. Enganam-se o duque Sarney, o conde Renan e o barão Suassuna. Estão conduzindo suas cruzadas para as profundezas, imaginando salvar Jerusalém.

Depois de celebrado o acordo capaz de garantir maioria parlamentar ao segundo governo, o PMDB perceberá, tarde demais, ter caído na armadilha dos Templários. Seus ilusórios ministérios e diretorias de estatais estarão erodidos pelos mistérios da Ordem. Não saberão, apesar de terem indicado, quais os merecedores de sua lealdade. Desconfiarão deles próprios, tanto pela falta de poder efetivo de que disporão quanto pela falta de confiança em suas próprias convicções. Porque ao primeiro sinal de cizânia entre eles, estarão voltados para o Templário Maior, pretendendo servi-lo até pela traição aos próprios.

Quem presidirá o Congresso? Renan imagina dispor do direito adquirido. É o presidente atual e lei permite segundo mandato. Sarney não admite outra solução que não ele mesmo. Mas Nei Suassuna levanta a bandeira da renovação como líder da cavalaria peemedebista tão sofrida nos embates no deserto senatorial. A palavra final cabe ao Grão Mestre empenhado em dividir para reinar.

Na hora de indicar ministros, de onde surgirão as dúvidas e os confrontos? Lula manobrará nos bastidores, mobilizando seus Templários para insurgir-se contra qualquer indicação. Utilizará recursos do tesouro salvado das fogueiras que ele mesmo, sem dúvida, terá feito espalhar. Jacques De Molay ardeu consciente, sabendo que prestava inestimável colaboração à causa. Assim como Dirceu deixou-se cassar vislumbrando, no fim de tudo, a conquista do poder pela Ordem. Sacrificou-se de caso pensado, ainda que acreditando na ressurreição da carne.

As coisas não são como parecem. Tudo o que é sólido desmancha-se no ar. E tudo o que parece ilusório dispõe de condições para tornar-se rocha. E se quiserem saber de onde provém o imenso recurso para alimentar tamanha trama, basta perguntar onde esta o Templário responsável pela acumulação do tesouro indescritível capaz de permitir tamanho plano diabólico de conquista e preservação do poder. Resposta: no sítio do pai do Delúbio...

Carlos Chagas

A distância entre Lula e Jiabao

Javier Solana, ministro das Relações Exteriores da União Européia, deixou escapar uma reveladora confidência. Num seminário realizado recentemente na Espanha, Solana contou que o presidente Lula da Silva lhe narrou sua frustrante experiência com as autoridades chinesas. Lula havia ido a Pequim com a expectativa de criar uma espécie de eixo político-econômico, que incluiria a China, a Índia, a África do Sul e o Brasil, mas não encontrou a menor receptividade entre os chineses, a peça-chave desse pólo emergente do Terceiro Mundo que tentava fomentar.

Essa historieta pode ajudar a entender a diferença fundamental entre a visão internacional do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, geólogo e um “aparatchik” veterano, e a de Lula da Silva. O mandatário asiático é um estadista pragmático, mais interessado em continuar com a incrível façanha econômica de seu país do que em se entregar a rivalidades políticas planetárias típicas da guerra fria, ao passo que o presidente latino-americano, apesar de sua relativa e talvez crescente moderação, continua preso a falsos esquemas políticos de antanho que projetavam um mundo hostil em que se enfrentavam o Oriente e o Ocidente, o Norte e o Sul, países pobres e ricos, um panorama beligerante que, supostamente, exigia que se protegessem sob a abóbada de algum bloco salvador.

Jiabao, tal como seus antecessores, há 15 ou 20 anos já tinha aprendido uma lição que Lula da Silva, como tantos outros políticos latino-americanos de esquerda, não conseguiu entender de todo: é uma grande estupidez pensar que as nações capitalistas do mundo fecham as portas do desenvolvimento aos países mais atrasados. Essa foi uma flagrante mentira propalada pelo marxismo e irresponsavelmente repetida por diversas vozes dessa vasta família de gente amodorrada pela ideologia e pelas diretrizes que os dirigentes da China continental baniram de suas análises.

Como os dirigentes chineses mudaram a sua percepção da economia e das relações internacionais? Muito simples: observando o destino de outros chineses mais afortunados. Em 1976, quando morreu Mao Tsé-tung, os chineses mais bem informados, especialmente os que estavam na cúpula dirigente do Partido Comunista, já se haviam dado conta de uma dolorosa realidade que os afastava dos dogmas defendidos pelo Grande Timoneiro: Hong Kong, Taiwan e Cingapura estavam no caminho da riqueza, da prosperidade e do desenvolvimento popular. Os chineses que acreditavam na propriedade privada e no mercado, os que haviam abraçado a globalização, triunfavam. Em contrapartida, os que continuavam aferrados às superstições do coletivismo e agitavam o Livro Vermelho nas manifestações de massa viviam na miséria e na escassez.

Por isso, Wen Jiabao ignorou desdenhosamente a convocação de Lula. Para que enfrentar os Estados Unidos e outras potências econômicas se, graças às boas relações comerciais, industriais e financeiras com o grande mundo capitalista, a China conseguiu que 300 milhões de pessoas ingressassem na classe média e consumissem como ela? À China - que possui mais de US$ 800 bilhões de reservas, é o segundo maior credor dos Estados Unidos e o primeiro exportador para esse país - o que convém não é o conflito com Washington, muito menos a sua ruína, mas o sucesso crescente da nação americana e da União Européia, para poder manter as taxas anuais de crescimento de 10% a 12%, com o objetivo de poder resgatar da miséria os bilhões de chineses que ainda aguardam na sarjeta uma oportunidade de viver dignamente.

Carlos Alberto Montaner, jornalista e escritor cubano, é co-autor do livro Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano

terça-feira, junho 20, 2006

Balaio de gatos

por Xico Graziano

O processo da reforma agrária brasileira virou uma rosca sem fim: quanto mais assentamentos se realizam, piora a confusão fundiária. Haverá final nessa encrenca?
Os malucos do MLST depredaram a Câmara dos Deputados solicitando acelerar a reforma agrária. Inadmissível o vandalismo. Fica, porém, a dúvida de que tarda a justiça no campo. O governo, repetindo a cantilena petista contra Fernando Henrique, enrola os movimentos sociais.

Lula assumiu e a questão piorou. Não cessam as invasões, cresce a violência. O presidente da República afaga a turma, bota boné na cabeça, libera verbas suspeitas, mas, como que experimentando do próprio veneno, não se livra da crítica feroz.

Noves fora a política, os números desmentem, cabalmente, os céticos. Até o final do ano estarão assentadas em projetos de reforma agrária, desde a redemocratização do País, cerca de 900 mil famílias. Descontando a maquiagem oficial. Para comparação, existem em São Paulo 250 mil agricultores.

Foram distribuídos cerca de 40 milhões de hectares. Uma vastidão. Basta saber que a área cultivada com grãos no Brasil deverá atingir 45 milhões de hectares na próxima safra. A somatória das plantações de cana-de-açúcar, café e cacau mal atinge 10 milhões de hectares.

Afirmar que o Brasil não faz reforma agrária é um bordão mentiroso. Serve ao proselitismo, não ao conhecimento objetivo. Nenhuma nação realizou, pela via democrática, tamanha distribuição fundiária. O problema da reforma agrária brasileira, com certeza, não é de quantidade, mas, sim, de qualidade.

Qualquer governo que se pautasse pelo planejamento racional preferiria consolidar os assentamentos existentes, verdadeiras favelas rurais, a avançar nas desapropriações. Sendo correto, como, então, resolver o drama dos acampados?

A resposta é decepcionante: basta selecioná-los para descobrir que, na grande maioria, se constituem de falsos sem-terra. A solução para eles está no emprego, não na terra. Gente desocupada, trabalhadores urbanos desiludidos, excluídos sociais misturados com oportunistas: assim se recrutam os invasores de terras.

Os alojamentos à beira das estradas representam, afora as exceções, uma farsa. Simplesmente não é verdade que exista 1 milhão de pessoas acampadas. Quem conhece esse jogo da miséria humana sabe que as listas têm mais gente que os barracos. Primeiro, prometem cestas básicas, depois, quem sabe, a terrinha boa. Chove inscrição.

Na década de 1960, estudos patrocinados pela FAO sobre a pobreza dos camponeses latino-americanos sugeriam a reforma agrária para promover o seu desenvolvimento. No caso brasileiro, estimavam-se em 12 milhões de famílias os beneficiários da política fundiária. Pouco se fez.

Com a modernização agrícola e a industrialização, o terrível êxodo rural impôs sua lógica. Milhões de famílias migraram para as cidades entre os anos 60 e 80, principalmente. Surgiram os bóias-frias, assalariados sazonais. Mudou o mundo do trabalho no campo.

Em 1985, já terminada a ditadura militar, o governo Sarney patrocinou a elaboração de um plano fundiário. Seus idealizadores calcularam que havia entre 6 milhões e 7 milhões de "beneficiários potenciais" da reforma agrária. Quem eram?

Uma miscelânea de gente. Para começar, somavam os 2 milhões de pequenos agricultores, chamados minifundiários, com seus agregados. Depois, agregavam os parceiros, os arrendatários e os posseiros, num total de 1,5 milhão de produtores "precários". Por fim, adicionavam dois terços dos assalariados rurais do País. Esse balaio de gatos, ajuntando categorias rurais diferentes, produziu uma excrescência teórica.

Ora, os pequenos agricultores, embora pobres e de subsistência, são trabalhadores "com terra". A solução para o seu drama depende do acesso à tecnologia e a mercados favoráveis. Arrendatários nem sempre desejam ser donos do solo que exploram; posseiros preferem assegurar, juridicamente, seu lote. As demandas são heterogêneas, cada qual alimenta um sonho.

Quanto aos assalariados rurais, certamente podem ser considerados sem-terra, pois vivem da força de trabalho. Imaginar que devessem ser produtores autônomos significa voltar à Idade Média. Afinal, inexiste capitalismo sem assalariados.

Suponhamos, porém, que tal proposta fosse adiante. Com o avanço da eventual reforma, a subtração de mão-de-obra enxugaria a oferta de trabalho, elevando os salários. Logo se tornaria mais atraente permanecer assalariado, com carteira assinada, direitos reconhecidos, que aventurar-se na lide da produção rural. Afinal, não é errado, nem feio, ser operário. Nem na cidade nem no campo.

O site do MST afirma existirem 4,8 milhões de sem-terra. Ninguém sabe direito como isso foi calculado. Representa quase o triplo dos assalariados temporários rurais no País. E, ao contrário do desemprego, há falta de mão-de-obra no campo para certas atividades, principalmente para a colheita. Certo ou errado, pouca gente quer hoje trabalhar na roça. Morar, então, nem pensar.

Conclusão: é impossível calcular a quantidade de pessoas que deveriam ser assentadas no campo. Quer dizer, é indefinido o número de sem-terra existente no País. Qualquer estimativa será chutada. E pode conter você!

Por incrível que pareça, no teatro do absurdo em que se transformou a questão agrária brasileira, os verdadeiros sem-terra representam a minoria. Pior. Servem de massa de manobra, pobres coitados, para os revolucionários de araque.

segunda-feira, junho 19, 2006

A fábula petista e o demônio totalitário

"Tudo o que é bom para o PT é ruim para o Brasil."
Não é a primeira vez que escrevo sobre a frase que mais me rendeu protestos. Até alguns "conservadores" fizeram um muxoxo: "Cheira a preconceito." E daí? O preconceito também é uma realidade discursiva definida por marés influentes de opinião. Não ter alguns corresponde a reforçar outros. Vejam dom Tomás Balduíno, que trocou a Teologia pela Escatologia da Libertação. Ele acredita que lugar de auto-intitulados sem-terra é quebrando o Parlamento ou tungando propriedade alheia. Opor-se a tal prática seria preconceito.

Um "progressista" tem de estar afinado com os deserdados profissionais dos padres, das ONGs e do Chico Buarque. Os "conservadores" preferem ficar no armário, praticando uma ideologia que não ousa dizer seu nome. Ou vão para a fogueira. A esquerda leva vantagem na guerra de valores. Jornalistas acham normal ter como fonte um ladrão - sobretudo se ele roubar em nome da causa -, mas fogem de um "reacionário" ou "direitista". Supostas maiorias teriam mais direito a preconceitos do que um indivíduo. Com efeito, não existiria totalitarismo sem as massas e suas rebeliões - aprendi com Ortega y Gasset, antes ainda de começar a fazer a barba.

Sou tentado a defender o direito que todos temos de ter alguns "preconceitos". Um sujeito cem por cento tolerante é desprovido de moral pessoal e imprestável para uma ética coletiva. É preciso dizer em certos casos: "Isso não!" Um homem sem preconceitos é um empirista empedernido, uma besta, um monstro amoral.

Há um quarto de século toleramos a ladainha petista sobre "um outro mundo possível". Até há pouco, os petistas nos vendiam um certo "socialismo democrático", binômio antitético que a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) ressuscitou em entrevista ao programa Roda Viva. A propósito: ela afirmou lá que apenas 17% das terras agriculturáveis do País são cultivadas. Seria mentira ainda que Marina Silva derrubasse a floresta amazônica e secasse o pantanal para plantar soja. Não foi contestada em sua logorréia narcotizante. Uma bobagem choca; uma penca delas paralisa os sentidos, especialmente se vêm embaladas naquela cascata de disparates reiterados por sinonímias vertiginosas.

Nunca houve socialismo democrático ou marxismo cristão. Quem acata essas bobagens ou está comprometido com a causa ou procura ser simpático com os "progressistas". Não ambiciono a ração de boa vontade de adversários. O socialismo matou quase 200 milhões para criar o "novo homem", e sua primeira vítima foi a liberdade. Tentam pôr no meu colo os mortos das ditaduras de direita. Dispenso-os. Façam como eu: joguem todas elas no lixo. Esquerdistas, no entanto, não reconhecem em Fidel Castro um facínora e têm num homicida compulsivo como Che Guevara um herói, ainda a render filmes e rococós sentimentais. Entronizam um bufão como Hugo Chávez no posto de futuro mártir das causas populares. "Mártir"? Eu e minhas esperanças...

Que bom se a esquerda light e a social-democracia estivessem certas, e tudo isso cheirasse à naftalina da guerra fria, sepultada sob os escombros do Muro. Mas estão erradas, e a metáfora é óbvia demais. No Brasil, as seduções do demônio totalitário estão ativas e plasmadas no PT, que segue o figurino do Moderno Príncipe gramsciano. É confortável para os covardes a suposição de que a lenda lulo-petista se esgota no clepto-stalinismo dos 40 quadrilheiros. É uma forma de colaboracionismo.

Essa lenda contamina as instituições e busca mudar a natureza da democracia. Leiam isto, que segue em itálico: "O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar seu poder ou para opor-se a ele. O Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume."

É como Gramsci queria o "partido" que faria a transição para o socialismo aproveitando-se das fragilidades da democracia. Leninismo e fascismo em pacote único. Ele já havia aposentado as ilusões armadas na Europa, mas não a tara totalitária. O PT também arquivou as ambições socialistas - embora financie tropas de assalto à democracia -, mas não a vocação para submeter a sociedade a um ente de razão partidário.

Os sem-preconceito e liberais de miolo mole vêem o partido de Lula seguindo a bula dos mercados e o supõem convertido. Será? O que antes era "criminoso" passou agora a ser "virtuoso" na medida em que "tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe". Ele é capaz de "subverter todo o sistema de valores intelectuais e morais". E até os juros reais mais altos do mundo se tornam variantes de um "imperativo categórico".

A trama criminosa é só entrecho de narrativa mais ambiciosa. Nem a eventual derrota de Lula poria fim a essa história. Se vitorioso, o PT tentará perpetuar-se no poder mudando as regras do jogo: o caminho é tornar irrelevantes as eleições como meio de alternância de poder. E pode fazê-lo fingindo obediência ao rito democrático. É de sua natureza. Se derrotado, a "Al-Qaeda" - rede presente nos três Poderes, sindicatos, fundos de pensão, igrejas, estatais, imprensa, movimentos sociais e ONGs - tentará emparedar o próximo governo por meio do confronto e da chantagem. O que fazer? Dizer não ao demônio totalitário. Outras divergências são secundárias.

Tudo o que é ruim para o PT é bom para o Brasil.

Reinaldo Azevedo

sábado, junho 17, 2006

Enfim, alguém acordou

Nos anos 60, dois de meus amigos mais estudiosos, José Antônio Adura e Roberto Negrão de Lima, freqüentavam os cursos de Ciências Sociais e Filosofia na célebre escola da Rua Maria Antônia. Diziam que eu deveria fazer o mesmo, e de vez em quando me levavam até lá para eu colher umas amostras do ensino recebido. Ouvi tudo com a maior atenção e, depois de várias experiências, cheguei à conclusão de que ali só havia um professor inteligente: Oliveiros da Silva Ferreira. Logo depois do tiroteio com os alunos do Mackenzie a faculdade mudou para o Butantã e ponderei que não valia a pena atravessar a capital paulista, chacoalhando num ônibus, cheirando sovaco da população sofredora, para ouvir uma só aula interessante depois de horas e horas perdidas em injeções de babaquice marxista (e notem que eu próprio me considerava um marxista na ocasião).

Fiquei em casa, mas continuei acompanhando os artigos de Oliveiros no Estadão, sempre lúcidos e valiosos. Só uma coisa atrapalhava o colunista: aquele ar de solenidade uspiana, carga pesada e inútil que ele colhera do meio social e que se impregnara na sua pessoa, como na dos demais professores da instituição, formando uma espécie de segunda natureza. Impondo entre os alunos um temor reverencial quase eclesiástico, aquele repertório típico de gestos, entonações e trejeitos verbais que assinalava um professor da USP a vários metros de distância contrastava com a índole revolucionária das crenças ali dominantes e, para o observador de fora, tinha um efeito irresistivelmente cômico. A diferença era que em Oliveiros o manto professoral era a vestimenta de um esforço intelectual genuíno, enquanto nos outros era o substitutivo perfeito da atividade cerebral.

Com o tempo, notei que o aplomb uspiano, com sua abundância de ponderações fingidamente inconclusivas, seu uso abusivo de galicismos afetados e suas expressões de exagerada deferência a uma corporação de imbecis, acabou por se espalhar em todas as universidades do Brasil - talvez como efeito do sucesso simultâneo de Fernando Henrique Cardoso e do PT -, erigindo-se em estilo oficial do academismo caipira e tornando-se ainda mais senhorial e atemorizante por meio da adoção geral do vocabulário desconstrucionista que oblitera nos ouvintes o último resíduo de inteligência. Qualquer que fosse o caso, em Oliveiros o estilo, definitivamente, não era o homem - era apenas a sua redução cerimonial à estatura ambiente. Fui e continuo sendo seu leitor e admirador, num país onde as coisas a admirar, no domínio intelectual, já eram poucas e agora se aproximam velozmente da quantidade negativa.

Por isso fiquei muito feliz ao notar, no Estadão do último dia 10, que ele finalmente subscreveu minha tese de que o Brasil se encontra em plena revolução comunista, em avançadíssimo estado de implementação. Fiel às hesitações corporativas de praxe, capazes de desacelerar até uma inteligência inquieta como a sua, ainda em 2001, num amável debate na Casa Paroquial da PUC de São Paulo, e depois em 2002, na inauguração do Instituto de Filosofia e Estudos Interdisciplinares no Rio de Janeiro, ele relutava em me dar razão, preferindo apostar na progressiva dissolução das ambições revolucionárias petistas num mundo de economia globalizada e entusiasmo geral pela democracia.

Lembro-me de ter-lhe objetado, ao menos numa dessas ocasiões, que ele baseava seu diagnóstico integralmente em informações colhidas da mídia, sem o suporte das fontes primárias, sobretudo as Atas das Assembléias do Foro de São Paulo, que comprovavam a longa associação do PT com organizações de terroristas e narcotraficantes, bem como a existência de uma estratégia revolucionária comum entre essas organizações e os partidos oficiais de esquerda, que assim arrancavam sua máscara de legalismo e provavam ser tão criminosos quanto seus parceiros.

A grande mídia, ocultando persistentemente essas fontes, tornava inacessível, mesmo a cérebros privilegiados como o do meu interlocutor, a percepção do maior esquema revolucionário já posto em ação na história humana, destinado a entregar nas mãos dos comunistas um continente inteiro de uma só vez. A ocultação, por seu turno, era demasiado longa e sistemática para poder ser explicada pela mera preguiça ou incompetência, indicando antes uma cumplicidade ao menos passiva de boa parte da classe jornalística e de vários empresários de mídia na consecução do projeto comunista.

Os fatos que comprovavam a minha tese eram mais que abundantes, e nada se podia alegar contra ele exceto convicções gerais baseadas no hábito e na confiança. Eu reconhecia que argumentar contra o hábito e a confiança me dava ares de maluco, mas era melhor parecer maluco do que sê-lo realmente, como acontecia com todos os que continuavam a apostar, sem conhecimento dos fatos, na honorabilidade intrínseca das forças esquerdistas em ascensão.

Não sei se, nesse ínterim, Oliveiros estudou as fontes que lhe recomendei. Mas, no artigo "O ensaio geral" ele mostra ter compreendido que a invasão do Congresso não foi episódio isolado, mas sim etapa da consecução de um plano complexo, abrangente e bem elaborado para a conquista do poder absoluto e a instauração de uma ditadura comunista no Brasil. Uma vez que se entende isso, é impossível não perceber, retroativamente, que todas as demonstrações de lealdade democrática do PT e partidos associados foram apenas manobras diversionistas, de vez que coincidiram, no tempo, com o planejamento da investida revolucionária agora em curso.

Não costumo dar importância à aprovação ou desaprovação das minhas opiniões. A quantidade de aplausos ou vaias é apenas a expressão mais brega do argumentum auctoritatis, de validade cognitiva absolutamente nula. Mas a aprovação diferenciada, vinda de estudioso empenhado seriamente no conhecimento da realidade, é sempre alguma coisa.

Se consegui alertar Oliveiros da Silva Ferreira, isso mostra que ainda há alguns neurônios saudáveis no debilitado cérebro nacional.
Olavo de Carvalho

-----------------------------------------------------------------
O ENSAIO GERAL (8/6/2006) - Por Oliveiros S. Ferreira

Quero ser claro desde o início: a invasão da Câmara dos Deputados no dia 6 de junho de 2006 (início da “Era da Besta”...?) foi o ensaio geral para a tomada do Estado. O filme apreendido pela Polícia Legislativa e exibido na TV no dia seguinte é disso a prova: foi um ato cuidadosamente preparado para a ocupação do Salão Verde, chamado pelo instrutor de “Salão de Baile”.
Se não na cabeça daqueles que depredaram o que encontravam pela frente, o ensaio fez parte do plano do ex-guerrilheiro que é líder do movimento. Este, sabiamente, no momento em que tudo acontecia, estava no interior da Casa, procurando ser recebido pelo presidente Rebelo. Depois, pôde dizer que a violência fora espontânea... E houve quem acreditasse que assim era, ou se esforçasse por interpretar o episódio como mais uma manifestação legítima de quem reclamava a reforma agrária.
Está no Eclesiastes que Deus, quando quer perder os tolos, primeiro tira-lhes a razão. No malfadado dia em que os 6 se encontraram no calendário, prestigiados comentaristas, cientistas políticos de nome, todos se esqueceram de que o assalto fora a um dos Poderes do Estado e deram sua explicação “científica” e “abalizada” do que ocorrera.
O comentarista deitou falação, no seu terno bem cortado: entre os responsáveis pelo fato deveria ser colocado o Congresso, porque não cassara todos os do mensalão; o Judiciário, porque não fizera a reforma da lei de execução penal (como se mudar leis fosse função do Judiciário), e o Executivo, cujo presidente recebe todo mundo e está preocupado com a eleição.
O cientista político foi na mesma direção, só que se limitando a acusar o Congresso: perdeu legitimidade quando deixou de cassar todos do mensalão. Todos aqueles que nós, que estamos do lado de fora da Corporação Legislativa, desejamos que sejam cassados. Ao investir contra um dos Poderes da República, especialmente contra o Congresso, o analista e o cientista político simplesmente coonestaram a invasão e deram a clara demonstração de que haviam perdido o juízo.
A prova de que Deus está com os humildes se mostrou com os comentários que ouvi de dois amigos: um, reproduziu o que sua doméstica lhe dissera: “Ninguém mais respeita ninguém, doutor. Estou com medo. Acho que vai haver uma revolução”. O outro comentou a resposta de um pedreiro que mora na periferia: “lá, mata-se todos os dias e ninguém sabe quem é. O Lula, esse não manda nada.” A resposta da doméstica trouxe-me à memória o que um motorista de táxi me dissera depois que o PCC fez o que queria: “Em 15 anos, vai haver uma revolução”.
Vamos refletir sobre os 15 anos. Nas suas poucas luzes, o motorista traduzia um fino raciocínio sociológico (sem ter ido à escola): para que haja uma revolução, é necessário que o tempo passe para que as pessoas não acreditem mais em uma solução dentro da Lei para seus problemas. Ou como dizia alguém que entendia de fato de revolução: a massa faz a revolução quando tem o amargo sentimento de não suportar mais o status quo. Um e outro teriam razão — mas o raciocínio não se aplica ao Brasil por duas razões simples: uma, que a massa brasileira suporta bem o status quo, na medida em que, como diz a sabedoria popular, em tempo de buriti, cada um cuida de si. Em outras palavras, a sociedade se tornou individualista. Outra, porque a revolução já começou.
Se quisermos fixar uma data — assim como dizemos que o Renascimento começou num dado dia de 1453, quando os turcos tomaram Constantinopla — podemos dizer que a revolução começou em 1979, poucos dias depois da posse do presidente João Batista Figueiredo. O movimento sindical “novo”, então liderado por Luís Inácio da Silva, vulgo Lula, declarou uma grande greve no ABC. Multitudinária! O Tribunal Regional do Trabalho declarou a greve ilegal. O líder do movimento fez que o movimento continuasse em claro desafio a um ramo do Poder Judiciário, portanto, um braço do Estado.
Se para os responsáveis pela democracia que se instaurava (os Atos Institucionais haviam cessado a 1° de janeiro) não seria de bom tom que Lula fosse processado pela lei de Segurança Nacional, ao menos poderia ter sido enquadrado no artigo do Código Penal que dispõe sobre a desobediência à Justiça. Nada feito: na democracia que começava, não seria correto atingir essa liderança que havia criado um novo sindicalismo para derrotar o de Vargas, de pelegos. O ministro do Trabalho do presidente Figueiredo, senhor Murilo Macedo, veio a São Paulo, conferenciou com Lula e a greve terminou. O Poder Judiciário foi desmoralizado, ultrapassado — pela Presidência da República — e entre os mortos e os feridos, ninguém se machucou.
Muito bem, o Poder de Estado fora assaltado. Mas a paz reinou em Santo André e no ABC. Aí começou tudo: o Estado recuou diante da possibilidade de confronto com grevistas e do risco, maior, de ser acusado de ditatorial por todos os que falavam e escreviam. Na cabeça dos grevistas, das lideranças, pelo menos, gravou-se a lição: desde que o Estado fosse ameaçado com a possibilidade de conflitos e de sangue, seriam vitoriosos.
Esse foi o primeiro ato do drama. O segundo foram as ações violentas da CUT. É preciso lembrar que a CUT, quando se constituiu, era uma organização ilegal porque a CLT não considerava a possibilidade de se constituir uma central única de trabalhadores. Pela legislação ordinária datada de 1943, que não sofrera grandes alterações até aquela data, só poderia haver confederações de categorias, que deveriam agir isoladamente. Apesar disso, a CUT se organizou — quando apenas no Governo Sarney é que a modificação da lei permitiria que se constituísse legalmente.
As primeiras ações da CUT foram, como todos nós lembramos, de uma violência nunca vista nas relações trabalhistas. Em São José dos Campos e no ABC, ela deu demonstração de uma nova tática de luta: a ocupação das fábricas. Em muitas ocasiões, as ocupações incluíam atos de violência física contra pessoas e a propriedade: quem quisesse furar a greve sofreria ultrajes maiores ou menores, um dos quais era ser preso naquilo que se chamou de “chiqueirinho”. Em uma das ocasiões, creio que no ABC, os operários da CUT que ocupavam uma montadora, puseram fogo em vários automóveis já prontos.
A reação a esses atos de violência foi mais de parte da sociedade do que do Governo. Afora a reação da sociedade, preocupada com a escalada da violência, houve outro fator que levou a CUT a mudar sua tática: indústrias mudaram-se do ABC e os novos líderes compreenderam que a violência na luta sindical não era produtiva do ponto de vista de ganhos salariais.
É preciso ver que essas ações da CUT configuravam três tipos de violência (sem querer copiar dom Helder Câmara e suas quatro violências): contra as pessoas, contra a propriedade e contra a Lei. A rigor, poder-se-á dizer que as três podem ser resumidas na última, pois a violência contra a pessoa e a propriedade são crimes previstos no Código Penal. Concordo, mas qualifico minha posição: a violência contra a pessoa e a violência contra a propriedade são sentidas emocionalmente — e sublinho o sentidas emocionalmente — por todas as pessoas que dela foram vítimas e pelos que se arrepiam com esse tipo de ação. A violência contra a Lei, essa é feita contra um fato que, para a maioria das pessoas, é mais abstrato do que um desejo de ser multimilionário. Quem não tem idéia de seus direitos — e essa é a posição da maioria dos brasileiros — muito menos sentirá que a Lei foi violada. A reação emocional dá-se contra o ataque à pessoa e à propriedade — não contra a norma jurídica, abstrata como o Estado. O Governo, repitamos à exaustão, esse é concreto para o cidadão (que, com isso, demonstra ser mais súdito do que cidadão); o Estado é uma abstração. É, como diria um teórico do Direito, a comunidade criada pela ordem jurídica. A maioria da população, dos eleitores (semi-alfabetizados ou analfabetos) saberá que significa isto?
Esse fato — a violência contra a Lei — confirmou a revolução que se iniciava. E que foi incentivada, no plano do coração e das mentes, pela propaganda contrária aos Governos de 1964 a 1985, que se acrescentou a uma série de fatos sociais que contribuíram para enfraquecer o tecido social e acovardar os governadores de Estado — que inclusive se recusavam a fazer qualquer coisa para evitar greves nas Policias Militares, pois estavam certos, como me disse o então comandante do IV Exército, que o Exército entraria em força para assegurar a ordem pública.
As ocupações de terra pelo MST foram o ingrediente final para que a idéia de revolução se instalasse no coração e nas mentes das lideranças, de desempregados e daqueles que ainda sonhavam com Che Guevara e o socialismo cubano.
Ponha-se a débito dos Governos Federais o fato de estarem vindo financiando organizações legalmente registradas e controladas pelo MST, que é uma entidade fantasma, pois não tem registro legal – organizações que, reconhecidas como ONGs, mascaram seus objetivos.
Não responsabilizemos o Governo Federal por culpa que não tem em primeira instância. Quem responde pela manutenção da ordem pública é a instância estadual. Esta é quem deveria ter realizado as primeiras ações repressivas contra invasões de terra — os Governos estaduais e a Justiça estadual. Em São Paulo, mesmo, houve caso em que um juiz não concedeu a imissão de posse porque a invasão fora feita apenas em uma porcentagem da fazenda... A maioria dos governadores, se não todos, foi omissa, preferindo jogar a responsabilidade pela inação nos ombros do Governo Federal.
Aquela idéia que acompanhou o fim da greve no ABC em 1979 transformou-se hoje em moeda corrente: as invasões de terra são feitas por mais de 100 pessoas (ou 500). A desocupação da terra por mandado judicial e emprego das PMs levaria a um resultado danoso para a imagem da autoridade. Portanto, nada se faz — ou, perdão: entregaram-se e ainda hoje se entregam cestas básicas para alimentar as famílias que ocupam ilegalmente as terras.
A revolução já foi feita na medida em que a idéia de Lei e a de Estado já não mais faz parte da maneira de pensar dessas pessoas que violam a lei. A doméstica de meu amigo, aquela a que me referi no início, tem razão em ter medo; é que o pedreiro também tem razão, pois Lula nada manda. Nada manda porque os que, na sociedade, poderiam reclamar a imposição da Lei têm receio de serem chamados de reacionários, de fascistas e, ainda não, mas em breve, de gorilas — como em 1963 e 1964.
O ensaio geral para a tomada do Poder foi feito.
Aguardemos, confortavelmente sentados, que apareça, no meio do MST, do MLST ou dos Sem Teto urbanos, alguém com a audácia de Adolf Hitler ou Lênin para que se tome de fato o poder de Estado — contra nós, porque totalitário. Então, o novo Governo, que será dirigido por um partido, traçará suas diretivas e dará suas ordens às Forças Armadas como no III Reich e na URSS.

sexta-feira, junho 16, 2006

Eu não voto em Lula

Em 1982, eu me lembro bem, o recém-fundado Partido dos Trabalhadores lançou Lula - já então bem conhecido pela população de São Paulo por causa das greves no ABC - candidato a governador. Algum intelectual metido a marqueteiro criou o mote da campanha: "Lula, um brasileiro igualzinho a você!" O PT aplaudiu. Todos acharam o apelo irresistível. Para reforçar o tema o candidato só aparecia na TV, mesmo nos debates, de calça jeans e camiseta. As fotos de campanha se valiam da mesma indumentária. E Lula só falava em público utilizando gírias próprias dos trabalhadores humildes.

Ao contrário do que se previa, a campanha foi um estrondoso fracasso. O candidato obteve menos de 6% dos votos. Perdeu feio, principalmente no ABC, seu reduto eleitoral. Uma pesquisa qualitativa foi feita para descobrir as causas da derrota. O povo humilde, em especial as donas de casa, se encarregou de explicar: "A gente quer um governador que seja mais bem preparado do que nós. Se ele é igualzinho à gente, o lugar dele é aqui mesmo, dando duro que nem nós..." Desde então eu admiti, humildemente, que não entendia nada da alma do povo, principalmente das camadas menos favorecidas.

Eles são tão inteligentes como nós, só que a realidades em que vivem é diferente e, portanto, os seus valores são também diferentes. Eu, como jornalista e político, sei me comunicar exclusivamente com as classes média e alta, cujos valores compartilho. Quando me aventurei a ser candidato a prefeito de São Paulo, em 1988, gastei a maior parte do meu tempo discursando na periferia. Fui muito bem tratado - afinal, o nosso povo é sobretudo cordial -, mas não obtive nenhum voto por ali. Todo o meu eleitorado se concentrou nos bairros de classe média. O que quer, realmente, o povo de baixa renda?

Em 2003 recebi outro recado significativo de que o povo humilde tem conceitos muito diferentes dos meus. Como secretário da Comunicação do governo Alckmin, coube-me realizar uma série de pesquisas para procurar saber quais os programas sociais do governo do Estado eram mais bem recebidos pela população. Uma das perguntas era a respeito dos programas de renda para os desempregados. Não me lembro exatamente dos valores, mas o programa da Prefeitura, então dirigida pela dona Marta, pagava a cada cidadão uma renda duas vezes superior a idêntico programa do governo do Estado. Perguntamos aos cidadãos qual dos dois era mais bem aceito. Acreditávamos que a resposta era óbvia: o de maior valor seria o escolhido. Qual o quê! O preferido foi o de valor menor. Explicação do povo: "Ora, eu trabalho duro para ganhar R$ 250 de salário. Por que é que uns vagabundos, que não ralam como eu, hão de ganhar R$ 130 na moleza? R$ 70 está muito bom para eles..."

Tenho a humildade de reconhecer: como jornalista e homem público, meus valores são típicos da classe média. É ela que me lê aqui, no Estadão, é com os valores dela que me identifico e são as suas convicções que eu defendo. Como político, em campanha só sou convidado a dar palestras em associações, escolas e clubes de serviço cujos membros são da classe média. Não me arrisco a falar ao povão. Eu não o compreendo e ele, com certeza também não se sensibiliza com as minhas pregações.

Digo tudo isso para tentar responder a uma pergunta que recebo constantemente, via e-mail, dos meus leitores. É a seguinte: "Já conversei com todos os meus amigos e não encontrei ninguém que vá votar no Lula. Como é possível que ele seja disparadamente o favorito nas pesquisas?" A resposta que dou, invariavelmente, é a mesma: "Os eleitores de Lula estão concentrados nas camadas mais humildes da população e no Nordeste. Trata-se de pessoas que não costumam ler jornais e tampouco se interessam pelos programas noticiosos na TV."

Essa gente pouco ou nada sabe sobre todos os escândalos que marcaram a gestão do atual presidente e, quando sabe, não chega a compreender exatamente a magnitude e a gravidade dos inúmeros crimes cometidos. Não porque o povão seja destituído de valores morais. Ao contrário. Ele cultua uma moralidade por vezes mas rígida que a nossa. O problema é que eles não estão lá muito preocupados com a integridade da democracia e com o caráter sagrado que nós atribuímos às suas instituições. Lula, via Bolsa-Família, eleva o poder aquisitivo de cerca de 30 milhões de cidadãos, em todo o Brasil. A cesta básica de alimentos, por sua vez, está mais barata para os consumidores. E é isso que lhes importa. Roubalheira por roubalheira, isso existe em todos os governos. Se é maior ou menor, isso em nada muda o dia-a-dia das pessoas humildes. E, portanto, não tem a menor relevância.

Isso quer dizer que nós, eleitores mais esclarecidos, nos devemos render ao favoritismo de Lula e considerar a hipótese de sufragá-lo? De forma nenhuma. Eleição e turfe são coisas muito distintas. Na primeira votamos em quem acreditamos, no segundo é que a gente procura apostar em quem parece que vai ganhar. Tenho o máximo respeito pelos valores e convicções do povo humilde, mas me assumo como classe média e não abro mão da moralidade e do senso de valores típicos da minha condição.

Não se trata de optar pela esquerda ou pela direita. O que está em jogo é algo que transcende em muito o espectro ideológico. O PT, no poder, demonstrou ser tudo aquilo que abominamos. É um partido cujos membros escarneceram da democracia, menoscabaram a ética e fizeram do Parlamento um fétido lupanar.

É por isso que eu jamais votarei em Lula. Entendo que os brasileiros merecem um País mais digno que esse. Ainda acredito que um Brasil melhor é possível. E não abro mão do meu direito de votar pela decência. A pior das renúncias, sem dúvida, ainda é a renúncia à esperança.

João Mellão Neto

quinta-feira, junho 15, 2006

Ressaca, Ronaldinho e Ronaldão

Passado o pouco memorável jogo da terça-feira, as cabeças estão esfriando, mas ainda há muita gente por aqui falando como se o Brasil tivesse perdido. Até mesmo os britânicos, pois não só de arruaceiros se compõe a torcida inglesa. Logo depois do jogo, entrando no elevador do hotel em Berlim, me bati com dois cavalheiros ingleses aparentemente sóbrios, ambos vestidos com a camisa da seleção brasileira, que olharam meu crachá de imprensa e viram que sou brasileiro. Um deles em ato bem pouco comum por aqui, apertou meu ombro e, com o ar de quem tinha acabado de chegar da retirada de Dunquerque, lamentou que tivéssemos feito um jogo ruim.

Quase pergunto se eles pertenciam a um desses clubes ingleses exóticos, dedicado no caso a torcer pelo Brasil. Eu imaginava que, na Inglaterra, todo mundo torcesse por ela, mas fiquei com a sensação de que, se eu puxasse, eles cantariam o nosso Hino Nacional inteirinho.

Revelaram-se torcedores radicais da seleção e o que não falou comigo deu a impressão de que não conseguiria dizer nada sem ficar aos prantos. Que acontecera a Ronaldo, que acontecera a Ronaldinho, que calamidade era aquela que tinha se abatido sobre o Brasil? Esta vida vive nos surpreendendo e me vi na estranha situação de confortar dois ingleses abatidíssimos com a performance brasileira.

Na rua, a mesma coisa. Não se podia dizer que os croatas estavam alegres, mas não vi nenhum deles tão desolado quanto esses ingleses. E os brasileiros que se descobriam meus compatriotas deploravam em altos brados o que tinha acontecido em campo. Vergonha, vergonha das vergonhas! Havia até quem duvidasse de que o Brasil chegasse às quartas-de-final. E a julgar pelo que bebiam para esquecer, imagino que a quarta-feira deles tenha sido preenchida por uma ressaca tsunâmica, agravada pela desesperança.

Mas agora o panorama mudou e a conversa gira em torno dos Ronaldos.

Eu, como jornalista, devia saber o que estava acontecendo. Mas claro que eu não sabia e não sei, só ouço palpites e "informações de cocheira" pouco confiáveis. Sei que Ronaldinho saiu do campo de cara amarrada, como já contei, e em comportamento inusitado nele, se negou a conversar. E que o outro Ronaldo, ao que me parece, também não está gordo como dizem, mas com pinta de deprimido, com problemas na cuca. A cara dele, depois que foi substituído, era de fazer dó. E creio que Ronaldinho apenas estava chateado por não ter jogado uma fração do que sabe. Quanto ao Ronaldão, talvez a situação seja pior, porque todo mundo, esquecendo o seu currículo, dá no pé dele e essas coisas de cabeça são meio complicadas de resolver. E é isso que continuo pensando - o resto para mim é fofoca. Sou otimista e espero ainda encontrar os dois ingleses para comemorarmos a conquista da Copa. Pelo Brasil, é claro.
João Ubaldo Ribeiro

terça-feira, junho 13, 2006

O PT e o nazismo

Hitler começou sua maléfica trajetória política, no Partido dos Trabalhadores Alemães, registrado como o sétimo membro do comitê. Dos 25 pontos do programa do partido, cabiam-lhe dois, um dos quais afirmava que "as massas não necessitam de idéias, mas de símbolos que conquistam a fé e atos de violência e terror que, se bem-sucedidos, atraem adeptos". Depois de muitas discussões a analisar propostas, decidiu-se por uma bandeira que tivesse suas raízes no passado distante. A que correspondeu a esse paradigma foi a bandeira que ainda drapejava nos escombros de Pompéia, após sua destruição. Rendeu-se Hitler a optar por um fundo vermelho - que não era da sua preferência -, cujo centro exibia um dístico branco no qual se estampava a suástica preta, cruz gamada, signo existente desde 4 mil anos antes de Cristo.

O PT seria um partido novel, porque todos os da oposição eram "farinha do mesmo saco", sem um ideário subordinado à ética na conduta partidária. Escolheu seu símbolo não na Antiguidade, que lembrasse Pompéia, lugar de recreio que as lavas do Vesúvio soterraram. Deveria ser algo que revivesse a vitória, como a estrela vermelha que identificava o exército com que os bolcheviques, principalmente Trotski, venceram a guerra civil contra "os brancos" de Kolchack, a aliança da contra-revolução que pretendia entregar a Rússia de volta à monarquia depravada e aos mujiques miseravelmente explorados, como Gogol descreveria no romance Almas Mortas. Adotado o símbolo que "conquista a fé", caberia cumprir a missão da "violência e do terror que atraem". Não, igualmente, no estilo das SA e suas tropas de choque no início do nazismo. Começaram as arruaças pela intimidação. Apareceu o "apitaço", no fim dos anos 1980. No Parlamento, deformou o sentido democrático. Era de ver srs. deputados petistas soprando seus apitos, de sorte que o adversário não fosse ouvido ou se exasperasse. A mesma tática foi usada nos comícios. Quando Rachel de Queiroz assistiu pela primeira vez a um ato desses, dirigido pelos comunistas, denominou-os "fascistas vermelhos". Tinha razão, porque essa fora a maneira pela qual os fascistas preferiram a violência ao debate, o que não é de todo diferente da violência que Hitler defendia. Ele acreditava que um bom político só inflamaria as massas se fosse igualmente um bom orador. Por isso suas brigadas de choque desfaziam reuniões ou comícios. Preso por três meses, porque desfez chefiando pessoalmente o grupo de choque que atacou o comício em que falava o respeitado orador bávaro federalista Ballerstedt e o esmurrou, passou só um mês na cadeia. Ao sair, provocou os policiais: "Mas Ballerstedt não falou." Impossível deixar de fazer a analogia com os apitaços.

O que me fez lembrar a similitude foi, inicialmente, Stédile, em constantes elogios aos atos de violência do MST. Mas foi o assalto ao Parlamento na semana passada que me fez ver a semelhança com o nazismo e a frase feliz de Rachel de Queiroz. O assalto, planejou-o um petista do comitê central do partido, "companheiro" várias vezes recebido por Lula em encontros fraternos (de cujo governo recebeu R$ 5,7 milhões) e que também teve a solidariedade e as bênçãos de dom Tomás Balduíno, da Pastoral da Terra. Os que depredaram a Câmara dos Deputados seguiram um planejamento cuidadoso, reconheceram por vários dias os acessos a ela, armaram-se com grandes tacões de pedra, pedaços de madeira e até mesmo de algo suficientemente contundente para quebrar computadores e desfigurar um automóvel, posto de pernas para o ar. O líder, de uma família de donos de usineiros abastados do Nordeste, não tem uma suástica no braço musculoso para identificá-lo, mas é como se a tivesse na cabeça proeminente e no gesto desafiador dirigido aos policiais. Disse não ser responsável pelo estouro da boiada, como se não fosse o bucéfalo que o inspirou. A súcia (mulheres inclusive) não foi à Câmara para impedir nossos licurgos de falar, como usavam fazer os recrutas das SA. Alguns - não surpreende - devem fazer parte da "organização criminosa dos 40" que o bravo procurador-geral da República teve o destemor de denunciar. Baderneiros, nada tinham com reivindicação, tantas são elas numa sociedade injusta, mas para provar que os trogloditas reviveram. No rico Bruno o PT encontrou, afinal, o seu Pancho Villa.

O presidente da Câmara, que se honra de pertencer há 30 anos ao Partido Comunista, incomoda Stalin, no cadáver às margens do Kremlin, quando louva a democracia, a Casa do Povo e desanca a violência. Para não parecer que aderiu à direita, obrigada a defender-se de agressão, preferiu expor a vida dos poucos seguranças (que os assaltantes, no planejamento feito, já sabiam serem poucos) ante a fúria dos baderneiros a solicitar a presença da Polícia Militar, que, ao menos poderia impor, pelo respeito à farda, comedimentos dos brutos herdeiros camisas-marrons das SA do início do nazismo. O "estouro da boiada", a violência de seus comandados estava implícita nas lições de capacitação política. A pedra que perfurou o crânio do servidor levado aos cuidados de UTI prova que o amor à liberdade obriga, a quem dela se serve, a defendê-la, sem medo de ser confundido com o passado de quem Kruchev fez o retrato nefando de um tirano. Como afirmou Fareed Zakaria, as liberdades cresceram e o Estado, antes monopolista das armas, diminuiu e com ele veio o enfraquecimento da democracia.

Lyautey, biografado por André Maurois, disse: "A ordem e a segurança não são, decerto, direitos, mas se tornaram necessidades humanas." Goethe foi mais longe. Embora vitorioso, diante das injustiças no cerco de Mayence disse: "Amo melhor a injustiça que a desordem." Por aqui, neste Brasil, ama-se mais a desordem que a injustiça.

Jarbas Passarinho,ex-presidente da Fundação Milton Campos, foi senador e ministro de Estado

O crime compensa?

Sr. Dirceu Lula Delúbio Valério da Silva

LULA QUER PROVAR que o crime compensa e propôs um desafio debochado: que sejam exibidas as confissões e testemunhos sobre a corrupção do seu governo. E o povo, em vez de penalizar os ladrões, ainda o reelegeria. Sugere que o povo, em vez de condenar os culpados impunes, penalize os que denunciaram e provaram as falcatruas.
Pois está aceito o repto. Veremos se prevalecerá a distração temporária, causada pela maciça propaganda oficial. Veremos se a opinião pública relevará, tanto como Lula, o fato de que 40 petistas e assemelhados, ministros e amigos pessoais do presidente, cometeram crimes e não apenas transgressões éticas. Todos acusados pelo Ministério Público e respondendo a processo no Supremo.
Ou por acaso, tudo é mentira, fruto de confissões e testemunhos obtidos sob tortura?
Então, José Dirceu não deixou a Casa Civil da Presidência (nem foi cassado pela Câmara dos Deputados) por chefiar um sistema que começou a ser revelado com as chantagens de Waldomiro Diniz, seu subchefe para assuntos parlamentares?
Duda Mendonça não confessou ter recebido R$ 10,5 milhões ilegais, em contas no exterior, como pagamento da campanha eleitoral de Lula? Silvinho Pereira, secretário do PT, não recebeu de presente um luxuoso Land Rover de uma empreiteira da Petrobras? Delúbio Soares não montou um sistema de chantagem e suborno executado pelo empresário Marcos Valério para distribuir dinheiro vivo (naturalmente, desviado do Banco do Brasil, via Visanet, e de outras fontes públicas) a deputados, em troca de apoio ao Governo Lula?
--------------------------------------------------------------------------------
Veremos se a opinião pública relevará o fato de que 40 petistas e assemelhados cometeram crimes e não apenas transgressões éticas
--------------------------------------------------------------------------------
Palocci jamais freqüentou a residência alugada no Lago Sul, em Brasília, por uma gangue de negocistas?
Okamoto, Presidente do Sebrae, não pagou dívidas pessoais de Lula e sua filha com dinheiro de origem não identificada? Ou o irmão de Genoino nada tinha a ver com a história do portador que escondia dólares na cueca, quando foi apanhado no aeroporto de São Paulo por funcionários do próprio governo na inspeção rotineira dos passageiros que embarcavam para Fortaleza? Será tudo isso uma alucinação coletiva?
Abusando da sua condição de presidente da República e transformando atos oficiais em palanque eleitoral, pretendeu chantagear a oposição.
Quer saber quem ousará lembrar aos eleitores de que ele é um protetor de ladrões públicos e acusados em casos de corrupção, roubo, formação de quadrilha, prevaricação, mentira, falsidade ideológica, crimes eleitorais, remessa ilegal de dólares ao exterior e outros delitos -todos apurados pelas CPIs, Polícia Federal e Ministério Público Federal.
Orientado por seus marqueteiros e sempre à sombra de Duda Mendonça, que é seu onipresente conselheiro, Lula ensaia um velho e eficaz golpe de propaganda. A manobra perversa consiste em repetir mentiras e negar verdades com tal insistência e firmeza que o povo termina acreditando que a mentira é verdade e que a verdade é mentira.
Experimentado no mundo inteiro através dos tempos, desde os romanos, tem funcionado eficazmente, até que o próprio povo, enganado, reage a tão sórdida maquinação. Às vezes tardiamente. Mas que Lula não se fie no retardo da reação à sua pirueta de marketing eleitoral. Confesso que nunca ouvi falar, a não ser como façanhas de ditadores desvairados, de ousadia elevada a tal grau de cinismo.
E já que o presidente se dispõe voluntariamente, como fez em Manuas, a confundir-se com os personagens dos escândalos do seu governo, por que não facilitar-lhe o esforço incorporando-os ao seu nome? Ele mesmo intercalou o apelido à própria assinatura. Portanto, que tal chamá-lo de Lula Delúbio Valério da Silva? Ou Dirceu Okamoto Lula Valério?
Ou...sei lá. São tantas as combinações possíveis! No entanto, não importa com que nome Lula se apresentou para fazer campanha eleitoral no Amazonas no dia 1º de junho, com despesas pagas com dinheiro público.
O importante é que suas imposturas não fiquem sem resposta nem suas mentiras repetidas se tornem verdade por falta do protesto e contestação. Em junho de 2005, a indignação popular com esses crimes do governo Lula -os mesmos que agora serão recordados na campanha- poderiam ter provocado seu impeachment. Pois em outubro de 2006 serão a sua derrota eleitoral. Não resta a menor dúvida.
--------------------------------------------------------------------------------
JORGE BORNHAUSEN é senador da República por Santa Catarina e presidente nacional do PFL

domingo, junho 11, 2006

ASCO!!!

Não costumo perder o controle das palavras, quando debato. No Senado, jamais agredi ou fui impolido com quem debati, nem recebi o menor agravo verbal ou físico. Defendíamos nossas posições no regime que a oposição, em 1978, ainda chamava de ditadura militar. Estranha ditadura que, já nas eleições de 1965, perdera os governos de Minas Gerais, berço do golpe de Estado preventivo de 64, e do Rio de Janeiro, onde Carlos Lacerda, um dos chefes civis da contra-revolução, perdeu para a oposição a eleição do sucessor. Ditadura que mantinha todas as liberdades civis e políticas, inclusive a da imprensa livre, até que foram restringidas pelo AI-5, por seu turno revogado, e com ele todas as medidas de exceção, pela Emenda Constitucional nº 11, de outubro de 1978.

Mas continuou a oposição a denominar ditatorial, em 1979/80, o governo que defendi como seu líder, quando votamos a anistia. Debati com Paulo Brossard, Pedro Simon, Marcos Freire, Roberto Saturnino, Gilvan Rocha, Franco Montoro e Itamar Franco, entre outros. Defendemos nossos pontos de vista em linguagem civilizada. Não mentíamos; argumentávamos. Cultivávamos a honradez e a probidade. Todos eles ficaram meus amigos e muito contribuíram para a redemocratização do país. Inconformados com a polidez mútua que mantivemos, houve quem, eleito muito posteriormente, dissesse que o Senado “era um sepulcro caiado”, porque não encontrava nos anais os insultos soezes de que já faziam uso.

Quem reproduziu as palavras indignadas de Cristo, profligando os fariseus, jactava-se de pertencer ao PT, um partido ético e moralmente renovador. Não se passou muito tempo, veio a desiludir-se com os desvios de conduta do PT, que um dos seus fundadores históricos disse que procedia como meliante. O partido, confundido com uma República sindical, assaltara o Estado por ele aparelhado. A máscara ética mostrou que apenas escondia meliantes, ou seja, bandidos, em quadrilhas expropriadoras do dinheiro público ou de estranhos empréstimos com aval de Valério.

O governo tudo fez para impedir a instalação de CPI, diante dos escândalos que a imprensa investigativa revelava à farta, trazendo as provas das denúncias de Roberto Jefferson, que não as tinha. Isso foi apelidado de denuncismo. O mesmo governo violou um princípio parlamentar, o de ter em CPI a presidência ou a relatoria de um parlamentar da oposição, pois a CPI é um instrumento da oposição. Todas tiveram presidente e relator governistas. A dignidade deles, ajudada pela pressão popular, impede que a CPI venha a ser pura farsa. Convocou depoentes citados com provas de corrupção. Começou uma peça teatral dedicada ao cinismo mais revoltante.

Repugna ouvir os depoimentos dos convocados pelas CPIs e pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Mentem sordidamente, diante dos fatos, como se esses houvessem sido uma conspiração de falseadores de dados verdadeiros. Usam o caradurismo dos meliantes, que o petista horrorizado assim os denominou. Adotam, como ajuda, o truque de desqualificar as fontes que comprovam o assalto aos cofres da União, falaciosamente confundidos com “recursos não contabillizados” para caixa 2 do partido da ética e da moral. Confusão que obedece à orientação de caríssimos advogados a serviço de esconder a fraude ou deixá-la incidir em crimes de punição menor. Disse a mídia que isso foi orientado por ninguém menos que o ministro da Justiça, famoso penalista que já absolveu acusados de crimes horrendos, mas deve ser engano porque o ministro é autor de uma frase violenta sobre o caixa 2, “uma bandidagem”. Nas acareações, atingem o ápice da simulação. Dizem que não conhecem ninguém, que nunca receberam dinheiro, nada obstante seus nomes figurarem nos extratos bancários. Se não os próprios nomes, os dos intermediários.

Aos dois irmãos do assassinado Celso Daniel, o chefe de gabinete do presidente Lula, com a mais serena fisionomia, sem mexer um músculo da face, diz nunca ter dito o que lhes disse, quando amigos. Ou os irmãos não passariam de paranóicos, ou — mais provável — Carvalho é o mais perfeito êmulo de Tartufo, de Moliére. Há até momentos hilariantes. Um deles se deu com o ex-tesoureiro de um dos partidos venais, a quem a secretária de Marcos Valério, aquela que ficava com os dedos doridos de tanto contar cédulas e entregar a beneficiários, o identificou como um dos que recebiam o “excremento do demônio”. Com a mesma hipocrisia de outros, ele negou. Negar é o verbo mais usado pelos que conjugaram o outro verbo que o padre Vieira preferia para o caso: surrupiar. O deslavado mentiroso afirmou desconhecê-la. Rindo, com ar de deboche, ela de dedo em riste lhe perguntou: “E aquele encontro no hotel Grã Bitar?”. A platéia gargalhou e o mentiroso silenciou.

É a isso que assistimos nesta pobre república da estrela vermelha, na qual José Dirceu, jogado às urtigas pelo palácio, beneficia-se de liminares que o ministro Eros Grau concede, escandalizando os leigos, porque leigos somos, e o ministro está no STF porque tem “notório saber”. Logo... A amizade com Dirceu em nada afetou seu senso de justiça. Dirceu, que tem fôlego de gato, tudo indica que não será cassado neste ano. Quanto a 2006, é prudente não arriscar.

Tudo isso provoca asco, nojo, palavras que nunca usei em política.

Jarbas Passarinho no Correio Brasiliense 1 de novembro de 2005

Comendo e andando

Segurem o queixo para ele não cair, mas o dever do jornalista é contar a verdade duela a quién duela. E eu não participo das conspirações da mídia, destinadas a distorcer, inventar ou negar a existência de fatos que o grande público deveria saber. É assim, com o desassombro que caracteriza minhas atitudes, que revelo a verdade nua e crua: a Alemanha tem fama de adiantada, coisa e tal, mas - pasmem - não tem um programa Fome Zero.

Conto isso depois de cuidadosa investigação e descobri que, até mesmo descrever o que é o Fome Zero para um alemão é difícil, notadamente para quem não fala alemão, como eu e quase toda a brasileirada. Muitos deles acham que, com isso, estamos querendo dizer que no Brasil ninguém passa fome, mas o atraso germânico é brabo mesmo. Não fazem idéia da diferença entre um governo e a realidade. Claro, brasileiro não mente, exceto os investigados em CPIs e semelhantes, de forma que não contamos que não se passa fome no Brasil. Contamos apenas que temos um programa Fome Zero e às vezes suspeito que os alemães até entendem o que é, mas ficam despeitados.

Enfim, como o governo atual deles também não costuma alegar que é o melhor desde Carlos Magno e eles reconhecem que as mães deles todas nasceram analfabetas, não se pode esperar muito. E, afinal, temos de relevar essas pequenas coisas, fazem parte do orgulho nacional de um povo que somente agora ganha renome internacional, por hospedar uma Copa. Não vamos esfregar isso na cara deles, não fica bem para visitas mostrar quão pouco progrediram, desde que D. Pedro I proclamou a independência deles.

Não vou dizer que se passa fome na Alemanha, mas devo ressalvar que não está fora de cogitações eles terem escondido os famintos deles na Chechênia, ou qualquer lugar assim, somente para que não flagremos suas misérias e as mostremos na tevê, com o sensacionalismo que caracteriza a mídia brasileira em geral, pois aqui não é lugar de denuncismo barato. Não se trata, contudo, de denuncismo barato dizer que, em quase toda a Alemanha, se você deixar de comer até as dez horas da noite, é melhor fingir um enfarte e ir para um hospital (o SUS daqui também não vale nada, posso apostar - nem tem SUS, aliás), porque não vai achar nada aberto. A gente sai de noite e se bate com uma porção de alemães alimentados, mas comer mesmo é impossível. E não adianta implorar à porta dos restaurantes já fechando. O gerente diz que não abre e sai para casa, comendo e andando para nós. Sei que isto não é assunto futebolístico, mas faz parte do panorama geral da Copa. Vamos derrubar mitos. Eles são tão mais atrasados que comem na hora certa e nós somos tão adiantados que comemos atrasado. Ou não comemos nada, mas aí ostentamos o Fome Zero nas fuças deles, pras negas deles é que eles são adiantados.

João Ubaldo Ribeiro

sexta-feira, junho 09, 2006

Os números e o milagre

Desde ontem, ecoam por toda parte os belos discursos contra a invasão da Câmara Federal. Com uma ou outra exceção irrelevante, sua tônica é uniforme: dão a impressão de que essa truculência, como todas as anteriores, foi um susto passageiro, um abuso fortuito incapaz de abalar no mais mínimo que seja a tranqüilizante rotina democrática em que vivemos. Está tudo sob controle: temos um presidente amante da ordem, nossas instituições são estáveis e as Forças Armadas, é claro, estão vigilantes.

Não vou discutir com quem diz que acredita nisso. Peço apenas ao leitor que atente para o aspecto aritmético da questão. Some a militância do PT, do MST e MLST, da CUT, do PCC e das demais facções da esquerda revolucionária (assim denomino as que estão afinadas com a estratégia continental do Foro de São Paulo). São uns quarenta milhões de pessoas. Não incluo aí simpatizantes, burros de presépio e meros eleitores. Conto apenas os militantes, gente doutrinada, adestrada, disciplinada, disposta a tudo. São a quarta parte da população brasileira. Nem me pergunto quantos deles estão armados, prontos para matar.

Mesmo que tivessem apenas estilingues, restaria este dado brutal: nunca houve, na história do mundo, uma organização revolucionária dessas dimensões. Muito menos pergunto quanto custou: não consigo somar os lucros do narcotráfico e dos seqüestros, a hemorragia crônica de verbas federais, os dízimos da militância e as contribuições de fundações estrangeiras bilionárias. O total é impensável. Você acha realmente que alguém constrói uma monstruosidade dessas para não fazer nada com ela além de cumprir as leis e ser bom menino? O futuro do Brasil está decidido, de maneira praticamente irreversível, por um fato aritmético de envergadura majestosa e potência avassaladora.

Esses números, aliás, não são uma quantidade informe, distribuída a esmo no espaço. Há entre eles toda uma rede de conexões. Eles formam uma equação bem definida, um mapa, um organograma completo. Sempre que uma das entidades que mencionei acima entra em ação, é em parceria com as outras. O PCC espalha o terror por meio de técnicas que aprendeu com o MST, que as absorveu das Farc, cujos líderes são íntimos da cúpula petista e do sr. presidente da República. O Comando Vermelho, para produzir efeito idêntico no Rio, usou o que aprendeu direto da elite esquerdista que hoje governa o país. Quando um agente das Farc é preso logo depois de declarar que deu dinheiro do narcotráfico ao PT, mais que depressa essa elite se mobiliza para mandá-lo ao exterior. Idêntica iniciativa surge da mesma fonte para libertar os mestres-seqüestradores do MIR chileno que pegaram Abílio Diniz e Washington Olivetto. E, quando o MLST entra na Câmara depredando tudo e esmagando crânios, quem está no seu comando é um membro da Comissão Executiva Nacional do PT. Não há ações isoladas. Distribuídos sob denominações diversas, quarenta milhões de fanáticos estão perfeitamente articulados, solidários, na afinação diabolicamente eficiente de uma orquestra da destruição.

Na época das CPIs, bastava aparecer uma ligação telefônica entre um empreiteiro e algum deputadinho corrupto para o PT sair gritando: “É uma conspiração! É um Estado dentro do Estado!” Diante de indícios imensuravelmente maiores e mais probantes, a nação ainda se recusa a conceber, mesmo de longe, uma hipótese semelhante para explicar o que acontece hoje, embora não haja nenhuma outra explicação plausível, exceto a aposta louca no prodígio das meras coincidências repetidas em série. É que hoje não há um Estado dentro do Estado. Há um Estado acima do Estado, impondo o caos e chamando-o de “ordem”. Nessas circunstâncias, parece sensato abolir a aritmética, a álgebra, a razão inteira, e apegar-se à esperança de um milagre. Mas o único santo milagreiro à disposição é São Lulinha, e o único milagre que ele sabe fazer é precisamente o que já está fazendo.
Olavo de Carvalho