sexta-feira, dezembro 30, 2005

Reinações do governo Lula

“Credo! O mundo está perdido!”
Tia Nastácia, personagem de Monteiro Lobato.


O ano termina com o governo federal promovendo um “novo” e requentado espetáculo de promessas – como não poderia deixar de ser – capitaneado pelo próprio presidente Lula. Foi declarada aberta a derradeira temporada onírica, dessa vez utilizando o programa de rádio, “desjejum com o presidente”, transmitido pela Radiobrás, para disseminar entre a calcinada população que em 2006 o crescimento econômico do País será espetaculoso.
Na verdade, Sua Excelência foi categórico na sua transmissão em cadeia nacional por ondas médias e freqüência modulada: "Não prometo, eu garanto ao povo brasileiro que vamos ter um Brasil se desenvolvendo muito mais em 2006".

Numa demonstração ímpar de sinergia, o ministro da Fazenda, Antônio Palloci, anunciou sem “piscar” que a previsão de aumento do Produto Interno Bruto – PIB – para o próximo ano é de 5%.

Nem mesmo a velhinha de Taubaté, de saudosa memória, consideraria crível a projeção feita pelo ministro. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), vinculado ao ministério do Planejamento, por exemplo, prevê 3,4%. O relatório "expectativa do mercado" do Banco Central trabalha com uma estimativa de crescimento do PIB de 3,5%. Portanto, a futurologia palaciana, sem trocadilho, deve ter sido traçada com base na pirotecnia de efeitos especiais na qual a propaganda da gestão Lula foi sempre pautada.

O crescimento vigoroso e sólido prometido em tantas ocasiões pelo atual presidente da República se transformou no simulacro maior desse governo. A ortodoxia da equipe da Fazenda, traduzida na política de juros fixada pelo Bacen, foi letal para a recuperação do desenvolvimento econômico. Fechamos o calendário de 2005 com uma meta de crescimento no patamar de 2,48%.

Na providencial e rarefeita memória dos atuais dirigentes da nação, é mister relembrar que, num jantar com senadores petistas, em dezembro de 2004, o presidente Lula vaticinava que a escalada da alta dos juros iniciada três meses antes havia finalmente chegado ao fim. Àquela época, a taxa determinada pelo Banco Central havia sido elevada de 16% para 17,75% ao ano. O script distribuído pelo Palácio do Planalto não condizia com o da autoridade máxima em matéria de política monetária. A instituição comandada pelo senhor Henrique Meirelles, alheia aos clamores do setor produtivo e até mesmo de setores governamentais, deu seqüência à alta dos juros até maio, quando registramos a estratosférica taxa de 19,75%. O declínio tão esperado só teve início em setembro último. O combalido ano de 2005 terminará ostentando o patamar indigesto de juros de 18%.

Em nenhuma direção os mirabolantes prognósticos se confirmaram. O governo foi incapaz de controlar os seus próprios gastos financeiros, sendo compelido inclusive a elevar o superávit primário para conter o descontrole de sua dívida. A risível execução orçamentária, prova cabal da inépcia gerencial que assola a Esplanada dos Ministérios, obrigou a um festival de “gastança” no apagar das luzes do ano, feito sem qualquer critério e rasgando todos os preceitos de uma saudável administração submetida a um planejamento estratégico.

As reinações do governo Lula, ao contrário da obra de Monteiro Lobato “Reinações de Narizinho”, cuja narrativa é concentrada no Reino das Águas Claras, se passam em ambiente turvo. Após a utilização dessa “metáfora lobatiana” só nos resta brindar o ano que se aproxima com o bordão: e viva o faz de conta!

Alvaro Dias - senador

Emprego e embuste

CLÓVIS ROSSI

- A mediocridade do atual governo e, mais amplamente, do debate político ficam evidentes na questão do emprego. O PT festeja o fato de ter criado mais empregos do que o PSDB quando governo. O PSDB foge desse debate.
Para a imensa maioria que não é nem PT nem PSDB, trata-se de um embuste. O governo do PSDB não é paradigma para quase nada, muito menos para o emprego.
A pergunta correta a fazer é esta: quantos empregos seria preciso criar para cobrir as necessidades da pátria? Um certo Luiz Inácio Lula da Silva quantificou, em 2002, quando ainda falava coisa com coisa, em 10 milhões no período presidencial que estava por inaugurar-se (ou seja, de 2003 a 2006). Dá, portanto, 2,5 milhões por ano.
Quantos empregos foram criados no governo Lula até agora? Pelas contas do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), 2,078 milhões -ou quase 700 mil, em média, anualmente, ou 28% do que seria necessário.
Ora, festejar como êxito um resultado tão pífio é uma confissão pública de mediocridade, assim como o PSDB não poder nem mesmo contestar a mediocridade é confissão pública de fracasso.
Ainda de acordo com o Iedi, que faz cuidadoso trabalho de análise do desempenho econômico do país, nos três anos do governo Lula, "o rendimento médio real habitualmente recebido pelas pessoas ocupadas recuou 11,2%, perfazendo uma queda anual média de 3,7%".
Resumo do embuste: criam-se muito menos empregos do que o necessário e, ainda por cima, o salário, que já é historicamente baixo, torna-se ainda mais reduzido.
Só para introduzir outro paradigma: também em três anos (a partir de abril de 2002, pico da crise), a Argentina criou 2,5 milhões de novos postos de trabalho. Mais que o Brasil de Lula, portanto, embora sua população seja um quarto da brasileira. E foi depois da moratória.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Feliz Ano Novo? Que cinismo!

por Olavo de Carvalho em 28 de dezembro de 2005

Resumo: O cinismo brutal de um lado, a irresponsabilidade covarde de outro – eis os dois pilares da sociedade brasileira do futuro, na qual só mesmo os cínicos e os irresponsáveis podem esperar sentir-se bem.

© 2005 MidiaSemMascara.org


O Brasil entra em 2006 nas seguintes condições:

1 O governo federal está nas mãos de um partido que, subindo ao poder sobre os cadáveres das reputações de seus adversários, usou de sua fama de restaurador da moralidade como camuflagem para poder criar o mais vasto e eficaz sistema de corrupção política já observado neste país.

2 Ao longo de sua ascensão, apoiada na hegemonia previamente conquistada pela "revolução cultural" gramsciana, esse partido desarmou completamente seus possíveis adversários ideológicos, ao ponto de nas eleições presidenciais de 2002 seu candidato não ter de concorrer senão com imitadores do seu discurso, cada um tentando provar que era o mais esquerdista dos quatro. E tão completo era o domínio exercido pela esquerda sobre a mentalidade pública, que essa disputa em família, com total exclusão de discordância ideológica por mais mínima que fosse, foi celebrada por toda a mídia cúmplice como "a mais democrática de toda a nossa História". Neurose, dizia um grande psicólogo que conheci, é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita. O Brasil continuará doente enquanto não recordar e desmascarar a farsa com que aceitou alegremente colaborar em 2002.

3 O deslocamento do fiel da balança para a esquerda falseou todo o quadro das opções políticas, ao ponto de que hoje a hipótese mesma de um discurso de direita, na linha do Partido Republicano americano ou do Partido Conservador inglês, se tornou inviável e inconcebível no Brasil. O máximo de direitismo admitido é o do PSDB, partido pertencente à Internacional Socialista e comprometido a implantar no Brasil todas as mutações sociais e culturais defendidas pela esquerda mundial, como o abortismo, o casamento gay, o "direito alternativo" etc. Eliminada a possibilidade de divergências de fundo, sobraram apenas a disputa de cargos e o bombardeio mútuo de acusações de corrupção: a política reduziu-se a um bate-boca entre quadrilhas de ladrões. O PFL, que poderia ter representado a alternativa ideológica ao consenso socialista, abdicou de seu dever e acomodou-se à função de tropa auxiliar de uma das quadrilhas.

4 Como nem a esquerda petista nem seus adversários tucanos conseguiram conceber nenhuma alternativa viável à política econômica "ortodoxa" do FMI, esta se mantém como orientação dominante desde o governo FHC, sem perspectiva de ser abandonada por qualquer das facções que suba ao poder. À sombra da estabilidade econômica, erigida em único bem digno de ser preservado, a máquina de subversão instalada no governo está livre para transformar o sistema judiciário em instrumento da luta de classes, o ensino público em pregação do ódio anticapitalista, as instituições de cultura em megafones do discurso comunista mais estúpido e grosseiro que o mundo já ouviu. Ninguém liga. A lepra socialista pode se alastrar por todo o corpo da sociedade, dominar as consciências, perverter todas as relações humanas. Enquanto não mexer diretamente nas contas bancárias dos senhores barões, estes continuarão achando tudo lindo. A classe chamada dominante já não domina nada há muito tempo, está cercada e acuada, reduzida a viver de favores mendigados à elite comunista, mas como ainda tem dinheiro para gastar em Londres e Nova York, mantém a pose. E se tentamos lhe explicar o perigo que corre, responde com a clássica reação do covarde orgulhoso: estrangula o mensageiro das más notícias.

5 A criminalidade triunfante já ultrapassou de há muito os limites dentro dos quais podia ainda se considerar um problema corrigível. Tornou-se um fato consumado, uma constante da natureza, um modo de ser, uma instituição. Segundo dados oficiais da ONU, são 50 mil homicídios por ano. Segundo pesquisas locais do jornalista espanhol Luís Mir, 150 mil. A polícia, intimidada pela superioridade bélica dos narcotraficantes e sobretudo pelo temor que lhe inspira o olhar malicioso da classe jornalística, se ocupa apenas de sobreviver e mostrar-se o mais inofensiva possível. Enquanto isso, o governo continua de namoro com as FARC e a intelectualidade esquerdista clama pela libertação de qualquer agente da narcoguerrilha colombiana que por acaso vá parar na cadeia, onde aliás é poupado de qualquer pergunta comprometedora.

6 As Forças Armadas, enfraquecidas por sucessivos cortes de verbas, humilhadas e aviltadas por mentiras escabrosas alardeadas na mídia, começam a reagir como vítimas da síndrome de Estocolmo: distribuem condecorações a seus acusadores e buscam lisonjeá-los mediante efusões de anti-americanismo pseudopatriótico (o brigadeiro Ferola e a ESG em geral são ótimos nisso), na esperança de desviar contra um inimigo comum a hostilidade do establishment esquerdista ante o qual generais de inumeráveis estrelas tremem como dozelas assustadas.

7 Os tribunais são dominados por juízes semi-analfabetos que abertamente desprezam a lei em nome de suas convicções políticas improvisadas, achando que a mais alta missão da Justiça é punir os capitalistas como exploradores do proletariado e libertar os assassinos e narcotraficantes como vítimas da sociedade malvada.

8 Curiosamente, a maioria da população permanece apegada aos ideais proibidos: moral judaico-cristã, propriedade privada, direito de portar armas etc. Mas já não há ninguém que fale em nome dessa maioria. Mesmo os que compartilham das crenças populares não ousam defendê-las abertamente. O imenso espaço que a decadência de tudo o mais abre para o ingresso de um autêntico partido conservador no cenário nacional não tem quem o preencha. Conservadorismo significa fidelidade, constância, firmeza. Não é coisa para homens de geléia.

9 Culturalmente, o Brasil está morto e enterrado. Já não tem nada em comum com aquele país dos anos 30-60, que se espelhava numa geração de escritores, pensadores e artistas capazes de ombrear-se aos de qualquer nação do mundo. Na época, "cultura" significava Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Marques Rebelo, Annibal M. Machado, José Guilherme Merquior, Nelson Rodrigues, Heitor Villa-Lobos, Herberto Sales, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Miguel Reale, Vicente Ferreira da Silva, Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria Carpeaux, Gustavo Corção. Álvaro Lins, Augusto Meyer. Hoje cultura é o sr. Gilberto Gil, um pseudo-intelectual de miolo mole segundo ele próprio admite, não sem certo orgulho. Os discípulos da grande geração – Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro – esgotam-se na indecisão entre a fidelidade à consciência literária, que requer a sinceridade das "impressões autênticas", como as chamava Saul Bellow, e o desejo de agradar os amigos bem situados na vida. Escritores e poetas autênticos – Alberto da Cunha Melo, César Leal, Ângelo Monteiro -- vegetam na província, mais ignorados nos grandes centros do que o seriam nos tempos da Colônia. E o gênio fulgurante de Bruno Tolentino, sumido dos debates públicos, desprezado por suplementeiros literários que não seriam dignos de lhe amarrar os sapatos, vai se conformando com um papel obscuro, esquecido da missão de educador literário do Brasil, que um dia lhe coube por natureza e direito.

10 Espiritualmente, a alma nacional oscila entre o oportunismo sociopático transformado em Ersatz do senso prático e o ódio político transfigurado em sucedâneo da moralidade. Ensinado nas escolas a papaguear slogans politicamente corretos, obrigado por lei a considerar que o canibalismo, os sacrifícios humanos ou rituais para tornar os inimigos sexualmente impotentes são expressões religiosas tão respeitáveis quanto a fidelidade judaica e a piedade cristã, o povo ainda não abdicou de seus velhos sentimentos morais, mas só os vive na esfera dos sonhos, incapaz de lhes dar a menor expressão concreta na vida real. O Papa João Paulo II acertou na mosca quando disse que "os brasileiros são cristãos na emoção, mas não na fé". Quando querem expressar sua emoção religiosa em atos e palavras, a única linguagem que lhes resta é a da teologia da libertação ou a daquela velha mistura, tipicamente brasileira, de mística positivista-evolucionista, ocultismo vulgar e pseudomessianismo nacionalisteiro.

O mais impressionante de tudo é que a chamada elite, diante dessa destruição completa das bases civilizacionais do país, se recusa a tomar consciência da gravidade da situação e se apega desesperadamente à ilusão de que tudo se resolverá por si, sem nenhuma ação da parte dela.

O cinismo brutal de um lado, a irresponsabilidade covarde de outro – eis os dois pilares da sociedade brasileira do futuro, na qual só mesmo os cínicos e os irresponsáveis podem esperar sentir-se bem.

Votos de Ano Novo? Ora, façam-me um favor! Quem pode fazer votos de que tudo o que está acontecendo pare de acontecer, de que tudo o que não acontece, mas deveria, comece a acontecer? O Brasil não precisa de um milagre. Precisa da mais extraordinária conjunção de milagres que se poderia imaginar. E milagres, mesmo individualmente, jamais acontecem quando os possíveis interessados estão pedindo exatamente o contrário.

Tarados

Um sintoma miúdo, mas revelador, pode ilustrar o estado presente da alma nacional, tal como descrito acima.

Há um grupo de tarados na comunidade Orkut, da internet, que já escreveram mais de trinta mil páginas contra mim e, para cúmulo, esperam que eu leia tudo -- como se eu me achasse tão interessante quanto eles me imaginam. Não criticam propriamente minhas opiniões, pois não chegam a apreendê-las com clareza bastante para isso. Fixam-se em detalhes que, por motivos ignorados, os irritam e desconcertam, entre os quais o meu penteado, não sei se demasiado provocante ou inócuo, a minha idade, que consideram um vício moral revoltante, e o fato insólito de eu ter filhas bonitas sem preencher as condições ideológicas requeridas para isso. Descritos com abundância de minúcias, meus defeitos ali apontados abrangem aparentemente toda a gama das possibilidades humanas, pois apareço ao mesmo tempo como gay e homofóbico, anti-semita e fanático sionista, moralista auto-reprimido e putanheiro assanhado etc. etc. Tendo-me colocado assim no centro da coincidentia oppositorum, os redatores do site chegaram a um ponto em que já nada podiam dizer contra mim que não fosse desmentido por alguma acusação anterior. A solução encontrada para essa dificuldade foi inventar-me de novo, moldando a minha figura segundo os requisitos apropriados para uma esculhambação em regra, sem contradições ou ambigüidades. Criaram então uma página especial do Orkut, usando o meu nome e fotografia e fazendo-se passar por mim. Preencheram a página com uma confissão de nazismo e espalharam convites para que os trouxas a freqüentassem, constatando com seus próprios olhos e até cérebros, caso os tivessem, a minha militância nazista em ação. Ficou assim provado ser eu um completo F. D. P., quod erat demonstrandum. Com base em evidências tão sólidas, tornou-se mesmo imperativo reeditar ali uns velhos e já quases esquecidos apelos à supressão física da minha execrável pessoa, acompanhados de indicações, infelizmente um tanto desatualizadas, dos lugares onde os interessados na minha execução sumária podem mais facilmente me encontrar e me pegar de jeito.

Há mais de mil pessoas envolvidas nesse empreendimento, a maioria delas portadora de diplomas universitários e pertencente, destarte, à parcela mais esclarecida da população, pela qual não se chega sequer a formar uma vaga idéia do que poderiam ser as menos esclarecidas.

Nenhuma dá sinal de perceber algo de criminoso nas ações do grupo, e suspeito que muitas, ou quase todas, se informadas de que estão sujeitas às leis brasileiras como quaisquer outras criaturas residentes no país, se mostrariam sinceramente indignadas ante essa pretensão intolerável.

Bem ao contrário, todas se acreditam movidas pelos mais altos sentimentos humanos, pairando angelicamente acima de mesquinharias penais que só um grosseirão inconveniente como eu seria capaz de querer introduzir numa conversação tão sublime.

Somente umas duas ou três vezes examinei o material ali publicado, comentando-o da maneira que me pareceu esteticamente mais adequada ao ambiente, isto é, mediante qualquer gozação sarcástica e cabeluda que me ocorresse no momento.

Eu queria só que vocês vissem a expressão de susto e revolta com que aquelas almas delicadas reagiram às minhas vulgaridades! Nunca vi tanta dignidade ofendida, tanta santidade aviltada, tantas lágrimas de autopiedade coletiva, tantas efusões de consolação mútua, carinho reparador e juras de vingança acompanhadas de menções pejorativas aos membros da minha família. Uma coisa comovente mesmo.

Se eu quisesse inventar essa situação, não conseguiria. Não sou nenhum Franz Kafka, nenhum Karl Kraus, nenhum Eugène Ionesco para conceber personagens como esses. Só a realidade brasileira do momento, moldada por quatro décadas de "revolução cultural", pode criá-los. E até a capacidade de descrevê-los me falta, como faltaria talvez até àqueles três autores, cuja imaginação do absurdo tinha limites.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Exemplos de burrice

por José Nivaldo Cordeiro em 26 de dezembro de 2005

Resumo: O único antídoto eficaz contra a corrupção é a redução do Estado.

© 2005 MidiaSemMascara.org


A condição sine qua non para que os homens possam interferir eficazmente na realidade, em qualquer plano, sobretudo no político, é ter uma correta compreensão da mesma. Muitos são os instrumentos para que essa correta compreensão possa acontecer, desde a observação direta, o bom senso, a História e as ciências de um modo geral. Evidente que não ter esse discernimento correto equivale a um vôo cego em noite escura, em meio à tempestade: só pode terminar em catástrofe. Decisões fundadas em falsas análises são o caminho para o inferno.


Em suma, é arrematada burrice uma incompreensão voluntária da realidade, sobretudo quando os instrumentos para sua correta percepção estão à disposição. E é esse o nosso grande problema enquanto Nação, que aderimos a uma espécie de burrice voluntária, que insiste em negar o que os olhos vêem, os ouvidos ouvem e o tato sente. O cheiro imundo do ogro Estatal não é percebido pelas narinas mais refinadas, daquelas pessoas que comandam o Estado e as grandes corporações empresariais. O gosto amargo de seu excremento fétido, servido à moda de caviar nos salões de nossa elite econômica, é saboreado como um manjar dos deuses.


A burrice induzida pelo soporífero poderoso do discurso da esquerda tomou conta dos homens que conduzem os nossos destinos, da mídia, da universidade, das igrejas, de todas as instâncias críticas relevantes que se poderiam levantar contra esse devaneio teratológico, a fim de corrigir a realidade sem maiores traumas. Quero aqui me referir a dois exemplos bastante didáticos desse fenômeno, que saltam aos olhos. O primeiro é a entrevista dada por Paulo Skaf, presidente da Fiesp, à Folha de São Paulo na edição de hoje (25/12). O segundo a reportagem trazida na edição de Veja que chegou às bancas listando os supostos sete pecados capitais que fazem prosperar a corrupção, na visão de especialistas.


Skaf destila ressentimento contra a política monetária partindo do falso pressuposto de que um afrouxamento na sua condução colocaria o Brasil no rumo do desenvolvimento e que não haveria nenhuma seqüela nessa aparentemente simples mudança. Teríamos o retorno rápido da inflação e uma crise incontornável no balanço de pagamentos internacionais. Para Skaf há uma conspiração dos “monetaristas”, que destruíram o monstro inflacionário, mas que ficaram no poder e só pensam em inflação. Skaf quer porque quer uma redução rápida e arbitrária na taxa de juros, como se isso fosse possível.


É bom recordar que os juros encontram-se nesse nível única e exclusivamente em virtude do tamanho da dívida pública, que foi gerada ao longo dos anos pela irresponsabilidade de governantes gastadores, que jamais tiveram a preocupação de avaliar o impacto de suas decisões para as gerações futuras. Eles, os juros, são conseqüência, e não causa, do que acontece na economia. Só há uma causa para os juros altos, assim como para a tributação extorsiva, assunto que o presidente da Fiesp cuidadosamente evita tocar: o tamanho do monstro Estatal. Querer reduzir seriamente a taxa de juros, para trazê-la aos patamares internacionais, é lutar pela redução do Estado, da sua dívida pública, de seu viés distributivista. Em suma, lutar contra o politicamente correto em matéria econômica, lutar pela implantação das idéias liberais. Redução do Estado e separação entre a coisa pública e a privada: é essa a receita para o paraíso econômico que populistas como Skaf jamais pensariam em fazer. Eles querem que o Estado continue a ser o cartório que é, conspirando contra os consumidores e contra pagadores de impostos para manter os interesses estabelecidos. Paulo Skaf não é propriamente um mentiroso, é um arauto das idéias aleijadas da nossa elite, que viraram lugares-comuns, elite econômica assim como a pensante, que domina a mídia e a universidade.


A reportagem, de Veja vai no mesmo sentido. Os sete pecados capitais listados: 1- Impunidade; 2- Distribuição política de cargos; 3- Sucateamento do Estado; 4- Conivência da sociedade; 5- Caixa 2 nas campanhas; 6- Excesso de burocracia; 7- Ausência de políticas anticorrupção. A corrupção, como qualquer pessoa letrada sabe, tem apenas duas causa: 1- a condição humana e 2: o tamanho do Estado.


O único antídoto eficaz contra a corrupção é a redução do Estado, vez que a condição humana, o mal metafísico que nos acompanha desde a origem, esse nem Deus quis abolir. É um dado da realidade. Os “especialistas” esqueceram-se apenas do que é relevante.


Se olharmos as causas listadas por Veja veremos que nas entrelinhas os “especialistas” propõem mesmo é a ampliação do ogro estatal. Por sucateamento do Estado devemos entender que o mesmo não é ainda suficientemente grande, invertendo a relação ente causa e efeito. Por ausência de política anticorrupção – uma falsa avaliação da realidade, visto que o Código Penal, a grande e consolidada política anticorrupção, está em vigor, faltando aos agentes apenas terem o comando político para pegar os culpados – entenda-se um aumento ainda maior da ingerência estatal na vida das pessoas. Esse é outro exemplo de como a burrice voluntária cega e leva os burros a clamarem exatamente pelo oposto do que seria eficaz na sua ação no mundo.


Não falta nenhuma lei para que Marcos Valério,.Delúbio Soares, José Genoino, José Dirceu e tutti quanti estivessem respondendo na Justiça pelo malfeito que praticaram e mesmo já atrás das grades. Mas quando o presidente do próprio STF porta-se como advogado de um réu confesso como José Dirceu, a inversão de todos os valores foi consumada e o Código Penal virou letra morta. Falta-nos mesmo é vergonha na cara para varrer esses imundos dos postos de poder. No ano que vem haverá eleições e quero acreditar que os eleitores repetirão a gostosa experiência que vivemos por ocasião do Referendo: vão mandar essa malta mentirosa e burra para o esgoto. A superação da nossa burrice coletiva terá que acontecer de baixo para cima, a partir dos homens simples, que não precisam de lupas desfocadas para enxergar o óbvio. Vamos esperar o grande momento.

No Tom – Crônica de um ano perdido

O ano de 2005 vai terminar pobre, melancólico, quase moribundo. Mais uma vez o Brasil perdeu oportunidades saradas. O crescimento econômico foi medíocre e refletiu o exaurimento de um modelo insustentável. O cenário político não está nada bom. A implosão moral do PT imobilizou o processo legislativo e a limpeza ética ficou a desejar. Pelo menos restou o conforto da esperança de que Lula não é capaz de acabar com o país. As instituições estão de pé e o ritmo da economia só é declinante por incompetência do próprio PT.


Alguém poderia dizer que o Brasil é maior do que a crise e assim o passivo seria naturalmente assimilado. É difícil repor o tempo perdido para uma nação cujo desafio é recuperar-se do atraso. Observe que estamos deixando escapar energia e desperdiçando esforços quando era preciso avançar. A política social do governo Lula é um exemplo. Resume-se ao Programa Bolsa-Família, que contempla a caridade estatal sem nenhum efeito prático de redução da pobreza. É uma política de altíssimo custo que, ao final, tapa buraco, mas não emancipa.


O ano começou com o governo Lula eufórico com as Parcerias Público Privadas (PPP). Vai acabar mais esburacado. A PPP era uma panacéia capaz de curar todos os males da infra-estrutura no Brasil. À época, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou um documento que desabonava a saliência governamental. Em vez dos 26 projetos elegidos, os empresários pediram calma e cobraram confiança. O certo seria escolher, no máximo, três bons empreendimentos para testar a iniciativa.


Nada saiu do papel e cada vez mais está evidente a iminência de um apagão logístico. O que não parece comover o ministro do Planejamento. No começo do ano, durante a realização do 2005 Brazil Summit, para convencer os empresários norte-americanos das vantagens de investir no país, Paulo Bernardo declarou a determinação do governo Lula de “prover as condições para que o Brasil venha a se tornar uma sociedade de consumo de massas, democratizando o acesso às riquezas geradas pela atividade econômica nacional, com efeitos sensíveis sobre o bem estar social e o exercício da cidadania.” Foi lindo, mas não para acreditar.


Por aqui, com o fim de espantar a responsabilidade, o presidente Lula decidiu culpar os governadores pela precariedade da malha rodoviária federal. A era Lula via ser marcada pelos mais baixos investimentos estatais da história republicana. E o problema não é somente a falta de recursos. Há inépcia gerencial para financiar as obras que interessam ao desenvolvimento do Brasil. Austeridade fiscal significa fazer gasto de qualidade e não asfixiar o país.


Não existe garantia de que 2006 vai ser melhor só por que a mãe Dinah revelou ao ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, que no ano que vem a gasolina não vai subir de preço. O otimismo faz bem à saúde, desde que não seja o argumento do engodo. Ano de disputa eleitoral deixa a economia mais vulnerável. No início do governo, Lula vivia falando que o crescimento era inevitável por que sua fé era infinita. Para ficar barato, o presidente perdeu o direito de dar palpites depois que nos furtou 2005.



Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (PFL-GO)
demostenes.torres@senador.gov.br

sábado, dezembro 17, 2005

"Todo político é ladrão"

André Petry

"A Câmara dos Deputados não gosta quando o eleitor generaliza dizendo que 'todo político é ladrão'. Talvez devesse então trabalhar para desfazer essa impressão.
E não o contrário"

A Câmara dos Deputados acaba de informar à platéia que pegar dinheiro sujo pode. Embolsar dinheiro de origem desconhecida pode. Confessar publicamente que pegou dinheiro sujo e de origem desconhecida também pode.

A Câmara dos Deputados mandou o recado acima ao país inteiro quando absolveu o deputado Romeu Queiroz, do PTB de Minas Gerais, por 250 votos a 162. Absolveu-o de qualquer punição, ainda que Romeu Queiroz seja um mensaleiro confesso.

A Câmara dos Deputados achou absolutamente inocente o fato de Romeu Queiroz ter sacado 453.000 reais da conta de Marcos Valério – 103.000 reais vindos do caixa dois da Usiminas e 350.000 reais vindos sabe-se lá de qual latrina financeira.

A Câmara dos Deputados permanecerá tendo entre seus membros o deputado Romeu Queiroz, que começou sua carreira política em 1986 – e enriqueceu. Até então era um modesto funcionário da Caixa Econômica Federal, mas nos últimos vinte anos, enquanto cumpria três mandatos de deputado estadual em Minas e dois mandatos de deputado federal em Brasília, enriqueceu. Tornou-se dono de três concessionárias de veículos e da segunda maior empresa de ônibus de Contagem. Seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral no ano passado é de 6,2 milhões de reais.

A Câmara dos Deputados é uma casa de amigos muito fraternos. Romeu Queiroz, depois de ser absolvido com folga, foi claro na explicação da gênese de sua vitória. "Tenho muitos amigos na Casa", disse. Comentou ainda que recebeu pelo menos cinqüenta votos da bancada do PT. No governo do PT, um ministro, Walfrido Mares Guia, do Turismo, foi autorizado a abandonar seu posto de trabalho para empenhar-se em plenário pela absolvição do amigo. "Eu o conheço há 35 anos e sei que ele não tirou nenhum tipo de vantagem de natureza alguma", disse Mares Guia, também do PTB de Minas, absolvendo o infrator confesso.

A Câmara dos Deputados acha que não fez nada de mais em preservar o mandato de Romeu Queiroz. Seu porta-voz e presidente, o deputado Aldo Rebelo, explicou que "cada caso é um caso". Queria tranqüilizar a platéia, sugerindo que os próximos mensaleiros a sentar no banco dos réus podem vir a ser punidos com a perda do mandato – como, aliás, mandam a lei, o bom senso e a vergonha na cara.

A Câmara dos Deputados convenceu-se da defesa de Romeu Queiroz, que disse não ter ficado com um único tostão dos 453.000 reais que sacou do valerioduto. Ele diz que distribuiu tudo para as campanhas de correligionários.

A Câmara dos Deputados acaba de decretar o seguinte: pode-se pegar dinheiro sujo e clandestino desde que o criminoso entenda que seu destino é limpo e nobre.

A Câmara dos Deputados não gosta quando o eleitor, ao responder às pesquisas, exagera e generaliza dizendo que "todo político é ladrão". De fato, é uma generalização injusta.

A Câmara dos Deputados talvez devesse então trabalhar para desfazer essa impressão. E não o contrário.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

A falta que faz um Lacerda...

A semana começou com o presidente Lula tachando a oposição de 'golpista'. A incontinência verbal de Sua Excelência, os seus atentados à gramática, bem como a terminologia imprópria de que se costuma valer são por demais conhecidos da opinião pública.
Já é de hábito, entre nós, não tomar as suas palavras pelo valor de face. Concede-se a elas um deságio generoso, desconto que jamais foi concedido a nenhum de seus antecessores.
Mas acusar de golpismo os seus opositores, mais do que uma enormidade, é uma injustiça flagrante. Fosse eu o presidente, agradeceria ao Santíssimo todos os dias por contar com adversários tão tíbios e pusilânimes. Fossem estes os inimigos de Collor, o ex-presidente teria terminado tranqüilamente o seu mandato. Faz falta à oposição atual um destemido cruzado à semelhança de um Carlos Lacerda. Vivo fosse, ele já teria feito desembarcar do Planalto, com desonra, o presidente, seu partido e todos os seus demais acólitos.
Bastar-lhe-iam cinco ou seis virulentas catilinárias, na tribuna parlamentar ou nas redes de rádio e TV, e o povo, furioso, estaria, em uníssono, exigindo nas ruas a defenestração sumária do atual governo.
Mas Lacerda não está mais entre nós. E os carbonários que lhe sucederam, sem o mesmo talento, foram os zangados militantes do PT. Por mais de duas décadas infernizaram a República, até que um dia chegaram ao poder. Deveria haver um outro PT, à semelhança da antiga União Democrática Nacional (UDN), para fazerlhe oposição. Como não existe um partido com tais características, a tarefa de contestar o governo fica a cargo dos ultramoderados parlamentares do PFL e do PSDB.
Personalidades como o tribuno carioca fazem falta. Como um Bayard, o cavaleiro
sans peur et sans reproche (sem medo e sem jaça) Lacerda se impunha no cenário político porque não havia flancos por onde atacá-lo. Não temia nada nem ninguém. Podia-se condená-lo pelo seu radicalismo, mas jamais pela sua conduta pessoal. Como governador da Guanabara, portou-se de forma coerente com a sua pregação moralista. Os políticos atuais não se arriscam a imitálo. Os do PT já não podem fazêlo porque, uma vez no poder, demonstraram ter todos os vícios imagináveis. Os da oposição também não podem porque já ocuparam o governo e nele cometeram as suas próprias faltas.
Sem medo e, sobretudo, sem jaça não existe mais ninguém. E é por isso que Lula enfrenta uma oposição tão escrupulosa. É uma enorme injustiça chamá-la de golpista. Mesmo nos momentos mais negros da atual crise política, ninguém se levantou sequer para aventar a possibilidade de um impeachment. Ao contrário. O que mais se falou foi na necessidade de preservar a 'governabilidade'. Quando Lula estava com os flancos desprotegidos, ninguém se animou a tentar um xeque ao rei - que poderia facilmente transformar-se num xeque-mate.
Por falta de um Lacerda, ficamos assim nessa situação nebulosa. O suborno de parlamentares pelo PT está mais do que comprovado. Que Lula sabia de tudo, não há no País quem duvide. Mas não há quem se arrisque a dar o passo seguinte, qual seja o de processar o presidente por crime de responsabilidade. 'Falta o povo nas ruas', desculpam-se os líderes oposicionistas.
Ora, o povo não sai às ruas espontaneamente.
Há que existir alguém, com autoridade moral para tanto, que se disponha a arengar às massas, explicar-lhes a gravidade do que está ocorrendo e conclamá-las a demonstrar a sua insatisfação.
Se mantida a atual apatia, a crise será superada com a cassação de Roberto Jefferson, José Dirceu e mais meia dúzia de parlamentares. 'Falta alguém em Nuremberg', diria David Nasser. Na verdade, falta mais gente do que se imagina.
Por que ninguém se anima a desentranhar as contas do PT no exterior, que serviram, entre outras coisas, para remunerar o sr. Duda Mendonça e internalizar os presumíveis dólares doados por Fidel Castro (há quem diga que de Kadafi também...)? Esses eventuais donativos não configuram um gravíssimo atentado à soberania nacional? Por que ninguém se dispõe a vasculhar de onde vieram, na verdade, as dezenas, talvez centenas de milhões de reais que Marcos Valério alega ter tomado 'emprestados para ajudar o PT'? Uma vez comprovado o fato de que os fundos de pensão estatais obedeciam às ordens de Luiz Gushiken e que eles tiveram um gigantesco 'prejuízo' na gestão petista, por que não se procede a uma verdadeira devassa nas contas dessas instituições? Por que ninguém, até agora, se propôs a convocar o filho do presidente para explicar os motivos por que a Telemar se interessou em investir milhões de reais em sua firma de fundo de quintal? Não é a Telemar uma concessionária de serviços públicos? Parte da Telemar não pertence ao governo, via BNDES? Será que existe alguém, na 'leal oposição de Sua Majestade', que acredite, realmente, que Delúbio Soares, orientado por Dirceu, e o ex-ministro da Casa Civil são os únicos responsáveis por toda essa bandalheira que ocorreu? Não, Lula não tem motivos para acusar a oposição de golpista, nem sequer de radical ou intransigente. Ele deve, isso sim, dar graças aos céus por não existir mais nenhum partido com a ira cívica e a determinação da antiga UDN.
Lacerda tinha lá os seus defeitos. Era radical, incendiário e se comprazia, de maneira quase sádica, em demolir a reputação dos poderosos de plantão. Mas há momentos em que gente assim faz falta.Tivesse Lula, por azar, topado com alguém como ele, já de há muito teria voltado para seu apartamento em São Bernardo do Campo.


João Mellão Neto, jornalista, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado.
E-mail: j.mellao@uol.com.br Fax: (11) 3845-1794 Site: www.mellao.com.br

quarta-feira, dezembro 14, 2005

LADRÕES E CORTESÃOS

Nada mais resta ao impudor dessa gente. Contaminaram a tudo e a todos.

A imoralidade dos buscadores do dinheiro público, pelos descaminhos do crime, atinge as mais altas autoridades de nossas centenárias instituições. Há, nos dias de hoje, um desconforto gritante no meio militar com a situação vivida pelo senhor José Alencar, Vice-presidente da República e, lamentavelmente, ainda Ministro da Defesa.

No atual cenário político, esse senhor não apresenta mais as condicionantes necessárias ao desempenho das funções de comando de instituições militares. Foi fritado pelo próprio governo. Ele não tem mais autoridade moral à altura do cargo de Ministro da Defesa.

O partido vermelho do governo envolveu o nome do empresário em uma inexplicável negociação: comprou doze milhões de reais em camisetas (bota camiseta nisso!). Comprou, mas não pagou. Mandou só um milhãozinho, que o Delúbio não se lembra a origem – era um trocado que tinha no cofre do PT. Ficou devendo onze milhões de reais, não sabe quando, como e nem se vai pagar. E, além disso, ninguém cobra e fica tudo entre eles. É uma negociata, sem dúvida.

Ninguém procura os fóruns da lei para a solução de seus impasses. Eles têm medo da justiça. Sabem de seus pecados. Agem como os ladrões e os cortesãos: entendem-se ou fazem justiça pelas próprias mãos.

Aqui nos quartéis a coisa é diferente. O empresário mineiro não é mais bem-vindo. Já devia ter sido exonerado do comando das Forças Armadas do Brasil. Mais um Zé que deve se afastar do governo.

Essa patética e vergonhosa negociata, envolvendo a grande empresa mineira com o dinheiro tisnado pelas mãos sujas dos integrantes da camarilha do caixa dois, maculou diretamente o nome do Ministro da Defesa, gerando mais uma forte turbulência nos mais altos escalões desse desgoverno.

É aqui na nossa república (essa mesma, que ultimamente tem sido salpicada com manchas vermelhas na legislação, nos símbolos e nos jardins palacianos) que acontecem esses descalabros e ninguém faz nada.

Os colorados, que não gostam e têm complexo de vice, começaram a apelar para o envolvimento do velho mineiro que, por comandar as Forças Armadas, já estava pensando em vôos mais altos.

Segundo a ótica do comando vermelho, o mineiro devia ser emasculado. Eles conhecem tudo sobre todos. Começaram a agir. O pernambucano-que-nada-sabe (pelo menos assim diz) e seus fiéis escudeiros sentiram o perigo. Estão com medo do vice. O Duda, que entende de galo de rinha, deve ter alertado: "esse galo mineiro está crescendo mais do que os juros nesse governo. Ele já foi até batizado pelo bispo. É bom abrir o olho".

Esse mineiro da grife das camisetas de um milhão de reais, que está com esporão e pulando alto, começou a causar preocupações ao nosso grande comandante pernambucano e até na mulher-bomba. Pensaram: é bom cortar a crista dele.

Mineiro é mineiro, já dizia o homem do topete - aquele das fotos da vedete desprevenida lá no palanque do sambódromo. Mineiro de hoje é diferente, não mais compra bonde. Mas, acredite, vende doze milhões em camisetas para o PT e não para os descamisados do Collor. Quer, no mínimo, ser presidente. Todo mundo é, ele também tem direito. Só não tem perfil para Ministro de Defesa.

É, eles vão se entender... Acomodarão suas posições no poder e, principalmente, suas fortunas particulares. Mas, pelo menos, sejam inteligentes. Evitem uma catástrofe, por favor. Levem livre as Forças Armadas do meu país.

Aqui o buraco é na boca do canhão e a nossa bengala é um urutu. Mexer com fogo é perigoso. É coisa para profissional. Escolham bem o próximo Ministro da Defesa, antes que seja tarde demais.

É meu amigo, nem tudo são flores nesta terra de roedores, ladrões e cortesãos.

Cel Erildo
www.acontinencia.com

terça-feira, dezembro 13, 2005

A mentira e suas variantes

Jarbas Passarinho

Montaigne, ao seu tempo, escrevia que os gramáticos faziam uma diferença entre dizer uma mentira e mentir: 'Dizer uma mentira é dizer uma coisa falsa que a gente crê verdadeira, ao passo que mentir é falar contra a própria consciência.' Nos dias atuais há quem identifique o dizer uma mentira com a 'mentirinha carioca', que não causa dano algum.
Responder a um convite que não se quer aceitar, por exemplo, alegando 'compromissos anteriores'. Há, porém, a mentira de quem fala contra a própria consciência pretendendo estar dizendo como verdade o que sabe que não o é. Não faz muito, num elevador, uma senhora respeitável disse que eram tolos os que acreditaram terem os americanos chegado à Lua, pois não passava de montagem de computador. A porta do elevador se fechou sem que eu pudesse retrucar à ilustre senhora que milhões de pessoas viram, na TV, Neil Armstrong andar na superfície deserta da Lua, no tempo em que os computadores não dispunham da tecnologia de hoje.
Semelhante a isso foi o presidente do Irã negar o Holocausto, provado, e os campos de extermínio, filmados quando os Aliados chegaram a eles, após vencerem o nazismo.
Muito mais grave é a mentira dos que falam em desacordo com o que sabem, comprometendo a própria consciência. Uns, porque a memória é fraca. Daí se dizer que consciência tranqüila às vezes é falta de memória. Outros, porque a memória é mais prolixa do que a imaginação. É o que se passa atualmente no Brasil, desde que a TV mostrou Waldomiro Diniz extorquindo modestamente 1% para si mesmo, ao negociar vantagem que envolvia dinheiro público.
Tratava-se do subchefe da Casa Civil, um amigo íntimo do então poderoso ministro José Dirceu, com quem partilhara o apartamento funcional ao tempo em que o ministro era deputado federal. O flagrante mereceu do bondoso Waldomiro a versão de que o modesto 1% não era para si mesmo, mas para socorrer financeiramente um amigo que, como dizia dos moribundos o padre Antonio Vieira, estava 'em artigo de morte'. Generosidade que, morto o amigo, negou a viúva a versão caridosa. O prestígio do assessor fraterno do ministro José Dirceu foi, porém, tão grande que, peculatário, foi demitido honrosamente a pedido, e não a bem do serviço público, como ocorre devidamente com os deserdados do poder.
A mentira veio a ter muitos seguidores, a começar pelo diretor dos Correios flagrado ao receber e embolsar R$ 3 mil, mostrados na TV. A propina, fez crer, dela não se beneficiara, pois pertenceria a uma cota do PTB. Era, apenas, um intermediário, agindo pelo bem da causa nobre de arrecadar dinheiro público para a tesouraria do partido que apoiava o governo. O PT defendia-se dizendo que nem um nem outro pertenciam ao partido da estrela vermelha.
Depois da sucessão de escândalos que abarrotaram a choldra do caixa 2, agora já se tratava de preeminentes próceres petistas, supostos defensores imaculados da ética. A Lula, alçado à Presidência da República, caberia lavar, como Hércules, as sujas cavalariças deixadas pelos antecessores antiéticos. Indignado, o presidente bradou: 'Fui traído!' Pobre presidente, sem nada saber, traído pelo seu entourage associado a Marcos Valério, o rei Midas que transformou em ouro a tesouraria de Delúbio. Meses funestos para o presidente, um líder que veio do segmento mais baixo da população brasileira. Torneiro mecânico, já fora traído pela máquina que lhe roubara um dedo, no acidente de trabalho, culpa da empresa capitalista, no afã de produzir mais lucro, insensível à dignidade da vida humana e à segurança no trabalho. Em seu auxílio, o honesto Tarso Genro assumiu interinamente o espólio disposto a 'refundar o PT'. Brava confissão do síndico da massa falida.
Na política, é regra o criador ser traído pela criatura.
Sem uma palavra de confirmação, Roberto Jefferson identificou na criatura o então ministro José Dirceu. Em defesa de Lula, intimou: 'Sai daí, Zé. Você está comprometendo um homem bom.' A imediata exoneração de Dirceu deu a impressão de que Jefferson acertara na mosca, ainda que o presidente, ao despedir-se do auxiliar, lhe haja dirigido carinhosas palavras seguidas ao vocativo 'querido Zé'. Dava para imaginar a mágoa, pois, como canta Milton Nascimento, 'amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito'. Júlio César, traído e apunhalado no Senado romano, agonizante, ainda exclamou: 'Até tu, Brutus?!' Abandonado pelo Palácio, Dirceu foi cassado. Entrevistado, disse ser Lula uma pessoa difícil e seu governo, acabado. Bem antes dizia que tudo o que fazia era do conhecimento de Lula. Logo, este se obriga a dizêlo inocente. Do contrário, teria sido conivente, como acusam os poucos que falam em impeachment.
Sem poder defender-se da enxurrada de escândalos revelados pelas CPIs, ressuscita a teoria do golpismo. Lula lembra a deposição fugaz de Hugo Chávez pela elite venezuelana. Aqui Lula tem excelentes relações com as elites: o Congresso; quase todos os governadores; o patronato, especialmente os bancos logrando lucros sem igual no passado; a Igreja; a mídia, notadamente a televisão. E conta com o respeito dos militares disciplinados, nos seus quartéis. Decepções são gerais, mas não passam disso.
De onde viriam as forças golpistas que levaram o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) a lembrar que nos últimos 60 anos nenhum presidente chegou ao fim do mandato? Parafraseando Marx, um fantasma ronda o PT: o da invenção do golpismo. Deveria ter, sim, vergonha da série interminável dos escândalos escabrosos que enlameiam este país e nos revoltam há mais de sete meses.?
Golpismo? Deviam é se envergonhar dos escândalos que enlameiam o País

Jarbas Passarinho, ex-presidente da Fundação Milton Campos, foi senador pelo Estado do Pará e ministro de Estado

Por falar em golpismo

Clóvis Rossi para a FSP
HONG KONG - O presidente Lula está certíssimo ao falar de "golpismo". Mas está erradíssimo no timing. O golpe, presidente, foi dado faz pouco mais de três anos e anunciado nesta Folha por um certo George Soros, megainvestidor ou megaespeculador, ao gosto de cada qual.
O golpe veio numa frase de Soros: "É Serra ou o caos". Foi no início de junho do ano eleitoral.
Como não deu Serra, deu o caos ou, ao menos, fortíssima turbulência, registrada neste mesmo espaço graças às preciosas estatísticas que Mauro Zafalon compila: entre a frase de Soros e as imediações da posse de Lula, em janeiro de 2003, o dólar subiu 35%, o risco-país cresceu 20%, os juros tiveram uma elevação de 7 pontos percentuais e a inflação multiplicou-se por 14.
Esse é o tipo de golpe que se dá hoje em dia. Apertando teclinhas de computador nos centros financeiros em vez de botar tanques nas ruas.
José Dirceu, então presidente nacional do PT, reagiu à previsão de Soros com a acusação de que era uma "chantagem". Era. Deu certo.
A vítima, Luiz Inácio Lula da Silva, rendeu-se. Basta recuperar outro texto da época, manchete de "O Globo": "Lula põe banqueiro do PSDB no BC e mercado ainda desconfia".
Esse e tantíssimos outros dados apenas confirmaram a tese que Soros expôs então: "Na Roma antiga, só votavam os romanos. No capitalismo global moderno, só votam os americanos, os brasileiros não votam". Os brasileiros até votaram, contra Soros ou o candidato que Soros preferia, mas o voto acabou anulado, porque o preferido do eleitorado ficou do lado dos golpistas.
Faz a política dos golpistas a tal ponto que todos os indicadores (dólar, risco-país, inflação e até os juros) voltaram aos níveis pré-golpe.
A diferença, pois, com o golpismo convencional é que Lula não foi deposto. Depôs suas bandeiras, na discutível hipótese de que as tivesse de fato, e se tornou um falastrão de irrelevâncias.
@ - crossi@uol.com.br

domingo, dezembro 11, 2005

Elio Gaspari

Mistério companheiro
Acreditando-se em tudo o que dizem o PT e a empresa têxtil Coteminas, de propriedade do vice-presidente José Alencar, os companheiros fizeram uma encomenda de R$ 2,7 milhões de camisetas ao preço de R$ 12 milhões.

Nessa conta, cada camiseta saiu por R$ 4,40. Um veterano de campanhas eleitorais assegura que nunca pagou mais de R$ 3.

Natasha em Brasília
Madame Natasha não recebe seu mensalão nem ganha camisetas, mas trabalha de graça pelo idioma. Concedeu uma de suas bolsas de estudo ao doutor Paulo Bernardo, pelo português rudimentar da placa de seu carro oficial. Ela diz o seguinte:

“Ministro Estado - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão”.

Natasha acredita ministro não leu placa carro.

Cesta na manga
Lula tem uma carta na manga. Em maio do ano que vem ele poderá propor um sólido aumento do salário-mínimo, coisa de 20%, elevando-o para R$ 360, equivalentes a US$ 160. Será inferior aos R$ 384 aprovados no Senado em agosto pela oposição. O reajuste permitirá que o PT diga: recebemos o governo com um salário-mínimo que comprava 1,2 cestas básicas. Agora ele compra 1,7 cestas.

Se a oposição resolver brigar, terá um péssimo precedente. Aderirá com 52 anos de atraso ao Manifesto dos Coronéis, assinado em 1954 contra o reajuste determinado por Getúlio Vargas.

Fala, Dirceu
Na sua entrevista à “Fórum”, José Dirceu repetiu uma frase da esquerda chilena, trazida para a defesa de Lula pela professora Maria Conceição Tavares:

“É um governo de merda, mas é o meu governo.”

Tudo bem, o governo é deles. E o resto da piada, fica para quem?

(A entrevista, dada aos repórteres Renato Rovai, Frédi Vasconcelos, Glauco Faria e Eduardo Maretti, é a melhor peça produzida por uma cabeça petista desde que a crise começou. Quando não convence, revela.)

Frei Gushiken
Acusado por Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, de manipular verbas de publicidade da empresa, o comissário Luiz Gushiken acusou-o de ser um “confuso por natureza”.

Se o tivesse chamado de mentiroso, teria crédito.

O comissariado petista insiste em se comportar com o recato dos frades sempre que algum companheiro conta o que acontecia no convento renascentista em que transformaram o governo.

O risco Palocci de credibilidade
Antonio Palocci tornou-se um título de baixa credibilidade. Três episódios ocorridos em menos de um mês mostram isso. Relacionam-se com sua credibilidade econômica, política e pessoal.

Começando pela economia. No dia 11 de novembro, falando no Senado, Palocci disse o seguinte:

— Nós estamos entrando neste momento — não tenho nenhuma dúvida de afirmar isto — em um dos mais importantes e longos ciclos de crescimento que a economia brasileira experimentou nas últimas décadas. Ele se iniciou no segundo semestre de 2003, apresenta crescimento do processo de produção há oito trimestres consecutivos.

Dezenove dias depois, o IBGE divulgou que no terceiro trimestre, aquele que terminara em setembro, o PIB contraíra-se em 1,2%. Palocci não mentiu aos senadores, apenas propagou o triunfalismo de “Nosso Guia”.

Na mesma reunião o ministro disse que “não me furtarei, em qualquer instância que for, a prestar o esclarecimento que for necessário”. Repetiu o raciocínio mais duas vezes, recorrendo sempre ao incômodo verbo furtar. Convidado a comparecer à CPI dos Bingos, furtou-se. Em seguida, manobrou o furto de sua convocação. Vale lembrar que, convocado, não poderia furtar-se. Quem acreditou na cleptomania verbal do ministro comprou um mico.

Palocci chutou sua credibilidade pessoal quando desmentiu que tivesse voado num avião-companheiro. Disse assim: “Fala-se também que eu utilizei um avião particular para ir a uma feira na minha cidade (...). Ofereci aos órgãos de imprensa uma comprovação da FAB, (…) mas infelizmente não fui ouvido.” Foi ouvido. Seu desmentido de que tivesse usado o jato Citation do empresário Roberto Colnaghi para ir ao Agrishow em Ribeirão Preto foi publicado na “Folha de S. Paulo”. Nele Palocci dizia que “não pegou carona no avião”. Não pegou naquela ocasião. Colnaghi admitiu que Palocci usou seu avião para fazer o percurso Brasília-Ribeirão Preto-Brasília em companhia de José Genoino, então presidente do PT. Genoino confirmara à repórter Catia Seabra que “fiz essa viagem a convite de Palocci”. O ministro sempre poderá dizer que não foi ao Agrishow no avião que em 2002 fora usado para transportar as misteriosas caixas confiadas a Vladimir Poleto.

Isso não reduz a questão central: como ministro, Palocci usou o avião de Colnaghi para brincar de dono dos ares.

Em nenhum dos três casos Palocci mentiu. O problema não é dele, é das pessoas que nele acreditam. Ficou difícil para Palocci se submeter ao teste universal de credibilidade: uma relação de confiança é iníqua sempre que é melhor não confiar do que confiar.

O fator Rebelo de astúcia

Odeputado Aldo Rebelo assegurou seu lugar na história do Parlamento. Sob sua presidência irá à votação nesta semana a marmota da Emenda Constitucional que reabre o varejão das aliança$ eleitorai$.

O texto vindo do Senado, datado de junho de 2002, diz assim:

“Esta Emenda Constitucional entrará em vigor na data de sua publicação, aplicando-se às eleições que ocorrerão no ano de 2002.”

Ou seja, os doutores legislam sobre um pleito que já ocorreu. Parece apenas uma distração de redator. É uma punga.

O projeto aprovado pelos senadores em 2002 encalhou na Câmara. Virou múmia. Ressuscitaram-na porque, se os deputados corrigissem a data para 2006, a Emenda deveria voltar ao Senado para nova votação. Sob a presidência de Rebelo, finge-se uma absurda vontade de legislar sobre o que já aconteceu para assegurar conveniências que estão acontecendo.

Aprovada a emenda, qualquer deputado poderá pedir um destaque, suprimindo a data.

Fala-se muito do senador Auro de Moura Andrade (1915-1982), que atrasava o relógio do plenário em votações encrencadas. Rebelo se associou a coisa muito mais criativa. E fez isso ocupando a cadeira onde já estiveram Célio Borja e Ulysses Guimarães.

O governo num boteco do Leblon

— Não, isso eu sei. Nós vivemos numa república democrática e temos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Isso eu sei.

—- Tu quer dizer que tu aprendeu isso na escola. Na prova da escola estaria certo, mas a realidade é completamente diferente.

— Como é completamente diferente? Nós temos os três poderes. Tem até a praça deles, lá em Brasília.

— Chute, tudo chute, papo pra otário que nem tu. Metem na cabeça do sujeito certas coisas, ele se acostuma e nem vê que a realidade não é assim.

— Quem não vê é você. Você pode não gostar do governo, mas que tem Executivo, Legislativo e Judiciário você não pode negar. E te explico até mais, eu fui bom aluno de Organização Social e Política do Brasil. São poderes separados e cada um tem sua função. O Executivo executa as leis, o Legislativo faz as leis e o Judiciário aplica a lei aos casos em disputa.

— Bonito, muito bonito. E é assim que funciona?

— É, sim. Qualquer um pode ver. O Executivo...

— Executa as leis que quiser, as que não quiser não executa.

— Não, isso não, executa. Bem ou mal, executa.

— Não executa direito nem o que está na Constituição! Não interessou, não executa nada. Além disso, ele manda lá onde ele pode. Com banqueiro, por exemplo, não manda nada a não ser para pagar juros eternamente.

— Não, isso é sua maneira de ver as coisas, que eu já conheço. Eu repito que você pode não gostar do governo, mas que o Executivo executa as leis, isso para mim ninguém pode contestar.

— Executa, executa. Manda ele executar alguma coisa que desagrade os banqueiros. Ele nem discute. E quem chefia o Executivo?

— Lula, o presidente.

— Lula faz os discursos. Nesse ponto eu entendo até a amizade dele com o Bush, toda vez que se encontram só faltam ficar aos beijos e abraços. Aí, depois dos agrados, eles saem discursando que são isso e são aquilo e que fazem e acontecem. Pode até ser assim lá com o Bush, mas aqui o presidente nem faz nem acontece, a não ser viajando. E, assim mesmo, olhe lá.

— Olhe lá, não, essas viagens podem até ser exageradas, mas muitas delas são importantes para estabelecer ligações, abrir mercados...

— Você não me mostra um tratado, um acordo, uma vantagem, nada, é tudo gogó! Até agora as viagens só renderam viagens mesmo e ele faz qualquer negócio pra sair de Brasília, até a chupeta inaugural de uma creche em Xique-Xique ele é capaz de ir lá para botar na boca do neném e, se deixarem, bota uma chupeta na boca também, como faz com os bonés e as camisetas que enfia a qualquer oportunidade. Está na cara que o Executivo não executa nada e, se executa, não é com ele. Com ele é o discurso. E com o pessoal dele é o Legislativo.

— Como assim, não entendi nada.

— O Legislativo, seu bendito Legislativo. O Legislativo aqui é com o Executivo.

— Tu já deve estar de porre, como é que são feitas as leis, não é no Le-gislativo?

— Absolutamente. É no Executivo, é na medida provisória. Como o presidente não entende nada do que vão fazer, nem quer entender, escrevem uma medida provisória, ele pergunta o que é em poucas palavras e manda ver. Ele disse que nunca iria abusar da medida provisória e desceu a lenha no FH por causa delas, mas agora todo dia tem uma medida provisória ou mais. Por conseguinte, você não está certo. O Legislativo não legisla. E inclusive nem tempo tem, trabalhando do jeito que trabalha e agora se ocupando em investigar a trambicagem e aparecer bem na tevê. O Espetáculo da Trambicagem está rolando que parece que nunca mais vai acabar, todo dia pinta uma novidade.

— Vamos dar de barato que você tenha razão, mas o Judiciário?

— Que é que tem o Judiciário? É a mesma coisa. Agora é que eu vou ver se tu estudou mesmo. Qual é a característica do Judiciário que torna ele diferente dos outros poderes? Essa tu tem que ter aprendido também. Mas tu tá com cara de que não se lembra, então eu te lembro. O Judiciário, de modo geral, só funciona se provocado, sacou? Ou seja, ele fica lá parado, até que alguém não concorda com outro alguém e pede uma decisão. Se for o Zé Dirceu, a decisão sai logo, se for eu, pode chegar ao cinqüentenário de meu neto mais novo. Mas é assim que ele funciona. É assim que ele funciona aqui?

— Bem, que eu saiba é, não é?

— Como é que diziam antigamente? Tu tá mais por fora que umbigo de vedete, cara. Eu te conto um troço que meu sogro me falou. Ele é advogado e advogado sério, nunca andou roubando cliente e defendeu muito pobre, é um homem muito correto. Ele me disse que é verdade consagrada na prática do Direito que o juiz só fala nos autos, sacou? Nos autos! E aqui o presidente do Supremo deita toda hora falação, outro ministro fica confraternizando com advogado de defesa, dizem que, pelo jeito, um deles está fazendo campanha, onde já se viu isso? Por muito menos, nos Estados Unidos, já tinha neguinho pedindo impeachment, aquilo ali era pra ser um lugar sagrado, inatacável. Juiz da Suprema Corte americana nem entrevista dá, eles se compenetram.

— É, pensando bem...

— Pensando bem, mais uma vez a Europa se curva ante o Brasil, foi aqui que nasceu a esculhambocracia.

JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.

sábado, dezembro 10, 2005

Observatório da imprensa (2)

Diogo Mainardi
Observatório da imprensa (2)

"Dines é pago para pontificar a respeito
da imprensa. Ele acusa a imprensa de estar
tomada por jornalistas da Opus Dei, mas não
tem coragem de identificá-los. É por isso que
tenho 'horror às esquerdas'. Porque elas
mentem. Porque elas enganam. Todas elas"


Dedurei um punhado de jornalistas lulistas na coluna da semana passada. Um dos citados foi Alberto Dines. Ele respondeu o seguinte:

"O pitoresco caçador de bruxas [eu] tem horror às esquerdas. Mas já que pretende denunciar o comprometimento político dos jornalistas conviria que não perdesse de vista o avanço da Opus Dei na imprensa. Inclusive onde ele próprio atua."

Mandei uma mensagem a Dines. Pedi-lhe uma lista com o nome de todos os jornalistas ligados à Opus Dei. Prometi publicá-la integralmente em minha coluna. Ele me aconselhou a ler seus artigos sobre o tema. Eu li. Num deles, Dines comete a ousadia de associar a Opus Dei ao símbolo da loja Daslu. Mas não cita o nome de nenhum jornalista. Insatisfeito, mandei-lhe outra mensagem, reiterando o pedido de uma lista com nomes. Dines desapareceu. Ele é pago para pontificar a respeito da imprensa na televisão pública, na rádio pública, na internet, nas universidades. Ele acusa a imprensa de estar tomada por jornalistas da Opus Dei, mas não tem coragem de identificá-los. Eu apontei o nome de uns pelegos lulistas na imprensa, e fui considerado um espertalhão leviano em busca de reconhecimento.

É por isso que tenho "horror às esquerdas". Porque elas mentem. Porque elas enganam. Todas elas. Do stalinismo quercista de Fernando Morais ao onguismo endinheirado de Gilberto Dimenstein, do comunismo de batina de Marcelo Beraba ao populismo futebolístico de Juca Kfouri, do desbunde teatral de Nelson de Sá ao lobismo piantellano de Mario Rosa. O lulismo roubou muito mais do que o collorismo. Cláudio Humberto, assessor de imprensa de Collor, até hoje é perseguido por seus colegas. Os jornalistas que se subordinaram a Lula devem receber o mesmo tratamento: André Singer, Ricardo Kotscho, Eugenio Bucci.

Dines se atribuiu o papel de autoridade em matéria de jornalismo, mas usa um critério rasteiro para julgar meu trabalho: o número de cartinhas que recebo semanalmente dos leitores. Como se eu fosse um galã de telenovela. Quando recebo muitas cartinhas, ele me acusa de sensacionalismo. Quando recebo poucas cartinhas, ele comemora, garantindo que minha carreira está acabada. O principal argumento de Dines é que, se eu continuar a falar mal do Lula, cairei no esquecimento. É um jeito malandro de me aconselhar a mudar de assunto. O recado intimidatório não vale só para mim, mas para todo o resto da imprensa. Dines quer demonstrar aos jornalistas que o público não agüenta mais seguir a cobertura do mensalão, ou da propina da Leão & Leão, ou do assassinato de Celso Daniel, ou do pagamento à Coteminas. Claro que é mentira. Claro que é uma manobra desonesta para abafar a crise. O que o público não agüenta mais é o próprio Lula. Os leitores não estão enjoados do noticiário político – estão enojados. Pouco tempo atrás, um artigo de um fanfarrão como eu podia bastar para eles. Já não basta mais. Eles querem os lulistas no tribunal. Eles querem os lulistas na cadeia.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

O Poder da Oração

Plínio Sgarbi

Li num artigo de uma amiga, um episódio narrado no capítulo doze do livro Atos dos Apóstolos que diz que Pedro estava na prisão e os judeus alegravam-se com isso. Esperavam que se desse com ele o mesmo ocorrido a Tiago, irmão de João. A intenção de Herodes era apresenta-lo ao povo depois da Páscoa, entretanto, a Igreja orava continuamente por ele a Deus. E o que aconteceu? Um anjo do Senhor foi enviado com a missão de libertar o apóstolo.
Pois é, isso aconteceu a fim de que Deus pudesse manifestar todo o seu poder, mas ele contou com a oração de muitos intercedendo em favor do apóstolo.
Talvez, imaginamos que isso só acontecia naquela época e que hoje em dia a oração nada pode fazer.
Ledo engano.
Da população carcerária de hoje, 8% são ateus e a maioria absoluta passaram ao longo de um determinado tempo implorando e pedindo a Deus por meio de rezas bravas e orações, uma janelinha para a liberdade.
E não é que as preces desses bandidos foram atendidas !
O "anjo" presidente da República acaba de baixar o Decreto n.° 4.904, datado do dia primeiro do corrente mês, para perdoar ou comutar as penas de milhares de criminosos condenados pelo Brasil afora.
Esses indulto natalino, como os demais, páscoa, dia das mães, dia dos pais e o escambau, são verdadeiros sinônimos de impunidade.
Um facínora quando preso recebe mais amparo e dedicação estatal do que qualquer operário ou camponês e ainda, criam mais e mais benesses para bandidos.
Com mais esse insulto e trágico fardo imposto à sociedade, o indulto de natal contemplará centenas de bandidos com a liberdade, colocando em risco a vida de cidadãos honestos e ordeiros pagadores de impostos.
Aos bons cidadãos ateus e aos que enxergam a vida como a areia da ampulheta que escorre inexoravelmente pela fenda, restam apenas torcer para a boa sorte.
Aos bons cristãos cidadãos que crêem na promessa da vida eterna, restam, a exemplo dos bandidos, a oração, pedindo graças ao céus que seu natal e de toda a sua família seja de muita paz e alegria.
Nesse Natal, com milhares de bandidos soltos e andando por aí, desejo que instinto de sobrevivência que temos, não precise apelar para a violência.
Boas Festas...

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Como crianças, índios e loucos

Por Ricardo Noblat em 07/12/2005

Lula protagonizou, hoje, um inesquecível show de cinismo ao falar sobre o ex-deputado José Dirceu e o escândalo do mensalão em entrevista a emissoras de rádio. Fez afirmações do tipo:

* "O Zé Dirceu acaba de ser cassado. Vocês podem me dizer qual acusação que foi provada contra o Zé Dirceu? Não foi provado";

* "Houve crime eleitoral de caixa dois, já provado na CPI. Ninguém nega isso" (ao negar o mensalão e outros possíveis crimes);

* "Não sei quem sabia. O companheiro Delúbio Soares assumiu a responsabilidade pelo PT. A direção do PT não tinha porque me comunicar" (sobre a origem dos recursos para sua campanha);

* "Quantas mães e pais têm filhos dentro de casa, praticando delitos, usando drogas, e não sabem? No Estado, por que um ministro tem que saber tudo o que ocorre no território nacional?";

Por último, Lula disse ainda que levará Dirceu para seu palanque, caso seja candidato à reeleição. Como se não fosse. E como se Dirceu admitisse subir no palanque dele. Não admite.

O cinismo está no fato de que Lula só decidiu defender o principal responsável por sua eleição depois que ele foi cassado. Antes, tentou forçá-lo a renunciar. E em seguida lavou as mãos.

Na verdade, está com medo do que Dirceu venha a falar daqui para frente. E da influência dele dentro do PT.

Dirceu foi para o matadouro como um cordeiro. Para se defender teria de apontar nosso Delúbio como homem de confiança de Lula. Teria de lembrar das vezes que Delúbio foi hóspede de Lula na Granja do Torto. E teria que repetir a frase que um dia cunhou:

- Nada fiz sem autorização e o conhecimento do presidente da República.

Em seu último discurso como deputado, disse algo que de propósito soou dúbio:

- Todos nesta casa (a Câmara) sabem que eu nunca fui o chefe do mensalão.

A frase se perdeu no meio do discurso. Ninguém se interessou em perguntar a Dirceu sobre a identidade do chefe do mensalão. Ele não também não a revelaria. Quer passar para a História como o homem que garantiu com seu silêncio a sobrevivência do governo que ajudou a fundar.

Lula vai morrer negando que o mensalão existiu - assim como nosso Delúbio nega. E vai morrer se fingindo de idiota por nunca ter tido a curiosidade de perguntar sobre as fontes de financiamento de sua campanha.

A desculpa de que a direção do PT não tinha porque lhe informar sobre onde e como arrecadava dinheiro não passa de desculpa - rota, tosca e falsa.

Diante da Justiça, o candidato é responsável pelas contas de sua campanha. O mínimo que se espera dele, pois, é que esteja a par dos números. E da natureza sadia dos números.

Somente os índios, as crianças e os loucos de todos os gêneros são inimputáveis face ao Código Penal brasileiro. Pelo jeito, Lula quer acrescentar uma nova categoria - a dos candidatos distraídos. E também a dos ministros e presidentes que não têm obrigação de saber "tudo o que ocorre no território nacional".

De Lula, esperava-se que soubesse, pelo menos, o que ocorria a poucos metros do seu gabinete de trabalho.

domingo, dezembro 04, 2005

O Bêbado e os Equilibristas

O Bêbado e os Equilibristas


Ternuma Regional Brasília
pelo Gen Div Murillo Tavares da Silva

No deprimente espetáculo das oitivas nas comissões parlamentares de inquérito, em que estão sendo desnudados os mais variados tipos de corrupção praticados por deputados, assessores, dirigentes partidários, empresários, publicitários, servidores públicos e outras figuras, quem acompanha os depoimentos não se cansa de ouvir novas desculpas, novas esquivas, novas respostas criativas. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém encontrou ninguém. Por ali já passaram esposa, ex-esposa, secretária, diretora financeira, cafetina ou promotora de eventos (conforme a interpretação mais ou menos benevolente de uns ou de outros), carecas, cabeludos, gordos e magros, convictos e inconvictos, preparados e despreparados, os frios e os chorões. E nós pensávamos já ter visto todos os tipos possíveis...

Eis que, de repente, aparece alguém com mais uma excelente novidade, ímpar entre tantas mentiras e negaças, mais do que suficiente para inocentar qualquer um de qualquer crime: “ - Eu estava bêbado”. Sim, meus quase enlouquecidos espectadores das audiências, depois de contar a um repórter uma mirabolante viagem de caixas de bebidas, um ex-assessor do Sr Ministro da Fazenda vai à frente de seus interrogadores e disse que a entrevista foi feita quando ele estava embriagado. Apareceu, então, o mais inusitado dos tipos: o pinguço!!! Estaria completa a excêntrica galeria ou seria lícito esperar, ainda, os que têm olho na testa, os que desmaiam em contacto com a criptonita, os que se dirão primos do Harry Potter (daí as mágicas para fazer surgir ou desaparecer milhões de reais e de dólares) ou, mesmo, o que se identificar como Gepetto, imortal criador do Pinóquio ? Desses depoentes das CPI pode-se esperar tudo, até mesmo a incoerência de nos tentar impingir a incrível estória de que entregaram bebidas à guarda de um beberrão confesso.
Não é possível que alguém medianamente inteligente acredite que os outros também medianos vão aceitar que se monte uma operação de logística complicada, com meios de transporte multifários, somente para fazer chegar às mãos de alguém duas caixas de uísque e uma de rum. O custo de um jatinho e mais o de um automóvel blindado usados na operação daria para comprar uma adega inteira, claro que sem aquele vinho de seis mil reais a garrafa de que nosso Presidente da República é devotado apreciador. Não sei se desde os tempos de sindicalista ou só de 2003 para cá...

Enquanto surgem as versões, as mentiras, os habeas corpus, as chicanas, os recursos e os pedidos de vista, a célebre tática de fazer o tempo correr, para que as pessoas se esqueçam dos detalhes criminosos das maranhas, continua sendo aplicada. E, com isso, preservam-se os equilibristas, sem que se saiba por quanto tempo ainda eles sobreviverão. Do Delúbio e do Valério, em relatório parcial, agora pediram o indiciamento e todos sabemos o quanto separa o indiciamento de uma eventual condenação na nossa justiça brasileira. Do José Dirceu, sempre escorado em medidas judiciais, que não ouso comentar porque não sou experto em legislação, já li até que está sendo disputado por universidades norte-americanas para estagiar ou não sei o quê (quando contarem isso para Fidel Castro, ele vai dizer como aquele comediante: ”Tira o tubo ! O meu Zé nos Estados Unidos ? Voluntariamente e ainda ganhando dinheiro ? Não é possível!!!”). Do ex-assessor Poletto, soube que pediram ao Ministério Público providências para seu indiciamento e sua prisão preventiva, porque mentiu diante dos parlamentares inquisidores (e me lembro daquele macaco do programa humorístico que perguntava : “ E os outros ?”). Do Palocci, apesar de seu nome ter sido mencionado tantas vezes, ouço dizer que está exigindo um pronunciamento público do Sr. Lula a seu favor, porque se seus ex-assessores são traíras, como se diz na gíria futebolística, isso não o afeta, mas entestar a D. Dilma Roussef, que já encarou paradas mais arriscadas, não está nos planos dele. Os outros, de menor expressão, como João Paulo, Mentor, Borba, Duda Mendonça, Professor Luizinho, Valdemar Costa Neto, Severino Cavalcanti, o dos restaurantes, o da cueca, o das malas, etc já não interessam à mídia e isso é bom para eles, que se mantêm submersos. Submersos e procurando equilibrar-se...

O que não devemos esquecer, por sua importância em tudo o que estamos vivendo, é o equilibrista-chefe. Ele agora se afasta da tática de alegar ignorância de todos os episódios sórdidos promovidos por seu partido – o PT. Sua nova postura é a da incredulidade. Se antes não sabia, agora ele não acredita. Importante considerar que ele nunca diz que tal coisa não ocorreu; porque, se disser, parece que ele tem conhecimento de outras que podem ter ocorrido. Pouco se lhe dá que seus companheiros de partido venham a afundar, desde que ele mantenha seu equilíbrio instável entre a ameaça de levar uma surra de um senador e o de fazer churrasco para o mais poderoso homem do mundo. Há, pelo menos no meu círculo de amigos, uma inquietação sobre até quando a corda que o sustenta vai suportar o peso de sua incompetência, de sua inapetência para o trabalho, de sua inabalável vontade de afastar-se da curul governamental, para suas viagens de lazer por países amigos ou pelo interior brasileiro. A inquietação é pela vontade de vê-la arrebentada logo. Ao ler, em jornal daqui de Brasília, que o vice José Alencar foi dormir, logo após o primeiro bloco da entrevista recente que o Sr Lula deu ao programa Roda Viva, passei a considerar que ele também não bota fé na corda. Nem vai segurar aquela rede de proteção!

Brasília-DF, 11 de novembro de 2005.

Observatório da imprensa

por Diogo Mainardi

Os lulistas reclamam da imprensa. Não entendo o motivo. Lula já teria sido deposto se jornais, revistas e redes de televisão não estivessem tomados por seus partidários.

Eu acompanho todo o noticiário político. Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista. Não sou um grande especialista no assunto. Não freqüento o ambiente jornalístico. Tenho apenas quatro ou cinco amigos no ramo. E nunca fui de esquerda. Não sei direito quem é quem dentro do PT. Esses pelegos me parecem todos iguais. Mas tenho um bom olho para reconhecer o jargão lulista. Não preciso de mais de uma frase, perdida no meio de um artigo, para identificar um governista infiltrado.

O Globo tem Tereza Cruvinel. É lulista do PC do B. Repete todos os dias que o mensalão ainda não foi provado. E que, de fato, José Dirceu não deveria ter sido cassado. Cruvinel aparelhou o jornal da mesma maneira que os lulistas aparelharam os órgãos públicos. Quando ela tira férias, seu cunhado, Ilimar Franco, assume sua coluna.

Kennedy Alencar foi assessor de imprensa do PT. Ele continua sendo assessor de imprensa do PT, só que agora de maneira não declarada, em suas matérias para a Folha de S.Paulo. Ele é o taquígrafo oficial de André Singer, secretário de Imprensa de Lula. Singer dita e Kennedy Alencar publica.

Franklin Martins é José Dirceu até a morte. Eliane Cantanhêde é da turma de Aloizio Mercadante. Luiz Garcia é lulista, sem dúvida nenhuma, mas não consigo identificar sua corrente. Vinicius Mota é do grupo de Marta Suplicy. Quem mais? Alberto Dines é seguidor de Dirceu, e só se cerca de seguidores de Dirceu. Alon Feuerwerker, do Correio Braziliense, é do partidão, e apóia quem o partidão mandar. Paulo Markun, da TV Cultura, tem simpatia por qualquer um que seja minimamente de esquerda. Paulo Henrique Amorim é lulista de linha bolivariana. Ricardo Noblat era lulista ligado a Dirceu, mas pulou fora no momento oportuno.

Leonardo Attuch, da IstoÉ Dinheiro, é subordinado a Daniel Dantas. Quando Dantas está satisfeito com o governo, Attuch é governista. Quando Dantas está insatisfeito com o governo, Attuch vira oposicionista. Mino Carta, por outro lado, é subordinado a Carlos Jereissati. Tem a missão de atacar Dantas. E de defender a ala lulista representada por Luiz Gushiken.

Os jornalistas que não pertencem à área de Dirceu, Gushiken, Mercadante, Suplicy ou Rebelo em geral pertencem à área de Antonio Palocci. Nunca houve um político tão protegido pela imprensa quanto ele. Palocci tem defensores influentes em todos os veículos, sobretudo em O Estado de S. Paulo e Valor.

Nem mesmo VEJA escapa do tribunal macartista mainardiano. Os lulistas costumam definir a revista como tucana, mas eu desconfio que ela esteja cheia de lulistas. Não posso revelar seus nomes por puro corporativismo. E porque não quero perder aqueles quatro ou cinco amigos na profissão.

Dirceu: panegíricos vergonhosos

Por Reinaldo Azevedo
Um leitor me acusa de arrogante por causa de um texto da edição anterior, em que afirmo que o mal maior do jornalismo político é a ignorância — especialmente aquela sobre a ciência política. Pode ser. Nunca me orgulhei da minha humildade. Nem mesmo acredito que isso exista. Acho a modéstia uma forma disfarçada de chantagem ou um refinamento da soberba. Como certas celebridades que gostam de usar sandálias de dedo em festas requintadas. É uma suposta nobreza de origem ou conquistada que lhes garante a licença. Trata-se de concupiscência do despojamento. Vão ler Santo Agostinho e não me torrem a paciência. Seu despojamento corresponde a um casaco cheio de brocados. Não é por acaso que, nessas festas, os serviçais estão sempre com roupa impecável. Só trouxa cai nessa conversa.

Por isso, queridos, esse papo de “modéstia”, “humildade” ou “despojamento”, comigo, não cola. Os que baixam os olhos podem estar pensado coisas horríveis. Prefiro gente de nariz empinado. Entre a subserviência instrumental e a arrogância, fico com a segunda. Portanto, não tentem me ofender por aí. Não dou a mínima. Nunca disse que era modesto. Modesto era Lula... Não é, por exemplo, a arrogância de José Dirceu que me faz combatê-lo. Ao contrário. Acho o melhor traço do seu caráter. Melhor ele do que aqueles petistas que gostam de sambar miudinho ou de fazer proselitismo bossa-nova — falando macio e com o autoritarismo sempre no diminutivo ético: Renato Janine Ribeiro, por exemplo. Até me identifico um pouco com o apelo olímpico do ex-superministro. A diferença é que eu só posso fazer mal a mim mesmo. Meu hospício é minha vida privada. O de Dirceu é o Brasil. As coisas se complicam. Por que cheguei aqui?

Eu falava sobre a necessidade de haver certos pressupostos de formação intelectual para que a análise política não degenere em puro impressionismo e para que a mistificação não seja o galardão dos picaretas (com copyright de Lula) ideológicos. Pensei nisso ao ler alguns panegíricos, que se fingiam de análise crítica, dedicados a José Dirceu. Leiam atentamente. A maioria lamenta que aquele jovem romântico e namorador, cheio de ideais, tenha-se tornado essa figura algo cinzenta, com coragem — ah, a fidelidade! — para defender “o companheiro Delúbio Soares”. Vêem nele um desvio, não uma continuidade.

Para Marcelo Coelho, colunista da Folha, “Dirceu não foi cassado por suas relações com Che Guevara e Fidel Castro, e sim por suas relações com Marcos Valério e Valdemar Costa Neto”. Errado. É uma análise, à diferença do que parece, generosa com o ex-ministro. Ele só se meteu com os dois últimos (o que nega) porque é íntimo moral e ideológico dos dois primeiros. É seu apego a uma ideologia finalista que o faz não distinguir os meios. Se o “bem final” existe, então tudo lhe é permitido. E é fácil provar que é assim.

Roberto Jefferson, o nosso traidor virtuoso, foi cassado, e ninguém o chamou para dar uma entrevista na TV ou analisar a conjuntura política. Dirceu, ao que vejo, dois dias depois, já é o “magister dixit” dos programas de debate político. Coelho há de admitir que isso acontece não por causa de suas “relações com Marcos Valério e Valdemar Costa Neto”, e sim por causa de sua proximidade ideológica com Che Guevara e Fidel Castro. Jefferson, que ajudou a nos livrar de uma tentação totalitária, afinal de contas, é só um bode da “direita” ou um monstrengo do fisiologismo. Ah, Dirceu, não! Este tem tutano, a gente lê nas estrelinhas. Ah, esse tem história. Qual história?

A imprensa que Dirceu acusa de tê-lo derrubado, que os seus sequazes chamam de “burguesa”, está coalhada de formas variadas de petistas e petismos — ou de “esquerdismo”, para ser mais genérico. O termo pode assumir significações distintas a depender do que esteja em debate. Sob certo ponto de vista, defender uma distribuição de renda um pouco mais justa já pode significar um alinhamento com essa tal esquerda. Mas não é a isso que estou me referindo, não. Falo mesmo é da ideologia que, de fato e para todos os efeitos, justifica o crime desde que se esteja mirando um futuro redentor.

Ou alguém me explique o que faz Dirceu na TV como uma espécie de ombudsman do processo político e fino analista da conjuntura brasileira. Ora, tenham a santa paciência! Por quê? Voltando a Coelho, creio que não sejam as suas credenciais junto a Marcos Valério ou a Costa Neto a habilitá-lo. Não sendo estas, então são quais? A resposta é tristemente óbvia. Confere-se legitimidade tanto à forma como Dirceu tentou mudar o país no passado — ele queria uma ditadura comunista — como às suas aspirações presentes. A adesão a métodos eventualmente heterodoxos de ação política foi, como dizer?, um “erro”, palavra que ele emprega muito.

Aliás, esse “erro” merecia especial atenção semiológica no discurso do deputado cassado. Eu, até agora, não o vi fazer mea-culpa de nada. Ao contrário. Só o vejo negando que tenha cometido qualquer irregularidade, cada vez mais “convencido” da sua “inocência”. Quando ele recorre ao termo “erro”, parece estar designando tão-somente uma falha de operação, de logística. Não teria sabido fazer a coisa direito; teria se descuidado do modus operandi; teria subestimado os fatores adversos da conjuntura. Mas, na essência, não há um miserável recuo. Age, parece, como alguém que, pego em flagrante, lamente não a derrocada, mas a falta de planejamento para cometer o crime perfeito.

Cada um se divirta e se encante com o que quiser. Rica e rara, para mim, foi a vida de Ulysses Guimarães, por exemplo. Não rende romance. José Dirceu não é uma personagem dos Anos Rebeldes, de Gilberto Braga. A história brasileira, mesmo a dos anos 60, está mais para o naturalismo do que para o romantismo tardio. Até compreendo, num plano puramente psicológico, que se possa suspirar por um jovem idealista, bonitão e quase-guerrilheiro. As pessoas deliram pelos mais estranhos motivos.

Estão olhando para o já bastante redondo José Dirceu e enxergando o Che Guevara da foto de Alberto Korda, com aquele corte maroto, que o faz olhar para o futuro da humanidade. A foto inteira não é nada daquilo. Pesquisem. O comunismo é craque tanto em apagar retratos como em cortá-los. Ocorre que aquele olhar cheio de amanhãs sorridentes resultou na ditadura do decrépito Fidel Castro, hoje amparada por estadistas como Maradona e Hugo Chávez.

É o mito da resistência e da luta contra as injustiças que faz o Dirceu de Marcos Valério e Costa Neto posar de fino pensador e observador privilegiado da cena política. Esperem aí. Esse é o cara que abrigava Waldomiro Diniz no Palácio do Planalto. Esse é o cara que desenhou as alianças. Esse é o verdadeiro titereiro do lulo-petismo, um modelo protototalitário. Por que choram as carpideiras? Por que tanta emoção? Quando é que Chico Buarque vai lhe dedicar um hino? Sugiro algo minimalista assim: “Vai passar/ já passou”.

Pobre imprensa burguesa! Ainda bem que continua a ser salva pelos classificados e pelos anúncios, que não têm ideologia (salvo aqueles a cargo de Luiz Gushiken). Entregue que ficasse aos inocentes úteis, a democracia já teria ido para o brejo há muito tempo. No meu arquivo implacável, tenho lá os boquirrotos atacando FHC porque este dizia “barbaridades” como “a democracia é um processo” ou a “utopia do possível”. Nada! Rapazes, moças e alguns velhos tontos, animados ainda pela foto de Alberto Korda (nem eles sabiam disso; trata-se de uma contaminação do espírito), queriam era ação direta e, pasmem!, aposta no impossível.

Sabem o que senti quando Dirceu foi cassado? Nada. Disse apenas: “Um a menos”. E pensei em Lula e em Rita Lee: “Agora só falta você, iê, iê, iê”.

[reinaldo@primeiraleitura.com.br]
Publicado em 2 de dezembro de 2005.

Pizza e polenta e olhe lá!

Barbara Gancia

Há pouco mais de um mês, comentei neste espaço a cidadania italiana obtida pela primeira-dama, dona Marisa Letícia Lula da Silva. Desde então, não paro de receber e-mails indignados de descendentes italianos que estão há anos (literalmente) na fila tentando sem sucesso conseguir o passaporte.
Uma reportagem publicada na última quarta no jornal italiano "Corriere della Sera" revela que o passaporte obtido por dona Marisa não irritou apenas os "oriundi" que acreditam que a mulher do presidente tenha furado a fila dos candidatos à cidadania.
Massimo D'Alema, ex-primeiro-ministro italiano e atual presidente do Partido Democrático da Esquerda, também vociferou contra o direito adquirido pela primeira-dama. Relatou ao jornal que, em recente visita a Lula em Brasília, dona Marisa teria perguntado a ele sobre um "estranho documento" que lhe fora enviado pelo consulado. D'Alema percebeu que dona Marisa nem sequer fala italiano. E deduziu que o documento em questão era a cédula eleitoral para votar no referendo pela utilização das células-tronco.
Segundo o ""Corriere", dona Marisa reagiu com surpresa quando foi informada de que, junto com a cidadania italiana, ganhara direito ao voto. A mulher do presidente afirma que só pediu a cidadania por insistência dos filhos e que nunca fez questão do passaporte. "Ninguém de nós quer ir embora do Brasil", diz ela. "É só uma oportunidade para os meninos."
D'Alema não questiona a oportunidade, mas a conversa com dona Marisa em Brasília chamou sua atenção para outro problema. O ex-primeiro-ministro declarou que gostaria de ver os direitos dos descendentes italianos estendidos aos imigrantes estrangeiros que vivem na Itália. "Por que dona Marisa pode votar, enquanto a babá dos meus filhos, uma imigrante que ajudou a criar as crianças e que paga impostos na Itália, não tem esse direito?", pergunta ele.
O ""Corriere" atesta que a ascendência italiana de dona Marisa "é um tanto remota" e trata sua "italianidade" com ironia, dizendo que a primeira-dama não conhece a língua de Dante. "No nosso idioma, ela só sabe dizer pizza e polenta", afirma a reportagem assinada, do Rio de Janeiro, por Rocco Cotroneo.
Pois, não me importo se dona Marisa nunca ouviu falar em Michelangelo ou Sophia Loren. O que eu quero saber é que oportunidade é essa que os filhos de Lula vêem na Itália. Será que, como nós, eles também estão fartos de viver num país que só escorrega na lama?

Reminiscência e semelhanças

por José Luis Sávio Costa em 28 de janeiro de 2005

Resumo: Cada dia que passa, mais vemos certas características semelhantes ao período antecedente do Movimento Cívico-militar de 1964 aparecerem no atual cenário nacional.

© 2005 MidiaSemMascara.org


Cada dia que passa, mais vemos certas características semelhantes ao período antecedente do Movimento Cívico-militar de 1964 aparecerem no atual cenário nacional.

1º. Como aconteceu naquela época o cordão dos aderentes cada vez aumenta mais, inclusive no campo das forças legais. Lembramos dos grupos dos generais Osvino, Assis Brasil e tantos outros.

2º. O problema dos vencimentos dos militares, tal qual então, torna-se dia a dia mais agudo, para forjar a concessão ou “compra” magnânima, no momento julgado oportuno, pelo nosso Presidente (sic). Como fez o Jango, graças a Deus, sem resultado... Agora, não sei, não!...

3º. A corrente nacionalista impensante, mais uma vez, se alvoroça, se agita e brada os chavões anti-imperialistas, sem raciocinar que remam junto com internacionalistas, marxista-leninistas, ditadores e outras tendências radicais. Xenófobos, pertencem a um gênero de ator que os comunas ou “progressistas”, prazerosamente, designam como “porcos chauvinistas”. Ser nacionalista é um genuíno e natural dever do bom soldado, que não pode e não deve desaguar no caudal da burrice virulenta. Com tristeza recordamos as pugnas, naqueles dias sem aparente sentido lógico para os incautos, entre as chapas azul e amarela nas eleições do Clube Militar, manipuladas por militares estruturados no Setor Militar do PCB, infiltrados na chapa amarela, alguns deles adesistas ao Movimento Cívico-militar de 31 de março, no último momento. Mas isto é outra história...

4º. A contumaz ambigüidade do lulismo, assinalada amiúde na mídia, segue os passos das divagações e dos diz-que-me-diz do Jango et caterva. Para nossa felicidade, havia os que conhecendo as tradições de nosso Exército, orientavam os militares democratas com sábios conselhos:

“Os meios militares nacionais e permanentes não são propriamente para defender programas de Governo, muito menos a sua propaganda, mas para garantir os poderes constitucionais, o seu funcionamento e a aplicação da lei”.

“Não estão instituídos para declararem solidariedade a este ou àquele poder. Se lhes fosse permitida a faculdade de solidarizar-se com programas, movimentos políticos ou detentores de altos cargos, haveria, necessariamente, o direito de também se oporem a uns e a outros.”

“Relativamente à doutrina que admite o seu emprego como força de pressão contra um dos poderes, é lógico que também seria admissível voltá-la contra qualquer um deles.”

“Não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos anti-democráticos. Destinam-se a garantir os poderes constitucionais e a sua coexistência”. (Trecho da Circular reservada do EMEx, expedida pelo Exmo. Sr General de Exército, Humberto de Alencar Castelo Branco, então Chefe do Estado Maior do Exército, em 20 de março de 1964). E hoje? Também não sei, não...

Aliás, houve um arremedo no caso Herzog, montado, manipulado e vergonhosamente conduzido no mais alto nível deste país e até hoje mantido silente nos desvãos dos poderes constituídos. Isto é uma vergonha!

5º. A pretendida “República Sindicalista” e a violência no campo sob a batuta de Francisco Julião com suas “Ligas Camponesas”, responsáveis pelo primeiro contingente de auto-enganados brasileiros a ter treinamento de guerrilha em Cuba, aqui apresentado como lembrança:

Ligas Camponesas:

Adamastor Francisco Bonilha - Ligas Camponesas, 1961

Adamor Gonçalves – Ligas Camponesas, Mai 63 a Nov 64

Adauto Freire da Cruz - Ligas Camponesas, 1961

Amaro Luiz de Carvalho (“Capivara”), Ligas Camponesas, 1961

Clodomir Santos Moraes - Ligas Camponesas, 1961 (assessor do MST)

Florentino Alcântara de Moraes - Ligas Camponesas, 1961

Joaquim Ferreira Filho (“Nelson”) - Ligas Camponesas, 1961

Mariano Joaquim da Silva – Ligas Camponesas, 1961. Posteriormente, foi dirigente da Var-Palmares

Osias da Costa Ferreira - Ligas Camponesas, 1961

Paulo Góes - Ligas Camponesas , Mai 63 a Nov 64

Pedro Motta Dias - Ligas Camponesas, 1961

Rivadavia Braz de Oliveira - Ligas Camponesas, 1961.

São, na atualidade, ultrapassadas pelas hordas do MST que mesclam necessitados fáceis de influenciar, pobres seduzidos pela cobertura de enganosa religião antropocêntrica, ou se quiserem de um esdrúxulo marxismo-cristão (sic) e militantes profissionais, clericais ou não, de certas “pastorais” e ONGs.

No passado evoluiu ante a complacência de um fraco mandatário, cercado por esquerdistas radicais. Hoje evoluem com o beneplácito de um ladino mandatário que tece loas ao MST “ordeiro” num dia e, no dia seguinte, diz que o Movimento tem que respeitar a lei, apesar dele ser useiro e vezeiro em desrespeitá-la.

6º. O Congresso, ontem como hoje, desanda na frenética defesa de seus próprios interesses e perde-se na mesmice de sempre, esquecendo a sua função constitucional e tornando-se mero caudatário do Executivo. E o governo, ciente deste fato, defende para presidir a Câmara dos Deputados um nome envolvido em casos de contatos com terroristas estrangeiros (inclusive em seqüestros no Brasil) e corrupção (caso Lubeca e o “abafa” do caso Celso Daniel, entre outros).

7º. O Presidente? Bem, chego a julgar que o Jango era melhor e até mais honesto... Mas quem pode responder melhor são os ex-militantes do PT: Paulo de Tarso Venceslau, os irmãos Queiroz Benjamim, a Senadora Heloisa Helena, a Luiza Erundina, os tesoureiros de campanhas e os que estão para sair do partido. Bem, há mais; porém, vamos aguardar...

8º. O processo de neutralização das Forças Armadas pode estar em curso, com alguns passos parecidos com os de épocas pretéritas. O primeiro passo ocorre com o “corporativismo segmentado”, com a criação de associações e propostas de suas sindicalizações (praças, graduados, oficiais e praças temporários, oficiais); o segundo é a concessão de medidas judiciais, do tipo habeas-corpus nos casos de prisões disciplinares (o que contraria o parágrafo 2º do Artigo 142, da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor, ainda que meio ultrajada Constituição-cidadã), ou mandatos de segurança no âmbito administrativo, ampliando as interferências indevidas no âmbito das forças; o terceiro é o aumento da campanha antimilitar, ampliando a campanha revanchista, instilando o antagonismo entre facções civilistas e militaristas; o quarto é uma sutil e lenta substituição ou interferência nas atribuições constitucionais das Forças Armadas, via criação de Força Nacional de Segurança Pública e outras, cujas atribuições podem ser alteradas fora dos limites da Lei Maior, sem a influência e a fiscalização dos poderes de maior competência; o quinto é conseqüência: a criação e ativação de conflito de interesses entre as forças legais no campo de suas atribuições na área da defesa, sob os mais variados aspectos.

Alguns destes passos já estão em progressão, ora sutil, ora mais aberta.

O futuro a Deus pertence e queira Deus que eles não tenham aprendido a saber a hora e continuem com a mesma tendência histórica em terras brasileiras.

Atentemos para o Fórum Social Mundial e como nele se comportam as forças políticas do Foro de São Paulo, organização castro-lulista, ou lula-castrista, sediada no Brasil e em Cuba.

sábado, dezembro 03, 2005

Aliviando a mão

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Avoz rouca das ruas é fogo. Estou saindo da pastelaria aonde vou neuroticamente toda santa noite e compro uma porcariada que não tem mais tamanho, pego minha sacolinha, uma voz me chama, é uma jovem senhora que decidiu interpelar-me.

— Leio você todo domingo — diz ela.

— Muito obrigado.

— Sempre é bom, mas você está aliviando a mão. No domingo passado, você aliviou a mão. Não pode aliviar a mão, tem que dar cacete!

— Mas logo eu? Eu aliviando a mão? Eu vivo dizendo uma porção de coisas que...

— Eu sei, eu sei, sou leitora assídua. Mas você aliviou a mão.

— Mas o que é que você chama aliviar a mão? Você quer que eu xingue a mãe de alguém?

— Quero, quero! Você teria todo o meu apoio. Você teria o apoio de todo o Brasil!

— Não concordo. Não ia pegar bem eu xingar a mãe de ninguém e muito menos o Brasil inteiro ia me apoiar.

— Ia, ia! Você sabe disso, o Brasil inteiro ia te apoiar. E tem de xingar a mãe mesmo! São todos uns isso e aquilo! São todos uns aquilo e aquilo mais! Isso é o que eles são, tem que dizer com todas as letras!

Ela não usou bem “isso e aquilo”, devo esclarecer, usou umas coisinhas mais fortes, que fico com vergonha de reproduzir. Ponderei que não era correto xingar a mãe de ninguém pelo jornal, que já vinha criticando o governo há muito tempo, que nem gostava disso, mas eram os assuntos impostos pelo dia-a-dia. “Quero o direito de escrever umas amenidades, um domingo ou outro”, disse eu, arrependendo-me imediatamente depois.

— Quer dizer que até você está afrouxando! É o silêncio dos intelectuais, você caiu no silêncio dos intelectuais!

— Silêncio dos intelectuais? Como assim, eu...

— Caiu no silêncio dos intelectuais, e eu que pensava que você era diferente! Mas não, pela crônica deste domingo já se vê uma saída estratégica. Você está planejando uma saída estratégica! Isso não está certo com seus leitores, desculpe, é uma atitude de omissão, se curvando a pressões.

— Que pressão, não sei de nenhuma pressão.

— Sabe, sim, sabe que, se não parar de falar as coisas que vem falando, vai ser retirado do círculo dos intelectuais! E para você não deve ter coisa mais importante do que a vaidade de ser membro do círculo dos intelectuais.

— Que círculo de intelectuais? Existe um círculo de intelectuais, eu não sabia, eu...

— Claro que sabia. Eu posso ter sido enganada como sua leitora, achando que você era uma coisa e agora vendo que é outra.

— Espere aí, eu acho que você deve estar me confundindo. E nunca andei prometendo nada a ninguém.

— Mas agora se curvou ao silêncio dos intelectuais!

— Mas que sil...

— O silêncio dos intelectuais! Depois que os últimos vão tirando o corpo fora, aí é que a gente perde mesmo a esperança. Se já tínhamos perdido a esperança nos políticos, agora também perdemos a esperança nos intelectuais. Bem que sempre me disseram que não se pode confiar em intelectual. É nisso que dá. Mas eu ainda considero você uma exceção. Por enquanto, por enquanto. Vou esperar mais dois domingos.

— Muito obrigado outra vez, mas você vai esperar o quê?

— Cacetada firme, pauleira! Não tem nada de aliviar a mão, tem que descer o porrete! Olha lá, dou dois domingos. Se falhar, perdeu uma leitora. Assídua!

E foi se retirando com uma meia rabanada. Fiquei preocupado. Eu achava que vinha criticando de maneira incisiva a situação a que chegamos e a atuação dos nossos governantes. E que círculo de intelectuais seria aquele, ao qual certamente eu deveria pedir autorização para continuar a expor meus pontos de vista, que acredito serem o de muitos outros brasileiros? Não, bobagem, radicalismo dela. Certo, uma leitora em perfeito estado de funcionamento não se joga fora assim sem mais nem menos. Mas minha consciência estava em paz e eu escreveria crônicas sobre amenidades, chega de reclamar e criticar o tempo todo. Isso mesmo quis dizer ao vizinho que entrou comigo no elevador.

— Belo dia — comecei. — Não foi?

— É, fez uns belos dias aí. Deve ser por isso que você está aliviando a mão, não é?

— Eu, aliviando a mão? Eu...

— Eu compreendo — disse ele, me pondo a mão no ombro.

— Compreende o quê?

— O silêncio dos intelectuais — respondeu ele, antes de a porta por que saiu bater.

Entrei em casa pensativo. Não, eles não tinham razão. Não existe círculo de intelectuais nenhum, nem tem que ficar descendo o cacete coisa nenhuma. Ler os jornais, buscar amenidades. Hum, diz aqui que um ministro do Supremo está fazendo campanha para ser candidato. E diz que outro é o homem de Lula na Augusta Casa. Pensando bem, talvez eu precise me precatar contra esse silêncio dos intelectuais, tenho que parar de aliviar a mão.

JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.