segunda-feira, maio 29, 2006

Relembrar é oportuno!

Resumo: Foram os patriotas de copas que permitiram que a tradicionalmente delinqüente e incorrigível canalha vermelha voltasse a conduzir os destinos da nossa Pátria e chegássemos ao caos ao qual chegamos.

A propósito dos acontecimentos que, recentemente, abalaram a cidade de São Paulo e se estenderam por outros pontos do País, deixando a Nação perplexa e amedrontada, lembrei-me do que, há cerca de seis anos, li As Esquerdas e o Crime Organizado, um belo discurso que se fosse considerado por governantes, educadores e por bem intencionados formadores de opinião e, de um modo geral, pela sociedade, não chegaríamos à situação de calamidade pública com a qual ora nos deparamos. Por oportuno, relembrá-lo é da maior conveniência. Não se trata de profecia visionária de fantasmas inexistentes. Mas de fatos, de verdades que já naquela época saltavam aos olhos.

Nesse seu extenso e muito bem fundamentado grito de alerta, Olavo de Carvalho dissecava e comentava o livro de autoria de Carlos Amorim - “Comando Vermelho. A História Secreta do Crime Organizado”.

Logo no início desse artigo, Olavo de Carvalho, com muita propriedade, assim se manifestava sobre a obra: “é um trabalho de valor excepcional, cuja leitura se recomenda a todos os brasileiros que se preocupem com o futuro deste país. Futuro do qual se pode ter um vislumbre pelas palavras de William Lima da Silva, o “Professor”, fundador e guru do Comando Vermelho... etc”.

Inspirado nesse precursor grito de alerta, corri atrás do livro indicado, percorrendo as principais livrarias da cidade do Rio de Janeiro. Estava esgotado. Por uma dessas ironias do destino fui encontrá-lo em um sebo, perto da minha residência, cuja peculiaridade era a de vender livros usados, com ênfase para as obras de Marx, Lenine, Mao, Regis Debray e assemelhados, de forma a matar dois coelhos com uma só cajadada; adiante explico.

Como sempre gosto de ilustrar meus textos com historinhas correlatas, aqui peço vênia para abrir um parêntesis no assunto acima iniciado, para justificar a citada ironia do destino. Informo aos meus prezados leitores que o dono do sebo, identificando-me como voraz leitor das obras de Marx et caterva e certificando-se da minha fluência no “comunistês”, abriu. A abertura do dono do sebo consistiu em me contar que era o chefe da célula do Partido Comunista do Brasil (PC do B) do bairro e que nos fundos da livraria é que, semanalmente, se realizavam os encontros do grupo que chefiava. Aduziu que, além disto, a venda dos livros fazia caixa para pagar o aluguel da loja que sem despertar suspeitas abrigava os encontros, ao mesmo tempo em que disponibilizava a literatura que convinha ao seu Partido. Como disse-me simpatizante comunista, fui convidado para me alistar no Partido, chegando a receber a ficha de inscrição. Arrotando a famosa ética comunista, fiz questão de pagar o livro (R$ 9,00) que me foi oferecido de graça. Peguei-o e “sumi do mapa”.

Dizia-se que um subversivo “abriu”, quando um militante comunista era preso e, ao ser interrogado, de bom grado confessava sua participação em atividades subversivas, no mais das vezes, para salvar a pele, em delação premiada, “entregava” a sua organização e seus “cumpanheiros”. É claro que era um dito, utilizado por integrantes do Sistema Nacional de Informações (hoje, Inteligência), desde há muito usado por policiais e, também, adotado pelos subversivos, nos anos, ditos “de chumbo”.

Porque vivi intensamente tais anos eu refuto a pecha: nem tanto chumbo quanto dizem, em continuado e cínico trabalho subversivo que visa incutir no senso comum da sociedade que eram santas as criaturas que, “por amor à democracia”, combatiam a ditadura que destruiu as suas vidas. Deslavada mentira, pois quase que a totalidade dos inimigos da Pátria, mesmo professando doutrina alienígena, sobreviveu e, voltando, foi-lhe permitido tomar o governo da República e meter a mão no dinheiro público, para a reedição da frustrada tentativa de transformar o Brasil num país socialista.

Muitos dos que para isso concorreram e agora choram lágrimas de sangue, podem ser enquadrados na categoria daqueles que SÓ se interessam pelo destino do seu País, quando o Brasil disputa a Copa do Mundo. No mais, cuidam das suas conveniências pessoais e o resto que se dane.

Foram esses patriotas de copas, repito, que permitiram que a tradicionalmente delinqüente e incorrigível canalha vermelha voltasse a conduzir os destinos da nossa Pátria e chegássemos ao caos ao qual chegamos. Agora agüentem, raciocinem se conseguirem, tendo em mente só o consolo de que errar é humano. Mas não se esqueçam de que é recomendável a lembrança de que persistir no erro é burrice.

Voltando ao início do assunto, relato que devorei o livro de Carlos Amorim e aproveitei a esclarecedora contribuição do Olavo para difundir no meu círculo a sua preciosa advertência. Então, escrevi um artigo que foi publicado no extinto jornal alternativo Ombro a Ombro e transcrito em dois “sites” da Internet.

A seguir, permito-me, em excerto, relembrar alguns dos seus tópicos, no intuito de mais uma vez mostrar que a omissão das nossas autoridades e a leniência da sociedade são coisa da antiga, portanto, não me causando espanto a recente prisão do festejado “rapper” Colibri, indiciado pelo Ministério Público por cumplicidade com o crime organizado:

“Por uma dessas ironias do destino” ou “mera coincidência”, pouco tempo depois de ler o livro, encontrei, na página oito de O Globo de 24/06/2000, a transcrição da letra de um "rap" do grupo Facção Central que faz parte do terceiro CD desses propagandistas do crime e da violência que vêm invadindo nossos lares, por intermédio de um videoclipe apresentado pela MTV, como lídima e autêntica manifestação artística. O pior é que tem quem disto goste, isto é: tem bobo para tudo. Venderam cerca de 38 mil discos.

Matando a normal curiosidade dos meus leitores e, antecipadamente, me desculpando pela possível provocação da Síndrome do Pânico Coletivo, além de inevitáveis espasmos estomacais que possam advir da sua leitura, atrevo-me a transcrever trechos da composição intitulada:

É UMA GUERRA ONDE SÓ SOBREVIVE QUEM ATIRA

– "Quem enquadra a mansão, quem trafica. Infelizmente o livro não resolve/O Brasil só me respeita com o revólver/ O juiz ajoelha, o executivo chora/ Para não sentir o calibre da pistola/ Se eu quero roupa, comida, alguém tem de sangrar/ Vou enquadrar uma burguesa/ E atirar para matar/ Vou furtar seus bens/ E ficar bem louco/ Seqüestrar alguém no caixa eletrônico/ A minha quinta série só não adianta/ Se eu tivesse um refém com o meu cano na garganta/ Aí não tem gambé para negociar/ Vai se ferrar, é hora de me vingar”.

Se atentarmos para esse amontoado de sandices, aparentemente desconexas, podemos afirmar, sem dúvida de erro, que a fraseologia é eminentemente revolucionária e as cabeças dos seus autores armazenam ódio e desejo de vingança contra toda a sociedade. Por outro lado, nunca é demais assinalar-se que esses "poetas" não nasceram com tais idéias. Essa cantilena incitadora, nossa velha conhecida, está claramente estruturada por princípios da luta de classes. Tem dono e difusores. Acredito que nem preciso dizer quem são e muito menos que bombardeiam, com rara eficácia, o nosso dia-a-dia, seja por insanos, “papagaios", seja pela imprensa escrita, falada ou como nesse caso, pela telinha da TV.

Depois destes concretos exemplos de propaganda político-ideológica, fica claro que os alunos da Ilha Grande tornaram-se também professores para novas gerações e, em cadeia, propagaram-se idéias e ideais que vêm, pela mão do crime organizado, infernizando a vida de toda uma população e estimulando a proliferação do crime desorganizado.

É uma bola de neve rolando montanha abaixo e que, para dissolvê-la, não mais urgem, já rugem, sérias, honestas, demoradas e substanciais ações, principalmente no campo educacional – lato senso - pois paliativos demagógicos como melhoria da iluminação pública e outras baboseiras constantes do Plano Nacional de Segurança Pública, do governo Fernando Henrique, recentemente divulgado como a oitava maravilha, só servem para facilitar o gasto, nem sempre honesto, do dinheiro público, bem como para massagear o ego da turma do “quanto pior, melhor”. E acredite quem quiser: essa gente deve estar dando boas gargalhadas às custas de uma aflição nacional a qual, perversamente, fomentaram.

Jorge Baptista Ribeiro
Coronel R/1 do Exército é bacharel em Ciências Sociais, pela então Universidade do Estado da Guanabara e estudioso da Guerra Revolucionária.

sábado, maio 27, 2006

Moral em concordata

Por levar uma vida muito pobre, Estrela começa a buscar outras formas de ganhar a vida. Com ela mora sua irmã Rosário, que é totalmente diferente: bonita, cercada de admiradores e, segundo seus vizinhos, "uma vigarista que troca a noite pelo dia". Inspirada na irmã, Estrela decide dar uma reviravolta na sua vida. Este é o argumento de uma peça (com o título acima) do grande comediógrafo paulista Abílio Pereira de Almeida - do qual se comemora o centenário de nascimento este ano.

A peça era premonitória do Brasil de hoje. Uma certa Estrela partidária (no caso, vermelha), de tanto ver seus irmãos (de outros partidos) se darem bem ao não ligarem a mínima para os fuxicos dos vizinhos - presos à mania boba da "ética na política" -, resolveu optar de vez pela imoralidade - e nela tem feito o povo eleitoral embarcar. A vantagem da moral em concordata é que ela é temporária e pode evitar a falência definitiva. Trata-se de uma flexibilização de comportamentos destinada a adaptá-los a valores mais pragmáticos. Por exemplo, por que o exagero de se falar em crime eleitoral, se dá para julgá-lo simples caixa 2? Por que empregar a terrível palavra "roubo" para descrever a mera utilização de recursos não contabilizados? Qual a diferença entre enviar recursos por transferências interbancárias ou por meio de dólares na cueca - aí não se trata apenas de tamanho de fundos?

Ao jogar a toalha para o reeleitorável presidencial, oferecendo-lhe como concorrente um candidato reserva, apenas para cumprir tabela e poupar seus titulares para 2010, o Triunvirato Trapalhão (Tritrap) - composto de líderes inteligentes, mas estranhamente desastrados, se reunidos, com bons vinhos, em São Paulo ou Nova York - não agiu sem base. Detectou, por antecipação, a inexorável reeleição. Descobriu que é imbatível uma popularidade presidencial baseada no aumento, em 60%, do poder de compra de quem ganha até cinco salários mínimos e num salário mínimo que, pela valorização da moeda nacional, já superou US$ 150 (quando antes se sonhava chegar a US$ 100). Descobriu, por outro lado, que, enquanto 58% da população se preocupa com o desemprego, 57%, com a violência e 38% com a saúde, apenas 7% se revelam preocupados com a falta de ética.

Mensalão? Quadrilha dos 40 (fora os não contabilizados)? Burla descarada à legislação eleitoral? Emprego despudorado do dinheiro dos contribuintes em campanha não confessada? Ratazanas devoradoras do erário por meio das mais diversificadas maracutaias praticadas em amplos setores do serviço público, "aparelhamento" brutal, desvios de verbas, licitações fraudulentas, "avanços" em recursos de estatais, falcatruas com fundos de pensão, propinas, caixas 3, caixas 4 e o que mais? Quem está preocupado com tudo isso? Apenas 7% dos eleitores. Então, por que dar tanta importância a isso?

Mas não há razão para pessimismos. Essa imoralidade é apenas provisória - como a inadimplência coberta por uma concordata. É verdade que uma certa geração poderá acostumar-se, mais do que o desejável, com certas facilidades na dura luta pela vida. Mas uma propinazinha aqui, um dinheirinho por baixo do pano ali, um suborninho discreto, uma falsificaçãozinha que ninguém percebe acolá - sem ser coisa exagerada, que prejudique muito os outros - não poderão melhorar a vida de tanta gente? Também há aí um sentido de isonomia, de igualdade de tratamento e de oportunidades para todos. Se tantas pessoas na vida política têm sido extremamente bem-sucedidas, cometendo seus delitos (quer dizer, erros, equívocos), mas sendo devidamente absolvidas (perdoadas) por seus companheiros de labuta, por que não ter a humildade de fazer igual, de seguir seus métodos de sucesso? Claro que o importante é aprender a não deixar pistas. Já diz o velho ditado popular: "Feio é roubar e não saber carregar."

Outro aprendizado fundamental é o da aparência de indignação ante um flagrante. O que melhor temos absorvido, na observação da vida política brasileira nos últimos tempos, é o pleno êxito produzido pela pura e enfática negação de responsabilidades, mesmo que isso represente um violento atentado à lógica, à clareza dos indícios, à evidência da ocorrência, à realidade dos fatos. Negar com convicção o inegável já é meio caminho para obter a absolvição. Na verdade, nos dias que correm o melhor treinamento para o sucesso consiste no rápido repúdio às próprias culpas. O melhor para quem rouba é fazer o esforço mental - sincero e transparente - para se lembrar de como e quando adquiriu aquilo que alegam ter ele roubado (e que de fato ele roubou). Alguns podem sentir alguma dificuldade nisso - mas o nosso meio público-político está cheio de demonstrações de que tudo é uma questão de treino.

É preciso entender que para se sair bem na vida público-política brasileira, nos tempos atuais, algum esforço de adaptação se torna necessário. Tem-se que adotar o costume das meias verdades, das meias lealdades. Tem-se que reconhecer o valor dos disfarces construtivos, das insinuações desmentíveis, das belas ambigüidades. Tem-se que assumir a nobre fusão do certo com o errado, do ser com o não ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Tem-se que admitir que o dito pode ser enriquecido, brilhantemente, pelo posterior não dito - e divulgado com o maior prazer pelos profissionais de imprensa, especialmente se estes forem os acusados de culpados pelo mal-entendido em questão.

Enfim, essa moral em concordata ensinará a sociedade brasileira a não ter medo de ser feliz, ante a flexibilização de sua consciência.

Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e produtor cultural. E-mail: mauro.chaves@attglobal.net

quinta-feira, maio 25, 2006

Força negativa

Talvez o maior dano à democracia que o atual governo causou tenha sido
provocar o descrédito nas instituições públicas e o desânimo, a apatia,
que tomou conta da sociedade diante das graves denúncias de corrupção
surgidas. A partir de sua própria postura de afirmar desconhecer tudo o
que aconteceu à sua volta, Lula deu a senha para que o sorriso idiotizado dos delúbios petistas se tornasse a melhor defesa dos 40 membros da quadrilha que atuava a partir do Palácio do Planalto. Há um consenso de que o governo, a partir do comportamento pessoal do próprio presidente Lula, teve êxito na estratégia de disseminar a idéia de que todos ospolíticos são igualmente corruptos, e de que as denúncias surgidas não passam de reflexos de luta política, pois corrupção sempre houve, a começar pelos oito anos anteriores de governo tucano.

Até que o choque provocado há um ano pelas denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson fosse absorvido, a opinião pública reagiu conforme o esperado, e a popularidade do presidente Lula desabou durante alguns meses. Mas aos poucos o trabalho de recuperação da imagem do presidente, às custas da generalização das mazelas dos políticos, especialmente os do PT, conseguiu estabelecer na sociedade a percepção de que política é assim mesmo.

Com atitudes erráticas, que pareciam fruto de uma desorientação genuína,mas hoje se revelam parte de uma estratégia ardilosamente montada, o presidente Lula foi se afastando dos acontecimentos, deixando seus “companheiros” na fogueira, mas ao mesmo tempo instaurando no país um clima propício à impunidade dos acusados do esquema do “mensalão”.
Pudesse o presidente Lula ter assumido a dianteira das ações punitivas aos que inicialmente acusou de traição, o ambiente seria mais saudável hoje.
Para essa hipótese ser verdadeira, no entanto, seria preciso que Lula
realmente desconhecesse o que acontecia à sua volta, o que, a cada dia
fica mais claro, é impossível ter acontecido. O presidente Lula usou seu enorme carisma popular, e os programas assistencialistas, para confundir a opinião pública com atitudes dúbias, auxiliando na criação do álibi do caixa dois para substituir a roubalheira pura e simples. Estabelecida a premissa de que todos são ladrões, Lula sai do episódio isento de culpa pessoal, não se importando que o patrimônio eleitoral do PT tenha se deteriorado pelo caminho.

O líder operário transformou-se no “neo-pai do pobres”, um papel que recusava no início de sua carreira sindical. Para Lula, a CLT é o “AI-5 dos trabalhadores”, e Getúlio Vargas era o “pai dos pobres e mãe dos ricos”, epíteto que hoje é utilizado pelos adversários contra ele. Lula também recusava o populismo getulista, e hoje é acusado do mesmo pecado político, que, no entanto, lhe garante a vasta popularidade que as pesquisas de opinião apontam, devido especialmente ao aumento real do salário-mínimo e a distribuição da Bolsa-Família a 11 milhões de famílias sem uma fiscalização rigorosa das exigências de cuidados médicos e educação.

Hoje, a CLT e a representação sindical, os marcos mais visíveis da Era Vargas, continuam intocados. Mas o sindicato continua cada vez mais atrelado ao Estado, e a reforma sindicalista mantém o imposto sindical, fortalecendo a CUT, entidade que Lula ajudou a fundar. Os sindicalistas se espalham em postos-chave do governo, o número de funcionários públicos contratados, base ideológica e financeira do Partido dos Trabalhadores,cresceu aceleradamente. Mas mudar de opinião sem guardar uma coerência histórica mínima tem sido a tônica do presidente Lula. O “mea-culpa” público que fez diante do ex-presidente José Sarney, a propósito de críticas que teria feito sem saber por que, é apenas o pedágio que paga pelo trabalho de Sarney — a quem um dia chamou de ladrão — de neutralizar a candidatura própria do PMDB.

Quando toda farra eleitoral produzir efeitos plenos, incluindo o
descontrole da Previdência, cujo déficit cresceu 25% em abril e crescerá mais em maio, com o impacto do aumento do salário-mínimo, poderemos ter uma crise fiscal no governo federal de proporções razoáveis. Ao mesmo tempo, temos uma economia mundial que dá sinais de que a crise pode ser mais grave do que se pensava. A persistir, essa mudança de situação pode afetar o ponto central da campanha de reeleição de Lula, que é o sucesso da política econômica. Se o crescimento da economia for menor, se a queda dos juros tiver que ser freada ou, numa hipótese pessimista, o Banco Central tiver que aumentar a taxa durante a campanha eleitoral, e se o dólar voltar a patamares que pressionem a inflação, poderá mudar também o humor do eleitorado.

Com a dificuldade de cumprir o superávit primário de 4,25% do PIB, a variável chave para o equilíbrio das contas públicas seria a velocidade da queda dos juros. Mesmo que nada disso afete as possibilidades de vitória de Lula, estaria em gestação o que, entre tucanos graduados, está sendo classificado de “o sucesso do fracasso”: quanto maior o sucesso eleitoreiro da farra fiscal e do populismo cambial neste ano, pior será o tombo da economia logo em seguida.
Merval Pereira

quarta-feira, maio 24, 2006

Experimento sociológico

A maioria dos cientistas sociais não se dedica a outra coisa senão a explicar os acontecimentos como efeitos de "causas" impessoais e anônimas, como por exemplo a "luta de classes" (com todas as variações aí introduzidas pela moda e pelas conveniências táticas), escamoteando a ação concreta dos indivíduos e grupos que dirigem o processo. Tudo aí parece derivar de estruturas, de leis, de estatísticas, reduzindo-se os agentes reais a meros instrumentos, quase sempre inconscientes, de forças coletivas que os transcendem imensuravelmente. A principal utilidade dessa construção fantasiosa é encobrir sob um manto de invisibilidade a força dos próprios cientistas sociais enquanto "agentes de transformação", bem como a dos grupos e entidades que lhes dão sustentação editorial e financeira.
Os exemplos sucedem-se a cada semana, mas tornam-se mais enfáticos nos momentos de confusão e pânico, quando essas criaturas das trevas emergem de seus sepulcros acadêmicos para vir explicar ao mundo que não há nada de novo sob o Sol, que está tudo sob o controle infalível da ciência que professam. Assim, diante do estado insurrecional triunfante produzido em São Paulo por uma iniciativa estratégica bem articulada entre o governo brasileiro e três organizações milionárias, PCC, MST e FARC, o sociólogo francês Loïc Wacquant, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, foi convocado às pressas pela Folha de S. Paulo do dia 15 para acusar os culpados de sempre e ajudar as vítimas a não enxergar os agentes efetivos por trás do processo.

A principal glória curricular do prof. Wacquant é ser autor de dois livros que explicam a criminalidade como efeito da guerra dos ricos contra os pobrezinhos e ter recebido, em função de suas obras, um prêmio da paupérrima John D. & Catherine T. MacArthur Foundation, badalado como "o prêmio dos gênios".

Felizmente, a ciência social às vezes nos fornece o antídoto à sua própria vigarice. No caso, o antídoto é o "experimento imaginário" sugerido por Max Weber para comparar a importância relativa de vários fatores causais numa dada situação. Trata-se de fazer abstração mental de determinado fator e averiguar se, sem ele, os acontecimentos teriam sido possíveis. Suponhamos a miséria e a desigualdade. Elas estão presentes por igual em sociedades assoladas pela violência criminosa e entre povos mais pacíficos como os indianos e os romenos. Mutatis mutandis , a criminalidade no Brasil não se expandiu nas áreas mais pobres, mas justamente naquelas que, ao longo das últimas décadas, passaram da miséria absoluta a um padrão de vida que, na Índia, seria considerado de classe média, como por exemplo as favelas cariocas. Omitida a comparação, porém, restam dentro de cada área isolada sinais aparentes em quantidade bastante para manter viva a impressão de que o crime é efeito da miséria. Acoplada a outro topos da retórica esquerdista, o de que a miséria é causada pelo imperialismo americano, essa crença tem por efeito despertar o ódio aos EUA e fomentar esperanças messiânicas numa nova ordem internacional paradisíaca, a ser instaurada sob os auspícios da ONU, da China e da Rússia. Para a realização desse objetivo trabalham incansavelmente várias fundações bilionárias, entre as quais Rockefeller, Carnegie, Soros e, é claro, MacArthur. Seus esforços nesse sentido já foram bem documentados meio século atrás por uma comissão do Congresso americano (v. René A. Wormser, Foundations: Their Power and Influence , New York, Devin-Adair, 1958) e desde então não fizeram senão multiplicar-se em abrangência e quantidade de recursos, incluindo dotações de dinheiro do próprio governo de Washington, que essas entidades sugam e utilizam para seus próprios fins (de modo que esse governo acaba aparecendo como o culpado do que fazem contra ele). Premiar uns quantos "gênios" que ajudem a revestir de honorabilidade científica a trapaça essencial em que se assenta a operação é a parte menos dispendiosa do orçamento. O grosso do dinheiro vai para fomentar diretamente movimentos subversivos e organizações pró-terroristas (v. a estrutura da rede em http://www.discoverthenetwork.com ).

Se, de acordo com o experimento weberiano, abstrairmos do quadro presente a atuação dessas fundações, o resultado será simplesmente que a esquerda revolucionária do Terceiro Mundo não teria podido continuar a existir e prosperar depois da queda da URSS e, portanto, a utilização do crime como instrumento da subversão organizada, que é o seu principal modus operandi na última década, se tornaria inviável.

O banditismo, assim, cresceu junto com o prestígio oficial da tese mesma que o explica pela luta de classes. Alegando razões fundadas nessa teoria, o prof. Wacquant prevê um aumento da violência no Brasil. Mas essas razões são desnecessárias. A violência crescerá junto com o número de idiotas que acreditam no prof. Wacquant.

Se os praticantes da ciência wacquântica fossem sérios, estudariam um pouco de lógica da investigação científica e saberiam que nenhuma correlação causal (entre pobreza e crime ou entre qualquer coisa e qualquer outra) pode ser generalizada para um grupo abrangente de casos sem que esteja muito bem provada ao menos em alguns deles individualmente. Ora, na escala individual a pobreza só pode ser justificação direta e determinante do crime em exemplos excepcionais e raros – tão excepcionais e raros, na verdade, que em todo país civilizado a lei os isenta da qualificação mesma de crimes. São os chamados "crimes famélicos" – o desnutrido que rouba um frango, ou o pai sem tostão que furta um remédio para dar ao filho doente. Em todos os demais casos, a pobreza, se está presente, é um elemento motivacional que, para produzir o crime, tem de se combinar com uma multidão de outros, de ordem cultural e psicológica, entre os quais, é claro, a persuasão pessoal de que delinqüir é a coisa mais vantajosa a fazer nas circunstâncias dadas. Quando o hábito da delinqüência se espalha rapidamente numa ampla faixa populacional, é claro que, antes dele, essa persuasão se tornou crença geral nesse meio, reforçando-se à medida que as vantagens esperadas eram confirmadas pela experiência e pelo falatório. Ora, é de conhecimento público que, entre a mesma população pobre, por exemplo das favelas cariocas ou da periferia paulistana, duas crenças opostas se disseminaram concorrentemente nas últimas três décadas: de um lado, o apelo do crime; de outro, a fé evangélica. Numa população uniformemente pobre, o número de evangélicos praticantes que delinqüem é irrisório. Basta esse fato para provar que a correlação entre pobreza e crime é uma fraude, um sofisma estatístico da espécie mais intoleravelmente suína que se pode imaginar. Nenhuma ação humana é determinada diretamente pela situação econômica, mas pela interpretação que o agente faz dela, interpretação que depende de crenças e valores. Estes, por sua vez, vêm da cultura em torno, cujos agentes criadores pertencem maciçamente à camada letrada, como por exemplo os bispos evangélicos e os cientistas sociais. Os bispos ensinam que, mesmo para o pobre, o crime é um pecado. Os cientistas sociais, que os criminosos, agindo em razão da pobreza, são sempre menos condenáveis do que os ricos e capitalistas que (também por uma correlação geral mágica) criaram a pobreza e são por isso os verdadeiros culpados de todos os crimes. Essas duas crenças disputam a alma da população pobre. Não é preciso dizer qual delas estimula à vida honesta, qual à prática do crime. Nos bairros mais miseráveis e desassistidos, qualquer um pode fazer esta observação direta e simples: as pessoas de bem repetem o discurso dos bispos, os meliantes o dos cientistas sociais (do sr. Marcola nem preciso dizer nada, já que ele próprio é meio cientista social). Quando, do alto das cátedras, esses senhores pregam a doutrina de que a pobreza produz o crime, não estão cometendo um inocente erro de diagnóstico. Estão ocultando, com maior ou menor consciência, a colaboração ativa que eles próprios, por meio dessa mesma doutrina, dão ao crescimento irrefreado da criminalidade. E, quando são premiados por uma organização ostensivamente interessada em disseminar a subversão, como é o caso notório da Fundação MacArthur, eu seria o último a negar que mereceram o prêmio.

Se, deixando de lado as generalizações etéreas, nos atemos à seqüência real dos fatos, a ordem temporal de produção dos acontecimentos da semana passada aparece com o seguinte desenho:

1 - Desde a década de 30, atendendo a uma ordem de Stalin, a intelectualidade esquerdista mundial, onde há mais cientistas sociais per capita do que lobos numa alcatéia, se dedicou ativamente a infundir em todas as patologias sociais, como o crime e o racismo, a substância universalmente explicativa da luta de classes. O esforço dos teóricos foi aí secundado por uma multidão inumerável de romances, filmes, peças de teatro e canções populares que faziam a idéia penetrar profundamente no imaginário popular ao ponto de se tornar um dogma inabalável. Nos países do Terceiro Mundo, justamente graças à profusão de patologias sociais existentes, essa doutrina se impregnou com aderência maior ainda, tornando-se o tema dominante, senão único, de várias culturas nacionais, entre as quais a brasileira (dediquei a esse tema uma série de artigos publicados em 1994 sob o título "Bandidos e letrados").

2 - Quando o ambiente cultural estava suficientemente preparado, a transformação do banditismo em instrumento da luta de classes revolucionária passou da teoria à prática. No Brasil, especialmente, o empenho organizado dos militantes de esquerda para arregimentar a serviço da subversão as gangues de delinqüentes já é um fato abundantemente documentado desde a década de 60. Da esquerda o banditismo absorveu não somente a doutrina e o discurso, mas também as técnicas de guerrilha urbana que empregou, por exemplo, no movimento insurrecional da semana passada. O contato entre as gangues e os grupos terroristas intensificou-se ao ponto de tornar-se institucional. A presença de técnicos das FARC e das organizações terroristas islâmicas em vários grupos criminosos do Brasil já se tornou tão freqüente que não suscita mais nenhuma reação de escândalo. Acostumamo-nos a isso como a um dado da natureza.

3 - Quando a esquerda latino-americana, em 1990, passou por um formidável upgrade com a fundação do Foro de São Paulo, as organizações de narcotraficantes, seqüestradores e assaltantes acompanharam-na na sua ascensão social, assentando-se ao lado de partidos legais como o PT e o PC do B nas assembléias do Foro, coordenação estratégica do movimento comunista latino-americano. Desde então, todo empreendimento subversivo de larga escala, no continente, é realizado sob a supervisão ao menos indireta do Foro de São Paulo. Não há mais iniciativas isoladas: o banditismo avulso vai sendo sepultado na memória coletiva como um resíduo de eras extintas. Por toda a parte o que se vê é integração, conexão, unidade ideológica e estratégica.

4 - Como fundador e principal líder do Foro de São Paulo, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva sempre esteve muito bem informado do grau de organização que seus colegas de militância haviam conseguido transmitir aos grupos de delinqüentes, nas cadeias ou fora delas. Mais informado ainda encontrava-se esse cidadão pelo fato de ser presidente da República, tendo sob seu serviço direto os órgãos de inteligência e a Polícia Federal, além, é claro, da figura insubstituível do seu ministro da Justiça, cuja convivência íntima com os líderes maiores do banditismo nacional tem representado, para ele, mais que um estilo de vida, um meio de próspera subsistência.

5 - Em vista disso, é absolutamente impossível que essas duas excelências ignorassem a preparação do mais vasto movimento insurrecional já planejado neste país no último meio século, e que, portanto, fosse com cândida inocência e desconhecimento das conseqüências que a primeira autorizou e a segunda pôs em prática o indulto que colocou na rua, livres, armados e bem articulados, doze mil delinqüentes, entre os quais os autores da carnificina.

6 - Mais impossível ainda é que os excelentíssimos ignorassem o detalhe mais lindamente perverso da situação que geraram. Todo mundo sabe que, neste país, os policiais recebem uma quantidade irrisória de munições, tendo de dispender do próprio bolso para garantir-se em situações de risco de vida. Ao ver-se acossados, nas ruas, nos batalhões e nos postos, por inimigos decididos a tudo e incomparavelmente mais armados e municiados, os policiais paulistas, naturalmente, correram às lojas de armamentos para trocar o leite das crianças por meios elementares de defesa. Com enorme surpresa, descobriram que um determinado item da lei do desarmamento, que até então jazia inerte num papel, tinha acabado de entrar em vigor: não podiam comprar munição nenhuma sem autorização escrita da Polícia Federal. Comerciantes de armas relatam que viram policiais saírem de suas lojas chorando, conscientes de que estavam condenados à morte sem apelação. Se me disserem que o sr. ministro da Justiça ignorava essa armadilha, responderei então que ele é o mais estúpido incompetente que já passou pelo seu cargo, já que a entidade encarregada de fornecer as autorizações repentinamente exigidas e faltantes está sob o seu comando direto. Mas somente um país muito louco, muito alienado, mantém nesse cargo, numa hora dessas, o advogado pessoal do próprio chefe da insurreição. Como defensor de Marcola, o sr. Márcio Thomaz Bastos tem confiabilidade zero até mesmo para dar uma opinião imparcial quanto aos acontecimentos da semana passada, quanto mais para reter em suas mãos, com avareza assassina, os meios de defesa que teriam podido salvar centenas de pessoas.

7 - Aqueles que acima da suspeita racional coloquem a crença dogmática na idoneidade do governo petista podem apostar numa conjunção fortuita de fatores, na santa e pura coincidência. Eu é que não.

P.S.- A situação de total desamparo em que o governo brasileiro deixa os policiais, entregando-os à mercê dos criminosos, já é um fato oficialmente reconhecido pela justiça norte-americana. No fim de abril, um tribunal da Flórida concedeu asilo político a um policial de Minas Gerais por reconhecer que, após matar em tiroteio um importante líder do narcotráfico local, o infeliz estava tão desguarnecido quanto um pato de plástico num estande de tiro. Voltarei ao assunto num próximo artigo. Como a promotoria abdicou de recorrer da sentença, a decisão está incorporada à jurisprudência americana e valerá para os casos subseqüentes. Os policiais brasileiros propositadamente deixados sem munição na hora do aperto já não podem dizer que não têm a quem recorrer: esqueçam o sr. Márcio Thomaz Bastos, peçam socorro à justiça de um país onde existe justiça.
Olavo de Carvalho, de Washington DC

segunda-feira, maio 22, 2006

Evo no covil dos leões

"Quando o morde e assopra Evo Morales, presidente da Bolívia, esteve em Paris logo após a confusão em Viena, foi recebido com pompa e circunstância pelo prefeito parisiense Bertrand Delanoë e ciceroneado por ninguém menos que Danielle Mitterand. Morales estava caindo numa arapuca e não se dava conta.

A viúva do ex-presidente francês levou Morales para se encontrar com os dirigentes do Conselho Geral de Val-de-Marne. Danielle Mitterand é presidente da France Libertè, ONG que atua na Bolívia. Ela esteve na reunião entre Morales e Delanoë, que se apressou a assegurar que a Prefeitura ajudará entidades bolivianas e ONGs que trabalham naquele país.

A Val-de-Marne vem desenvolvendo, há anos, diversos projetos no âmbito da água que "podem interessar" ao atual governo boliviano. Ela foi criada em 2002 para reunir uma coalizão de 28 associações de diferentes países contra a privatização e a comercialização da água. Dos outros, claro.

O mandatário boliviano colocou, sorridente, a cabeça na boca do leão sem prestar atenção à senha que fecha a arapuca: ONGs internacionais na Bolívia contra a privatização e a comercialização da água. O Brasil já caiu na armadilha das instituições estrangeiras que defendem os índios.

Organizações não-governamentais são a melhor forma jurídica e financeira de se obrigar um país a fazer o que o dominador deseja sem a intervenção armada e fazendo de conta que é para o bem deles mesmos. Contratando funcionários locais e pagando-lhes um bom salário, mas mantendo o comando e a agenda, o interessado afirma que seu propósito é o de preservar o meio ambiente, defender os direitos humanos e implantar ou manter a democracia. A ONU é a primeira, a maior e a mais poderosa das ONGs e a Unesco seu braço cultural.

E assim vão se instalando nas regiões que lhes interessam. A Amazônia é uma delas. Representando 56,4% do território brasileiro, contendo, aproximadamente, um milhão de espécies da fauna e da flora mundiais, incluindo 2.500 espécies de árvores, 1.800 de aves e 2.000 de peixes, sendo que um rio no Brasil tem mais espécies de peixes do que todos os rios dos EUA, a Amazônia é alvo da cobiça americana desde meados
de 1850.

As tentativas de invasão, aquisição, anexação, protetorado e, agora, "propriedade da humanidade", são reais e constam de diversos estudos, programas, relatórios e outros documentos de autoridades militares e civis dos EUA ao longo dos dois últimos séculos, conforme nos mostra a professora Lydia M. Garner, da Southwest Texas State University, em artigo ao Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos.

Na verdade, com o fim da Guerra Fria, instalou-se a Nova Ordem Mundial, não mais atrás de comunistas e assemelhados, mas contra a soberania dos povos do Terceiro Mundo, e a Amazônia voltou a ser um dos principais itens da agenda internacional.

Os americanos estiveram aqui em 1851-52 mapeando as bacias hidrográficas dos rios Prata e Amazonas, já tentaram "medidas assegurando para cidadãos americanos a navegação do Amazonas", se esforçaram em estabelecer bases comerciais no Norte do Brasil e deram uma de João-sem-braço num documento firmado com nosso País sobre a extração, distribuição e comercialização da borracha natural durante a II Guerra.

Até juraram que a Bacia Amazônica era uma extensão do vale do rio Mississipi (!), que a foz do maior rio do mundo era mais próxima de Nova York do que do Rio de Janeiro, por isso era natural que fosse dos EUA. E em 1861, com a libertação dos seus escravos, Lincoln pretendeu comprar a Amazônia para aqui instalar os negros libertos. Lá ninguém os queria, como ainda não os querem. Porém, o Imperador D. Pedro II e seus ministros nacionalistas sempre barraram as investidas ianques. Depois deles, a Amazônia veio sendo protegida pelo acaso.

Com a eclosão da Guerra Civil Americana, os EUA adiaram seus projetos imperialistas para o norte brasileiro e não se apropriaram da borracha natural porque acabou a II Guerra e surgiu a borracha sintética, do petróleo. Como o Brasil cresceu e apareceu, mudaram de estratégia e de tática.
A ONU passou a estimular a existência de ONGs. Entre os seus objetivos estão o de conseguir o status de observadora internacional e poder criar leis internas conforme os interesses dos donos internacionais do poder. A WWF, a Human Rights e a Greenpeace são exemplos e os Partidos Verdes pretendem ser seus prolongamentos políticos.

O conceito de soberania nacional perfeita foi dividido em soberania nacional e soberania dos povos. Alegando defender a soberania dos panamenhos, os EUA invadiram aquele país e tiraram o general Noriega do poder. Ocorreu coisa semelhante com João Goulart. Eles não eram "amigos".

E, em nome da soberania nacional, os americanos forçaram o Iraque a se retirar do Kwait. É aqui que mora o perigo para o Brasil. Ter de se retirar dos territórios indígenas na Amazônia, permitindo que sejam "cuidados, educados e protegidos" pelos missionários das ONGs estrangeiras lá instaladas.

Um artigo recente da revista "Problemas brasileiros" afirma que "é difícil acreditar que um carismático francês de 76 anos, de fala lenta e andar compassado por conta da saúde debilitada, encabece a lista dos jurados de morte pelos fazendeiros e madeireiros que transformaram o Pará num apimentado caldeirão de conflitos fundiários." O autor refere-se a Henri des Roziers, advogado e frade dominicano "que há quase três décadas escolheu o Brasil como palco de sua militância social e religiosa". E continua francês!

Desistindo do confronto com o governo brasileiro, os criadores da Nova Ordem Mundial, não por acaso os únicos com assento no Conselho de Segurança da ONU, que eles criaram, EUA, França, Inglaterra, Rússia e China, os principais vencedores da II Guerra, partiram para pressionar a opinião pública interna. A imprensa começou a ser instruída de que a Amazônia deve ser intocada, que não se pode fazer extração, beneficiamentos, comercialização e colonização organizada de brasileiros lá. Assim, destruirão o "pulmão do mundo".

Ocorre que a Amazônia é simplesmente a região mais rica do planeta. Detém 20% de toda a escassa água doce do mundo, a maior diversidade de fauna e flora, jazidas enormes de gás, petróleo, ouro, diamantes, nióbio, urânio e tório. Do nióbio faz-se o metal dos foguetes dos programas espaciais dos EUA e da Rússia, e o urânio e tório, enriquecidos, formam a base da energia atômica, que tanto serve de combustível como de arma. A revista "IstoÉ" da semana de 14 de maio revela que a Polícia Federal estourou um esquema de contrabando do minério radioativo para países da Europa, Ásia e África, em particular a Rússia e a Coréia do Norte. Olha eles aí de novo!

Os criadores da Nova Ordem Mundial não querem que o Brasil lance mão dos fabulosos e riquíssimos recursos da Amazônia porque, então, se tornará o país mais rico de todos. Em vez de levar nosso nióbio, diamantes, ouro, pedras preciosas, mogno, aves raras e urânio a preço de banana, contrabandeados, eles terão de pagar preço de mercado. Mas por que pagar caro se basta gastar uns trocados iludindo a imprensa e botando ONGs como fachada para seus interesses "humanitários"?

Não sei de ONGs estrangeiras defendendo nossos negros, pelo menos com tanto ardor quanto o fazem com os índios brasileiros. Mas só índios das reservas amazônicas. Os abandonados nas estradas e nas cidades não é com elas. Será por serem eles os donos da terra? Bingo! Este foi outro conceito estratégico que a Nova Ordem Mundial incutiu no povo brasileiro via mídia e em seguida pressionou nossos governos a criarem enormes áreas indígenas. A recente reserva Raposa da Serra do Sol ocupa mais da metade de Roraima. Território dos ianomâmis, ela faz fronteira com Venezuela e Suriname. E quem está ao lado do Suriname? Guiana Francesa.

Sempre que há um grave problema com os índios, o governo brasileiro é ameaçado, através da imprensa internacional, com a soberania dos povos. Ou seja, se o Brasil não cuidar direitinho dos seus indígenas, qualquer (aqui, claro, são os EUA) membro do Conselho de Segurança pode evocar a defesa da soberania do índio brasileiro e invadir militarmente a reserva, como aconteceu com o Iraque e o Afeganistão. Tudo pelo social dos índios! Se eles estão em área vital para os interesses econômicos dos poderosos, pode ser apenas uma coincidência, não é?

A professora americana Lydia Garner revela que outra tática da Nova Ordem Mundial foi a criação de fronteiras sem controle absoluto por seus vizinhos, a chamada soft national boundaries. É aqui que Morales vai cair do cavalo e pode nos levar junto. Não vai cair do cavalo que ele diz que o Barão do Rio Branco deu aos bolivianos em troca do Acre, mas do cavalo branco de Napoleão. Agora garbosamente a serviço da ONG de Mitterand.

Ao entrar no jogo da ONG francesa, que reúne representantes de 28 interessados na água amazônica, e aceitar que ela não seja privatizável nem comercializável, pelos seus donos, óbvio, o presidente da Bolívia botou o Brasil em outra sinuca.

Fechando o contrato com madame, Morales decreta o fim da fronteira Brasil-Bolívia no que toca à extração da água. Vale lembrar que os americanos já estão na Colômbia. Os ongueiros poderão esticar em solo brasileiro seus empreendimentos industriais de extração da água e, ao reagirmos, estaremos simplesmente atacando a Bolívia, que mais desejamos manter como parceira no jogo internacional.
Ah, esse Morales...
Paulo França

domingo, maio 21, 2006

'Concertación' enquanto é tempo

A assustadora operação bélica do crime organizado em São Paulo, ao mostrar a semi-falência do Estado brasileiro, me estimulou a insistir na proposta de se buscar um pacto de salvação nacional, antes que seja tarde demais. Impõe-se inaugurar aqui a era da grande política, a se sobrepor à política menor. No mundo de hoje nenhum país pode ser salvo por um herói solitário. Mas a salvação pode vir pela ação coletiva de uma elite dirigente dotada de lucidez e senso de perspectiva histórica, capaz de se livrar do imediatismo e de enxergar no longo prazo.

Entendo que o Brasil está numa encruzilhada. Se fizer a escolha certa vai dar o salto de qualidade que o libertará do subdesenvolvimento. Se fizer a opção errada, irá resvalar para o limbo no qual vegetam as nações inviáveis. E o pior é que o prazo para decidir encurta-se dramaticamente. Para lembrar a advertência de Celso Furtado, "o tempo histórico se acelera, e a contagem desse tempo se faz contra nós". Creio que o próximo quadriênio será decisivo. Nesse período, ou chegamos a um consenso capaz de deslanchar um desenvolvimento duradouro, ou nos perderemos, engolfados na guerra política, na desordem urbana e na estagnação econômica, que podem implicar a nossa marginalização no cenário mundial.
E se não houver esse entendimento maior, vejo com preocupação o próximo quadriênio, seja qual for o resultado da eleição presidencial. Se Lula for reeleito, sua base de sustentação parlamentar será ainda mais frágil, devido ao encolhimento do PT, mantendo-o, portanto, como refém do fisiologismo do Congresso. Por seu turno, a oposição, talvez ampliada e ainda mais aguerrida, manterá o governo sob fogo cerrado, o que inviabilizará a aprovação das reformas indispensáveis ao país. Se o eleito for Geraldo Alckmin, provavelmente terá uma base parlamentar mais consistente. Em compensação, o PT e outros partidos de esquerda, fortes nos movimentos sociais organizados, conflagrarão as ruas e o campo, numa agitação permanente, capaz de afetar seriamente a governabilidade.
Como desmontar essa perigosa armadilha? Só vejo um meio, que, aliás, já aventei aqui mesmo, neste jornal, meses atrás, que me rendeu muitos elogios e cumprimentos, mas nenhuma ação efetiva para a sua implementação ou sequer para o início de conversações preliminares. Refiro-me à proposta de uma "concertación" à chilena, em torno de um projeto de nação, entendido como tal a fixação de macro-objetivos de longo prazo e a definição dos meios necessários para atingi-los. Já existe relativo consenso, hoje, a respeito de duas questões básicas, o Estado democrático de Direito e a estabilidade macroeconômica. Será fácil tornar consensuais os macro-objetivos do projeto de nação, resumidos na busca da eqüidade social, com a eliminação da miséria e a redução das desigualdades. Mais difícil será o consenso em torno dos meios, que exigirão reformas de leis polêmicas e políticas públicas contínuas, umas e outras a necessitar de consistente base parlamentar e amplo apoio popular, quase impossíveis de conseguir no próximo quadriênio. A menos que se faça agora a "concertación" entre os quatro maiores partidos, PMDB, PT, PSDB, e PFL. À semelhança do Chile com a diferença de que não seria uma aliança formal, mas um pacto de adesão ao projeto nacional.
Um complicador será, já agora, o horizonte de 2010, com a sucessão do próximo presidente a pesar no cálculo de todos. Por isso, ouso sugerir que se tente incluir no consenso a implantação do parlamentarismo a partir de 2011. Com isso, a atmosfera se desanuviaria e o futuro presidente começaria a construir o projeto nacional num céu de brigadeiro, com oposição civilizada, a cargo de adversários, mas não de inimigos.
Talvez eu esteja sendo pretensioso, ingênuo e até quixotesco ao insistir na proposta. Mas a faço assim mesmo, ao menos para ver se no universo político brasileiro ainda restam homens públicos com traços de estadista, capazes de um gesto de grandeza em favor do país.

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JEFFERSON PÉRES, 74, advogado e senador

quinta-feira, maio 18, 2006

Os autores do espetáculo

Não tenho razões para gostar do sr. Cláudio Lembo. No dia em que lhe fui apresentado - um encontro a que compareci na esperança vã de obter seu apoio para projetos culturais que teriam podido, talvez, desviar um pouco o Brasil do rumo de uma tragédia anunciada -, ele aproveitou a ocasião para fazer bonito ante uns esquerdinhas presentes, rotulando-me ultradireitista e recomendando-me a leitura da Bíblia para aplacar meus maus instintos políticos. Nada respondi. Limitei-me a tirar do bolso o velho exemplar do Novo Testamento e dos Salmos que me acompanha há anos, para mostrar que não tinha lições de religião a receber de um deplorável puxa-saco de seus próprios detratores. No entanto, não posso assistir calado ao esforço geral da mídia para lançar sobre ele a culpa integral da desgraça ocorrida em São Paulo. Não se trata apenas de injustiça. É uma operação diversionista, calculada para ocultar da opinião pública os verdadeiros agentes causadores do episódio, cujas identidades, sem isso, saltariam aos olhos de todos, por ser demasiado óbvias. Para enxergá-las, basta juntar os fatos:

1º. Os bandidos rebelados confessaram ter recebido ajuda e treinamento do MST, entidade estreitamente associada à camarilha petista dominante e que por sua vez recebeu as mesmas coisas de outra organização amiga do governo, a narcoguerrilha colombiana.

2º. O presidente da República é pessoalmente responsável pela presença, nas ruas, dos doze mil delinqüentes que espalharam o terror e a morte entre a população paulista. Não tem sentido acusar o governo estadual de estar despreparado para a situação e ao mesmo tempo inocentar o governo federal que a gerou. Ao soltar os bandidos, sabendo que mantinham contato telefônico com seus chefes presos e que estavam preparados para ações terroristas de grande porte, a Presidência da República petista ateou fogo num Estado da Federação e ainda se aproveita das chamas para queimar nelas a reputação de um miúdo adversário local.

3º. É absolutamente inconcebível que uma operação de guerra de proporções colossais, envolvendo três entidades subversivas da importância do PCC, do MST e das Farc, fosse preparada sem que alguma notícia a respeito chegasse à coordenação estratégica da esquerda continental, o Foro de São Paulo, cujo fundador e presidente crônico, em licença temporária, é mais conhecido hoje em dia como presidente do Brasil mas jamais cessou de trabalhar por essa organização.

Como a única ocupação da mídia chique deste país, há quinze anos, tem sido ocultar ou minimizar a realidade para manter o povo sob o controle da gangue esquerdista a despeito de todas as intrigas internas que a dividem, a missão foi cumprida mais uma vez. Mas agora a realidade é grande e sangrenta demais para desaparecer por artes mágicas de copy-desk. Um ataque assassino de características nitidamente insurrecionais foi desencadeado com a cumplicidade direta ou indireta da Presidência da República, se não sob a sua orientação. Não há, no fundo, quem não saiba disso. Mesmo o cérebro de uma população entorpecida por décadas de “revolução cultural” não consegue cegar-se de todo para tamanha obviedade.

Isso não quer dizer, é claro, que o conhecimento público dos fatos trará algum dano a seus autores. Num país civilizado, qualquer ligação mesmo remota de um presidente da República com os autores daquela barbaridade implicaria sua imediata remoção do cargo e sua responsabilização penal. Mas o Brasil já foi domado e adestrado para responder com sorrisos de adulação a todos os insultos e agressões que venham de fonte ideologicamente aprovada. O país vai curvar-se, com servilismo boçal, a mais esta imposição cínica das elites iluminadas que o guiam infalivelmente para o abismo.

Quanto ao sr. Lembo, está sendo feito de bode expiatório porque tem a sonsice e até o physique de rôle apropriados para isso. Não entende o que se passa, nem sabe a quem serve com o grotesco espetáculo da sua impotência. É um bobo, mas não é culpado senão disso.
Olavo de Carvalho

terça-feira, maio 16, 2006

O dever que nos espera

Resumo: O povo brasileiro pouco ou nada sabe do Foro de São Paulo, da estratégia criminosa continental, dos nexos secretos entre narcotráfico, seqüestros, assassinatos, revolução e petróleo, sem cujo conhecimento é impossível entender o que se passa hoje.
© 2006 MidiaSemMascara.org

Nos últimos anos chegaram ao meu conhecimento várias dúzias de projetos de Estado democrático liberal, de Constituição federalista, de reforma fiscal e judiciária, etc. etc. Por um vício herdado da tradição bacharelesca, os brasileiros adoram as definições doutrinais, sobretudo de coisas que não existem. Liberais e conservadores não escapam à regra. Quando sonham com um futuro melhor, buscam logo transmutá-lo num código e recheá-lo de comentários eruditos, esmiuçando-lhe as mais delicadas nuances conceptuais e fundamentando sua construção ideal em citações de John Locke, Friedrich Hayek, Hannah Arendt e não sei mais quantos luminares do pensamento democrático.

Tão intensamente se entregam a esses respeitáveis afazeres, que se esquecem de pensar em três detalhes. Primeiro: Como vamos tirar do caminho os malditos comunistas que ocuparam o espaço inteiro e nos separam do belo ideal a que aspiramos?

Segundo: Supondo-se que esse obstáculo já tivesse sido removido, para que serviria ter uma concepção prontinha do Estado democrático, se o próprio exercício da liberdade haveria de produzir, na prática diária, soluções novas e mais apropriadas à situação?

Terceiro: Os homens podem matar e morrer por um sonho, mas não o farão por um código. Reduzido à formulação racional de uma proposta jurídica explícita, o ideal já não impele à ação, mas à contradição e ao debate. Quanto mais detalhada a proposta, mais discussão e menos ação. Enquanto os liberais e conservadores brasileiros criam doutrinas, os comunistas dominam o país e aumentam dia a dia o seu poder. E fazem isso sem nenhuma unidade doutrinal, antes curtindo gostosamente a nebulosidade e a indefinição cuja fecundidade estratégica e tática aprenderam com Antonio Gramsci. Por isso é que, se me pedem uma definição de democracia liberal, saco do meu revólver.

Não digo isso por ser um praticista avesso a teorias. Adoro teorias, mas não quando se transformam em fetiches. Teorias só são boas quando se contentam em ser expressões provisórias da realidade apreendida na experiência. E, como estudei um pouquinho de Hegel, sei que, no domínio das coisas humanas, o sentido real de um conceito não está no significado nominal da sua expressão verbal: está naquilo que se opõe a ele, não enquanto idéia, mas enquanto realidade. Para sabermos o que pode e deve ser a democracia liberal no Brasil, não temos de formulá-la doutrinalmente, mas de olhar em torno e entender as causas que levaram ao triunfo do seu oposto. Da própria dialética histórica que produziu a hegemonia esquerdista é que temos de obter o sentido e a direção dos nossos esforços.

Essa dialética mostra, desde logo, que a mixórdia doutrinal da esquerda foi, de maneira aparentemente paradoxal, um dos segredos da sua vitória. Diluindo numa pasta confusa a antiga ideologia monolítica dos partidos comunistas, a esquerda continental ampliou formidavelmente sua base de apoio e obteve os meios de sugar o prestígio dos ideais democráticos, dos valores morais e até do cristianismo. Esse inimigo informe e onipresente é o avesso daquilo que queremos. Invertê-lo não é fácil, mas é o único meio de vislumbrar um futuro democrático para o Brasil. E isso é uma questão de estratégia e tática, não de doutrina.

Não podemos esquecer, desde logo, que a base da hegemonia comunista neste país foi construída sobre o prestígio mágico de umas quantas dezenas de intelectuais de esquerda. Digo "mágico" porque há algo de feitiço no modo como tantos charlatães semicultos puderam adquirir a autoridade quase sacerdotal que os transformou em juízes supremos da moralidade pública. Sem destruir primeiro o encanto desses ídolos de papier mâché , nenhum futuro terá a democracia liberal no Brasil. Ele foi o cimento psicológico que deu solidez ao edifício do poder petista e tornou possível que um bando de delinqüentes dominasse o país em nome da moral. Mais urgente do que definir a democracia liberal é destruir um a um os falsos prestígios que bloqueiam o acesso da juventude universitária ao conhecimento dela. Não falo propriamente de "guerra cultural". Guerra cultural é luta de idéias. Desmascarar vigaristas é algo ao mesmo tempo mais simples e mais dificultoso que uma luta de idéias. Trata-se de contestar, na base, qualquer pretensão de autoridade intelectual dos usurpadores e charlatães que dominaram o universo cultural brasileiro. Para isso não é preciso expor as nossas idéias nem discutir as deles. É preciso apenas demonstrar que não têm idéia nenhuma, apenas "ideologia" no sentido antigo e pejorativo do termo, isto é, um "vestido de idéias" ( Ideenkleid ) encobrindo o desejo de poder e os mais sórdidos interesses grupais. Desprovida de seus ídolos acadêmicos, a juventude sairá em busca de novos polos de orientação. Esse sim será o momento de expor e discutir doutrinas.

O segundo pilar de sustentação da hegemonia esquerdista é o controle da informação. O povo brasileiro pouco ou nada sabe do Foro de São Paulo, da estratégia criminosa continental, dos nexos secretos entre narcotráfico, seqüestros, assassinatos, revolução e petróleo, sem cujo conhecimento é impossível entender o que se passa hoje. Por exemplo, a recente denúncia dos crimes petistas pôde ser facilmente reaproveitada em prol do mito da superioridade moral esquerdista mediante o artifício de imputar as culpas a "um grupo", encobrindo a articulação maior que o colocou no poder e que, expurgada de dois ou três ladrões de galinha mais notórios, continuará a operar com redobrado prestígio moral. Estudar, conhecer e divulgar o alcance e o funcionamento do esquema inteiro é muito mais urgente para os liberais e conservadores do que definir e expor suas doutrinas. A difusão de idéias pressupõe um ambiente de clareza e sinceridade, que não existe nas presentes condições de ocultação geral e mentiras cruzadas. É preciso antes limpar a atmosfera, diluir a névoa infernal que cega e estupidifica a audiência.

O terceiro sustentáculo do império do crime é a rede de apoios que a ignomínia esquerdista conseguiu tecer entre banqueiros, empresários, investidores da bolsa e potentados da mídia, na base de interesses imediatistas em nome dos quais essa gente vende a honra que nunca teve e a pátria que ainda tem. A extensão dessa rede é quase impossível de calcular. Um indício eloqüente obtém-se pelas reações de algumas dessas criaturas ao ato de guerra empreendido pelo sr. Evo Imorales contra o patrimônio nacional. Desculpam-no e celebram-no sob os pretextos mais fúteis, postiços e absurdos. Querem até que tenhamos peninha de um "povo sofrido", como se a massa de cocaleros não vivesse, há décadas, de espalhar o vício e a morte entre os jovens do continente. Um pai que, na miséria, prostitui suas filhas, merece mais respeito do que aquele que sobrevive de desgraçar os filhos dos outros. Cocaína é isso, não é outra coisa. Evo Imorales é isso, não é outra coisa. A economia boliviana é isso, não é outra coisa. E se precisam tanto de petróleo, não é para encher o tanque dos carros que não têm: é porque daí sai o único solvente para o processamento da cocaína. Os poços brasileiros vão servir é para fazer um upgrade na indústria boliviana da morte. Muita gente sabe disso. Mas, se pedimos o apoio de certos donos do capital financeiro à nossa luta contra o maior crime de que o Brasil foi vítima nas últimas décadas, eles nos respondem que estão contentinhos, que nunca ganharam tanto dinheiro, que o governo Lula tem um sex appeal irresistível. Isso é um bando de criminosos tão abominável quanto a turma do Mensalão. Identificá-los e desmascará-los é uma providência sem a qual nenhuma esperança sensata se pode depositar na futura democracia liberal brasileira. É, ademais, tarefa pedagógica, que nos esclarecerá, no curso da sua execução, sobre as estruturas de poder em que se assenta a pax luliana, o sorridente domínio do mal neste país. É derrubando os obstáculos que a democracia liberal irá tomando forma ante os nossos olhos.

Essas são as três primeiras etapas de uma autodefinição da democracia liberal no Brasil. Definição que não deve surgir de especulações teóricas prévias, mas da própria prática das virtudes essenciais do debate democrático: transparência, sinceridade e idoneidade. É preciso por em ação estas armas temíveis. Elas nos ensinarão – a nós e a nossos ouvintes – o que é a democracia liberal.

Cortar as línguas dos falsos profetas, dissipar a treva que espalharam com suas bocas mentirosas, destruir as muralhas da antidemocracia que nos oprime – estas são as tarefas primordiais da intelectualidade conservadora e liberal no Brasil. Para exercê-las, não é preciso ter nenhuma definição clara e final da fórmula democrática com que sonhamos. É preciso apenas ter vivo nos nossos corações o ideal da liberdade e do império das leis. Esse ideal pode continuar vago e impreciso durante todo o período inicial da luta, que equivale àquilo que os antigos retóricos chamavam a pars destruens , a parte destrutiva do serviço, o longo e dificultoso "trabalho do negativo", como o chamava Hegel: os ideais se esclarecerão e se transformarão em fórmulas práticas no próprio curso do combate.

Raciocinar na pura atmosfera abstrata e rarefeita das formulações doutrinais é para acadêmicos e beletristas. Tanto o filósofo genuíno quanto o líder político sério raciocinam, isto sim, desde dentro do próprio fluxo da realidade, agindo e experimentando, aprendendo com a experiência e fazendo a cada momento os ajustes necessários a manter a intuição clara do rumo das coisas.

É este o apelo que, na auspiciosa abertura do nosso seminário "Democracia, Liberdade e o Império das Leis", faço aos meus colegas de debate e a todos aqueles que ainda crêem na possibilidade de salvar o Brasil e o continente latino-americano da armadilha cruel e estúpida em que estamos caindo. Fujam das fórmulas, atenham-se aos fatos e às ações. Tentem compreender o que está acontecendo. Busquem informação. Não temam as hipóteses arrojadas. Testem-nas na experiência. Aprendam e lutem. O conhecimento que não vem de um "saber de experiência feito" é um luxo inútil, um fardo pesado que oprime a inteligência e debilita os ânimos.

por Olavo de Carvalho em 16 de maio de 2006

Até quando, sabemos; mas até onde?

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Prometiam fazer-me retirar a afirmação de que este país se verá livre do PT por muito tempo. Pois reafirmo a aposta.
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JORGE BORNHAUSEN

"Ô Bornhausen / estou aqui/ a nossa raça/ tu vai ter que engolir." "Tu vai", assim mesmo -trocando a concordância para parecer espontâneo e popular, quando, na verdade, era uma peça de marketing ensaiada, falsa como é a maior parte do PT-, um coro de militantes desafiou-me no encontro nacional petista. Prometiam fazer-me retirar a afirmação de que este país, a partir de janeiro, se verá livre do petismo por muito tempo. Pois me apresento voluntariamente para reafirmar a aposta.
Estou sinceramente convencido de que o povo brasileiro tem vergonha e não esquecerá os tempos de corrupção, mentira, cinismo, incompetência, populismo e chantagem do governo Lula.
Um quadro que, ao ser revelado, há dois anos, com o "caso Waldomiro Diniz", já parecia escabroso e que se supera a cada dia.

Quando se imaginava que havia atingido o ápice, com a explícita traição dos interesses nacionais na crise Brasil-Bolívia, surgem as declarações de Silvio Pereira, que secretariava a conspiração petista com Marcos Valério. Ou seja, além de imolar o país, por meio da evidente cumplicidade dos petistas com o tresloucado venezuelano Chávez, "muy amigo" preferencial da atual política externa brasileira, temos a indicação de que Lula, pessoalmente, participou de decisões ilegais.
Não sou profeta, até assumo muitos erros de previsão. Muitas vezes confiei em generosas inspirações quixotescas. Esqueci que a insensatez tende a premiar os mais astutos. Agora, porém, insisto na certeza de que, em janeiro de 2007, acabará o pesadelo petista.

Com o fim do governo Lula -sua corrupção acintosa, a falsidade ideológica, a mentira, até o crime político-, este país respirará. Poderá fazer opções verdadeiramente democráticas, sejam partidárias, ideológicas, programáticas, administrativas, livres do suborno, chantagens de instituições como o mensalão, valeriodutos, "dinheiro não contabilizado" com que se tenta truncar a verdade eleitoral, subverter a fidelidade partidária, desmoralizar as instituições.

A pajelança do PT a Lula em que o coro do "tu vai" tentava me agredir, era, em si mesmo, uma farsa grotesca. Ou seja, uma evidente manifestação eleitoral, enquanto o próprio candidato -para enganar a quem, à Justiça Eleitoral?-, como vem fazendo acintosamente, usando dinheiro e próprios do governo numa campanha cara e desigual, repetia que ainda não tinha decidido concorrer à reeleição... Patética ironia, Lula dizer que não é candidato! Presidente da República é que ele não é, porque não trabalha, não governa, delega para incompetentes e só aparece para fazer discursos vazios e demagógicos ou para entregar os interesses nacionais aos seus parceiros Chávez, Morales e cia.

Como se não bastassem as tristes revelações de cada dia, na semana passada, viu-se o uso eleitoral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, que aplicou num único município de Ceará tanto quanto em todo Estado do Piauí, para beneficiar um aliado do governo, conforme denúncia do Ministério Público. Fazer política com verbas da seca é coisa que parecia ter ficado no passado, mas está aí. Não é denúncia vazia. Daí a apreensão geral.

Lula e o segmento corrupto do PT desmoralizaram tudo neste país. Acenaram com um sindicalismo democrático -que devia sepultar o peleguismo estadonovista, como eles mesmos diziam- e criaram uma nova classe de burocratas que esvazia as lutas dos trabalhadores; garantiram que o país teria uma nova política externa, e transformaram o Itamaraty em centro de reeducação marxista. Prometeram uma nova política econômica e fizeram o Brasil perder o grande boom da economia mundial, que cresce a uma média de 7%, 8% ao ano, enquanto não vamos além dos 2,5%.

Comprometeram-se com mecanismos de política social -como o Fome Zero- e apenas recauchutaram, com pitadas de corrupção e paternalismo, o Bolsa-Escola, o vale-gás e outros mecanismos que já existiam e funcionavam sem roubo ou desvios... O Bolsa-Família é uma apropriação indébita, apenas uma marca de fantasia, com drenos para facilitar desvios de dinheiro público, com cartões distribuídos por cabos eleitorais, utilizando formas competentes de distribuição de renda que já existiam. Se o Bolsa-Família fosse um produto comercial e industrial, Lula já estaria condenado na Justiça por pirataria, apropriação de marcas, idéias e direito autoral de terceiros.

Por tudo isso, e à medida que o processo eleitoral se desenvolver -na verdade, hoje, apenas Lula, a pretexto de divulgar atos presidenciais, faz propaganda eleitoral com marketing estruturado-, a opinião pública tomará consciência de que Lula e a parcela corrupta do PT já foram longe demais em matéria de desastres políticos, econômicos e sociais. Daí, a minha certeza de que não haverá reeleição. Sabemos, portanto, que a impostura termina em 31 de dezembro. Impreterivelmente. A questão é saber até onde, nesses próximos meses, até 31 de dezembro, Lula e o PT nos levarão. Qual será o limite de tantos desvios éticos, corrupção e erros? Felizmente já sabemos até quando os aturaremos. Mas até onde chegarão?
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Jorge Konder Bornhausen, 68, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido.

sexta-feira, maio 12, 2006

Saindo do exílio

Por duas ou três décadas, a opinião esquerdista teve a hegemonia completa do espaço público brasileiro, ocupando as ruas, as cátedras, as colunas de jornal e o horário nobre da TV com uma empáfia fora do comum, sem encontrar a mínima resistência.

Tão incontestado foi seu monopólio, que suas miúdas divergências internas acabaram sendo consagradas como sinônimos de “oposição”, suprimindo a possibilidade mesma de uma oposição genuína. Expulsa, caricaturada, aviltada, achincalhada sem chance de defesa, a “direita” tornou-se tão estranha e impensável no ambiente nacional, que, quando o tucanato foi posto oficialmente no lugar dela, não havia mais ninguém capaz de notar a diferença.

Os próceres esquerdistas embriagaram-se de hegemonia ao ponto de acreditar mesmo que a livre discussão entre suas próprias facções era o suprassumo da diversidade e que qualquer opinião frontalmente oposta ao conjunto era uma ameaça às instituições democráticas, uma trama diabólica do Pentágono.

Nas universidades, duas gerações de estudantes foram adestradas, como matilhas de cães, para zelar pela segurança de seus treinadores, arreganhando pavlovianamente os dentes à mera suspeita da presença de liberais e conservadores (“fascistas”, no seu vocabulário de reflexos condicionados).

Com subserviência abjeta, banqueiros, empresários, potentados da mídia e até políticos tidos como “conservadores” (no sentido brasileiro do termo, isto é, oportunistas sem convicção alguma) bajularam a presunção insana da liderança esquerdista e a alimentaram com dinheiro e cargos, na esperança estúpida de apaziguá-la, tremendo de medo por dentro mas fazendo cara de espertos e fingindo orgulho de ciscar as migalhas de poder caídas da mesa da nomenklatura (hoje estão todos na lista da Receita Federal, aguardando sua vez de ser transmutados em Paulo Salim Maluf, Luiz Estevão ou Eliana Tranchesi).

Nesse panorama, não é de espantar que os poucos remanescentes liberais e conservadores sinceros se isolassem até geograficamente, fazendo do Rio Grande do Sul o único Estado brasileiro no qual era permitido estar um pouco à direita do PSDB e no qual, por isso mesmo, a soberba petista acabou por ser derrubada para não se levantar, talvez, nunca mais.

Ano após ano, um valente grupo de empresários promoveu ali manifestações públicas de pró-capitalismo explícito inconcebíveis no resto do país: as memoráveis sessões do “Fórum da Liberdade” – uma arena democrática onde as estrelas esquerdistas abandonavam por momentos as delícias do monólogo triunfante e, expostas ao confronto aberto, saíam sempre de rabo entre as pernas.

Um ignóbil acordo espontâneo da mídia nacional, porém, ocultou sob total silêncio esses acontecimentos político-culturais de primeira grandeza, limitando ao território gaúcho o exercício obsceno da liberdade de divergir.

Daí a importância imensurável do seminário que a Associação Comercial de São Paulo vai realizar no Hotel Caesar Business, na capital paulista, nos dias 15 e 16 de maio, sob o título “Democracia, Liberdade e o Império das Leis”. Pela primeira vez em décadas, as idéias pró-capitalistas saem do heróico exílio gaúcho e ousam se exibir em público na própria terra natal do capitalismo brasileiro, de onde a covardia e a omissão de tantos beneficiários da liberdade de mercado as haviam banido em prol do oficialismo de ocasião e do puxa-saquismo masoquista.

Sendo eu mesmo um dos conferencistas (por vídeo), não posso expressar aqui toda a alegria libertadora que o acontecimento me infunde. Só posso dizer que, com a presença de estudiosos de primeiro escalão como Guy Sorman, Alejandro Chafuen, Tim Goeglein, Clifford May e Ives Gandra da Silva Martins, entre outros, o seminário promete mostrar um pouco da superioridade intelectual do pensamento pró-capitalista, fenômeno reconhecido mundialmente, que só continua a ser segredo num país que tem por presidente um semi-analfabeto de terno Armani e por ministro da Cultura um folião boboca.

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 11 de maio de 2006

Ele avisou

Carta aberta ao povo brasileiro
por Alejandro Peña Esclusa em 16 de outubro de 2002

LULA: O CANDIDATO DE FIDEL E DAS FARC

Caracas, 15 de outubro de 2002

Escrevo-lhes nesse momento com angústia e preocupação, para fazer-lhes de forma sincera e desinteressada uma clara advertência: o candidato Lula está estreitamente vinculado a Fidel Castro, a Hugo Chávez e à guerrilha colombiana, e se ganhar as eleições, o Brasil corre o perigo de conformar um eixo internacional de poder, com epicentro em Havana. Como conseqüência, vosso país submergirá em um redemoinho destrutivo que os levará a graves enfrentamentos internos e, inclusive, a uma guerra civil.

Há mais de quatro anos, escrevi uma mensagem urgente aos venezuelanos, intitulada Hugo Chávez, o candidato de Fidel Castro e das FARC, que foi publicada em diversos jornais de circulação nacional. Comecei a advertir sobre este perigo em setembro de 1995; porém, tal era o descontentamento com os governos anteriores e com os partidos tradicionais, que os venezulanos desconsideraram minhas apreciações.

Pouco antes das eleições presidenciais de 1998, Chávez negou seus vínculos com Fidel Castro e sua simpatia pelos regimes comunistas, fazendo-se passar por moderado. Alguns analistas ingênuos ou cúmplices creram nele; todavia, Chávez mentia, e uma vez na Presidência, encarregou-se de impulsionar na Venezuela um projeto idêntico ao modelo comunista cubano. Chávez não pode enganar-me porque eu conhecia bem seus vínculos com o Foro de São Paulo.

O Foro de São Paulo é uma organização criada por Fidel Castro em 1990, para reorganizar a esquerda latino-americana, depois do descalabro do comunismo na União Soviética e na Europa Oriental. Do Foro de São Paulo participam como membros fundadores, entre outras, as organizações terroristas colombianas, como as FARC e ELN.

É de importância vital que os senhores saibam que Lula é o principal dirigente dessa organização, junto com Fidel Castro, e foi ele o anfitrião da primeira reunião, realizada justamente na cidade de São Paulo (de onde se tomou emprestado o nome), sob os auspícios do Partido dos Trabalhadores.


Se bem que Chávez tenha fracassado em seu intento de impor um sistema totalitário comunista, porque o povo venezuelano o desmascarou e definitivamente não aceitará suas pretensões, a experiência foi profundamente destruidora, tanto para a economia como para as instituições nacionais. E, em que pese esteja derrotado, Chávez não se dá por vencido e planeja impor pela força seu modelo, pelo qual nos encontramos à beira de uma guerra civil.

Igualmente ao que fez Chávez em 1998, Lula se apresenta a si mesmo como moderado, e até nega sua estreita relação com Fidel Castro e com Chávez; porém teria que se perguntar ao candidato: primeiro, se ele é dirigente fundador dessa organização e, segundo, se dele participam Fidel Castro, Hugo Chávez e os grupos guerrilheiros colombianos. Estou seguro de que não se atreverá a negá-lo, porque existem abundantes provas que o incriminam, porém, tentará descartar a informação, alegando que é um foro de discussão aberto à participação de todas as esquerdas. Entretanto, o que faz um homem, supostamente democrata, sentado na mesma mesa com narcotraficantes e terroristas, que têm feito do assassinato, do seqüestro e da extorsão um modo permanente de vida?

Confiamos em que os senhores não incorrerão no mesmo erro cometido pelos venzuelanos, já que as conseqüências, muito difíceis de serem revertidas, terão graves repercussões não só para o Brasil, mas para todo o continente americano, durante várias gerações.

Recebam, irmãos brasileiros, nossos mais sinceros sentimentos de apreço e amizade, desejando-lhes o melhor a vosso bonito povo.



© 2002 MidiaSemMascara.org
O autor é engenheiro mecânico, formado pelo Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional. Atualmente é Presidente da Força Solidária, associação civil que encabeçou numerosas marchas de oposição ao governo de Chávez.

Fonte: http://notalatina.blogspot.com/
Tradução: Graça Salgueiro.

Diplomacia é isso aí?

Provavelmente nunca antes, desde a proclamação da República, o governo brasileiro tenha praticado uma política de relações exteriores tão equivocada como a atual. O chanceler Celso Amorim parece-me ser um sujeito sensato e com os pés no chão, mas não nos esqueçamos de que, antes de tudo, ele é um diplomata de carreira. Na linha de Talleyrand, o genial francês que, no século 19, de tão flexível, conseguiu servir a três regimes diferentes, Amorim, como ninguém, sabe "dançar a música". Foi ministro de Relações Exteriores no governo Itamar Franco, voltou a comandar o Itamaraty no governo Lula e, não obstante serem governos tão diferentes, ele soube equilibrar-se bem nos dois.

Mesmo assim, custa-me a crer que um egresso do Instituto Rio Branco - reconhecidamente uma das melhores escolas de diplomacia do planeta - compartilhe a delirante visão de mundo defendida pelos lulistas.

Em rápidas palavras, essa visão é a seguinte.

O mundo atual - após a queda da União Soviética - se divide em dois blocos distintos. Um é formado pelas nações ricas e desenvolvidas e o outro é composto pelas nações que lutam para romper a barreira do subdesenvolvimento. Esses dois blocos, em suas relações internacionais, mantêm políticas antagônicas. Os países ricos estão voltados unicamente para si mesmos e, quando se relacionam com o outro bloco, se preocupam exclusivamente em manter os seus próprios privilégios, criando inúmeros obstáculos para uma relação comercial mais eqüitativa. O bloco dos ricos prevalece porque todos os seus membros agem sempre de forma coesa. Já o bloco dos pobres não consegue impor-se justamente por causa de sua desunião.

Dentro dessa visão bipolar, qual é o papel que cabe ao Brasil? Ora, em razão da nossa extensão territorial, da nossa numerosa população e do nosso potencial econômico, nossa vocação natural é a de liderar. Se não o fizemos no passado foi porque nossas políticas estavam equivocadas. Agora que nós sabemos exatamente o que queremos, o céu é o limite. A nossa diplomacia deve ser altiva, assertiva e até mesmo agressiva, no sentido de firmar uma posição em defesa dos interesses do bloco dos pobres. Uma vez que o Brasil levante a sua voz, as demais nações do bloco naturalmente nos seguirão. E assim nós conquistaremos a liderança que nos cabe de fato e de direito.

Trata-se de um enfoque simplista, sem a menor dúvida. Nem as nações ricas agem sempre de forma coesa, nem os interesses e aspirações dos países pobres são necessariamente os mesmos.

O diabo mora nos detalhes, reza o ditado. E é justamente por ignorar as diversas nuances existentes que nós estamos trilhando o caminho do inferno. A diplomacia brasileira comporta-se como aquele escoteiro novato que praticou a sua primeira boa ação.

"Ajudei uma velhinha a atravessar a rua, chefe!"

"Foi fácil?"

"Que nada! A velhinha não queria atravessar de jeito nenhum..."

No afã de unir os países emergentes contra os países desenvolvidos, o Brasil está-se esquecendo de perguntar aos pobres se é exatamente isso que eles desejam. No mais das vezes, não é. O desejo das nações pobres geralmente é o de unir-se às ricas e tirar o máximo proveito dessa relação.

Dois terços do comércio internacional se dá exclusivamente entre os países ricos, pouco menos de um terço representa o comércio entre ricos e pobres e cerca de 2% a 3%, somente, se dá entre países pobres. "Bloco dos miseráveis" para quê? Para trocar banana e abacaxi por cacau e amendoim?

Desde a década de 1990 está aí o fenômeno da globalização, e parece que só a diplomacia brasileira ainda não se deu conta disso. O sonho de todas as nações é inserir-se cada vez mais no comércio global e, assim, romper as amarras do subdesenvolvimento e da estagnação econômica. Até mesmo países como Vietnã e Bangladesh - que 20 anos atrás eram citados como exemplos de miséria - hoje estão se desenvolvendo rapidamente graças à integração da economia internacional.

Enquanto tudo isso acontece, o Brasil transita, impávido, pela contramão e ainda reclama das buzinas que ouve... Estamos voltando aos anos 1960, quando o mundo se dividia entre países capitalistas e comunistas, tendo ao meio o bloco dos não-alinhados, o dito Terceiro Mundo, que pendia ora para um lado, ora para o outro, de acordo com as suas conveniências do momento. Como não mais existe o Segundo Mundo, o Terceiro, obviamente, perdeu a razão de ser. Chantagear a quem e com qual argumento? Acorda, Itamaraty! A guerra fria acabou. O que existe agora é, de um lado, um punhado de nações ricas e, de outro, quase duas centenas de países cujo único objetivo é enriquecer o mais rápido possível.

Nos meios diplomáticos internacionais, o pitoresco comportamento brasileiro já está virando motivo de chacotas. Tal qual o personagem de Cervantes, o presidente Lula é um herói a procura de um enredo. Na falta de dragões, qualquer moinho lhe serve de alvo.

Entre tantas trapalhadas e tantos desencontros, digna de registro foi a atitude do chanceler Amorim, em seu depoimento no Senado. Após ter sido cruelmente violentado por Chávez e Morales, ele objetou, docemente, que o Brasil se sente "desconfortável" (sic!) com tal situação.

"Desconfortável", ministro?!

Isso lembra a história do caçador que se lamentava com um amigo por ter sido, na selva, molestado por um gorila.

"E daí? Gorila não fala!"

"É por isso mesmo. Não fala, não escreve, nem ao menos me manda flores..."

João Mellão Neto - j.mellao@uol.com.br

Fax: (11) 3845-1794

segunda-feira, maio 08, 2006

APOLOGIA AO ROUBO

Há uma singularidade nas forças de esquerda do Brasil: na tradição do vetusto PCB foram tão profundamente adestradas na arte de obedecer que jamais conseguiram fazer um projeto genuinamente nacional de poder, que prescindisse de comandos vindos do exterior. A sombra de Moscou dos velhos tempos paira sobre todos os nossos militantes de esquerda. À falta de um centro imperial nítido a emitir seus decretos contentam-se com miudezas do porte de Hugo Chávez e Fidel Castro a comandar os seus passos.

Vemos o Brasil – ou as suas forças de esquerda – do tamanho de uma baleia ser comandado por cabeças de sardinhas nanicas.

O episódio boliviano, que estarreceu os brasileiros sérios, teria que ser visto como uma grande comédia, um peso-pena desafiando um Mike Tyson, se não revelasse a violenta realidade que se colocou à Nação brasileira: suas propriedades, seus recursos, seu governo, tudo foi subordinado a tiranetes ridículos.

Ridículo é o PT e Lula-lá, que conseguiram jogar a representação do nosso povo no nível mais vil. O PT e as diversas siglas sucessoras do Pardidão, é bom que se diga, não perderam o sestro servil, mas chegaram, de fato, ao poder. Fosse eu Lula e assumindo a persona do governante esquerdista típico, de um Hugo
Chávez, nessa hora estaria com planos de integrar a América do Sul, subordinando todos os vizinhos ao Planalto. Stalin fez isso, assim como Moo Tse Tung. Essa de deixar Chávez governar o Brasil é um disparate digno de piadas de mau gosto.

Um amigo me escreveu dizendo que há nisso uma grande armação para financiar o Foro de São Paulo, que o sobrepreço esperado do gás seria destinado a suprir os recursos perdidos com a explosão do propinoduto de Marcos Valério. Vindo dos portadores de dólares na cueca, esses jecas que viraram os novos ricos da política, tudo é possível. A cabeça descompensada pela mentira e pela inflação de ego provocada pela chegada ao poder pode gerar qualquer maluquice. Mas não creio nisso. O que o governo boliviano fez foi expropriar ativos fixos que só geram receita se consumidores finais brasileiros comprarem. Ora, uma elevação artificial dos preços do produto seria um formidável bumerangue econômico – os consumidores simplesmente sumiriam – e político, na medida em que estamos em um ano eleitoral e a baixeza subserviente do Itamaraty, mais a elevação de preços, tudo somado retiraria votos para a reeleição de Lula.

Mas o sestro esquerdista é mesmo roubar, legalmente ou não. Nada é impossível

Hoje li a entrevista da “douta” Marilena Chauí, a silenciosa, dada ao jornal Valor Econômico. Como sempre, a apologia do roubo e a justificação do malfeito em larga escala pelos camaradas petistas. Podemos acusá-la de qualquer coisa, menos de falta de coerência. Quando ela afirmou que “A justiça consiste em tornar iguais os desiguais” ela colocou numa frase toda a falsificação filosófica, política e econômica dos apologistas da esquerda. Justiça, por definição, é dar a cada um o que é seu. Ao se aceitar a definição da “douta” Chauí justifica-se o roubo em todas as instâncias, seja pela via tributária, seja pela violência direta do MST, seja nos roubos das esquinas (delinqüentes apenas colocam em prática esse falso princípio de justiça na ação pessoal direta, passando de algoz a vítima em um lance semântico ardiloso). E justifica também – porque não lembrar? – a expropriação do patrimônio nacional por parte do governo “oprimido” e “pobre” da Bolívia.

Essa gentalha intelectual que forma a nossa juventude com essa falação imoral, torta, falsificada e insensata é que elegeu Lula-Lá e criou essa situação tragicômica dada pela imagem da enorme baleia conduzida pelo focinho por sua minúscula presa, a sardinha. É a inversão de tudo, a tresvaloração de todos os valores.

Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. Os brasileiros haverão de levantar galhardamente a cabeça novamente, expulsando esses rufiões amadores do comando do País.
Nivaldo Cordeiro

Traição anunciada

Pela primeira vez na História humana, animal, vegetal ou mineral, um presidente, vendo as propriedades nacionais no exterior invadidas e confiscadas manu militari pelo governo local, se abstém por completo de defender os interesses e a honra da nação e, bem ao contrário, sai elogiando os autores da brutalidade. E o detalhe mais extravagante no caso é que o homem tenta dar a impressão de que, ao fazer isso, age como um cristão exemplar, voltando humildemente a outra face em vez de revidar o insulto. Seria assim, de fato, se não houvesse alguma diferença entre oferecer a própria face e a face dos outros – a face de um povo inteiro. A resposta do sr. Luiz Ignácio Lula da Silva à agressão boliviana não é nenhuma efusão de bons sentimentos. É o ato de entreguismo mais explícito, mais descarado, mais cínico e mais subserviente que já se viu neste país ou em qualquer outro.
IMPEACHMENT - Se causas faltassem para um impeachment, só essa conduta, isolada, já bastaria para justificá-lo com sobra de fundamento e razão. Nunca a traição foi tão clara, nunca tão patente a redução do patrimônio comum dos brasileiros a instrumento dócil de objetivos transnacionais sobre os quais os eleitores não foram consultados, aliás nem informados.

Não seria certo, porém, dizer que foi acontecimento desprovido de conseqüências pedagógicas úteis. Numa só alocução, com breves palavras, o sr. presidente rasgou de uma vez a fachada de "nacionalismo" com que a esquerda brasileira vinha enganando aqueles que não conhecem a sua história ou que não conseguem lembrá-la no momento apropriado. Espero que agora pelo menos alguns dos militares com que andei discutindo aqui semanas atrás, tão propensos a acreditar nas afeições patrióticas de quem quer que as proclame do alto de um palanque, entendam onde foi que se meteram ao buscar uma aproximação com a esquerda com base na confusão entre patriotismo e anti-americanismo.

Também seria injusto dizer, no entanto, que foi ato inesperado, de improviso, surgido do nada.

ASSIMETRIAS - Num texto publicado em 2003, bem lembrado pelo articulista Cristiano Romero no jornal Valor, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, expunha o que tem sido a diretriz básica da política externa do governo Lula. Diz Romero:

"Generosidade’ nas relações com os vizinhos sul-americanos é um conceito caro a Samuel Pinheiro Guimarães. Num texto intitulado ‘O Gato e a Onça: ameaças e estratégia’, ele defende, como ‘objetivo fundamental’ da política externa, a construção do que chama de espaço econômico e político sul-americano. Diz que o Brasil deve fazer isso sem qualquer pretensão hegemônica e com base na generosidade ‘decorrente das extraordinárias assimetrias entre o Brasil e cada um de seus vizinhos’. ‘É necessário praticar o princípio do tratamento especial e diferenciado quase que na proporção das assimetrias reais."

Isso já era, antecipadamente, o nosso presidente defendendo o direito que "um povo sofrido" tem de romper contratos e assaltar seus parceiros de negócios.

Vendo a teoria de Guimarães ser levada à prática de maneira tão literal, o embaixador Rubens Barbosa, lembrando uma frase do ex-secretário de Estado americano John Foster Dulles, declarou que "essa é uma visão ingênua, porque países não têm amigos; têm interesses". Mas o que é ingenuidade à luz dos interesses nacionais manifestos pode ser esperteza desde o ponto de vista de interesses supranacionais ocultos. Quem leu o meu artigo no Diário do Comércio de 26 de setembro de 2005 (http://www.olavodecarvalho.org/semana/050926dc.htm) já sabia, desde então, que o sr. presidente, eleito em nome da "transparência", tomava decisões de governo em reuniões secretas com ditadores e criminosos estrangeiros, longe dos olhos do povo, do parlamento, da mídia e da justiça. Ele próprio, de porre ou sóbrio, tinha confessado isso no seu discurso de 2 de julho de 2005, pronunciado na celebração dos quinze anos de existência do Foro de São Paulo. Nesse documento fundamental, cujo significado a grande mídia nacional em peso fez questão de amortecer ou omitir completamente, Lula admitia que o Foro de São Paulo, fundado por ele e Fidel Castro, era uma entidade secreta ou pelo menos camuflada ("construída... para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política"), criada para imiscuir-se ativamente na política interna de várias nações latino-americanas, tomando decisões e determinando o rumo dos acontecimentos, à margem de toda fiscalização de governos, parlamentos, justiça e opinião pública. Ele admitia também haver decidido pontos fundamentais da política externa brasileira não enquanto presidente da República em reunião com seu ministério, mas enquanto participante e orientador de reuniões clandestinas com agentes políticos estrangeiros ("foi uma ação política de companheiros, não uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente"). Não seria possível uma confissão mais explícita de que, para esse homem, os interesses nacionais que nominalmente ele estava incumbido de representar deviam submeter-se a considerações mais altas, isto é, à estratégia de dominação continental comunista delineada pelo Foro de São Paulo. O compromisso dele não era para com seus eleitores brasileiros: era para com seus "companheiros" da Venezuela e de Cuba.

Meses depois, em 12 de dezembro de 2005, mais explicitamente ainda, o Plano de Trabalho da Secretaria de Relações Internacionais do PT informava a "linha justa" a ser seguida pelo Partido: "Aprofundar a prática internacionalista do Partido, nos vários sentidos desta palavra: a solidariedade, as relações com organizações comprometidas com o socialismo e com outra ordem internacional, a mobilização interna e externa em torno de temas de nosso interesse, a ação parlamentar e de governos no plano internacional." Para que não pairassem dúvidas quanto ao tipo de ligações aí aludidas, o documento esclarecia: "Este é o motivo principal pelo qual o PT seguirá investindo suas energias na existência e consolidação do Foro de São Paulo, organização criada em 1990."

VÍTIMAS - Sabendo-se que desde os tempos da sua campanha eleitoral o próprio sr. Evo Imorales anunciava seu propósito de estatizar todos os campos de petróleo da Bolívia, as fontes nacionais já forneciam material mais que suficiente para que, delas, qualquer pessoa medianamente acordada concluísse qual seria a reação do nosso governo quando o presidente boliviano transformasse suas palavras em ações: afagar-lhe o ego paternalmente, como há décadas o partido dominante vem fazendo com todos os delinqüentes e transgressores, desculpando-os como vítimas da "desigualdade" e da "exclusão social". O princípio que se aplica aos indivíduos serve, com muito mais razão, a povos inteiros: a "generosidade" do sr. Samuel Pinheiro Guimarães não é senão a "política de direitos humanos" do governo, transposta à escala internacional. A evolução da caridade petista, nesse sentido, é notavelmente coerente: começou defendendo o direito de os trombadinhas da praça da Sé meterem as mãos nos bolsos dos transeuntes, depois foi gradativamente ensinando à nação estupefata que os invasores de terras eram vítimas em vez de agressores, que os únicos grupos criminosos merecedores de punição eram os policiais, os empresários e os políticos ditos conservadores, que o Estado deve indenizar os seqüestradores em vez dos seqüestrados, que os traficantes de cocaína são heróis da liberdade e que o combate ao narcotráfico é terrorismo de Estado. Que mais faltava, senão oferecer as garantias da alta moralidade ao assalto entre nações?

Deixemo-nos, portanto, de nhenhenhém, como diria FHC. Ninguém foi surpreendido pelo imprevisível. Todo mundo sabia o que ia acontecer e como o sr. Lula ia reagir. O único aspecto surpreendente no episódio foi a falta completa do elemento surpresa.

Mas, se foi assim, por que ninguém alertou para o perigo nem fez algo para evitá-lo? E, uma vez consumado o delito, por que tantos ainda hesitam em condená-lo como tal, por que se sentem ainda entorpecidos por dúvidas insanáveis, por que relutam em admitir a evidência da escalada criminosa, protelando por meio de tergiversações sem fim a conclusão de um silogismo incontornável?

A resposta é simples: para apreender o sentido de uma sucessão de acontecimentos, não basta conhecer os fatos. É preciso ter os conceitos, os termos gerais capazes de iluminar o desenho exato dos detalhes e permitir unificá-los num quadro coerente. No caso, o termo geral era "estratégia revolucionária continental", ou, mais sinteticamente, "Foro de São Paulo". Só vista nessa perspectiva a multidão dos detalhes soltos adquiria uma forma, uma direção, um sentido. Ora, esse elemento articulador foi sistematicamente suprimido dos debates nacionais ao longo de dezesseis anos por um decreto unânime dos donos da opinião pública. Quem quer que ousasse falar disso, nos jornais, na TV ou no Parlamento, tornava-se primeiro alvo de chacota, depois era rotulado de louco, depois abertamente difamado, depois boicotado profissionalmente, por fim calado por meio da intimidação direta, como o sr. Lula fez no ar com o âncora da TV Record, Boris Casoy, ou da demissão pura e simples, como veio a acontecer comigo e com o próprio Boris.

SILÊNCIO - Nunca, na história universal da manipulação de notícias, se viu um esforço tão vasto, tão geral, tão uniforme de ocultar o essencial, de desviar as atenções, de paralisar a inteligência da vítima para que não sentisse de onde vinha o ataque.

Todos os chefes de redação e donos de empresas jornalísticas deste país, com raríssimas e louváveis exceções que no conjunto acabaram não fazendo diferença prática, acumpliciaram-se ativamente, persistentemente ao projeto petista de anestesiar e estupidificar a opinião pública, preparando-a para aceitar com apatetada e ignóbil passividade o confisco progressivo dos seus direitos, da sua liberdade e do seu patrimônio.

Sem o silêncio cúmplice da mídia, jamais o projeto continental de poder, urdido por Fidel Castro, Hugo Chávez e Luiz Ignácio Lula da Silva em reuniões que não precisavam nem mesmo ser secretas, já que ninguém queria divulgá-las, poderia ter chegado ao ponto em que chegou.

MONSTRO - Agora, é tarde para revertê-lo. Imaginar que resistências pontuais, que protestos avulsos contra abusos isolados possam deter a marcha do monstro ou aplacar sua voracidade é apegar-se a uma ilusão pateticamente impotente. Uma estratégia abrangente só pode ser combatida por outra estratégia abrangente, e a idéia mesma de conceber uma é coisa que ainda nem passa pela cabeça da maioria dos liberais e conservadores, persistentemente ocupados, depois de tudo o que aconteceu, em ater-se a elegantes declarações doutrinais genéricas e em evitar cuidadosamente o rótulo de "anticomunistas".

Durante uma década e meia tentei fazer com que essa gente acordasse. Agora começo a achar que despertá-la seria uma crueldade, tão feio é o panorama que se abriria ante seus olhos quando isso acontecesse. O melhor mesmo é deixar que durma. O que a aguarda, em qualquer das hipóteses, é o sono eterno. Seu fim está decretado e é quase tão irreversível quanto o giro da Terra em torno do Sol. Uns vinte anos atrás, Roberto Campos perguntado sobre qual seria o destino do Brasil no caso de Lula ser eleito presidente, disse que haveria duas saídas: Galeão e Cumbica. Não sei se a vida imita a arte. Mas no Brasil ela imita cada vez mais o humorismo. Já começo a me abster de ouvir piadas, por medo de que se tornem realidade. Não me acusem, porém, de derrotismo, de matar as esperanças dos brasileiros. Ao contrário: o que tem matado os brasileiros é a esperança. Recusar-se a admitir uma situação desesperadora é recusar-se às ações desesperadas que poderiam, contra toda a esperança, reverter o quadro da tragédia. O Brasil não precisa de esperança. Precisa é de coragem inflexível e lucidez heróica. Não me chamem de derrotista por recusar-me a afagar cabeças moralmente covardes e intelectualmente indolentes.

SEMINÁRIO -
Vejo-me no dever de dizer essas coisas principalmente porque se aproxima a data do Seminário "Democracia, Liberdade e o Império das Leis", que a Associação Comercial de São Paulo vai promover no Hotel Cesar Business nos dias 15 e 16 de maio, e porque tenho a certeza de que ali, pela primeira vez, intelectuais liberais e conservadores vão olhar de frente a questão da estratégia comunista continental em vez de refugiar-se nas teorizações usuais, tão corretas no conteúdo geral quanto deslocadas da situação política especial. O Seminário é uma antiga idéia minha que tive a sorte de soprar nos ouvidos certos e, sem grande ajuda da minha parte, frutificou graças à tenacidade do líder empresarial Guilherme Afif Domingos, do economista Marcel Solimeo, do psiquiatra Heitor De Paola e dos combativos redatores do jornal eletrônico Mídia Sem Máscara (Paulo Diniz Zamboni, Edward Wolff, Graça Salgueiro e tantos outros), bem como da colaboração da Atlas Foundation for Economic Studies.

Voltarei a escrever sobre o assunto durante a semana, mas desde já asseguro que, pelo menos entre os participantes brasileiros do evento, todos estão muito conscientes da urgência desesperadora de uma rejeição firme e inflexível do comunismo continental, quaisquer que sejam as diferentes versões com que ele se apresente, todas forjadas e articuladas no Foro de São Paulo. E não digo isso para criar esperanças, mas para lembrar que o dever está acima da diferença entre esperança e desesperança. Com enorme satisfação vejo que ainda há brasileiros capazes de cumprir o dever.
por Olavo de Carvalho, de Washington DC